segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Açucareiro art déco - Sacavém



Hoje continuamos com mais uma faiança da Fábrica de Loiça de Sacavém, já que se trata do mesmo modelo do bule anteriormente mostrado, agora em versão de caixa ladeada por asas vazadas esquinadas.
 
 
Este recipiente será muito provavelmente o açucareiro de um serviço igual, embora sem publicidade e monocromo, na cor marfim-mate tão característica de certa produção de Sacavém a que já temos feito referência. No fundo da base, idêntico carimbo verde Gilman & Ctª – Sacavém, Portugal.
Data: c. 1935
Dimensões: Comp. 18 cm x larg. 7 cm x alt. 13 cm


domingo, 28 de outubro de 2012

Bule publicitário art déco “Chá Samorim” - Sacavém


Bule art déco de faiança moldada de cor marfim-mate e laranja, cujo corpo, de forma poliédrica – um paralelepípedo chanfrado nos ângulos -, é complementado por asa vazada e bico, ambos esquinados. A tampa, oitavada e prismática, é rematada por pega quase triangular embora seja pentagonal. Sobre a cor marfim-mate, que apresenta um craquelé suave, as partes superiores do bojo, até ao bocal, asa e bico, assim como o bordo da tampa, são aerografados a laranja forte. Em uma das faces laterais “CHÁ SAMORIM”, estampilhado a preto, com caracteres estilizados à maneira da caligrafia chinesa. No fundo da base, carimbo verde Gilman & Ctª – Sacavém, Portugal.
Data: c. 1935
Dimensões: Comp. c. 24 cm x larg. c. 9 cm x alt. c. 15 cm


 
Este bule, à semelhança das demais loiças publicitárias já aqui apresentadas da Fábrica de Loiça de Sacavém, fazia parte de um serviço de chá para uma pessoa – égoiste. Veja-se aqui a mesma decoração e publicidade aplicada a uma chávena formato «Aldeia».

sábado, 27 de outubro de 2012

Cinzeiro art déco – Lusitânia Coimbra



Cinzeiro art déco de faiança moldada e relevada, com vidrado mate cor de marfim, craquelé. A taça apresenta rebordo ondulado encaixada em três pés espiralados que se prolongam para dentro da taça como suporte para cigarros. No fundo da base, carimbo estampado verde, pouco legível, Lusitânia [ELCL – Coimbra – Portugal]
Data: c. 1930
Dimensões: Larg. 13 cm x alt 2,5 cm



Os enrolamentos dos pés remetem formalmente para o desenho das asas de uma série de peças concebidas pelo suíço Paul Bonifas (1893-1967), como se ilustra.
 
 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Caixa art déco com decoração de Kut Wendler - Rosenthal - Alemanha


Peça de porcelana moldada, branca, de forma troncocónica assente sobre anel, no estrangulamento, e pé saliente recortado. Tampa cónica baixa com pega igualmente troncocónica de remate escalonado. Decoração policroma a preto, laranja, mel e azul, com motivo de “palmeiras” estilizadas. Filetes a mel no pé e bordo da tampa, e laranja no anel de transição entre o bojo e pé, assim como no botão da pega. No fundo da base, carimbo verde Rosenthal Selb-Bavaria (um ponto entre o BA de BAVARIA). Inscrito na pasta 850. Pintado à mão, a roxo, Fisher (pintor).
Data: 1929 (ano de produção deste exemplar)
Dimensões: Alt. 18 cm

O modelo é de Hans Küster, de cerca de 1925, e apresenta o motivo Semiramis, decoração criada por Kurt Wendler, cerca de 1923. A estilização dos motivos da peça que apresentamos, com o seu grafismo enérgico e dinâmico, revelam uma influência evidente do Futurismo, comum a tantas outras peças suas e de outros criadores alemães ao longo dos anos 20.
 

 
Hans Küster (1899-1963) foi modelador e escultor. Trabalhou para a fábrica de porcelana alemã Rosenthal de 1913 a 1928, tendo criado animais e figuras grotescas, louça decorativa e utilitária. Trabalhou posteriormente para a fábrica Krautheim & Adelberg.
 
 
Kurt Wendler (1893-1980) foi um pintor, fotógrafo e gráfico autodidata de talento. Descoberto por Philip Rosenthal, que apreciou o seu trabalho, acabou por criar decorações para a Rosenthal em 1919, para onde veio a trabalhar regularmente como artista livre de 1920 a 1930.

