segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Escultura “dançarina com urso” - Katzhütte – Turíngia





Peça de porcelana moldada e relevada, branca com apontamento policromos e a ouro. Representa uma dançarina nua com lenço colorido que cai descobrindo parcialmente as coxas, sentada no dorso de um urso amestrado. O penteado é elaborado e coberto de adereços. Numa das mãos segura uma pandeireta. O urso desce de um plinto decorado com pormenores a ouro. Escultura de teor erótico, onde é evidente a brincadeira maliciosa da bailarina que, provocante, acaricia a orelha do animal com o dedo do pé. Na base, carimbo azul com Katzhütte sobrepujando o símbolo da fábrica e Thuringia, marca utilizada entre 1914 e 1945. Dois traços paralelos (ou 11?), pintados à mão, a encarnado. Inscrito na pasta 43.
Data: c. 1920
Dimensões: alt. c. 23 cm

As temáticas eróticas foram uma constante na arte. Contudo, será a sensibilidade burguesa do século XIX, um tanto mórbida, que vai desencadear um novo apetite por este tipo de representação. Longe dos olhares femininos da família, o bom burguês formava, muitas vezes, as suas colecções “secretas”, que as esposas e filhas, oficialmente desconheciam. Aliás, a propósito de coleccionismo, seja ele de que temática for, recebemos um comentário muito pertinente de uma bloguer nossa seguidora, que referia ser o coleccionismo mais frequente entre os elementos do sexo masculino e questionava se não seria um atavismo da nossa ancestralidade de caçadores. Aqui está uma boa questão para reflectir.

A temática erótica da mulher e do animal é recorrente nas duas primeiras décadas do século XX, sobretudo, na Europa Central, prolongando um gosto oitocentista que a sensibilidade alemã faz, muitas vezes, roçar o brejeiro, se não mesmo o kinky. Estes temas, amplamente coleccionados no Ocidente, chegaram, obviamente, a Portugal. Foi o caso de uma peça idêntica à que apresentamos, que em 1931, se não estamos em erro, aparece representada numa composição fotográfica, levada a concurso nacional, com um panejamento, em fundo, vincadamente art déco. Vimos a peça e a fotografia respectiva à venda num antiquário da nossa praça há alguns anos.

A Porzellanfabrik Hertwig & Cº, conhecida popularmente por Katzhütte, fundada por Christoph Hertwig e Benjamin Beyermann, em 1864, começa a produzir no ano seguinte. Em 1869, Benjamin Beyermann abandona a sociedade e Hertwig integra os filhos Karl e Friedrich na gerência. Produz cerâmica decorativa, sobretudo estatuetas, de faiança e só a partir de 1900 começa a fabricar figuras de porcelana. Tendo sobrevivido incólume à II Guerra Mundial, foi nacionalizada em 1958 pelas autoridades da República Democrática Alemã. Encerrou definitivamente em 1990.

Não resistimos a contar o sucedido com o seu arquivo histórico. Reencontrado intacto na própria fábrica em 1980, com todos os modelos produzidos, foi saqueado pelas autoridades para venda no estrangeiro (Berlim Ocidental e Londres) com o fim de adquirir divisas. Hoje encontra-se disperso anonimamente por colecções privadas. Não é só por cá que se cometem atrocidades lesa património.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Azulejo SOMAG - Meissen



A propósito do belíssimo prato que Maria Andrade postou, fomos desencantar um azulejo que embora mais recente e com outro espírito, cremos, tem algo a ver com ele. Trata-se de um azulejo art déco, de pó-de-pedra, da fábrica SOMAG – Meissen. Apresenta uma decoração policroma, estampilhada e aerografada, de jarra com flores estilizadas. No tardoz, estriado, em relevo, SOMAG – Meissen e a numeração 122543 10
Data: c. 1920
Dimensões: 15,2 cm x 15,2 cm

