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domingo, 15 de julho de 2018

Jarra craquelé com decoração à chinesa – Sacavém



Jarra de faiança moldada, piriforme de colo invertido e pequena gola elevando o bocal circular. De cor branco-sujo e craquelé miúdo, apresenta, em lados opostos, decoração manual a preto e laranja, aplicada sobre o vidrado, com motivo de cerejeira retorcida com algumas flores, emergindo de um terreno ondulado às escamas, ao gosto chinês. Bocal cintado por corrente de elos a laranja e preto intercalados. No fundo da base, carimbo preto «Gilman & Ctª – Sacavém» «Made in Portugal» sobreposto a outro carimbo idêntico amarelado, e, em relevo na pasta, «80».
Data: c. 1930 – 40
Dimensões: Alt. 14 cm


A Fábrica de Loiça de Sacavém é uma caixinha de surpresas. Desta vez uma inesperada - pelo menos para nós que desconhecíamos este tipo de produção - jarra craquelé com decoração de chinoiserie. As cores são totalmente art déco e a estética orientalizante, presente também no craquelé, acentua esse gosto pelo exótico que se manteve durante os anos 20 e 30, senão mesmo por toda a primeira metade, do século XX. Não sabendo a data de produção é por estas características formais que a datámos. De qualquer maneira encontamos semelhanças nesta decoração com a de 1927/1929 que o artista vidreiro francês Schneider baptizou "Bonzai".  Uma peçazinha de qualidade que demonstra bem que Sacavém era outa loiça…


domingo, 20 de agosto de 2017

Cinzeiro «Hipopótamo» creme - Sacavém


Cinzeiro de faiança moldada e relevada em forma de hipopótamo estilizado, de corpo arredondado, quase esférico, assente sobre quatro patas simétricas, e boca aberta, de cor creme subtilmente craquelé. O maxilar inferior, curvo, serve para apoiar o cigarro. No fundo da base carimbo azul «Gilman & Cta, Sacavém» sobrepujando «Made in Portugal».
Data: c. 1930-40
Dimensões: Alt. 6,5 cm x comp. 7,5 cm x larg. 5 cm (aproximadamente)


Trata-se de mais um objecto fantasista e divertido com que os criadores de cerâmica, e não só, amenizaram o quotidiano do período entre as duas Grandes Guerras. As suas obras ajudavam a esquecer o passado recente que profundas marcas havia deixado em todos assim como a Depressão que, iniciada em 1929, fazia surgir o especto de nova hecatombe, corporizada na subida ao poder de Hitler, em 1933. A potência alemã que havia causado a tragédia de 1914-18 voltava a mostrar as fauces.

Mas, por enquanto, a Europa fingia viver no melhor dos mundos possíveis. Brincar ajudava e os objectos funcionavam como escapismo na esquizofrenia ascendente. Não é à toa que este «Yawning Hippo Ashtray», reproduzido pela fábrica de loiça de Sacavém, seja uma concepção inglesa da Wilkinson Ltd, por volta de 1930. Arthur J Wilkinson (Ltd) operava na Royal Staffordshire Pottery, em Burslem, Stoke-on-Trent. O Reino Unido fazia parte do grupo dos vencedores mas as cicatrizes demoravam a fechar.

Encontrámos uma referência online como tendo sido este cinzeiro criado por Clarice Cliff, que nessa firma trabalhou, mas não o conseguimos apurar.


Como sabem, gostamos de imaginar possíveis cenários onde os objectos pudessem ter figurado no passado. Tratando-se de um cinzeiro individual, logo pouco propício à partilha (a não ser que houvesse vários exemplares estrategicamente espalhados pelo espaço colectivo de recepção de um qualquer interior doméstico), imaginamo-lo numa mesinha de apoio, junto a uma poltrona pronto a ser manuseado. Na pacata realidade portuguesa era mais uma blague num mundo ainda rural isolado sobre si próprio.

Esta forma simplificada e divertida de um cinzeiro em forma de hipopótamo, mais uma vez um brinquedo para o universo dos adultos, remete-nos ainda para a sexy bailarina hipopótamo que nos deliciou, e delicia ainda, na «Dança das Horas», de Ponchielli, no filme de Walt Disney, Fantasia (1940). Deixa-nos bem-dispostos e faz-nos sorrir.


