sexta-feira, 24 de julho de 2015

Jarra art déco com três asas (pequena) – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada e relevada, piriforme, com bojo seccionado regularmente por caneluras verticais e três pequenas asas entre o colo e a parte superior do bojo. Sobre a cor creme de fundo recebeu decoração estampilhada manualmente a preto e castanho. Entre as caneluras, debruadas por filete preto, recebeu festões vegetalistas estilizados que pendem de um anel perolado que cinge a parte inferior do colo sendo a parte superior do mesmo decorado por duas folhas cruzadas, onde liga a parte superior das asas que são, em ambas extremidades, pintadas a preto em degradé, simulando o esfumado do aerógrafo. Assenta sobre pé saliente realçado por filete preto e aguada acastanhada. No fundo da base, a preto pintado à mão, «Aleluia Aveiro» e, inscrito na pasta, «20» seguido de «A» igualmente a preto pintado à mão.
Data: c. 1935 - 45
Dimensões: alt. 12,5 cm



Trata-se pois do modelo nº 20, e a primeira decoração da série, como indica a letra «A». No Catálogo de loiças decorativas de inícios da década de 40, aparece representada jarra idêntica, com mesma dimensão e numeração, mas com o nº 20-B, ou seja, a segunda da série. Haveremos de postar o modelo nº 21 de maiores dimensões e outras decorações.


Estaremos, uma vez mais, perante um exemplo de contaminação com a produção da vizinha Fábrica da Vista Alegre. Ao observarmos a jarra «Ângelo», que ilustramos, não há dúvida de que estamos perante a mesma forma. A jarra aparece-nos referida na bibliografia existente como tendo sido criada na Vista Alegre em 1937. Todavia, e mais uma vez a ironia do desconhecimento sobre a produção nacional, a fábrica alemã de porcelanas Rosenthal produziu este modelo na mesma década de 30, e não cremos que tenha sido ela a copiar um modelo português.


Aliás, a Rosenthal parece ter sido uma razoável fornecedora de modelos para o mercado nacional das fábricas de cerâmica, caso da Vista Alegre ou Sacavém e, provavelmente por acréscimo, da Aleluia-Aveiro como será o caso do exemplo de hoje.


A propósito de Sacavém, aproveitamos para exemplificar um dos casos mais flagrantes de utilização de um modelo escultórico alemão da Rosenthal e os equívocos que, mais uma vez, o desconhecimento introduz no discurso nacional vigente sobre o assunto.

Trata-se da escultura de mulher nua sentada, que na obra «Fábrica de Loiça de Sacavém» de Ana Paula Assunção aparece, na página 125, erradamente identificada como sendo da autoria de Donald Gilbert. Como ilustramos, trata-se também de uma peça concebida pela Rosenthal, criada em 1934 pelo escultor alemão Gustav Adolf Bredow (Krefeld, 1875 - Stuttgart 1953). Basta saber ver a obra de Donald Gilbert, um artista moderno, para se perceber que tal peça, de estética profundamente reacionária, já da época hitleriana, não poderia nunca ser criação sua. Uma obra sem garra.


Como tivemos oportunidade de desvendar na palestra «À conversa com …», realizada no Museu de Cerâmica de Sacavém, em 24 de Maio de 2014, intitulada «Modelos e referências estrangeiras na produção da loiça de Sacavém na 1ª metade do século XX», a influência alemã é bastante grande em Sacavém.

Habitualmente só se refere a importação de modelos ingleses, mas como se vê a Alemanha (fábricas como a referida Rosenthal, a Max Roesler, a Schramberg, a Sörnewitz-Meissen, etc.), mas também a França (apresentamos dois exemplos da Fábrica de Sainte Radegonde), deram contributos significativos para esta fábrica. São, por agora, apenas alguns exemplos, mas voltaremos ao assunto a propósito de outras peças.




quinta-feira, 23 de julho de 2015

Ampara-livros art déco “Elefante” azul – Sacavém


Elemento de um par de ampara-livros art déco, em versão aerografada, a azul manchado a castanho, criado por Donald Gilbert, idêntico ao par cor-de-laranja postado postado em 7 de Dezembro de 2014. No fundo da base, carimbo verde «Gilman & Cta – Sacavém» e, inscrito na pasta, «Gilbert Sc» [Sculpcit] , e «EL» «52».
Data: c. 1930 - 35
Dimensões: Alt. 15,7 cm x comp. 10 cm x larg. 7,3 cm


A escultura corresponderá à designação «Ampara livros - Elefantes», com o nº 238, que aparece nas tabelas de preços de «Loiças decorativas em faiança» da Fábrica de Loiça de Sacavém, de 1945, a 50$00 o par.



