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domingo, 29 de outubro de 2017

Jarra 734-A – Aleluia-Aveiro


Hoje voltamos à produção dos anos 50 da Aleluia-Aveiro com uma peça que achamos muito engraçada, pois lembra-nos o corpo de ave com pescoço virado para trás, sem cabeça e patas. Ideia reforçada pela decoração que parece remeter para asas.


Trata-se de uma jarra de faiança moldada e relevada, freeform, de bojo pançudo e colo lateral curvo com incisões que delimitam as cores. A decoração é simétrica, de bandas sinuosas, a preto, branco-nacarado e cor-de-laranja, que enfatizam as laterais, sobressaindo o dorso branco e o “peito” branco-nacarado. Interior a amarelo-nacarado. No fundo da base, carimbo circular a castanho «Aleluia-Aveiro» envolvendo «//» pintados à mão, a preto, sobrepujando «Fabricado Portugal», inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a preto, «734-A» (forma e decoração). Foi furada junto à base, na parte de trás, e no fundo da base, para adaptação a candeeiro.
Data: c. 1955-60
Dimensões: Alt. 26 cm x comp. c. 22 cm x larg. c. 15 cm



domingo, 17 de abril de 2016

Algumas reflexões a propósito do cinzeiro “Pato” modelo 761-A – Aleluia-Aveiro

Já que estamos em maré de cinzeiros divertidos da Aleluia-Aveiro, hoje trazemos mais um. Novamente um pato mas desta vez de tridimensionalidade assumida. Trata-se do modelo 761com a decoração «A» - a mesma paleta de cores do pato anterior.


Cinzeiro de faiança moldada e relevada representando um pato estilizado. A figura arredondada do animal, com cabeça curvada sobre o dorso, onde se inscreve o covo pintado à mão a preto, tem corpo amarelo-pálido nacarado. Olhos redondos brancos com apontamentos a preto e bico a cor-de-laranja-forte também pintados à mão. A curvatura da cauda, sobre o dorso, serve de apoio de cigarro. No fundo da base, carimbo castanho «Aleluia-Aveiro», com um símbolo semelhante a «%» pintado à mão, a preto, no centro, e «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo, com o «F» retocado manualmente a preto. Pintado à mão, a preto, «761-A».
Data: c. 1955
Dimensões: alt. c. 10 cm x comp. c. 15 cm x larg. c. 11 cm


Cinzeiro individual e não de partilha colectiva, é mais um brinquedo para diversão de adultos fumadores e/ou donas de casa com sentido de humor. Talvez um escape doméstico, uma fuga à aridez plúmbea para quem (sobre)viveu no Portugal de então, sob um regime ditatorial pacóvio e provinciano mas de repressão eficaz que sufocava tudo e todos. Por isso intrigam estas peças.

Que quotidianos enfeitaram, que vidas partilharam, que alegrias trouxeram, que deslumbramentos ou que aversões causaram? Estas e tantas outras perguntas.

Embora diversas fábricas de cerâmica nacionais seguissem uma produção consentânea com o que por essa Europa se fazia na década de 1950, em França, Itália ou Alemanha, sobretudo, recorrendo muitas vezes à cópia descarada, a Aleluia-Aveiro foi, em nossa opinião, como já o escrevemos algures neste blogue, a mais original e criativa de todas elas. Se a maioria das formas encaixam nessa produção internacional, roçando por vezes o plágio, a liberdade com que a paleta cromática foi aplicada nesta fábrica deu-lhe uma identidade tão pessoal que as suas peças são inconfundíveis.

Não será o caso deste e do pato anterior, claro, mas entram aqui estas considerações porque formas e cores, enquanto escapismo lúdico, fazem-nos pensar que terão permitido gozar uma pequenina e estranha lufada de ar fresco. Uma alegria brincalhona na seriedade do dia-a-dia de uma sociedade fechada e amorfa. Ainda estamos para compreender como é que estes objectos entraram e se instalaram nesse mundo.


