quarta-feira, 19 de março de 2014

Base para bolos art déco Theodor Paetsch - Alemanha


Base circular de faiança branca de bordo saliente e com duas pegas laterais trilobadas, assente sobre anel alto parcialmente canelado. Decoração estampilhada e aerografada a duas cores, a castanho e a azul-claro em esfumados, formando composição abstracta de motivos geométricos de círculos e ângulos, que tanto surgem isolados, como sobrepostos e desacertados. Bordo e pegas, aerografados no tom castanho. No fundo da base, carimbo castanho de círculo com igreja de duas torres e, inscrito na pasta, 30. Colado, resto de selo de época.
Data: c. 1930
Dimensões: Ø 35,5 cm (c/pegas) x alt. 4 cm

 
A composição, dinâmica, transmite um sentido de profundidade em direcção ao vazio, acentuado pelas formas de cor azul-claro desmaiado. São evidentes as ligações às estéticas vanguardistas da época que tão bem caracterizam a produção da República de Weimar no campo das artes decorativas e que, por esta via, integram uma das vertentes do Art Déco mais modernista. Em nós (e, infelizmente, também em muitos outros colecionadores…) estas cerâmicas utilitárias, de uso corrente, quer pelas formas, quer pelas decorações, simples na técnica e grandes no efeito, exercem um fascínio que não podemos negar.

Dada a altura, este tipo de base de cozinha, para bolos e tartes, é designada em língua alemã por tortentrommel (tambor para bolos), distinguindo-a, assim, das menos espessas tortenplatte, embora para efeitos práticos essa diferenciação pouco adiante relativamente à função pelo que em termos de «etiqueta», enquanto palavra-chave, optámos pela segunda apenas.

Apesar de não ser a primeira vez que postamos peças da fábrica Theodor Paetsch, ainda não tínhamos escrito sobre ela. Chegou hoje a vez de o fazermos.

A Steingutfabrik (fábrica de cerâmica) WE Paetsch foi fundada em 1840 por Wilhelm Eduard Paetsch (1796 -1859) em Frankfurt an der Oder (Francoforte no Oder). Em 1863 passa apenas a Steingutfabrik Paetsch, em resultado de uma sociedade criada pelo filho do fundador, Georg Theodor Paetsch (1833-1890) com Gustav Leopold Selle.
Junto a excelentes vias de transporte – as instalações davam directamente para o rio Oder - a fábrica especializou-se na produção em massa de loiça utilitária para cozinha e mesa e loiça sanitária. Tendo conhecido uma rápida expansão, a partir dos finais do século XIX, vai produzir artigos de baixo custo decorados a estampilha e a aerógrafo de grande difusão nacional e internacional.
Em 1890, após a morte de Georg Theodor Paetsch, seu filho Theodor Friedrich Eduard Paetsch (1867-1939) terá assumido a administração da empresa, sucedendo-lhe no cargo, em 1930, seus filhos Theodor Wilhelm Georg Paetsch (1892-?) e Wilhelm Walter Max Paetsch (1893-1970). Tinha a fábrica já a denominação por que é mais conhecida.
De 1920 a 1942 expôs regularmente as suas colecções na Feira de Leipzig No entanto em 1933 abandonou as formas e decorações vanguardistas, onde predominavam motivos geométricos - quadrados, ângulos, pontos e bandas - que a caracterizaram e de que a base para bolos apresentada é exemplar. Nesse ano passou a uma produção conservadora, tanto ao nível das formas como das decorações, que passaram a apresentar motivos campestres e vegetalistas por imposição do novo poder nacional-socialista.
Entre 1945 e 1953, data da nacionalização pelas autoridades comunistas, terá como administradora Irmgard Paetsch (1898-1988) mulher de Wilhelm Walter. A fábrica encerrou em 1955.

domingo, 2 de março de 2014

Jarra art déco com flores geométricas – Sacavém


Jarra art déco de faiança moldada, piriforme, de cor branca com decoração estampilhada formando um friso de flores que cinta o bojo, de acentuado desenho estilizado, aplicado sobre o vidrado. É formado pela sequência de quatro conjuntos de flores policromas, agrupadas três a três, e folhas verdes, delineadas a preto, interligadas por caules da mesma cor. As flores foram reduzidas a corolas circulares seccionadas em seis partes, formando pétadas a azul e vermelho intercaladas, centradas por círculo amarelo. Bocal realçado a preto. No fundo da base, duplo carimbo Gilman & Ctª – Sacavém, um a lilás e outro a preto e carimbo verde com flor de sete pétalas.
Data: c. 1930-35
Dimensões: Alt. 17 cm


Tratar-se-á da forma nº 8 presente no catálogo não impresso de formatos de jarras da Fábrica de Loiça de Sacavém (FLS), existente no Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA), de c. 1930:
 

A decoração desta peça integra-se no mesmo tipo de grafismo vanguardista da jarra que postámos a 14 de Dezembro de 2011, embora neste exemplar a estilização das flores-círculo, uma vez mais de cores fortemente contrastantes, vá ainda mais longe. Nela ecoa também o orfismo dos Delaunay e o desenho das serralharias artísticas aplicadas nas arquitecturas modernistas dos edifícios projectados pelo arquitecto Cassiano Branco e seus seguidores durante a década de 1930, como então escrevemos e que ilustramos com dois exemplos.