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terça-feira, 6 de março de 2012

Serviço de café art déco modelo Tânger – Porcelana de Coimbra





Serviço de café, de porcelana moldada, composto por cafeteira, leiteira, açucareiro e chávenas com respectivos pires. Trata-se do modelo Tânger, de cor branca com decoração de filetes cor de laranja e ouro que realçam as zonas superiores das peças, de formas caneladas dentro da gramática art déco. Asas, pegas e bicos, com realces a ouro. Na base da cafeteira, carimbo verde Coimbra, SP, Portugal e, pintado à mão, a vermelho, Tanger FB2010. Na base da leiteira carimbo verde igual ao anterior. Na base do açucareiro, chávenas e pires, carimbo verde Coimbra-Portugal enquadrando as figuras heráldicas do brasão da cidade.
Data: c. 1930-40
Dimensões: Várias

Este serviço, adquirido por volta de 1935-40, apresenta peças com duas designações da fábrica. Sem nos alongarmos mais sobre estas questões, está implícito que a Fábrica de Porcelana de Coimbra utilizou em determinado momento e em simultâneo estes dois carimbos pelo menos.

As pegas, tal como as caneluras, remetem para um serviço da fábrica de porcelana Gebrüder Benedikt, em Dvory, na Checoslováquia que aqui ilustramos.


Neste nosso blogue, como se tem vindo a ver, misturam-se objectos decorativos e utilitários sem grandes preocupações hierárquicas.
A qualidade (artística, plástica e/ou técnica) de um objecto não se mede pelo seu valor de mercado. Peças de uso quotidiano podem ser objectos muito superiores à produção dita artística, mesmo quando se trata de edições únicas ou limitadas, que nada têm a ver com a mais-valia efectiva de um artefacto. As questões são outras, e é por isso mesmo que a nós, enquanto coleccionadores, o que nos interessa verdadeiramente é a loiça utilitária, enquanto design, decoração e veículo de modernidade acessível às massas, apesar das nossas frequentíssimas divagações de diletantes por outros caminhos. Foi pela mesa que, na generalidade, a modernidade penetrou nos lares, mesclando-se nas decorações convencionais, quase sempre conservadoras, habituando o olhar e sensibilizando, embora geralmente de forma ténue, as pessoas para os novos tempos que iam chegando com mais ou menos atraso. Será esse um dos encantos que nos levou a enveredar pelo coleccionismo de peças de Entre Guerras, quando a modernidade era muitas vezes também vanguarda empenhada e por isso modernista, fosse ela mais ou menos radical, mas sempre social, politica e ideologicamente envolvida.
Em Portugal estas questões são menos lineares, porque o atraso cultural impedia-nos de perceber a essência do fenómeno da modernidade. É por isso que, por exemplo, na arquitectura art déco/modernista, as fachadas revelam uma consonância com os demais modelos europeus enquanto os interiores se mantêm ainda oitocentistas. Haverá excepções, como sempre.
Perdoem-nos as fraquezas e as contradições, mas é a partir delas que estruturamos a nossa dialéctica (quer dizer, as nossas colecções).

Para finalizar, e só a título de curiosidade, a Vista Alegre reeditou recentemente os modelos Tânger e Porto, da Fábrica de Porcelana de Coimbra, o último também já aqui apresentado, ambos em versões monocromas. Perguntamos: quantos consumidores os adquiriram conscientes da antiguidade dos modelos?