Parece-nos claro que terá sido uma produção cerâmica que diríamos rarefeita no panorama da fábrica Aleluia-Aveiro que, paralelamente, comercializava objectos mais convencionais. Porém, havia um público que as consumia. E não seria só uma elite mais esclarecida, como se poderia pensar, até porque seriam de custo relativamente acessível, antes compradas como tique de contemporaneidade também por pessoas simples, populares, que as introduziam no seio do lar. Como se integravam nos ambientes conservadores e sem gosto definido levanta-nos alguma estranheza. Todavia, a nossa vida profissional permitiu-nos ter um vislumbre dessa realidade, pouco prazenteiro esclareça-se já, mas também a amostragem não é, de todo, significativa, de como tais peças modernas da Aleluia-Aveiro se cruzaram com essas vidas de pacatos e banais habitantes, pelo menos os da Lisboa onde habitamos.

Nesse contexto, cruzámo-nos, mais do que uma vez, com estas peças perdidas, como ET’s, em ambientes “hostis”, abundantes de quinquilharia de feira e gosto duvidoso. Um toque superficial de modernidade sem conteúdo.

Uma com o modelo que apresentámos em 11/12/2011 e em 01/02/2013, mas com outra decoração, estava em cima de um naperon numa cómoda Queen Anne de fancaria, cheia de areia e flores de plástico, entre objectos heteróclitos, velhos retratos de família em molduras de plástico e caixas de comprimidos. Nada de gostos sofisticados subjacentes, provocações pop assumidas, ou sequer um complemento de outros objectos da mesma cronologia e gosto.

Uma outra jarra igualmente freeform, de modelo que não voltámos a ver, listada de amarelo, preto e branco,– que desperdício – jazia, também ela cheia de areia e flores de plástico (parece ser uma constante), sobre uma pequena mesa de apoio com tampo triangular de cantos arredondados, revestido de fórmica, metade encarnado e resto em preto, com três pernas à “Picasso”, também ela um anacronismo no acanhado espaço atulhado de banalidades kitsch. Não tinha, tal como a mesa, qualquer viço. Sendo ambas divertidas, não traziam qualquer alegria. Em ambos os casos funcionavam como estranhas chamas coloridas na asfixia circundante, mas fora de cena, destoantes.

Terão sido prendas de casamento de familiares e/ou amigos que, capazes de fugir à rotina do já visto, assumiam que um casal jovem, acabado de casar, quereria ser moderno? Teriam sido compradas pelas próprias donas de casa que num fugaz momento de deslumbramento pelas novas formas não resistiram à tentação de as comprar mas quedou-se por ali o rompante de loucura? Presente de um marido disposto a abrir as portas da sua casa ao mundo contemporâneo?

Infelizmente a circunstância profissional das visitas não nos permitiu esclarecer estas questões.


Fosse qual fosse a intenção ou a origem, o desapontamento do que vimos foi total. Nos anos de chumbo do salazarismo dificilmente um casal popular ultrapassaria a mediocridade quotidiana pois o acesso à informação e à cultura era praticamente nulo e reservado a pequenos grupos sociais segregados e maioritariamente segregadores (a televisão ainda não existia por cá e, quando passou a existir, era tão cinzenta no preto e branco como a demais realidade), para mais num país com um índice de analfabetismo escandaloso (a rondar os 50% em 1950 e os 40% em 1960).

Fantasistas, brincalhonas e bem-dispostas (e hoje são para nós, colecionadores, um vício pior que o tabaco) as criações da Aleluia-Aveiro permitem-nos não apagar a memória, antes apaziguar as feridas do passado ao possibilitar-nos reflectir sobre ele, porque não é melhor não pensar.

domingo, 3 de abril de 2016

Cinzeiro “Pato” – modelo 762-A – Aleluia-Aveiro

Depois de mais um longo interregno, voltamos ao activo com uma peça divertida.