Infelizmente, o nosso exemplar creme tem um defeito de fabrico no maxilar inferior. 

sábado, 31 de dezembro de 2016

Jarra oitavada com fetos – Longwy - França

Apesar da pouca assiduidade que tivemos neste último ano no que diz respeito ao Moderna Uma Outra Nem Tanto, não queríamos finalizar 2016 sem trazer novidades e desejar os tradicionais votos de Bom Ano.


Jarra art déco de faiança moldada, oitavada e craquelé com os ângulos sublinhados a ouro, tal como o anel saliente do bocal. Sobre o fundo beige dos 2/3 superiores da peça destacam-se, também a ouro, volutas formadas pelo desabrochar de folhas de feto. O terço inferior preenchido por campo de flores, a amarelo e laranja, e folhas estilizadas em tons de encarnado. Os esmaltes coloridos são aplicados segundo a técnica da corda seca ou “relevo contornado”. No fundo da base, carimbo a preto esverdeado com o brasão dos Houart, «Longwy – France». Pintado à mão, a preto, «242» e «D.5060». Inscrito na pasta 3070.
Data: c. 1925-30
Dimensões: alt. 38 cm


Já aqui apresentámos esta mesma forma com outros tamanhos. Esta é maior de todas. A decoração é de Raymond Chevallier, de quem já falámos.

Escolhemos habitualmente um peça Longwy esmaltada para finalizar o ano, dado o seu optimismo mundano se enquadrar numa quadra festiva como esta, em que se renovam votos de saúde, amor, paz e prosperidade.

E para simbolizar tudo isso que melhor pode haver que a representação da pujança e força orgânicas das plantas, tão bem expressas no desenrolar de uma folha de feto? Um renascer e um renovar de vida constantes.

Foram características recorrentes na Arte Nova e uma das suas principais especificidades, todavia, o Art Déco vai buscar também o elemento vegetal mas a linguagem com que o vai vestir é radicalmente diferente desse outro estilo mais sinuoso, feminino e que privilegiava a assimetria. A organicidade aqui ganha contornos de mecanização, com plantas estilizadas, geometrizadas e de cores planas, sem cambiantes, aplicadas de forma repetitiva.


Estes fetos, que se desenrolam num espiralado esquinado, tal como a própria forma da jarra, não germinam de uma manta morta vegetal, natural, antes crescem sobre uma superfície atapetada de estranhas flores, talvez rosas, que abrem entre folhagem. Tudo num registo de artificialidade assumida.

Uma criação visual optimista, que aceita a mecanização da própria natureza como atributo do progresso civilizacional em marcha, e símbolo de modernidade, pois no futuro a máquina substituirá a força braçal da humanidade permitindo, finalmente, o direito ao bem-estar e ao lazer. Um futuro sem guerras, pois a última tinha sido um pesadelo que a condição humana não poderia aceitar nunca mais.

Paradoxalmente, ao olhar contemporâneo poderá ter uma outra leitura. Talvez porque estamos hoje mais conscientes de que o avanço civilizacional não é linear nem forçosamente progressista.

Assim, toda esta vegetação poderá ser interpretada como ameaçadora, carnívora. Sobre a ilusão floral erguem-se tentáculos sinistros. Previa-se, então, o futuro próximo e a guerra mundial seguinte? Ou será a nossa mente que, perante a repetição da loucura da guerra mundial em curso, o terrorismo, os fundamentalismos, a eleição de Trump, o degelo e a consequente subida das águas, a intolerância fascista do politicamente correcto e de todas as outras, imagina coisas?


Bom, a intenção era encerrar o ano com uma visão de futuro optimista e a bonita jarra isso prometia. Mas, mais uma vez o balanço anual fez-nos cair na tentação contrária. Porém, como ainda acreditamos no Homem e a Esperança é a última a morrer, renovamos os votos de 


domingo, 2 de outubro de 2016

Ampara-livros «Fauno e Ninfa» de Lejan – Vista Alegre


Par de ampara-livros art déco de porcelana moldada e relevada, craquelé, de cor marfim, composto por duas figuras sentadas, um fauno e uma ninfa, sobre soco sextavado que se prolonga em L na vertical formando o encosto. Em ambos os socos, sob os pés da ninfa e os cascos do fauno, inscrito na pasta «LEJAN». No interior oco das peças, carimbo verde «V.A.» «Portugal» (marca nº 31 - 1924-1947).
Data: c. 1930
Dimensões:
Fauno: Alt. 17,5 x comp. 16,2 cm x larg. 8 cm
Ninfa: alt: 16,5 cm x comp 17 cm x larg.


