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domingo, 15 de novembro de 2015

Prato coberto art déco - Serviço Estoril – Sacavém


Prato coberto de faiança moldada, de formas geométricas ao gosto art déco modernista, monocromo azul-pálido. O contentor, circular e com pé inflectido escalonado, tem duas asas semicirculares assentes sobre mísulas escalonadas. A tampa, igualmente circular e escalonada, tem pega em forma de anel largo, interrompido. Integra o serviço de jantar Estoril. No fundo da base, carimbo verde «Gilman e Ctª - Sacavém – Portugal» e, também a verde, carimbo em forma de flor (?) de 4 pétalas.
Data: c. 1935
Dimensões: Ø 26,7 cm (com asas) x alt. 10,5 cm



 Estamos perante uma forma importada de Inglaterra. O modelo Estoril da Fábrica de Loiça de Sacavém, reparem na ironia do nome português, não é mais que a importação do modelo Casino criado, provavelmente em 1932 ou 34, pela Royal Doulton Potteries, na Nile Street, em Burslem, Stroke-on-Trent, onde foi produzido em faiança e em porcelana.


As linhas modernas, simples e práticas, mas elegantes, deste serviço art déco de vertente streamline, são concebidas no âmbito da renovação que a empresa inglesa sofre nos inícios dos anos 30, ao contratar artistas contemporâneos para conceber objectos de design para produção em massa. A forma remete para uma estética industrial em que as diversas partes parecem resultar da colagem de elementos mecânicos. O modelo Casino recebeu decoração linear: “Marquis”, “Radiance” ou “Envoy”, no original inglês, onde faixas de cor – laranja, verde ou azul, respectivamente – são complementadas por faixas e filetes concêntricos a preto.


Este modelo, produzido por Sacavém, teve um grande sucesso de vendas em Portugal, e a sua forma é ainda mais depurada nesta variante monocroma que apresentamos, por contraponto aos exemplares com decoração linear, também frequentes no mercado nacional. Quando olhamos para a fotografia ou a publicidade dos exemplares ingleses que ilustramos julgamos, de imediato, estar perante peças produzidas por Sacavém. Ver outra variante decorativa em MAFLS.


Ter serviços, então completos pior ainda, é uma dor de cabeça para um colecionador de cerâmica. Nada ocupa tanto espaço quanto estes. Agravado quando se gosta de ter os mesmos modelos nas suas diversas variantes decorativas. Peças isoladas, mas exemplificativas, de cada modelo produzido ajudam a colmatar a dificuldade. É o caso.

domingo, 14 de junho de 2015

Importações e desencontros: leiteira modelo «Estoril» versus Keith Murray - Sacavém


Ainda a propósito do modelo de serviço de café produzido por Sacavém concebido por Keith Murray postado ontem, cumpre-nos tecer algumas considerações sobre o mesmo, até para dar maior destaque a um caso que nos intriga e que parece ter sido recorrente na produção industrial portuguesa. Ao nível da cerâmica pelo menos.



É que a pequena leiteira do modelo «Estoril» da Fábrica de Loiça de Sacavém que hoje postamos, também de importação inglesa como já tivemos ocasião de escrever, acompanhava o serviço de Keith Murray como se fizesse parte do mesmo. Porque nos pareceu uma incongruência fizemos propositadamente a separação entre as peças postadas ontem e esta, com 7 cm de altura e datável de c. 1935.


Misturar cafeteira e chávenas concebidas por Keith Murray para Wedgwood, de c. 1934, com a leiteira (e sabe-se lá qual seria a forma do açucareiro) modelo Moderne, da firma inglesa Carlton Ware, de c. 1935, terá sido devido às leis do acaso que, por afinidades de cor e sentido de oportunidade de vendedores de velharias, acabassem por reunir peças de modelos diferentes formando conjunto? Ou terá sido uma opção deliberada, uma estratégia de mercado por parte de empresas nacionais, caso de Sacavém? Por questões de preço? Não seria caso único nem a única fábrica a fazê-lo. Também já aqui levantámos suspeitas sobre um serviço da Vista Alegre, por exemplo.


Acompanhar a evolução do design moderno internacional durante a década de 30 num país pouco culto e que não tinha designers próprios, poderá ter dado azo a equívocos de produção. Ou por economia de meios ou por desentendimento funcional e estético das formas. A satisfação de um mercado composto por uma clientela pouco esclarecida poderá ter levado à mistura, consciente ou não, de modelos de várias linguagens. Que era usual importar modelos estrangeiros de proveniências distintas para satisfazer fábricas nacionais é um facto. No clima de renovação formal do período Art Déco ocorrido no Portugal de finais dos anos 20 e, sobretudo, na década seguinte, assim se satisfazia as necessidades de um mercado pouco exigente e se acompanhava a evolução internacional do gosto e das mentalidades

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Chávena de serviço de café art déco “marmoreada” – Formato Estoril - Sacavém


Em 10 de Outubro de 2014 debruçámo-nos sobre o modelo que a Fábrica de Loiça de Sacavém baptizou como «formato Estoril» decorado com o motivo nº 933, composição geométrica linear produzida em sete combinações cromáticas diferentes. Teremos oportunidade de mostrar mais algumas.