Artista multifacetado, enquanto designer concebeu, para além das decorações para porcelana, tapetes, papel de parede, padrões para tecidos e outros projetos. Sobretudo a partir de 1922, quando, depois de casado, abriu em Berlim, o seu estúdio "Berliner Werkstätte f.z.a.K.", dedicado às artes decorativas contemporâneas, publicidade e cenografia.

Por volta de 1929 trabalha como pintor e fotógrafo, principalmente do mundo do espectáculo e das estrelas de cinema, caso das célebres Brigitte Helm e Zarah Leander. Criou também, até 1940, mais de 40 cartazes para a indústria cinematográfica alemã e estrangeira, incluindo MGM, Fox, Nero, Terra, AAFA, Deutsche Universal e a portuguesa Tobis.

Contudo, devido às suas ideias anti-totalitárias foi perseguido e detido pelos nazis, tendo acabado a guerra na Bélgica sob a protecção da resistência local.

Regressando anos depois à Alemanha, continuou a sua carreira, nomeadamente enquanto fotógrafo e pintor. As criações para porcelana anteriores à Guerra despertavam cada vez maior interesse granjeando-lhe fama. As suas decorações únicas são facilmente reconhecíveis e muito procuradas por museus e colecionadores.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Jarra modelo «Munich» – Vista Alegre


Pequena jarra de porcelana moldada e relevada, de cor branca com complementos, a ouro e preto, pintados à mão. Apresenta colo alto contracurvado, abrindo no bocal, e bojo baixo, arredondado e gomado, sobre o qual repousam lateralmente duas figuras abstractas a ouro com subtis realces a preto. No fundo da base, carimbo verde V.A. Portugal - marca nº 31 (1924-1947) e, à mão, «3» inscrito na pasta.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 13,5 cm



Infelizmente este nosso exemplar tem um defeito de fabrico no bocal o que o desfeia um pouco. Comprámo-lo para exemplificar, mais uma vez, a influência da produção cerâmica germânica entre as duas Guerras no nosso país.
 
 
Segundo informação oral, que não confirmámos, tratar-se-á do modelo «Munich», que a Vista Alegre produziu a partir de modelo alemão «Clotwiga» concebido, em 1918, por Wilhelm Veit, de quem haveremos de dar notícia, para a fábrica de porcelana Zeh Scherzer, em Rehau, na Baviera. Daí, a ser verdade, a designação de Munique para a versão portuguesa.

O modelo alemão, com o número 17, tem 14 cm de altura, meio centímetro a mais que a edição portuguesa.

domingo, 21 de outubro de 2012

Escultura art déco «Figura de cegonha» - Sacavém




Estatueta de faiança moldada, relevada e craquelé, de cor marfim mate sublinhada por apontamentos a ouro, representando, de forma estilizada, ao gosto art déco, uma cegonha de pé pousada entre vegetação sobre um rochedo cubizante. A forma geral da peça remete para um cone que tivesse sido esculpido. No fundo da base, carimbo azul Gilman & Cta – Sacavém e Made in Portugal. São bem visíveis as marcas da trempe.
Data: c. 1940-45
Dimensões: Alt. c. 19,2 cm x Ø base 7,7 cm



Objecto decorativo sem grande fôlego, lembra as cegonhas que encimam certos bolos de baptizado, como era corrente há alguns anos.

A autoria será possivelmente de “Dina” como parece indiciar a lacónica informação que acompanha a fotografia do exemplar policromo do catálogo da exposição de 2008, «Porta aberta às memórias», vol. 2, pág. 134, que está assinado. Quanto ao gesso desta peça, retratado no catálogo «Porta aberta às memórias», 2ª edição, (2009), pág. 95, actualmente integra o acervo das colecções do Museu de Cerâmica de Sacavém. Curiosamente, estas peças apareceram identificadas como sendo pelicanos.
 
 
O exemplar monocromo de grés, vidrado a verde, e que MAFLS nos deu a conhecer, sendo mais tardio, é de menores dimensões que o que apresentamos, situação comum às reedições que a Fábrica de Loiça de Sacavém fez nos anos 80.