Este conjunto de ampara-livros foi-nos vendido como pertencente à mesma unidade (ou será que seriam pares de faunos e de ninfas?).

Mas não é essa questão que fundamentalmente nos interessa. A propósito deste ampara-livros e de outras peças assinadas «Lejan» produzidas em Portugal pela Fábrica da Vista Alegre, que temos vindo a apresentar, hoje voltamos à problemática identidade do seu autor.


De Lejan apresentámos, em 2011, peças da Vista Alegre, caso do «Pierrot», em 11 de Novembro (e um post sobre o seu émulo da fábrica francesa Orchies, assinado «Dax», em 13 de Novembro seguinte), do «Arlequim», em 14 de Novembro ou do «Urso polar» em 27 de Dezembro.


Apesar de enigmático é consensual que Lejan, Le Jan, Genvane, Dax, Jeanle, sejam a mesma e única pessoa.

No catálogo da Exposição realizada em 2007 no Musée des Années 30, Sèvres. Boulogne-Billancourt: La ceramique indépendante, p. 124, um apontamento biográfico refere que Lejan “é uma assinatura misteriosa e impenetrável. É nome de artista ou pseudónimo? Existiu realmente ou é um nome utilizado por uma manufactura para assinar as peças de diferentes artistas?”
No livro Les craquelés Art déco: histoire et collections, de Hardy e Giardi, de 2009, que já citámos noutro post, diz-se ser Lejan um prolífico escultor que continua a causar polémica em França, sendo considerada a mais enigmática das personalidades evocadas.
E nós, enquanto coleccionadores e amadores destas coisas, e baseados em documentação e aproximações formais, propomos uma atribuição que pensamos cada vez mais consistente.


A hipótese que levantámos no post dedicado a um peixe craquelé assinado Lejan, em 29 de Dezembro de 2011, no seguimento de uma base de candeeiro da Cerâmica S. Bernardo, de Alcobaça, postada em 21 de Novembro desse ano, que reproduzia nos anos 80 do século XX, uma das bailarinas de Jean-Baptiste Gauvenet (1885-1967) para Sèvres, chamávamos a atenção para as aproximações no maneirismo das torções dos corpos, nos perfis das cabeças e mesmo nas golas do vestuário encontradas nas bailarinas de Gauvenet e os ditos Pierrot e Arlequim de Lejan, da V.A.


Continuámos a fazer análises comparativas, de que aqui damos alguns exemplos, entre obras assinadas Gauvenet para Sèvres, em porcelana, e outras - faianças craquelé em França ou porcelanas em Portugal – com as diferentes assinaturas. Deparámo-nos de novo formalmente com linguagens muito similares.


Por isso, estamos cada vez mais convictos de que o segredo se encontra, de facto, revelado no verbete nº 1049 do Catálogo Geral da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre (Portugal), relativo ao artigo escultura «Arlequim», de 1927, que dá como autor Gauvenet, cujo primeiro nome é, afinal, Jean-Baptiste. Assim, Lejan, Le Jan, Genvane, Dax, Jeanle, são vários pseudónimos que Gauvenet terá utilizado para obras não concebidas ou decoradas para Sèvres.



quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Jarra cantil decagonal – Longwy - França


Jarra art déco de faiança moldada e relevada, craquelé, em forma de cantil decagonal, com decoração cubizante, policroma esmaltada, cloisonné, segundo a técnica da corda seca ou “relevo contornado”, em três tons de azul e branco, com motivos florais e geométricos, nas duas faces e perfil a azul-forte. Pé saliente e bocal octogonais a azul-forte, tendo o último a parte superior a azul mais claro. No fundo da base, carimbo preto com escudo coroado sobrepujando «LONGWY FRANCE» e, pintado à mão, «D.5457» e carimbos «L» e «37» (?)
Data: c. 1920-30
Dimensões: Alt. 19 cm x Ø. 16 cm x larg. 5 cm


A exuberância da decoração, em flores que explodem como fogo-de-artifício, cortadas pela geometria dos rectângulos, é bem exemplificativa de um Cubismo amável que perdeu a agressividade escandalosa da década anterior e já pode ser aceite tranquilamente nos lares burgueses. Aliás já prenunciado pelo cubismo de pendor decorativista de André Lhote, por exemplo, desde meados dos anos 10.


Deixemos de lado o objecto. Hoje acaba mais um ano e as expectativas de um 2015 feliz goraram-se na voragem da irracionalidade a que o Homem parece estar sempre condenado. Efeitos da Caixa de Pandora, certamente.