Infelizmente temos apenas um de um par. Se por acaso tiverem um solto e queiram fazer uns colecionadores compulsivos felizes, já sabem: contactem-nos. 


domingo, 19 de julho de 2015

Manga cilíndrica art déco com pássaros – K et G Lunéville - França


Jarra cilíndrica (manga) art-déco de faiança moldada de cor branca com decoração estilizada policroma, em azul, mostarda e preto, estampilhada e aerografada, de pássaros empoleirados em ramagens com folhas e flores. Parte inferior bordejada por uma sequência de segmentos curvos e tracejados a azul como uma “renda”. No fundo da base carimbo preto K&G - Lunéville- France. Inscrito na pasta «3P» e um «♥» [coração].
Data: c. 1923-30
Dimensões: Alt. 18,5cm x Ø 8 cm


Já todos conhecem esta nossa apetência pelas criações de Géo Condé, artista recorrente neste blogue, ou do seu círculo em Lunéville. As suas decorações com estilizados desenhos art déco são, a nosso ver, simultaneamente populares e eruditas, singelas e sofisticadas. Esta manga é mais um exemplo do seu estilo peculiar.

Associa-se também ao nosso gosto pela técnica, aparentemente simples, da estampilhagem aerografada. De facto, as figuras recortadas em estampilhas e aplicadas a aerógrafo, geralmente, com duas ou três cores apenas, da produção de Lunéville, são de um invulgar efeito visual, dentro dos parâmetros da contemporaneidade de então na versão art déco popular francesa.


Para mais, costumamos cá por casa falar de Lunéville como a versão francesa da Fábrica de Loiça de Sacavém (a nossa paixão nacional), embora nesta os aerografados sejam mais de inspiração germânica. Mesmo assim encontramos algumas afinidades, sobretudo na lógica da produção para as massas de loiça corrente, geralmente de baixo custo. Falamos de faiança, porque em relação à produção em grés com os irmãos Mougin já estamos a um outro nível.

É certo que Lunéville teve sempre uma produção com criação própria muito diversificada e que em determinados períodos da sua história, caso dos finais do século XIX e inícios da centúria seguinte, produziu faiança de excepcional qualidade que dificilmente a sua congénere nacional igualará, apesar das excepções.

Nesta produção. e no trabalho deste artista em particular de cuja obra temos vindo a dar exemplos, estão reunidas um conjunto de características, conceitos e técnicas que muito nos agradam.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Paliteiro art déco da Electro Cerâmica – Vila Nova de Gaia


Paliteiro art déco de porcelana moldada em forma de prisma triangular com arestas chanfradas. Sobre a cor branca, em cada face lateral, contornada por filete azul, recebeu decoração de flores estilizadas policromas estampadas, em quincôncio, sendo a central uma papoila aberta. No fundo da base carimbo azul EC inscrito num quadrado, na oblíqua, envolvido por Empreza/Electro/Cerâmica/V.N.Gaia. Inscrito na pasta, à mão, V.
Data: c. 1930
Dimensões: comp. 9 cm x alt. c. 4,5 cm


Dos objectos utilitário de ir à mesa os paliteiros estão quase ausentes das nossas colecções de cerâmica. Poucos encontramos com as características estilísticas que nos interessam e os que aparecem geralmente tendem para ter motivos florais muito tradicionais e repetitivos. Neste caso, sendo um exemplar de características populares, não deixa de remeter para a contemporaneidade do seu tempo. Não podia ser de outra época. Para além da forma, talvez a mais comuns ainda hoje em uso em Portugal, junta-se a estilização floral do motivo, flores geometrizadas muito ao gosto art déco alemão, para variar…


domingo, 12 de julho de 2015

Jarra art déco quadrilobada listrada com escorridos – Lusitânia – Lisboa


Jarra de cerâmica moldada, trilobada e lotiforme, decorada a aerógrafo, creme a parte superior e a cor-de-laranja a parte inferior incluindo o pé oval saliente. Uma lista a manganês separa as duas cores. Bocal igualmente a manganês. De permeio duas linhas a manganês e uma a amarelo cintam a parte superior do bojo. No fundo da base, carimbo estampado, verde, da unidade de Lisboa: escudo coroado Lusitânia, com Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia] sobrepujando Portugal.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 23 cm x larg. máx. 19 cm


Já aqui tivemos oportunidade de postar outras jarras deste mesmo modelo, nas três dimensões que conhecemos. A de maiores dimensões (29 cm) da Lusitânia-Lisboa, em 7 Fevereiro de 2015, e a mais pequena (15,5 cm) da unidade de Coimbra, em 8 de Fevereiro de 2015, apresentavam o mesmo tipo de decoração com escorridos aplicados a aerógrafo. A de tamanho médio (23 cm), também de Coimbra, em 7 Janeiro 2013, com uma variante decorativa vegetalista.