Esta fábrica da Saxónia foi fundada em 1884 por Ernst Teichert (m. 1923). Em 1919 muda a denominação para «SOMAG - Sächsische Ofen und Wandplatten-Werke Aktiengesellschaft», que esclarece qual a sua principal produção: aquecedores de cerâmica e azulejos. Terá encerrado em 1945

sábado, 28 de janeiro de 2012

Jarro anos 50 Raul da Bernarda - Alcobaça


Jarro de faiança moldada, organicamente curvilíneo com bocal largo em taça. O volume do corpo, numa curvatura de cisne, estreito no gargalo que encurva num bojo gordo - assentando numa base plana oval - e se desenvolve, serpenteante, à medida que se vai estreitando e se eleva em direcção ao gargalo, que contorna, e num movimento de chicote se transforma em asa. Apresenta um acabamento rugoso, granulado, a encarnado, sobre o qual se destacam, a espaços regulares, pedaços remanescentes da base branca, em forma de “olhos” curvos, que receberam contorno a ouro. Base, bocal e face exterior da asa receberam também acabamento liso a ouro. O interior do bocal é igualmente branco. Na base, carimbo a ouro RB Alcobaça Portugal e, pintado à mão, 1133/10.
Data. c. 1955-65
Dimensões: alt. 24,2 cm

Mais uma vez, a herança da Arte Nova está bem patente numa peça da segunda metade dos anos 50 ou inícios da década seguinte do século XX embora com outras sugestões plásticas, como já anteriormente referimos a propósito das peças contemporâneas da Aleluia-Aveiro.
Todavia, a organicidade das formas propostas pela fábrica Raul da Bernarda - Alcobaça, pelo menos nos poucos exemplares que conhecemos, nunca atingiu o refinamento e a elegância requintada das peças Aleluia-Aveiro coetâneas ou mesmo de Sacavém.
A produção deste tipo de peças em Alcobaça não parece ter sido consistente nem suficientemente explorada.
Apercebemo-nos do esforço, em nossa opinião, um tanto fruste, de estar à moda, de maneira a não perder a corrida em que as demais fábricas nacionais se lançaram para, também elas, não ficarem atrás da SECLA. Mau grado o esforço, não deixam de ser exemplares de uma medíocre qualidade plástica, um tanto forçados, porque vazios de consistência artística efectiva. Uma plasticidade rebuscada, que chega a roçar o kitsch. Mas isto do gosto é uma questão muito relativa, claro.


No caso do nosso exemplar, só mesmo a cor, um apelativo encarnado, e a textura granulada conseguem conferir à peça, se não algum virtuosismo, pelo menos alguma curiosidade. Pena os apontamentos a ouro que não a valorizam.
Adquirimo-la exactamente por tudo isso, e por ser representativa da banalização das formas modernas para consumo de massas. E como a ideia não é só mostrar exemplos bonitinhos, mas sim exemplos significativos e representativos …

Na produção cerâmica alcobacense parece ter sido a OAL a mais consistente nos caminhos da modernidade e de forma mais temporã, com produção específica ainda na década de 30, dentro da gramática Art Déco. Pode ser que algum dia uma outra peça de outra fábrica alcobacense, para além da OAL, nos venha a surpreender pela positiva.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Jarra nº 19 – H Aleluia - Aveiro



Jarra de faiança moldada, tendencialmente esférica com bocal saliente, de cor creme, craquelé, com decoração estampilhada a preto e castanhos com apontamentos manuais. O bojo é cintado por um friso largo, a preto, com decoração vegetalista de influência renascentista, numa pintura que lhe confere volume. Este friso é enquadrado, por composições triangulares de flores estilizadas ao gosto art déco, a castanho. Da base e do bocal, salientados a preto, partem linhas concêntricas da mesma cor que se vão diluindo em direcção à decoração do friso. O craquelé que a peça apresenta vai-se tornando mais ténue à medida que se aproxima do bocal. Na base, carimbo preto Aleluia Aveiro e Made in Portugal, e, pintado à mão, também a preto, H. Inscrito na pasta: 19.
Data: c. 1935-45
Dimensões: alt. 18 cm



Esta jarra é bem representativa de uma das tendências decorativas da fábrica à época: uma reinterpretação de modelos renascentistas que deram origem a uma linha específica de decoração, como veremos noutros exemplares.
No Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia-Aveiro, de inícios dos anos 40, na pág. 29, esta peça aparece referenciada com o nº 19 – H.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Jarra art déco Boch Frères Keramis - Bélgica



Jarra de faiança moldada, de forma ovóide, pintura sobre esmalte, com decoração de bandas alternadas verdes e pretas, com flores estilizadas, em tons de amarelo, laranja e vermelho, sobre as últimas. Gola e base a branco. Peça concebida pelo Atelier de Fantaisie da manufactura belga Boch Frères Keramis, em La Louvière. Na base, carimbo preto circular, sobre ramo de loureiro (?) com Boch FES La Louvière enquadrado por Made in Belgium – Fabrication Belge. Pintado à mão D. 787. (decor) e A X. Inscrito na pasta nº 901 (modelo)
Data: 1923
Dimensões: alt. 24,5 cm