Apesar da crise europeia, apesar das nuvens negras que se adensam no horizonte a Oriente, terrorismo e fundamentalismo islâmicos não serem mais que uma guerra em grande parte induzida pelo domínio da água, muito mais preciosa que o petróleo, apesar das alterações climáticas e deste excesso de calor pouco usual para a época do ano – El Niño volta lá para onde vieste – o ritual de renovação que a passagem do ano significa para a Civilização Ocidental, leva-nos a ser optimistas.

Assim, e como vem sendo tradição no nosso blogue, os votos de Ano Novo, com desejos de Paz, Amor e Prosperidade, são ilustrados com uma peça Longwy. É que não há nada tão optimista como uma jarra dos anos 20 e 30 desta fábrica!

Talvez temesse pelo futuro mas a sua produção art deco é então um hino à Esperança que nunca abandona o Homem mesmo em tempos que anunciam tempestade.


domingo, 5 de abril de 2015

Jarra esférica da série “Solbjerg” – Aluminia (Dinamarca)


Mais uma peça da série “Solbjerg”, criada por Nils Thorsson, na década de 1930, para a Aluminia, do grupo Royal Copenhagen. Tal com já escrevemos (ver post de 28 de Novembro de 2011), a modernidade e o sucesso do design da série levaram a que a mesma fosse mantida em produção de 1935 a 1969. A jarra de hoje, embora art déco no estilo e data de concepção, é da fornada de 1961, dado apresentar um «u» sob o r de Denmark.


Jarra esférica de faiança moldada com decoração incisa, de motivos geométricos estilizados que remetem para uma representação vegetalista, ao gosto art déco dinamarquês, recoberta uniformemente com esmalte translúcido, cinzento-creme acetinado, conhecido por vellum, como se de uma velatura se tratasse, realçando e adoçando o traço subjacente. Interior castanho-escuro. Toda a superfície é suavemente craquelé. No fundo da base carimbo castanho com A, triplamente traçado (de Aluminia), Denmark, e «u» sob o r. Carimbo a azul 1567 (Decor), número que aparece igualmente inscrito na pasta.
Data: c. 1935
Dimensões: Alt. c. 11 cm x Ø c. 12 cm


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Taça art déco Primavera - Longwy - França


Taça de faiança moldada, esmaltada a azul-forte craquelé, em forma de calote, assente sobre pé cilíndrico, com decoração vegetalista estilizada art déco, segundo a técnica do “relevo contornado” ou corda-seca em tons de creme e castanho. O covo é preenchido por círculo creme com composição floral de cor creme-amarelado complementada por folhagem castanha. Quatro árvores, de ramagens pendentes, com frutos e flores, iguais duas a duas, ritmam a superfície exterior. Pé seccionado por linhas onduladas a castanho. Bordo e pé circundados por anel preto. No fundo da base, carimbo circular preto, com escudo e coroa, Primavera – Longwy – France.
Data: c. 1920-30
Dimensões: Ø 24 cm x alt. 11 cm



A taça, certamente uma fruteira, é de um azul-escuro mais carregado do que a fotografia nos mostra. O grafismo art déco, quase sempre vegetalista e/ou zoomórfico, da decoração das peças concebidas pelo atelier de arte Primavera e produzidas na Fábrica de Faiança de Longwy é facilmente reconhecível pelo tipo de estilização, por vezes geometrizada. Não sendo uma peça de um dos grandes decoradores, os únicos a assinarem peças, trata-se de uma estilização muito própria que encontramos em várias composições criadas por esse atelier dos grandes armazéns Printemps, em Paris.



domingo, 30 de novembro de 2014

Bilheteira com cães de fo – Karlsruhe - Alemanha


Taça art déco de faiança moldada (barro vermelho), com vidrado craquelé. A parte superior, em forma de calote esférica, de base branca com bordo preto de manganês, é circundada, no interior, por lista azul-claro seguida de amarelo-pálido, ambas aguadas, ficando o covo a branco. As mesmas cores encontram-se na base que repousa sobre três animais com olhos e bocas vazados, lembrando cães de fo (símios ou criaturas míticas ou grotescas) no mesmo tom de azul mais carregado com apontamentos a preto de manganês e reservas da matéria base, o barro vermelho, sob vidrado. No fundo do pé, inciso na pasta, carimbo da fábrica Karlsruhe, com coroa, e carimbo preto «3220» [modelo] «Germany». Também inciso na pasta «23».
Data: 1932 
Dimensões: Larg. 28,5 cm x alt. 12 cm


Trata-se de uma bilheteira do escultor e ceramista, Christian Heuser, nascido em 1897 em Aschaffenburg, produzida de 1932 a 1935.