Como já MAFLS havia referido, esta escultura corresponderá à designação «Figura de Cegonha», com o nº 382, que aparece nas tabelas de preços de «Loiças decorativas em faiança» de 1945 e de 1951. Já não aparece referenciada na tabela de 1960.
 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cabrito de João da Silva – Rosenthal - Alemanha

Ainda no capítulo de crias de animais, embora com outro espírito, apresentamos hoje um cabrito do escultor português João da Silva (1880 - 1960), editado pela alemã Rosenthal. MAFLS já apresentou uma outra versão cromática deste mesmo modelo.


Peça de porcelana moldada e relevada figurando um cabrito branco com apontamentos pintados à mão, a castanho, sobretudo nas patas, cauda, cabeça e orelhas, com olhos  realçados a preto. O naturalismo da peça revela o olhar atento do artista que como bom escultor animalista soube captar perfeitamente o momento em que o animal interrompeu a brincadeira para, dobrando a cabeça para trás, coçar o dorso. No entanto, o naturalismo é mitigado pela espontaneidade da solução plástica dada à pelagem, em contraste com o tratamento mais realista, pleno de detalhe, da cabeça. No ventre do animal, carimbo verde Rosenthal Germany. Inscrito na pasta, João da Silva e nº 836T (modelo).
Data: 1939 (de acordo com o carimbo)
Dimensões: Alt c. 19 cm x comp. c. 17 cm


Para além de cabritinhos, a Rosenthal editou em porcelana outros animais criados por João da Silva, caso de pintos ou de patinhos em diversas posições, estes últimos também reproduzidos pela Vista Alegre. Esculturas de qualidade, graciosas e conservadoras, que terão sido concebidas na década anterior, e naturalmente apropriadas à época em que foram produzidas na Alemanha. A par de Canto da Maia, João da Silva será o mais internacional dos escultores portugueses do século XX.
 
 
Nascido em Lisboa, a 1 de Dezembro de 1880, João da Silva, depois dos estudos em Portugal, na Escola Industrial Príncipe Real, onde se havia matriculado em 1893, viajou para Paris onde estudou na Escola de Belas-Artes. Depois de, em 1900, ter apresentado duas peças na Exposição Universal de Paris, no ano seguinte foi para Genebra onde ingressou na Escola de Artes Decorativas.

Na Exposição do Rio de Janeiro de 1908, partilhou o 1.º prémio ex-aequo com René Lalique, e, no mesmo ano uma menção honrosa no Salon de Paris.


Autor de uma vastíssima obra escultórica, foi dele o Busto da República, entretanto desaparecido, concebido para a Assembleia Constituinte e inaugurado no Parlamento em 1911.
 
Morreu em 1960, na cidade onde nasceu, e está sepultado no Cemitério dos Prazeres. Sobre este escultor ver mais aqui.
 
Legou ao país a sua casa e grande parte da obra que viria a dar origem à Casa-Museu João da Silva que hoje, graças â mediocridade habitual de quem decide, se encontra ao abandono e, ao que parece, muito degradada.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Escultura art déco de cria de corvo – Hutschenreuther - Alemanha


Já que estamos em maré de crias de aves, hoje trazemos um delicioso corvo bébé, cuja expressão o olhar atento do escultor tão bem soube captar.



Pequena estatueta de porcelana moldada e relevada branca com apontamentos a ouro de uma cria de corvo que já se aguenta de pé e a penugem dando origem às primeiras pequenas penas nas asas e cauda, voltando a cabeça para trás na qual também despontam, com alguma ironia, uns prenúncios de penas. A ave assenta sobre uma base saliente sendo reforçada por um volume geométrico entre pernas. Inscrito na base, na parte de trás WvHEIDER. No fundo da base, carimbo verde oval com leão e L. H. S. envolvida por Hutschenreuther, Selb Bavaria, Abteilung für Kunst, e, pintado à mão, a ouro, 50.
Data: c. 1927 (carimbo 1920-1938)
Dimensões: alt. c. 7 cm

 
Trata-se do modelo nº 0635/1 do catálogo de 1927, pág. 1, da fábrica Hutschenreuther, da autoria do artista Wilhelm von Heider (1870-1950) de quem nada mais conseguimos apurar. Apesar do pendor naturalista da figura, há uma subtil estilização e exagero das formas, que a opção a branco com apenas os olhos imensos e as pequenas unhas a ouro torna, a nosso ver, muito atractiva, inserindo-se numa certa vertente da art déco alemã de influência expressionista. Toda a curiosidade e truculência, tão características dos corvídeos, estão bem presentes neste exemplar. O mesmo artista concebeu um outro corvinho que debica com curiosidade uma aliança de ouro que encontrara no chão. Temos pena de não o possuirmos também dado constituírem um par.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Oveiro art déco «formato pinto» - S.P. - Coimbra



