quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Bule de chá art déco modernista - Carstens-Uffrecht - Alemanha


Bule de faiança moldada, com decoração aerografada, dentro do abstracionismo geométrico de influência kandinskyana, a castanhos, remetendo para uma ideia de paisagem, sobre fundo turquesa. Asa de vime. No fundo da base, sem marca, o nº 257.
Data: c. 1930
Dimensões: alt 13 cm (sem pega) x comp. 24 cm



Trata-se de uma peça produzida pela fábrica alemã Carstens-Uffrecht de forte filiação Bauhaus, sobretudo nos bules criados, em 1923, nos ateliers cerâmicos desta, por Theodor Bogler. A inspiração oriental está bem patente na obra do designer e encontra-se igualmente presente na peça de hoje. Quer no exemplar de Bogler, que ilustramos, quer neste nosso bule, a forma e o acabamento remetem para uma produção em série de objectos de metal, com acabamentos artesanais nas asas. Também remetem para modelos chineses de bronze, como sugere a cor, próxima do verdete, do bule da Carstens. Esta ideia é reforçada pelas arestas vivas e justaposição das diversas partes que parecem soldadas.
A decoração do bule aproxima-se da da jarra de asas helicoidais mostrada em 27 de Maio de 2012, remetendo ambos para o universo pictórico de Kandinsky.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Jarra neo-renascentista 2 - Aleluia – Aveiro


Variante da decoração neo-renascentista que ontem apresentámos, esta versão, com a mesma técnica da anterior, apresenta igualmente uma composição de grifos afrontados enquadrando coluna com taça. Todavia, as figuras são mais espessas, mais encorpadas e, no entanto, de aspecto menos feroz. Bocal e base não ostentam qualquer ornamentação, para além de um filete preto no primeriro.
No fundo da base, carimbos a preto «Fábrica Aleluia - Aveiro» e «Fabricado em Portugal», inscritos em rectângulos e 17 inciso na pasta sobrepujando G pintado à mão.
Data: c. 1935 - 45
Dimensões: alt. 18 cm


Singularmente, a jarra apresenta o mesmo número de forma e letra de decoração da anterior, sendo esta, na verdade, bastante diferente. Não figura no Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia. Aveiro, de inícios dos anos 40, e o carimbo também não é igual, ainda para mais acrescido de «Fabricado em Portugal».

A qualidade da pintura e do próprio desenho são manifestamente superiores ao exemplar de ontem, revelando um maior equilíbrio compositivo e maior erudição. Claro que, quanto à qualidade técnica da peça anterior, pode ser apenas um problema do exemplar que possuímos. Talvez a de hoje seja de datação posterior e daí não figurar no referido catálogo. Talvez fosse destinada ao mercado externo. Enfim, questões que ficam em aberto à espera de respostas.


domingo, 25 de novembro de 2012

Jarra neo-renascentista 1 - Aleluia – Aveiro


Jarra de faiança moldada, de forma bulbosa, com decoração tripla de grifos afrontados enquadrando coluna, sobre a qual repousa uma taça com frutos e folhagem. Intercalam, na parte superior, com esta composição neo-renascentista, ao gosto dos grotescos, palmetas, folhas e frutos, que pendem do colo. A decoração é estampilhada a preto sobre o fundo creme, que fica em reserva e que recebeu apontamentos acastanhados e a preto à mão. Bocal e base são ornados com folhas de acanto muito estilizadas. No fundo da base, carimbo preto estampilhado (?) Aleluia Aveiro, e 17 inscrito na pasta sobrepujando G pintado à mão.
Data: c. 1935 - 45
Dimensões: alt. 18 cm



Mais um exemplo de peça de inspiração neo-renascentista, muito comum na produção dos anos 30 e 40, durante o período art déco, da fábrica Aleluia-Aveiro. Esta inspiração não está apenas patente em várias decorações, mas também nas formas, embora seja normal encontrar modelos modernistas assim decorados, como teremos oportunidade de ilustrar. Esta peça figura no Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia. Aveiro, com o nº 17 – G. A mesma decoração também aparece aplicada em versão base de candeeiro, com o nº 84-J do referido catálogo, como se ilustra (forma que já mostrámos com outra decoração: nº 84-G).
 