Heuser estudou nas escolas de artes aplicadas de Partenkirchen e de Munique e na Academia de Artes Aplicadas desta cidade. Por volta de 1930 cooperou com a Manufactura de Cerâmica de Karlsruhe. Entre a sua diversificada produção destacam-se os trabalhos de cerâmica que fez para a principal estação de caminhos- de-ferro de Frankfurt am Main.


Tal como Matha Katzer ou Paul Speck, de quem já apresentámos peças, Heuser é bem um exemplo da tensão entre a teoria propugnada pela Bauhaus, em 1919, e os reajustamentos a que as necessidades da produção industrial obrigaram.
A produção em série de cerâmica utilitária da Bauhaus começou nesse mesmo ano com o ideal de um regresso ao artesanato. Tal como num atelier medieval, a arte era vista como extensão do engenho e resultado de uma união de esforços.
O atelier cerâmico da Bauhaus começou assim em Dornburg, com o objectivo declarado de um renascimento da antiga artesania. No entanto, em 1922, pôs-se em questão este desiderato e reconheceu-se que a indústria, com as novas técnicas poderia melhorar a produção e aumentar as vendas. A partir de então, e não esquecendo os seus princípios, vai reorientar-se no sentido de uma cooperação prática com a indústria.

Nicola Moufang, então director da Karlsruher (1921-1928) segue também neste sentido e, somente por questões económicas, vai promover a produção industrial de cerâmica utilitária. Tornava-se evidente que a criação artística teria que ser diferente da utilizada na olaria tradicional. Novos moldes adaptados a novas tecnologias tinham que ser concebidos indo ainda de encontro aos novos gostos estéticos tanto modernistas como art déco.


Os modelos criados vão receber uma publicidade adequada à época. Assim, nos folhetos promocionais da fábrica aparece um novo conceito: “Fröliche Sachlichkeit”, ou seja, “Objectividade feliz” sendo que objectividade era o novo design que se traduzia em formas práticas e sóbrias e na ulização de um número restrito de esmaltes. Feliz, pelo emprego de cores ténues.

O objectivo era, nas palavras dos publicitários, propor um “artesanato seminatural, sem naturalismos ultrapassados”. Como se vê, esta formulação mostra bem a tensão entre a tradição artesanal e a nova maneira simplificada de trabalhar.
A bilheteira que hoje apresentamos –“bilheteira com forma refinada”- na publicidade de então, é bem um exemplo do que anteriormente escrevemos.



sábado, 27 de setembro de 2014

Uma identificação resolvida


Graças à gentileza de CMP e de mais uma leitora (JO) do blogue, a quem expressamos os nossos agradecimentos, resolveu-se o mistério da fábrica das duas peças ilustradas: a jarra «chinês» e a caixa zoomófica postadas, respectivamente, a 3 de Dezembro de 2011e a 23 de Junho de 2012.

O carimbo da fábrica, porque pouco legível, foi inicialmente identificado como sendo «OAL – Alcobaça» e depois, por paralelo com outro idêntico, mais legível, que CMP nos fez entretanto chegar, como «AL ou LA- Algarve». Pelo menos a referência geográfica da localização ficava definida. Faltava, então, saber a sua designação e algo mais se possível.

Trata-se da marca Lastra - Faianças Decorativas do Algarve, Lda, localizada em Lagos. Dedicava-se ao fabrico de artigos de uso doméstico de faiança, porcelana e grés fino e terá encerrado, por falência, nos anos 90 do século XX.

Se alguém nos conseguir apurar a data de fundação, sempre poderíamos melhor balizar uma possível cronologia para as peças em questão. A jarra «chinês», craquélé de fortes referências Art Déco, é possível que esteja associado ao revivalismo que o estilo conheceu na década de 80, com fábricas mais antigas a reeditar modelos dos anos 30, caso de Sacavém, ou cópias de modelos estrangeiros, como a base de candeeiro da Cerâmica S. Bernardo – Alcobaça que postámos a 21 de Novembro de 2011.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Jarra «ovo» art déco D. 5405 - Longwy