A jarra de hoje é da dimensão desta última, mas da unidade de Lisboa, e retoma a técnica pictórica das duas primeiras, de influência alemã, sobretudo da fábrica Carstens-Uffrecht, como então escrevemos. Os escorridos estão presentes, ainda que mais elaborados e controlados, desenhando faixas e linhas paralelas que se moldam à forma.


Sempre que possível adquirimos mais de um exemplar da mesma forma com decorações diferentes. Isso permite-nos apreender as virtualidades decorativas que uma forma adquire ao transformar-se num objecto distinto. É um modo de sistematização que nos agrada enquanto colecionadores de cerâmica. Na ausência de um design português para este período conseguimos, deste modo, vislumbrar o que à cópia importada se acrescenta, ou não, de “nacional”.

sábado, 11 de julho de 2015

Jarro com faixas cortadas para cacau da Carstens Gräfenroda - Alemanha


Mais uma chocolateira art déco, da mesma forma «Leine», da alemã Carstens Gräfenroda que anteriormente postámos. Apresenta a mesma paleta quase monocromática, em dois tons de castanho e partes em reserva, mas com outra decoração, a nº 757. Esta concentra-se apenas no bojo esférico onde três faixas paralelas horizontais, a castanho-mel, são seccionadas em quatro partes por faixas verticais a castanho-chocolate. Todas as faixas aerografadas têm um dos lados em esfumado, pelo que o corte da estampilha será apenas rigoroso num dos sentidos. A restante superfície externa é castanho-chocolate. No fundo da base, carimbo preto, em forma de escudo, com a inscrição «Carstens» e «C G» sobrepujado por «Gräfenroda». Carimbos, igualmente a preto, «D. 757», «41» (?) e algo mais ilegível. Inscrito na pasta: «2».
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 20 cm (s/tampa) x Ø c. 14 cm


A decoração proporciona um efeito óptico completamente distinto relativamente ao jarro anterior, quase desconstruindo visualmente a forma. São estas virtudes da pintura a aerógrafo, delineada pelo recurso a estampilhas, uma técnica aparentemente tão simples, que tanto nos fascina e agrada na produção cerâmica deste período e que, por exemplo, a Fábrica de Loiça de Sacavém, à semelhança de outras congéneres europeias, tão bem soube apropriar-se.


quinta-feira, 9 de julho de 2015

Jarro listrado para cacau da Carstens Gräfenroda - Alemanha


Jarro art déco para cacau de faiança moldada, de bojo esférico, assente sobre pé circular, e colo alto cilíndrico. O bico, embutido no colo, parte do bojo em direcção ao bocal que é coberto por tampa de metal cromado. Toda a superfície recebeu pintura aerografada em dois tons de castanho, formando uma sobreposição de faixas horizontais, de diferentes espessuras, parcialmente em esfumado, que intercalam com a cor beije da reserva. Asa e bico são uniformemente castanho-chocolate. No fundo da base, carimbo preto, em forma de escudo, com a inscrição «Carstens» e «C G» sobrepujado por «Gräfenroda». Carimbos, igualmente a preto, «Dec 667», «Foreign» «24» e «34»
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 20 cm (s/tampa) x diâm. c. 14 cm


Trata-se da forma «Leine» com a decoração nº 667, e tem uma capacidade para cerca de litro e meio.

O despojamento e a funcionalidade da Bauhaus, presente na forma e na decoração minimalista, incluem este tipo de peças funcionais numa art déco vanguardista, muito característica dos objectos de uso quotidiano na República de Weimar.

Podem ver uma chocolateira idêntica no V&A (Victoria and Albert Museum) cuja ficha de inventário informa que, provavelmente, terá sido desenhado por Rausch, um aluno de Artur Hennig, e fabricado pela Christian Carstens, Kommandit-Gesellschaft Feinsteingutfabrik, Gräfenroda, em c. de 1930. Esta forma, com esta decoração em particular, parece ter feito sucesso no Reino Unido. A nossa peça foi comprada em Edimburgo, na Escócia, por exemplo, e o carimbo «Foreign» indica que se tratou de uma produção para exportação.