 

sábado, 24 de novembro de 2012

Avestruz art déco - Sacavém


Peça de faiança moldada, de cor marfim meio-brilho, finamente craquelé, representando um avestruz, em passo de corrida, sobre soco oitavado, de linhas suavemente estilizadas art déco onde, para além do recorte da figura, sobressaem os enrolamentos das plumas de asas e cauda. No fundo da base, carimbos azuis Gilman & Cª – Sacavém sobepujando Made in Portugal, e «311» inscrito na pasta.
Data: c. 1930-40
Dimensões: Alt. c. 18 cm x (base) comp. 14,8 cm x larg. 6,5 cm


Uma certa ironia subjaz a esta representação de um avestruz que, mais uma vez, nos traz à memória as imagens do filme Fantasia (1940), de Walt Disney. No caso, as esfusiantes avestruzes bailarinas do episódio, de sátira ao ballet clássico, de a «Dança das Horas», de Ponchielli. Claro que este exemplar cerâmico, apesar de tudo, é um pouco mais conspícuo e comedido …, embora nos deixe igualmente bem-dispostos.



 
O nº 311 inscrito na pasta corresponde ao número (e, certamente, ao modelo) das tabelas de preços de faianças decorativas, dos anos de 1945 e 1951 da Fábrica de Loiça de Sacavém, conforme descrição que complementa a fotografia a preto e branco, de c. 1945, disponibilizada pelo Museu de Cerâmica de Sacavém - Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA), colaboração indispensável e que agradecemos.

Embora estejamos convictos que se trata, uma vez mais, de um modelo importado, a sua autoria e origem escapam-nos. Talvez algum dos nossos leitores tenha alguma pista nesse sentido.

 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Caixa art déco campaniforme de Fritz von Stockmayer - Arzberg


Caixa de porcelana moldada de taça campaniforme, com tampa em calote esférica, assente sobre pé saliente. Sobre o branco destaca-se a decoração vegetalista estilizada em tons de vermelho, salmão e ouro, que cinge a parte superior da taça e inferior da tampa, que é complementada por filetes vermelhos que circundam a parte inferior da taça e parte superior da tampa, em parte complementadas a salmão em dégradé. Pé saliente e interior do bocal a ouro, assim como a pega da tampa. No fundo da base, marca a verde «Porzellanefabrik Arzberg» «Arzberg/Baye.», e «23» a ouro.
Data: 1932 (forma e decoração)
Dimensões: alt. 12,2 cm x Ø máx. 15,5 cm


Trata-se do modelo nº 1411, decor nº 6370, criados por Fritz von Stockmayer de quem já sobejamente falámos, mas não resistimos a acrescentar mais umas palavras sobre a sua obra.

Nos antípodas das propostas mais vanguardistas germânicas de Entre-Guerras, a obra de Stockmayer retoma a tradição da pintura de flores sobre porcelana dos séculos XVIII e XIX, renovando-a de forma notável vindo a criar decorações particularmente originais, dentro de um gosto moderno art déco, que antecipa uma estética de pós-Guerra. É assim que encaramos a peça que vos trazemos hoje, e talvez daí a nossa paixão pela obra que realizou para a fábrica de porcelana de Arzberg. A modernidade que não renega a tradição, antes a reinventa e a projecta no futuro.
 



domingo, 18 de novembro de 2012

Tigelas art déco formato francês decor 1197 - Sacavém


Hoje descemos uma vez mais à cozinha, para apresentar três exemplares de faiança utilitária da Fábrica de Loiça de Sacavém.

Trata-se de tigelas de faiança moldada, «formato francês» porque copia a forma das tijelas vulgarmente utilizadas nesse país, cujas taças, em calote esférica, assentam sobre pequeno pé saliente arredondado. Apresentam decoração exterior estampilhada a aerógrafo, policroma, com composição vegetalista estilizada, ao gosto art déco de inspiração alemã, uma sequência de flores em esfumado com corolas a castanho claro e centro verde e castanho-escuro, dada a sobreposição das estampilhas, (em número de três nas duas mais pequenas e em número de cinco na maior), e folhagem a verde com caules e nervuras a castanho. Trata-se da decoração número 1197 que se combina em duas variantes.


Na variante 1197-A, a composição vegetalista é enquadrada por filetes, que, no exemplar aqui mostrado, são a castanho. Na variante 1197–B, o bordo das peças é aerografado em esfumado. Todas têm no fundo da base carimbos verde Gilman & Cª – Sacavém – Portugal. A sua datação rodará c. 1930 – 40.