Jarra art déco de faiança moldada, de forma ovóide assente sobre três pés em bala, totalmente craquelé, esmaltada com decoração floral estilizada. Sobre o bojo de fundo azul-egípcio, espalham-se grandes flores espiraladas a dois tons de rosa, com folhas rosa velho debruadas a ouro, segundo a técnica do “relevo contornado” ou corda seca. Pés e colo a ouro. No fundo da base, carimbo preto com as armas do Barão de Huart: escudo com ramo de azevinho, coroado, envolto por listel ou filactera com a legendaÉmaux de [Longwy]” sobre “France” e sobrepujado por “Décoré à la [main]”. Carimbo rectangular, também a preto, onde, à esquerda, se lê “F. 3057” (forma), "D.5405" (decor) e “C.” e à direita “16" e, no alinhamento do “C” anterior, “414”.
Data: c. 1925
Dimensões: Alt. 18,5 cm


Mais um exemplar de jarra da Faïencerie de Longwy com os seus célebres esmaltes e a sua excepcional qualidade técnica. Joie de vivre uma vez mais.

Quando vimos esta versão cujo modelo já possuíamos, mas com a decoração D.5202, e que postámos a 21 de Setembro de 2012, pairava no ar a voz de Louis Armstrong com o seu célebre What a Wonderful World. De facto, nestas flores sobre um céu azul ecoava o tema da canção, e o mundo ainda parecia maravilhoso.


Os anos foram passando, e agora, neste 2013 que finda, sim! demos por nós a pensar, que vivemos num mundo cada vez menos wonderful onde se perdem direitos todos os dias, se aprofundam clivagens e a sociedade é cada vez menos solidária.


Uma vez mais, escolhemos para finalizar o ano, uma decoração cujas flores explodem, qual fogo-de-artifício, no azul optimista de um céu sem núvens. Foi concebida no curto tempo de euforia entre duas catástrofes. Esperemos que 2014 encerre positivamente o parêntesis dos últimos anos e a esperança e o optimismo regressem de uma forma mais adulta para que os mesmos erros não voltem a ser cometidos. 



domingo, 29 de dezembro de 2013

Jarra art déco azul ondeada Boch Fréres La Louvière - Bélgica

 

Jarra de faiança moldada, craquelé, de cor monocroma azul-egípcio. O bojo, tendencialmente cilíndrico com caneluras, é cintado por três faixas horizontais tripartidas, ondeantes e relevadas. Assenta sobre pé troncocónico e é simetricamente rematado por colo de igual forma. Bocal e interior do colo da mesma cor do exterior. No fundo da base carimbo preto circular, sobre ramo de loureiro (?) com Boch FES La Louvière enquadrado por Made in Belgium – Fabrication Belge. Inscrito na pasta, realçado a azul, 1288.
Data: c.1935
Dimensões: Alt. c. 22m


Esta peça belga, da Manufactura Boch Fréres Keramis, em La Louvière, do período em quem Charles Catteau era seu director artístico, apresenta uma forma (nº 1288) que terá sido criada por volta de 1929. Todavia, a cor azul monocroma será de c. 1934. Tal como a peça da Aleluia-Aveiro que postámos anteriormente, remete também para uma lanterna oriental de papel de arroz.




quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Tigre com presa art déco - Sacavém



Quando em 10 de Setembro de 2012 postámos uma série de esculturas animalistas demos nota também sobre este modelo concebido pelo escultor inglês John R. Skeaping (1901-1980) e dos diversos animais, desenhados em 1926, que propôs à fábrica de Wedgwood, cuja imagem do catálogo aqui apresentamos. A figura de cerâmica era originalmente complementada por soco de madeira, característica, aliás, comum a outras peças do período art déco, casos de jarras, caixas, etc, que assim ganhavam maior destaque ou outra dignidade. Tais bases suplementares tanto podiam ser de desenho contemporâneo, de linhas rectílineas, como é o caso, como ser peanhas chinesas.


Trata-se de um tigre com presa, escultura do bestiário de Skeaping, (intitulada «Tiger and buck») produzida pela Fábrica de Loiça de Sacavém. Peça de faiança moldada, ao gosto art déco, esmaltada a cor marfim amarelado, craquelé. O animal, em movimento sobre um soco paralelepipédico, arrasta com a boca a carcaça de um bode. No fundo da base, carimbo azul, «Gilman & Ctª – Sacavém» sobrepujando «Made in Portugal». Inscrito na pasta 52C.
Data: c. 1930-35
Dimensões: Comp. 34,3 cm x 9,4 cm