sábado, 28 de janeiro de 2012

Jarro anos 50 Raul da Bernarda - Alcobaça


Jarro de faiança moldada, organicamente curvilíneo com bocal largo em taça. O volume do corpo, numa curvatura de cisne, estreito no gargalo que encurva num bojo gordo - assentando numa base plana oval - e se desenvolve, serpenteante, à medida que se vai estreitando e se eleva em direcção ao gargalo, que contorna, e num movimento de chicote se transforma em asa. Apresenta um acabamento rugoso, granulado, a encarnado, sobre o qual se destacam, a espaços regulares, pedaços remanescentes da base branca, em forma de “olhos” curvos, que receberam contorno a ouro. Base, bocal e face exterior da asa receberam também acabamento liso a ouro. O interior do bocal é igualmente branco. Na base, carimbo a ouro RB Alcobaça Portugal e, pintado à mão, 1133/10.
Data. c. 1955-65
Dimensões: alt. 24,2 cm

Mais uma vez, a herança da Arte Nova está bem patente numa peça da segunda metade dos anos 50 ou inícios da década seguinte do século XX embora com outras sugestões plásticas, como já anteriormente referimos a propósito das peças contemporâneas da Aleluia-Aveiro.
Todavia, a organicidade das formas propostas pela fábrica Raul da Bernarda - Alcobaça, pelo menos nos poucos exemplares que conhecemos, nunca atingiu o refinamento e a elegância requintada das peças Aleluia-Aveiro coetâneas ou mesmo de Sacavém.
A produção deste tipo de peças em Alcobaça não parece ter sido consistente nem suficientemente explorada.
Apercebemo-nos do esforço, em nossa opinião, um tanto fruste, de estar à moda, de maneira a não perder a corrida em que as demais fábricas nacionais se lançaram para, também elas, não ficarem atrás da SECLA. Mau grado o esforço, não deixam de ser exemplares de uma medíocre qualidade plástica, um tanto forçados, porque vazios de consistência artística efectiva. Uma plasticidade rebuscada, que chega a roçar o kitsch. Mas isto do gosto é uma questão muito relativa, claro.


No caso do nosso exemplar, só mesmo a cor, um apelativo encarnado, e a textura granulada conseguem conferir à peça, se não algum virtuosismo, pelo menos alguma curiosidade. Pena os apontamentos a ouro que não a valorizam.
Adquirimo-la exactamente por tudo isso, e por ser representativa da banalização das formas modernas para consumo de massas. E como a ideia não é só mostrar exemplos bonitinhos, mas sim exemplos significativos e representativos …

Na produção cerâmica alcobacense parece ter sido a OAL a mais consistente nos caminhos da modernidade e de forma mais temporã, com produção específica ainda na década de 30, dentro da gramática Art Déco. Pode ser que algum dia uma outra peça de outra fábrica alcobacense, para além da OAL, nos venha a surpreender pela positiva.

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