Cinzeiro de faiança moldada e relevada representando metade de um pato estilizado visto de lado. A figura relevada e arredondada do animal tem corpo amarelo-pálido nacarado, cujo covo é pintado à mão a preto, cor que destaca também o olho redondo. A asa, que serve de apoio de cigarro, assim como bico e cauda são a cor-de-laranja-forte também pintado à mão. No fundo da base, carimbo castanho «Aleluia-Aveiro» com um «ɸ» (?) pintado à mão, a preto, no centro e «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a preto, «762-A» (número do modelo e decoração). No frete, pintado à mão, a preto, «V» (?)
Data: c. 1955
Dimensões: comp. 13 cm x larg. c. 12 cm x alt. 3 cm


Trata-se do modelo 762 e, mais uma vez, estamos perante a primeira decoração, a «A», de uma série.


Este tipo de peça zoomórfica é, em nossa opinião, um contrassenso. Por um lado a sua função destina-se claramente a um público adulto, por outro, a figura, neste contexto, anacrónica de um pato de banda desenhada infantil mostra-nos um brinquedo.
Brinquemos, pois, com a ideia, certamente a preferida dos adeptos das teorias de conspirações ocultas de multinacionais sedentas de lucro, neste caso as tabaqueiras, de que a forma tinha como missão apelar ao consumo de cigarros por parte dos mais jovens – incentivando-os ao acto ilícito de fumar, fomentando o vício.
Porém, parece-nos um tanto ou quanto excessiva tanta maldade premeditada. E daí…
O lúdico também tem um papel importante na vida dos adultos, torna-a mais relaxada e menos sufocante. E as peças da Aleluia-Aveiro entre 1955-65, mesmo as mais eruditas, trazem subjacente essa ideia.


Imaginemos exemplos de cenários possíveis onde a presença de um simples cinzeiro divertido poderia marcar a diferença no mundo supostamente responsável dos adultos.
Um exemplo seria o simples acto de chegar a casa depois de um dia cansativo de trabalho e sentar-se a fumar um cigarro, eventualmente a ler o jornal (nos anos 50 ou inícios da década seguinte, no Portugal de então, estaríamos a falar do homem da casa, claro), parece-nos credível que o simples olhar para o objecto onde pousava o cigarro, pela forma e pela radiância e alegria das cores, despertasse, no mínimo, um sorriso. Voltava-se à infância num acto de adulto.


Outro exemplo, em dias de convivialidade com amigos que se convidavam para uma festa lá em casa, no meio de um espaço sobrecarregado de fumo e vapores etílicos, o mesmo cinzeiro poderia proporcionar alguns momentos divertidos, dando azo a comentários mais ou menos brincalhões, despertando a criança que há dentro de todos.

Um objecto de pessoa crescida bem-disposta, e porque não?

domingo, 27 de setembro de 2015

Jarra modelo 585 A – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada cuja forma remete para um bivalve entreaberto, tipo mexilhão, apesar da simetria aparente das “conchas”, com parte exterior aerografada a verde-seco seccionada por uma malha reticulada de linhas incisas a preto. Interior a ocre alaranjado, aplicado também a aerógrafo, esbatendo-se para o interior. Rebordo a branco. No fundo da base, carimbo preto Aleluia-Aveiro, com «x» preto pintado à mão ao centro. Igualmente pintado à mão, também a preto, «585» e «A».
Data: c. 1955-65
Dimensões: Alt. 12,7 cm


Poderíamos defender a possibilidade deste biomorfismo de criatura marinha se integrar na representação da vida do litoral e da ria de Aveiro, tantas vezes motivo de inspiração para os artistas das fábricas Aleluia, como já justificámos em outras peças ilustradas neste blogue, produzidas nas várias épocas e estilos.

No entanto, cremos não ser o caso, pois inclinamo-nos mais a ver nele uma influência internacional das freeforms contemporâneas, que se constacta ser transversal neste tipo de produção da Aleluia-Aveiro balizada entre cerca de 1955-1965. O que nos parece ser distintivo nesta produção nacional é a paleta cromática e decorativa que reputamos de mais arrojada que muitas das suas congéneres estrangeiras.