O nome e as siglas da manufactura variaram, embora muitas vezes utilizadas em simultâneo: B.F.K.; Boch Frères ou Boch frères; Keramis, com ou sem acento; Bock Keramis; Boch La Louvière ou ainda Boch FES La Louvière
Charles Catteau cria em 1920 o Atelier de Fantaisie, ou, pelo menos, terá remodelado um atelier artístico pré-existente, onde é criada uma vasta gama de objectos art déco durante os anos 20 e 30. Charles Catteau vai gerir toda a produção de objectos decorativos que saíram desta secção artística, a montra de prestígio da manufactura.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Bisonte – Fábrica de Loiça de Sacavém




Peça de faiança moldada estilizada ao gosto art déco em forma de bisonte sobre soco, com vegetação entre as patas que sustenta o corpo do animal. A peça apresenta vidrado branco, craquelé, com lustre. Na base, carimbo castanho Gilman & Ctª – Sacavém - Portugal; e carimbo Made in Portugal inscrito numa oval.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. c. 21,5 cm x comp. c. 28 cm x larg. c. 9 cm


Trata-se de um modelo concebido pelo escultor inglês John R. Skeaping (1901-1980) que, em 1926,foi para o jardim zoológico de Londres, onde desenhou diversos animais que propôs à fábrica de Wedgwood. Esta escolheu 14 protótipos e comercializou 10 a partir de 1927, entre os quais este modelo de bisonte. Todavia, a versão dos anos 30 comercializada pela Fábrica de Loiça de Sacavém apresenta uma diferença no tratamento da vegetação que dá resistência à escultura. Enquanto no modelo original são ramagens, na versão portuguesa são herbáceas que se aproximam de outras peças produzidas por Sacavém da autoria de Donald Gilbert. Quatro das esculturas animalistas desenhadas por Skeaping apresentam sempre o mesmo tipo de ramagens, como se pode ver na imagem do bisonte representada no catálogo da Wedgwood que apresentamos .


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Par de jarros “Patinho” – Sandoz (Théodore Haviland- Limoges)






Par de jarros de porcelana moldada e relevada em forma de patinho estilizado dentro da gramática art déco, cuja parte superior da cabeça e bico forma tampa. De cor amarela, com o ventre branco e apontamentos na penugem a preto, o bico e as patas são cor de mel. No dorso têm aposta uma pega triangular vazada. a branco, e dois furos na parte posterior do pescoço. Na base, marca TH e SEZ, em relevo, e carimbo castanho-roxo: Théodore Haviland- Limoges- FRANCE, Copyright e a palavra Déposé. Assinatura Ed. M. Sandoz sc. a azul.
Data: 1916
Dimensões: alt. 18 cm



Este «pichet-oison», na designação francesa, corresponde ao nº 37 do catálogo da Manufactura Théodore Haviland- Limoges. Foi editado no dia 19 de Setembro de 1916, em dois tamanhos: de 18 e 16 cm, e cores variadas. E tal como o saleiro-rã que ontem mostrámos, integra o vasto conjunto de esculturas zoomórficas criadas por Sandoz. Possivelmente destinava-se, tal como as rãs, também ao serviço de mesa, como galheteiro, montado em prata, como vimos à venda num antiquário, e daí a possível justificação dos dois buracos que cada um dos nossos exemplares apresenta na parte posterior do pescoço, onde se colocavam as placas de prata mencionando o azeite e o vinagre.
Este modelo também funcionou como cafeteira em serviços “egoïste”, ou tête-à-tête, que não apresentam, evidentemente, os furos no pescoço.