Porém, o mais interessante foi o que tivemos possibilidade de constatar nesta passada terça-feira, de manhã, 7 de Julho, na Feira da Ladra. Há muito tempo que não fazíamos em dia de semana esta voltinha simpática no meio do caos à procura das tão nossas apreciadas velharias.

Não foi um dia particularmente encorajador dado pouco termos visto que nos entusiasmasse verdadeiramente. Mais, constatámos que os preços continuam especulativos em excesso face aos tempos de crise em que vivemos.

Todavia, uma surpresa aguardava-nos. Não que nos interessasse adquiri-la, mas antes pelas questões que levantava. No meio do “lixo” surgiu-nos um jarro igual a este à venda e, por curiosidade, quisemos confirmar a germanidade da marca. A curiosidade instalou-se, pois a peça tinha apenas um único carimbo que informava «Made in England». Ora este modelo e decoração são indubitavelmente alemães, por isso das duas uma, ou a Carstens produzia uma parte da sua produção, sem marca, para ser vendida «in England» ou alguma fábrica inglesa a copiava. Mas não será certamente esta última versão porque pasta, cores, decoração e vidrados são inequivocamente iguais às de origem.

Não é a primeira vez que apresentamos exemplos ingleses que são cópias de formas alemãs. Veja-se post de 7 de Junho de 2014. De uma maneira geral, os ingleses copiam intensamente modelos e decorações continentais, sobretudo alemães, checos e franceses, antes de evoluírem, tardiamente nos anos 30, por caminhos que lhes são mais próprios.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Jarra da HAEL, Marwitz - Alemanha


Jarra de cerâmica moldada, em forma de campânula ou sino invertido com base saliente, de cor branco-marfim com decoração abstracta e geométrica aerografada, a preto (?) sobre verde, composta por traços e três círculos esfumados sobre os quais foram traçados manualmente diferentes composições: duas quadriculadas, uma delas de traços arqueados, e uma pintalgada lembrando um H. No fundo da base, carimbo azul com letras HAEL sobrepostas - da Haël Werkstätten für künstlerische Keramik Marwitz - e 123b144 (forma 123b, decor 144).
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 15 cm x Ø. máx. 11 cm


Mais uma peça dentro do espírito da Bauhaus concebida por Margarete Heymann-Loebenstein (mais tarde Heymann-Marks), sobre quem já tivemos oportunidade de escrever em 3 de Abril de 2013 a propósito do seu célebre serviço de café. Desta vez uma jarra com uma das mais emblemáticas decorações construtivistas a aerógrafo, da época, composta por círculos e segmentos de recta, também produzida no Atelier Artístico de Haël, em Marwitz, perto de Berlim.


domingo, 5 de julho de 2015

Jarra art déco com guarnição de metal - Paul Milet - Sèvres


Jarra de faiança moldada de forma esférica abatida, de cor azul-turquesa exteriormente manchado com escorridos, simulando crisocola, a azul-ultramarino e a amarelo, como palhetas de ouro, dando cambiantes esverdeados. Uma guarnição de metal dourado (bronze?) art déco encaixa, circundando o bocal, com elementos geometrizados a duas alturas que pendem, intercalados, sobre o bojo. No fundo da base, carimbo a preto, MP-Sèvres dentro de um círculo pontilhado. Selo de época, a encarnado e castanho, da «Flinois & Roussel Joailliers - Amiens».
Data: c. 1925

Dimensões: Alt. 9 cm x Ø 14 cm


A peça, adquirida em Amiens, foi vendida na «Flinois & Roussel Joailliers» dessa cidade nos anos 20, como nos indicia o selo e a marca de Paul Milet utilizada antes de 1930. Muitas peças de cerâmica e vidro podiam ser vendidas em joalharias desde que associadas a guarnições de metal, sobretudo precioso, como o ouro ou a prata, mas também o bronze. O tom dourado da guarnição metálica associado à cor mineral do objecto cerâmico dá, de facto, um toque de refinamento muito especial a estas peças.


A simulação cromática da crisocola, ou de outros minerais associados ao cobre, foi muito recorrente na produção de Paul Milet, provavelmente pelos óxidos de minério utilizados nos vidrados. Já aqui mostrámos outras peças, e iremos continuar a ilustrar, que apresentam esta característica.