Tratar-se-á, como em outros já postados, da primeira decoração, identificada pela letra «A», de uma série, aplicada ao modelo «585». Aliás, não deixa de ser curioso verificarmos que o acaso nos tem feito chegar à colecção exemplares maioritariamente da opção decorativa inicial de cada série.

domingo, 29 de março de 2015

Jarra dupla em 8 – Aleluia-Aveiro


Jarra dupla, de faiança moldada, contracurvada em forma de 8, estreitando em direcção à base. Sobre os vidrados a azul e amarelo pálidos, com lustre, que acentuam a divisão da peça em duas partes, recebeu nas superfícies exteriores um grafismo (estampilhado manualmente?) a preto de caules filiformes, aparentemente paralelos, com folhas lanceoladas, estilizadas, cujos limbos são tracejados a castanho na cor amarela e a branco na cor azul. As superfícies dobram para o interior mantendo as mesmas cores sem decoração. Na parte central, sobrelevada, uma abertura oblonga, cujo interior foi destacado a cor-de-laranja. Rebordo do bocal duplo a branco. No fundo da base, carimbo castanho «Aleluia Aveiro» com um «Il» pintado à mão, a preto, sobrepujando carimbo da mesma cor «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo, e, à mão, a preto, 750-A.
Data: c. 1955
Dimensões: alt. 14 cm x larg. 14,5 cm x 5,5 cm


Mais uma vez a numeração, «750», indica-nos o modelo e o «A» corresponde à decoração, a primeira de toda uma série, correspondendo o «II» ao pintor.

A forma, que se aproxima da de um cesto duplo com a alça furada para poder ser pendurado, apresenta um movimento da torção muito expressivo. Porém, o dinamismo da forma parece ser contrariado pela rigidez um tanto formal dos elementos decorativos vegetalistas graficamente estilizados que, paradoxalmente, cumprem um ritmo óptico de escola. De facto, a depuração gráfica do desenho não podia ser mais anos 50 seguindo as tendências internacionais de então.



A paleta cromática suave, nos seus tons pastel nacarados, é dramaticamente contrariada pela abertura oblonga realçada a laranja forte, a cor mais característica, em nossa opinião, da produção moderna freeforms, da Fábrica Aleluia-Aveiro do período. 

sábado, 3 de janeiro de 2015

Taça-bilheteira anos 50 - Aleluia - Aveiro


Taça-bilheira trípode de faiança moldada, de forma irregular dentro das freeforms, tendencialmente triangular de cantos arredondados. Os pés são piramidais, de secção triangular, com uma das arestas boleadas. De cor preto-mate, recebeu decoração estampilhada na parte interior num tom de rosa-velho, ficando em reserva, a preto, uma sequência de linhas curvas, concêntricas, em cerca de metade da superfície. No lado oposto, as linhas curvas paralelas e transversais às primeiras foram pintadas à mão a laranja-forte. No fundo da base, carimbo branco Aleluia-Aveiro e Fabricado em Portugal inscrito num rectângulo. Pintado à mão, à ouro, «x-635–c».
Data: c. 1955
Dimensões: Comp. 24,5 cm x larg. 14 cm x alt. 6 cm



A sinuosidade da forma da taça, uma bilheteira, é reforçada pelo movimento do grafismo óptico das linhas fortemente contrastantes a preto e laranja. Trata-se do modelo 635 e da decoração c, ou seja, a terceira da série.


Quanto a nós remete para uma interpretação estilizada de certos modelos de cadeiras pré-colombianas, como por exemplo as da cultura taina, tribos de povos que habitavam as Antilhas aquando da chegada dos europeus. Quanto à decoração, evoca ancestrais grafismos lineares de raiz pré-histórica.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Cinzeiro 534/A – Aleluia - Aveiro


Cinzeiro de forma tendencialmente poliédrica, com cinco faces de ângulos arredondados dentro da organicidade das freeforms. Na face aberta projecta-se uma gola onde se inscreve o suporte para o cigarro. O interior é aerografado, em esfumado, a castanho-escuro, com o canal para o cigarro pintado à mão da mesma cor embora mais carregada. Exteriormente a superfície foi estampilhada à mão a verde, deixando em reserva bandas sinuosas brancas que foram polvilhadas de pontos a amarelo-torrado. No fundo da base, carimbo preto «Aleluia Aveiro», com «c» pintado à mão, no interior (marca do pintor), sobrepujando «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a preto, 534/A (modelo e decor).
Data: c. 1955-60
Dimensões: Alt. 9 cm x comp. 11 cm