Tal como prometido, e na sequência do post anterior, apresentamos um oveiro da Sociedade de Porcelanas de Coimbra, provavelmente dos anos 40, e que faria parte integrante de um serviço para ovos quentes idêntico ao da Fábrica de Loiça de Sacavém. Neste caso trata-se de uma peça de porcelana moldada e relevada cujo corpo do pinto, a amarelo, é pintado a aerógrafo, com bico e patas a laranja e olhos realçados a preto, pintados manualmente. Dada a pintura manual ser feita sobre o vidrado o bico perdeu parte da cor. Este modelo tem um aspecto mais grácil dada a plasticidade da porcelana ser, evidentemente, diferente da faiança.
No fundo da base, carimbo (?) verde S. P. e, inscrito, na pasta 963 (?).
Data: c. 1940
Dimensões: Alt. 5,7 cm


domingo, 14 de outubro de 2012

Serviço art déco para ovos formato pintos - Sacavém


Conjunto de faiança moldada e relevada para ovos quentes. O serviço, pintado manualmente, é composto por bandeja, saleiro e dois oveiros. A bandeja, de forma oval oblonga com três círculos incisos é marmoreada em tons de castanho-claro e recebeu um acabamento a lustre. As asas são vazadas e a preto. Os dois oveiros, copos zoomórficos brancos de pé circular, em forma de pintos suportando meia casca de ovo, pintados a amarelo com bicos e patas a laranja e olhos realçados a preto, estão colocados lateralmente. Ao centro, o saleiro, representando um pinto de asas abertas saindo da casca, nas mesmas cores dos anteriores, embora na cabeça, junto ao bico, apresente um triângulo a preto.
No fundo da base da bandeja, carimbos a verde Gilman & Cdtª – Portugal e B. Inscrito na pasta D 70 (?). No fundo da base de um dos oveiros, igual carimbo da fábrica, embora de menores dimensões, complementado por um M carimbado também a verde. Apresenta ainda, em relevo, algo ilegível, embora deva ser 154-A, dado o outro oveiro apenas apresentar essa numeração em relevo. O saleiro não apresenta qualquer marca.
Data: c. 1935-40
Dimensões: Várias. Bandeja: comp. 18,7 cm x larg. 6,6 cm
 

O serviço aparece referenciado com o nº 154 nas tabelas de preços de faianças decorativas de 1941 a 1951. Todavia, na tabela de 1941 cada peça aparece isoladamente descriminada num registo alfanumérico. Assim, os dois oveiros surgem sob o número 154 A, o saleiro 154 B e a bandeja 154 C (a referência aos preços deixamos para o nosso caro MAFLS). Nas tabelas de 1945 aparece, então, pela primeira vez sob o número 154 e como designação de conjunto «Serviço de ovos formato Pintos», numeração que se mantém na tabela de 1961 embora passe a «Serviço para ovos formato Pintos». Face a esta situação, o exemplar que possuímos é de fabrico anterior a 1945 sem qualquer dúvida.
 
Encontra-se igualmente documentado em fotografia a preto e branco, datável de 1941, no acervo do Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA), que apresentamos e cuja cedência mais uma vez agradecemos.


Numa época em que os interiores se enchiam de inúmeros objectos decorativos, esta peça enquadra-se numa vertente lúdica do gosto art déco na estilização irónica e quase infantil de uma certa produção animalística internacional da época, mesmo no contexto de uma cerâmica que, em princípio, seria apenas utilitária.
 


 
Como em Portugal o gosto por comer ao pequeno-almoço ovos quentes nunca se generalizou, objectos como este adquiririam apenas uma função decorativa. Este exemplar aponta nesse sentido, dado nunca ter sido usado, como se pode observar pelo estado de conservação excepcional em que se encontra.

Estamos muito certamente perante um modelo importado, mas, até à data, ainda não detectámos a sua origem.

Modelo idêntico foi produzido, em porcelana, pela S. P. – Coimbra como mostraremos.