Do ponto de vista artístico os animais de Sandoz sofrem duas influências, a dos movimentos artísticos alemães (do Werkbund que antecedeu a Bauhaus) e, no que diz respeito às cores extremamente vivas e variadas, a do Picasso da época cubista.
Tendo começado por trabalhar matérias como o mármore e o bronze, o escultor suíço Édouard-Marcel Sandoz (1881 – 1971), radicado em França, perante a escassez de matérias-primas e outras condicionantes que a Grande Guerra provocou, dedicou-se, depois de várias tentativas, à produção de objectos de porcelana. Foi um feliz acaso porque as massas arredondadas e os grandes planos de cor das peças criadas se adaptavam perfeitamente a este material em que a luz se reflectia como no mármore.
Mas porquê produzir tais objectos fúteis em tempos de extrema dificuldade como então se viviam? E já agora por que é que a administração da manufactura se mostrou tão interessada em produzi-los, ainda para mais num dos períodos mais agudos do conflito para a França? Paradoxalmente, a sua justificação prende-se, por um lado, com a falta de matéria-prima, sobretudo carvão, para fazer funcionar a indústria fabril, e por outro, havia toda a necessidade de rentabilizar ao máximo cada fornada de porcelana. Como os objectos criados por Sandoz eram de pequena dimensão, facilmente preenchiam os vazios deixados entre outras peças de maiores dimensões da produção corrente da manufactura, enchendo-se, assim, o forno.
Expostos na feira de amostras de Lyon de 1916, destinada a profissionais, como já referido, instantaneamente se convertem no maior sucesso do certame. O êxito foi de tal ordem que, pela primeira vez, foi permitida a venda de peças directamente ao público visitante.
Os representantes grossistas de Nova Iorque encomendaram a gama completa (352 peças). Todos os grandes armazéns de Paris queriam obter o exclusivo e lutaram e intrigaram por isso. Os representantes argentinos, distribuidores para toda a América do Sul, encomendam uma remessa num valor enorme para a época. E este sucesso continuou na feira de 1917 com novos modelos. A Manufactura Théodore Haviland- Limoges conseguiu manter-se aberta durante o resto do conflito graças quase unicamente à produção das criações de Sandoz.
Toda esta extensa introdução serve para contar as aventuras picarescas de coleccionadores que procuram pechinchas em leilões. Como é evidente, tais especímenes são uma raça predadora que quando entra num salão aparentemente atafulhado de bugigangas vai à procura de um possível objecto de eleição. Como todos os coleccionadores são diferentes o conceito de bugiganga é, assim, muito relativo.
Depois de encontrado o objecto de desejo, examina a possível concorrência para o combate que se aproxima. É importante ver se o lote cobiçado está entre o que o leiloeiro considera valioso ou tralha. Felizmente para nós, o conjunto patinhos e rãs convivia num lote que englobava um objecto de marfim, de origem chinesa, quanto a nós toscamente trabalhado em produto para turista. Pelos nossos cálculos não havia pretendentes e o preço iria ficar muito em conta.
Quando o pregoeiro anunciou o lote, para surpresa nossa, confrontámo-nos com um rival que, contra todas as previsões, nos foi acompanhando até desistir, já o preço ia elevado. Finalmente, ao bater do martelo, comentou o senhor do alto da sua ignorância auto-satisfeita: «os patos agora andam caros», acompanhado dos risinhos discretos da assistência. Na verdade, o preço por que ficou o lote corresponde a pouco mais que o preço das duas rãs no mercado internacional. Como epílogo, ao pagarmos apareceu o nosso concorrente, um senhor idoso, que timidamente nos abordou quanto à possibilidade de lhe cedermos, por quantia ao nosso critério, a peça de marfim que o filho coleccionava. Fez-se negócio e, moral da história: como é possível que num leilão em Portugal, em 2004, nem o leiloeiro, nem ninguém na assistência soubesse o valor e a importância dos tais patinhos “caros” e dessem fortunas por banalidades sem qualquer interesse artístico, cultural e mesmo comercial fora deste país. Enfim, idiossincrasias de um povo que se enganou no século em que vive.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Saleiro “Rã” – Vista Alegre



Saleiro de em forma de rã, porcelana moldada e relevada, amarela de ventre branco e apontamentos a preto nos olhos. Vestígios da Marca nº 31: Carimbo VA (1924-1947)
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 5 cm x comp. 6,5 cm

Estamos claramente perante uma cópia do modelo criado em 1916 por Sandoz para a Théodore Haviland- Limoges, porém com ligeiras diferenças no tamanho. Embora a altura seja a mesma do original, o comprimento e a largura são maiores, pelo que o exemplar nacional é muito menos gracioso que o original, agravado pela falta de expressividade dos olhos a branco e preto. 
À época em que a peça foi criada, que se terá prolongado até mais tarde, a lei de propriedade artística não protegia as obras de arte aplicadas à indústria, e isso era uma preocupação para Sandoz que tentava fazer valer os seus direitos de autor. Contudo, segundo o seu advogado, a propriedade artística é protegida «nos principais países civilizados» (sic), por leis sobre os desenhos e modelos.
Tendo a Vista Alegre reproduzido várias das criações de Sandoz, e dado o nosso desconhecimento, a questão que se impõe é se Portugal se incluía nos ditos principais países civilizados …