Cores e decoração remetem a presente peça para a mesma série da taça que postámos em 3 de Novembro de 2013. Embora sem motivos marinhos precisos, o movimento da peça, quer pelo arredondado que a forma de sólido geométrico recebeu, lembrando um seixo rolado, quer pelo sinuoso da decoração, como algas ondulantes, sugere um universo aquático.

domingo, 13 de abril de 2014

Jarra «coração» pequena – Aleluia-Aveiro


Versão miniatura da jarra postada anteriormente. As cores são idênticas apesar do tom de rosa ser mais intenso e mate e o traço a ouro ganhar maior proeminência nos relevos verticais. O interior recebeu um inesperado azul-turquesa mate. No fundo da base, carimbos castanhos «Aleluia Aveiro», com «x» pintado à mão, a ouro, no interior (marca do pintor), sobrepujando «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a ouro, 540 – F (modelo e decor).
Data: c. 1955
Dimensões: Alt. c. 11 cm



sábado, 12 de abril de 2014

Jarra «coração» grande – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada e relevada, de forma assimétrica orgânica, semelhante a um coração, desenho que assume plenamente de forma estilizada na base. O vidrado rosa-pálido da cor de fundo, recebeu sobre ele pintura de fortes contrastes cromáticos. A superfície é verticalmente definida por uma sequência regular de nervuras rosa-pálido cujo centro, com traço inciso, é realçado a ouro. De permeio, uma composição, quase cinética, onde laranja-forte e preto enquadram o rosa-pálido em reserva. Bocal de recorte ondulado irregular e igualmente assimétrico. O interior recebeu um vidrado nacarado. No fundo da base, carimbos castanhos «Aleluia Aveiro», com «x» pintado à mão no interior (marca do pintor), a preto, sobrepujando «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a preto, 688.-G (modelo e decor)
Data: c. 1955
Dimensões: Alt. c. 21 cm


O cosmopolitismo das freeforms bem patente nesta produção da sempre surpreendente Aleluia-Aveiro. A paleta cromática do exemplar de hoje, sobretudo o preto e o laranja, é recorrente na produção deste sopro de liberdade criativa que inusitadamente varreu o país cinzento da década de chumbo salazarista.


domingo, 15 de dezembro de 2013

Jarra anos 50 com incisões – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada composta pela justaposição de formas geométricas. O bojo ovaloide alongado, de cor verde-água pálido, é cortado por incisões verticais realçadas a preto, conferindo à superfície uma aparência gomada. Assenta em pé troncocónico verde. Um colo cilíndrico, da cor do pé, é rematado por bocal a verde-água, com interior a preto. No fundo da base, carimbos a preto «Aleluia Aveiro», sobrepujando «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, igualmente a preto, 706-A.
Data: c. 1955
Dimensões: alt. c. 19,6 cm x larg.c. 10 cm


Trata-se do modelo nº 706 e da decoração A, ou seja, a primeira de uma série. A peça, da década de 50, da produção da fábrica de cerâmica Aleluia - Aveiro, explora propostas próximas de modelos da Bauhaus. As formas de sólidos geométricos são, neste caso, realçadas pelos fortes contrastes cromáticos entre os dois tons de verde e pela incisão gráfica pintada a preto.

O grafismo vertical, ao alargar a meio do bojo, cria um efeito visual dinâmico que encontramos em muitas das decorações alemãs da República de Weimar, sobretudo aerografadas, que aqui se integra já numa estética próxima da Op Art. Assim, paradoxalmente, a forma estática da jarra cristaliza o movimento da decoração petrificando-o numa rotação hipnótica.

Por outro lado, ecoa a lembrança oriental, no classicismo da forma, ao remeter para uma reinterpretação das lanternas de papel de arroz.