Todavia, hoje trazemos uma decoração menos comum em que a peça – dispomos apenas de uma chávena com respectivo pires – é marmoreada.


Sobre a cor rosada pálida de base foi aplicada a estampilha e aerógrafo uma decoração marmoreada a castanho-avermelhado. Esta preenche o bojo ovoide da chávena e covo e aba do pires. A asa lateral ondulada e pé da chávena são uniformemente preenchidos a castanho-avermelhado e o bordo da aba do pires recebeu, em espelho, como pegas onduladas, apontamento trilobado a cheio na mesma cor. No fundo da base do pires, carimbo verde «Gilman & Ctª / Sacavém / Portugal».. Inscrito na pasta, «52 B» «4-40» e algo mais, ilegível. No fundo da base da chávena apenas carimbo verde com «L».
Data: c. 1935
Dimensões: Pires: Ø 10,8 cm x alt. 1,5 cm;
Chávena: alt. 6 cm x larg. c/ asa 7,5 cm


Lembramos que na génese deste formato está um modelo de serviço de chá editado por Robj, em França, c. 1930, fabricado pela Villeroy & Boch – Luxemburgo, e reproduzido em Portugal pela Vista Alegre. Porém, é a versão deste modelo, em serviço de café, forma 1246, da inglesa Carlton Ware que Sacavém vai produzir. 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Serviço de café art déco – Formato Estoril - Sacavém

Na ausência de um design industrial nacional que satisfizesse as necessidades do mercado e que acompanhasse a evolução do gosto (e, de alguma maneira, das mentalidades) no clima de renovação formal do período Art Déco, a partir de finais dos anos 20, mas mais evidente na década seguinte, a importação de modelos estrangeiros foi a solução encontrada pelas fábricas portuguesas. Ao nível da loiça utilitária já apresentámos exemplos deste princípio utilizado em várias unidades fabris, caso da Porcelana de Coimbra, com modelos sobretudo alemães, e da Fábrica de Loiça de Sacavém com reprodução de modelos ingleses, caso que mais uma vez ilustramos. Todavia, neste formato concreto, a situação é um pouco mais complexa e curiosa.


Serviço de café art déco, da vertente modernista, de faiança moldada, composto por cafeteira, leiteira, açucareiro e chávenas com respectivos pires. A chávena de café apresenta bojo ovoide truncado com base e asa lateral ondulada, de perfil rectangular fechado. Corpo branco é decorado por três filetes horizontais a azul-escuro e laranja, desencontrados, e unidos por dois filetes oblíquos mais finos a azul-escuro. O bordo da asa e a base são destacados por filete duplo a azul-escuro e laranja. Pires circular, branco circundado por filete duplo azul-escuro e laranja. Cafeteira, leiteira e açucareiro apresentam forma e decoração idênticas, embora a primeira tenha tampa com pega tricolor, branco, laranja e remate a azul, e asa vazada, e o último apresente duas asas. Trata-se do modelo Estoril, com motivo decorativo nº 933. No fundo da base, excepto chávena, carimbo verde «Gilman & Ctª / Sacavém / Portugal». Pintado à mão, a azul, «Y ou T», excepto na leiteira, e que é a única marca presente nas chávenas. Na cafeteira, inscrito na pasta, «P». No pires, inscrito na pasta, «52LO» Sacavém e, a verde, «T». Açucareiro apresenta ainda «2» a verde.
Data: c. 1935
Dimensões: Várias



O conjunto não se encontra em condições perfeitas - algumas peças estão manchadas pelo uso por café, outras apresentam pequenas falhas na pintura aplicada sobre vidrado, etc. – mas colecionar tem também um pouco a ver com o acaso e compra-se o que se nos oferece no mercado numa dada ocasião, desde que a preços razoáveis e não especulativos.




Trata-se da decoração nº 933 «para serviços de café formato Estoril em barro marfim», de acordo com o catálogo de desenhos da Fábrica de Loiça de Sacavém, existente no Centro de Documentação do respectivo Museu (MCS-CDMJA), a quem mais uma vez agradecemos. A ficha respectiva informa-nos ainda que se aplica este motivo geométrico nas combinações de cores: azul e preto; verde e preto; amarelo e preto; ouro e preto; amarelo e castanho; ouro e azul e encarnado e preto.


O modelo que está na génese do formato Estoril foi editado por Robj, em França, c. 1930 (a produção Robj encerra em 1931), em versão serviço de chá, embora fabricado no Luxemburgo onde a Villeroy & Boch tinha uma fábrica que forneceu vários modelos a este editor. Não conseguimos apurar nome ou nacionalidade do designer que o concebeu, não tendo de ser forçosamente francês.

Possivelmente chega a Portugal, à Vista Alegre, enquanto serviço de chá, por via francesa, e a Sacavém apenas na forma de serviço de café, por via do modelo Moderne, dos anos 30 (c. 1935), da firma inglesa Carlton Ware, forma 1246, que reproduz o modelo de Robj, em versões de açucareiro com e sem tampa. A decoração do serviço de Sacavém provém também da Carlton Ware onde recebeu o nome Rayure. Trata-se de um bom exemplo da circulação internacional do design moderno de formas que se tornaram mais populares no período de Entre-Guerras.