Saleiro “Rã” - Sandoz (Théodore Haviland – Limoges)





Duas figuras de saleiro em forma de rã, de porcelana moldada e relevada, amarelas de ventre branco, com apontamentos a preto e azul nos olhos. Na base, carimbo castanho-roxo: Théodore Haviland- Limoges- FRANCE, Copyright e a palavra Déposé. Assinatura Ed. M. Sandoz sc. [sculpsit] a azul. As rãs assentam em folhas de nenúfar de prata “javali” dado terem sido comercializadas em Portugal por uma ourivesaria. Embora se trate de saleiros, no contexto em que adquirimos este par de rãs dá a sensação de ter sido vendido em conjunto como saleiro e pimenteiro.
Data: 1916
Dimensões: alt. 5 cm


O saleiro-rã, corresponde ao nº 50 do catálogo da Manufactura Théodore Haviland- Limoges. Foi editado no dia 25 de Agosto de 1916 num só tamanho, 5 cm de altura, sem rolha, em cores variadas como ilustramos. Também existe uma variante pisa-papéis mais pesada.



Esta peça insere-se no conjunto de esculturas, maioritariamente zoomórficas, criadas por Sandoz para serem apresentadas na Feira de Lyon, desse mesmo ano, destinada a profissionais. Num próximo post trataremos com mais detalhe as criações de Sandoz e a sua repercussão em Portugal.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pimenteiro “Coelho” – SP Coimbra




Peça de porcelana moldada e relevada, representando a figura de um coelho estilizado ao gosto art déco. Serviria como pimenteiro ou saleiro. As formas circulares que compõem corpo e cabeça, são de cor branca com filetes e apontamentos a vermelho e pupilas a preto, sendo o dorso perfurado. A estas formas apuseram-se cauda, orelhas e patas curvas, sendo as primeiras a vermelho e as últimas a amarelo. Na base, onde se encontra a abertura que levaria a rolha, tem carimbo preto S.P.
Data: c. 1935
Dimensões: comp. c. 7 cm x alt. c. 5,5 cm x larg. 2 cm

Esta pequena e simpática figura de coelho, que cremos pouco vulgar na produção nacional, fará parte de um conjunto de peças de temática zoomórfica, estilizadas de cor branca e cores fortes contrastantes, que a então já denominada Sociedade de Porcelanas de Coimbra terá editado nos anos 30. São peças alegres, um tanto infantis, modernas e optimistas. Trata-se, aliás, de objectos comuns a toda a Europa da época. São disso exemplo os animais de Édouard-Marcel Sandoz (1881 – 1971), criados maioritariamente ainda durante a I Guerra Mundial que vão ter um sucesso enorme na década seguinte, produzidas pela Manufactura Théodore Haviland de Limoges, ou as edições de Robj ou de Aladin. Isto só para citar alguns franceses mais conhecidos, para não falar das produções da Europa Central e de tantas outras.
Os bonecos de Sandoz, por exemplo, foram amplamente comercializados em Portugal por ourivesarias que, para os poderem vender, lhes apunham elementos de prata. Alguns modelos também foram reproduzidos pela Vista Alegre. Teremos oportunidade de exemplificar ambas as situações com peças das nossas colecções.


A propósito da série de animais da S.P. Coimbra, apresentamos também um mealheiro, em forma de galinha, que não chegámos a adquirir dado o excessivo preço pedido. Por vezes, os nossos vendedores de velharias exageram. Encontrámos mais tarde na net a imagem de um deles. Esta, uma peça claramente destinada a crianças, veicula uma ideia de austeridade e poupança muito querida à mentalidade salazarista, expressa no ditado popular “de grão a grão enche a galinha o papo”.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Mulher com Espelho - Herend




