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domingo, 5 de agosto de 2012

Jarra art déco de J. Ventrillon, Saint-Clément - França



Jarra de faiança moldada, piriforme com decoração vegetalista estilizada em relevo, assente sobre pé circular e com bocal estreito em anel, esmaltada a azul. Uma rede de caules, folhas e gavinhas, de onde desponta uma única flor, envolve o bojo da peça cujo fundo é estriado. Remates ondulados junto ao gargalo e ao fundo enquadram a composição. Na base, em relevo na pasta, “883 St Clément – France”.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 30,6 cm



Este modelo, criado por J. Ventrillon, foi produzido em faiança pela fábrica francesa de Saint-Clément, tendo edição de grés, pela “Mougin Nancy”, embora mais pequena, com 26,5 cm de altura (ver catálogo do leilão de 10 de Outubro de 2007, da Drouot, lote nº 141, cuja foto se reproduz).

Sabe-se que J. Ventrillon, corresponde a Gaston Ventrillon (1897-1982), dito o Jovem (le Jeune), um de três irmãos que criaram irmãos para o repertório do atelier Mougin. Apesar de haver, por vezes, dificuldades em identificar muitas das peças criadas pelos três, esta está devidamente identificada.
Gaston foi o mais turbulento dos três irmãos Ventrillon que trabalharam para as fábricas de cerâmica de Lunéville. Participou em diversas manifestações vanguardistas, pertenceu ao grupo dos «Cadets de Lorraine» e envolveu-se em experiências de arte colectiva tendo pintado também cenários para peças de vanguarda.
A prática de haver modelos de faiança produzidos para um grande público e de grés para uma elite já aqui foi aflorada a propósito de uma peça de outro artista de Lunéville: Geo Condé, em 26 de Maio de 2012.


 
A falta de conhecimento, de informação e de referências do público amador  português, entre os quais nos incluímos, levou-nos a adquirir, em 2000, numa conhecida casa leiloeira lisboeta o exemplar que hoje apresentamos. A peça, aliás, disputada com um antiquário da capital, ficou por um preço idêntico ao da homóloga Mougin vendida pela Drouot em 2007. Ou seja, por um preço muitíssimo superior aquilo que efectivamente vale. As produções deste género de faiança são relativamente baratas e vulgares no mercado francês, independentemente do sua valia artística. Embora hoje nos sintamos enganados, nem por isso deixamos de gostar menos dela.

Na verdade, a periferização do país fazia, e ainda faz, com que os objectos coleccionáveis do século XX, ou que estejam na moda, nacionais ou estrangeiros, sejam vendidos a preços exorbitantes. Como também já referimos, a globalização que as viagens, reais ou virtuais, possibilitam, permitiu uma maior difusão de conhecimentos, abriu novos campos de informação e facilitou a circulação de objectos até então menos acessíveis. No entanto, a relativa marginalização de largos sectores da sociedade portuguesa em relação a estes novos caminhos leva a que esta democratização continue limitada a um gheto de interessados mais ou menos “estrangeirados”, e se continue a ver em algumas casas especializadas artigos Arte Nova, Art Déco e de design vintage, muitas vezes de terceira ordem, vendidos a preços ridiculamente caros.


As peças portuguesas, devido à relativa escassez de produção, são habitualmente mais caras que as suas congéneres europeias. No entanto, isso não justifica os preços absurdos praticados por grande parte dos vendedores nacionais, que por falta de referências estão convencidos que têm tesouros na mão. Pena que assim seja, pois em vez de fidelizarem uma potencial clientela acabam por afastá-la, pelo que todos ficam a perder.

Como se vê, julgamos estar hoje mais atentos e informados. Ou talvez não…

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jarra Art Déco de Géo Condé - K & G – Luneville - França



Jarra de meia-porcelana moldada, produção da antiga fábrica Keller & Guerin em Lunéville, de c. 1925 – 30, de forma japonisante de base quadrangular abrindo em panos curvos, évasés, em direcção ao bocal. Decoração intercalada de pássaros (um deles é um psitacídeo) e plantas exóticas, no estilo art déco de Géo Condé autor de numerosas peças desta fábrica. Na base, carimbo preto, com coroa enquadrada por K G sobrepujando círculo onde se inscreve «demi-porcelaine - Lunéville», por baixo, «France». Inscrito na pasta, 7126.
Data: c. 1925 -1930
Dimensões: alt : 18 cm

Artista multifacetado, o francês Georges Jean Nicolas Condé (1891-1980), mais conhecido por Géo Condé, foi pintor, decorador, escultor, modelador, marionetista, músico e escritor. Trata-se de um dos nossos criadores de eleição, um dos importantes divulgadores da Art Déco junto do grande público, que soube aliar uma produção mais refinada para os Frères Mougin à produção de massas em fábricas que serão os equivalentes em França, quanto a nós, à Fábrica de Loiça de Sacavém.




Nascido em Frouard, na Lorena, a 25 de Junho de 1891, Georges Condé entrou contra vontade na Escola de Arquitectura de Bruxelas, mas nunca exerceu a profissão de arquitecto. Mobilizado em 1914 foi piloto aviador até ao fim da guerra. Dedicava-se, então, à pintura assinando Géo Condé.
Casado, em 1917, com uma prima, Marguerite Baudot, é pai de um rapaz em 1920. Este facto será marcante na sua vida de artista pois ambiciona encantar o seu público, tanto adulto como infantil.
Entretanto, acabada a guerra, a partir de 1919, frequenta os cursos nocturnos da Escola de Belas-Artes de Nancy.
Contratado, em 1922, com 31 anos, por Èdouard Fenal, proprietário das três fábricas de Lunéville, vai trabalhar para a Manufactura de Lunéville - (antiga) Keller et Guérin. No ano seguinte, trabalha sob a direcção dos irmãos Mougin (Frères Mougin) que aqui instalam o seu atelier de grés nesse ano. Graças aos seus talentos como decorador e modelista, acaba por trabalhar para três fábricas: Lunéville (K & G), Saint-Clément e Badonviller, até 1939, data em que é novamente mobilizado. Teremos oportunidade de mostrar alguns trabalhos seus para estas fábricas.
No atelier Frères Mougin começa a trabalhar o grés, para quem assinará 28 modelos de jarras, fazendo, simultaneamente, trabalhos para as outras fábricas. Aliás, peças de grés editadas pelos Frères Mougin são igualmente produzidas em faiança pelas fábricas Lunéville e Saint-Clément de que foi, a partir de 1936, conselheiro artístico.
Moldou figuras humanas e animais, jarras e outros objectos, para além de decorações, dentro do estilo Art Déco. Os seus temas figurativos são muito estilizados, preferindo criações de inspiração exótica, caso da jarra que hoje mostramos (ver foto de jarra da mesma série orientalizante, com um chinês, na obra En pays lunévillois: l'histoire de la faience au XX éme siècle), ou popular, passadas pelo filtro de um cubismo despretensioso, mas muito decorativo.



A partir de 1939 abandona definitivamente o campo da cerâmica e, no Pós-Guerra vai desenvolver as suas actividades de criador marionetista, já começadas em 1934, quando fundou o Teatro de Marionetas do Grupo de Estudantes Católicos de Nancy.
Em 1947 cria a sua própria companhia: Le Théâtre de la Maison de Lorraine que dura até 1967. A par destas actividades, continua a pintar e a escrever.