As tijelas mais pequenas têm ligeiras diferenças no tamanho e na espessura das pastas o que indicará datações distintas de fabrico. A mais antiga, menos espessa e mais diminuta, ao dito carimbo acresce, a verde, «1197» e «A» da decoração. Tem 6 cm de altura e 10 cm de diâmetro.
 

A outra, mais espessa e de igual diâmetro, tem 6,3 cm de altura, sendo o bordo aerografado em esfumado a azul. Ao carimbo junta-se , também a verde, a letra «G».

Por último, a tigela de maiores dimensões (alt. 7,5 cm x Ø 13 cm), apresenta bordo aerografado em esfumado a amarelo-torrado e ao carimbo acresce, igualmente a verde, «1197» e «B».
 

Agradecemos a cedência da imagem de arquivo ao Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA).
 
 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Caixa art déco Meissen Carl Teichert - Alemanha



Caixa ao gosto art déco de porcelana moldada, de cor branca com decoração vegetalista estilizada (motivo dito agave), a vermelho e ouro. Apresenta uma forma quase esférica comprimida no topo e na base pelo pé e gola cilíndricos com canelados horizontais, de iguais proporções, sendo a transição entre os volumes realçada por filetes encarnados. Sobre o filete inferior despontam, a espaços regulares, cinco frágeis e gráficas plantas estilizadas de agave com frutos a ouro. Na tampa circular, três agaves envolvem a pega em forma de esfera dourada sobrepujada por cilindro branco igualmente canelado. Trata-se de uma edição que assinala os 1000 Anos da cidade de Meissen, cuja data se comemorou em 1929. No fundo da base, carimbo azul, Meissen dentro de uma oval sobrepujando estrela e 1000 Jahre Meissen 1929, cercado por uma coroa de louros com laço. Por baixo, também a azul, hangedmalt. Pintado à mão, a preto, 511 e 1
Data: 1929
Dimensões: Alt. c. 11 cm
 

Não se trata de uma peça com a marca da Real Manufactura de Porcelana de Meissen, mas da marca utilizada pela fábrica de fogões e porcelana de Carl Teichert (Meissner Ofen- und Porzellanfabrik) em uso de Dezembro de 1882 a Dezembro de 1929

As origens da fábrica remontam ao oleiro Johann Friedrich Carl Teichert que, em 1857, começou, em Meissen, a produzir placas cerâmicas para fogões segundo o método de produção patenteado, em 1855, por Gottfried Heinrich Melzer. Como não tinha espaço na sua oficina, Carl Teichert mudou-se, em1863, para novo espaço de maiores dimensões na cidade. Durante a guerra franco-prussiana morre aos 41 anos em Paris.

Em Agosto de 1872, os seus familiares converteram a empresa Carl Teichert Meissen, numa sociedade anónima que se passa a chamar Meissner Ofen- und Porzellanfabrik Carl Teichert, marca registada no Tribunal Real de Meissen em 23 de Dezembro de1882, que se traduziu graficamente numa cartela oval onde se inscreve Meissen sobrepujando uma estrela de cinco pontas.

Esta fábrica vinha-se expandindo desde 1879 passando também a produzir porcelana que até então era monopólio da Real Manufactura, chegando a produzir a conhecida porcelana a azul e branco sob licença desta, o que haveria de gerar posteriormente alguma confusão entre a produção das duas fábricas.

Por volta de 1925, Ernst Teichert vendeu as suas acções e a fábrica foi adquirida pela Stockhardt & Schmidt-Eckert, em Kronach, na Baviera. A nova gerência manteve as instalações e os moldes acabando por vender a licença de produção, em 1930, à Fábrica Lorenz Hutschenreuther, em Selb, de que já falámos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Coelho Margarida nº 2 cinzento – Vista Alegre


Para acabarmos de vez com os coelhos, os da Vista Alegre, claro! hoje mostramos o miniatural coelho Margarida nº 2, cujo modelo também nos aparece na fotografia que mostra estas figuras produzidas pela fábrica inglesa Denby Pottery, que postámos no coelho Margarida nº 1 amarelo.