Escultura de grandes dimensões de porcelana moldada e relevada em forma de mulher desnuda, com panejamento entre os braços que, caindo, tapam parte das costas. A figura está sentada sobre a perna esquerda tendo a perna direita flectida onde apoia o braço direito com cuja mão ajeita o cabelo, que observa no espelho que segura na mão oposta. Desconhecemos a sua data de criação. Contudo, estamos em crer tratar-se de uma peça da segunda metade dos anos 20 ou inícios de 30, dado o corte de cabelo e a figura, uma reinterpretação de Vénus clássica, ser ao gosto art déco. No soco, inscrito na pasta, a assinatura do seu escultor, Catany (?) Nagy. Este exemplar tem na base carimbo azul Herend – Hungary e Handpainted, e corresponderá a 1952. Inscrito na pasta carimbo Herend e, à mão, 5723. A peça continua ainda hoje a ser editada pela fábrica, embora em exemplares de menores dimensões, tanto em versão branca como policroma.
Dimensões: alt. c. 39 cm

Comprar peças art déco húngaras revelou-se-nos um problema sério. Sobretudo no que diz respeito às peças produzidas pelas suas duas principais e mais conhecidas fábricas: a Manufactura de Porcelanas Herend, fundada em 1826, e a fábrica Szolnay, fundada em 1853. Muitas peças, criadas em anos anteriores à II Guerra Mundial, continuaram a ser produzidas até hoje.
Esta figura de mulher, comprada na nossa primeira estadia em Budapeste, foi-o fora do circuito turístico da cidade, em cujo centro se encontram dezenas de exemplares idênticos em tudo quanto é montra, embora de menores dimensões, à venda nas suas diferentes versões cromáticas. A senhora que nos vendeu a peça bem nos avisou que esta “era ainda das boas, antiga”. Já em Lisboa, soubemos que a marca correspondia a 1952.

Anos antes, na nossa segunda estadia em Viena, havíamos comprado uma escultura animalística, que futuramente mostraremos, com a qual ficámos, inicialmente, muito entusiasmados. A desilusão, ou talvez não, viria depois, quando, anos mais tarde, viajámos até Budapeste. Objectivamente, ainda estamos para saber o que pensar. Haveremos, então, de relatar o sucedido.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Açucareiro e leiteira da Electro-Cerâmica



Voltando ao tête-à-tête da empresa Electro-Cerâmica de Vila Nova de Gaia, apresentado no dia 8 de Dezembro do ano transacto, hoje apresentamos duas peças remanescentes de um serviço de chá – leiteira e açucareiro - com o mesmo modelo e uma outra decoração. Trata-se de um motivo estampado, policromo, de flores estilizadas dentro da gramática art déco alemã formando friso.
Achámos interessante a aquisição destas peças, não só por apresentarem uma decoração claramente germânica, mas também pelo carimbo, mais simples que encontrámos desta fábrica, dado apenas apresentar, em verde, EC inscrito num quadrado na oblíqua, sem qualquer outra menção. Assim, questionamos qual a sua datação que, talvez, corresponda a uma primeira fase, por volta de 1930, quando a empresa começou a produzir louça utilitária e decorativa, como já referimos.
Esta nossa intuição é reforçada pelo conhecimento de um serviço de café completo, que integra a colecção de familiares, que aqui mostramos.





Apresenta, para além da mesma decoração, carimbo idêntico mas em azul. Para mais, este último modelo da EC é claramente inspirado no célebre serviço de chá e café Donatello, ainda Arte Nova, criado por Hans Günther Reinstein e Philipp Rosenthal, em 1904, para a firma alemã Rosenthal. A maior diferença em relação ao modelo original encontra-se na configuração das asas, cujo ângulo, na versão portuguesa é chanfrado.
Aliás, este tipo de decoração estampada formando friso, é muito característico da produção alemã da década de 1920, como veremos.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Jarra com guarnição de metal Paul Milet - Sèvres






Jarra de faiança moldada e relevada em forma de cabaça canelada, de cor verde com escorridos azuis e com guarnição de metal martelado (bronze?) art déco formando três asas que, partindo do bojo, compõem um anel com enrolamentos e faixas que pendem do bocal. Na base, carimbo circular pontilhado envolvendo MP Sèvres e, pintado à mão, M.
Data: c. 1925
Dimensões: alt. 15 x larg. 11,5cm


Já aqui tivemos oportunidade de falar da Manufacture MILET (1866-1971), em Sèvres, e de Paul Milet (1870-1950) a propósito de uma outra jarra também art déco coetânea deste outro modelo que terá sido comercializado simples ou montado com metal, dentro de uma velha tradição que os franceses desenvolveram a partir do século XVIII e que haveria de ser explorada, segundo outros cânones estéticos, por Edgar Brandt e seus seguidores nos anos 20 e 30 do século passado.