 
Escultura de porcelana moldada e relevada em forma de coelho estilizado ao gosto art déco. Decoração a cinzento aerografada com complementos, olhos e boca, a encarnado-alaranjado e branco, pintados à mão. Modelo executado em 1933. No fundo da base carimbo verde V.A. Portugal - marca nº 31 (1924-1947), pouco perceptível, e inscrito na pasta, à mão, E – 6 (?)
Data: 1933
Dimensões: alt. 5 cm x larg. 2,5 cm x comp. 4 cm



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Coelho Margarida nº 1 verde – Vista Alegre



E para não perdermos o ritmo, hoje mostramos o mesmo coelho Margarida, nº 1, em versão verde. No fundo da base carimbo verde V.A. Portugal - marca nº 31 (1924-1947), inscrito na pasta, à mão, 3-4 (?).
Data: 1935
Dimensões: alt: 12.5 cm x larg. 6 cm x comp. 4 cm
 


Em relação ao coelho azul da Fábrica de Loiça de Sacavém, da colecção PMC, o buraco deixou de ser mistério graças à colaboração do Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA), a quem mais uma vez muito agradecemos.
 

Trata-se, de acordo com as tabelas de vendas de faianças decorativas de 1945 e de 1951, onde aparece referenciada sob o nº 286, de uma «Figura de coelho, para algodão». É, pois, um recipiente para guardar algodão que se vai puxando pela cauda, pelo que o pedacinho remanescente é que complementa a figura de faiança, como se pode observar na fotografia, de c. 1940, do fundo documental do arquivo do MCS-CDMJA.

Satisfeita a curiosidade, PMC? Depois diga-nos se funciona.

domingo, 11 de novembro de 2012

Coelho Margarida nº 1 amarelo – Vista Alegre



Escultura de porcelana moldada e relevada em forma de coelho estilizado ao gosto art déco. Decoração a amarelo aerografada com complementos, olhos e boca, a preto e branco, pintados à mão. Modelo executado em 1935. No fundo da base carimbo verde V.A. Portugal - marca nº 31 (1924-1947), inscrito na pasta, à mão, 247 (?).
Data: 1935
Dimensões: alt: 12.5 cm x larg. 6 cm x comp. 4 cm
 


Este modelo que em Portugal recebeu a designação, para nós muito adequada, de Margarida, produzido pela Vista Alegre em dois tamanhos, este, o nº 1, e o nº 2 de menor dimensão, que haveremos de postar, é igual, como se pode constatar na fotografia que apresentamos, ao modelo também da década de 30 editado pela fábrica inglesa Denby Pottery, na cidade com o mesmo nome no Derbyshire, fundada em 1809 por William Bourne para seu filho Joseph.


Pensamos que na base dos formatos ingleses e portugueses está o coelho criado pelo austríaco Walter Bosse, que será datável de c. 1930, cuja imagem igualmente mostramos.
 

A Fábrica de Loiça de Sacavém não foi indiferente a este motivo, tendo produzido, c. 1935, um coelho, com 20 cm de altura, que quanto a nós é baseado numa criação da fábrica inglesa Shaw & Copestake (ver foto). Tomámos conhecimento deste exemplar, que ilustramos, devido à amabilidade do seu possuidor, um nosso leitor, a quem muito agradecemos. Curiosamente esta peça apresenta uma abertura na parte posterior, na ponta da cauda, que tanto nos intriga a nós quanto ao seu dono. Alguém poderá dizer para que serve?


Apresentamos igualmente um outro coelho de produção inglesa coetânea, da fábrica Shorter & Son, com afinidades evidentes aos demais.

sábado, 10 de novembro de 2012

Macaco art déco da Lusitânia - Lisboa


Hoje abrimos mais uma excepção à regra do blogue, para apresentar uma peça que não é da nossa colecção, antes de novo do leitor Hugo, que uma vez mais nos “obrigou” a quebrar a dita regra e a quem agradecemos. É que graças a estes contributos se vai dando a conhecer o que entre nós se foi produzindo, desde que na continuidade ou em conformidade com o que formos mostrando.


Trata-se de um “primo” nosso, mas noutra variante cromática e mais brilhante, da fábrica Lusitânia da unidade fabril de Lisboa. Assim, de novo se comprova que nas diferentes fábricas desta empresa se produziam, pelo menos esporadicamente, os mesmos modelos. Haveremos de postar outros exemplos nas mesmas condições.
 
 
Não vamos fazer a descrição da peça, evidentemente, porque só se altera a cor e, aqui sim, no fundo da base, sob as patas dianteiras, carimbo azul com escudo coroado da Lusitânia Lisboa, com Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia] sobrepujando Portugal
Data: c. 1930
Dimensões: alt. c. 9,5 cm x comp. 9 cm x larg. cm 5 cm (estão certas, Hugo?)