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sábado, 22 de setembro de 2018

Exposição TEMPOS MODERNOS | CERÂMICA INDUSTRIAL PORTUGUESA ENTRE GUERRAS | COLECÇÃO AM-JMV

                                                      [Design Bloodymary & Braun Creative]        Para todos os que nos tem seguido - mas não só - e comungam da mesma paixão pela cerâmica, a partir do próximo dia 27 de Setembro terão a oportunidade de ver parte da nossa colecção, da produção nacional, exposta no Museu Nacional do Azulejo (MNAz).

Trata-se da exposição TEMPOS MODERNOS | CERÂMICA INDUSTRIAL PORTUGUESA ENTRE GUERRAS | COLECÇÃO AM-JMV, com curadoria de Rita Gomes Ferrão, a criadora do incontornável blogue Cerâmica Modernista em Portugal (CMP), que muito nos honrou por ter aceitado o desafio que, conjuntamente com o MNAz, lhe lançámos. Aqui deixamos o nosso público agradecimento.


Muitas das peças em exibição são do conhecimento geral. Para elas sempre olhámos mas esquecemo-nos de as ver. Algumas, tantas já aqui postadas, fazem parte das memórias da infância de muitos de nós que as víamos em casa dos avós ou mesmo dos pais. Esperamos que esta seja uma exposição de afetos e devolva um pouco do que o tempo nos roubou, daí o convite que vos fazemos a visitar a exposição.

domingo, 19 de agosto de 2018

Uma decoração icónica de Sacavém


Parte de serviço formato «Porto», de faiança moldada. Sobre formas ainda oitocentistas foi aplicada uma decoração geométrica estampilhada e aerografada, a três cores com pintura em esfumado: verde, azul e castanho alaranjado. Asas, pegas, bicos e bocais pintados à mão, a castanho. No fundo das bases, carimbo a verde «Gilman & Cta-Sacavém» «Portugal» e, «386» (decor), acrescido no bule de «O», na leiteira e açucareiro de «E», etc..
Data: c. 1930-40
Dimensões: Várias

A padronagem art déco modernista deste serviço é a que qualquer leigo português nestas coisas da produção cerâmica nacional é capaz de imediatamente identificar como sendo “Sacavém”. Verdadeira referência icónica desta fábrica, a decoração nº 386 foi usada entre cerca de 1930 e 1960s. Só que, mais uma vez, não é uma criação original portuguesa.


No fundo documental da Fábrica de Loiça de Sacavém encontra-se o verbete que se ilustra, gentilmente cedido pelo Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA), onde o motivo decorativo nº 386 aparece aplicado a uma tigela.

Os sensores em Portugal não percebiam a carga ideológica dos objectos modernos. Perseguia-se um pintor ou um escultor, mas as peças modernas de uso quotidiano entravam livremente nos lares portugueses. É disto um bom exemplo a faiança aerografada de boa parte da produção de Sacavém, só para citar uma fábrica. Hitler destruía-as na Alemanha, onde integravam o rol das artes degeneradas, produto de judeus e comunistas, como temos vindo a referir.



O provincianismo local abria-lhes as portas e mesmo em cenas como no filme «O Pai Tirano» (1941), o café com leite (?) do pequeno-almoço da pensão pequeno-burguesa, que na ficção fílmica se localiza na travessa da Portuguesa, no bairro da Bica, é servido em peças (chávenas e manteigueira) de um serviço com esta decoração, a uso como grito de modernidade popular num ambiente ainda muito século XIX. Curiosamente, a boleira de loiça com tampa metálica é alemã (ver fotogramas do filme).


Apresentamos aqui, igualmente, fotografia de um tête-à-tête que esteve há uns anos, e durante longos meses, à venda no Miau.pt como sendo «Sacavém». Era uma peça que gostaríamos de ter adquirido, mas o preço exorbitante pedido tal não permitiu. Mesmo sem termos visto a marca, arriscamos afirmar que se trata de produção da Europa Central, de origem alemã ou checa. Caso os nossos leitores tenham alguma informação que possa satisfazer a nossa curiosidade, deixamos desde já o nosso agradecimento.

A técnica do dégradé num dos lados do desenho da estampilha, tão ao gosto alemão teve, em Portugal, na produção da Fábrica de Loiça de Sacavém o seu expoente máximo, onde conheceu grande longevidade, como se pode constatar aplicada a este serviço, que por mais de 30 anos foi comercializado.


Dado só temos parte do serviço de chá e familiares nossos terem muitos mais peças, em parte por nós oferecidas, decidimos apresentar esta fotografia com algumas delas (embora a tigela apresente outra variante decorativa) como um conjunto ilustrativo da aplicação da decoração nº 386 e onde se pode ver, agora a cores, o modelo de chávena usado pela «Tatão» do filme, a actriz Leonor Maia.

domingo, 15 de julho de 2018

Jarra craquelé com decoração à chinesa – Sacavém



Jarra de faiança moldada, piriforme de colo invertido e pequena gola elevando o bocal circular. De cor branco-sujo e craquelé miúdo, apresenta, em lados opostos, decoração manual a preto e laranja, aplicada sobre o vidrado, com motivo de cerejeira retorcida com algumas flores, emergindo de um terreno ondulado às escamas, ao gosto chinês. Bocal cintado por corrente de elos a laranja e preto intercalados. No fundo da base, carimbo preto «Gilman & Ctª – Sacavém» «Made in Portugal» sobreposto a outro carimbo idêntico amarelado, e, em relevo na pasta, «80».
Data: c. 1930 – 40
Dimensões: Alt. 14 cm


A Fábrica de Loiça de Sacavém é uma caixinha de surpresas. Desta vez uma inesperada - pelo menos para nós que desconhecíamos este tipo de produção - jarra craquelé com decoração de chinoiserie. As cores são totalmente art déco e a estética orientalizante, presente também no craquelé, acentua esse gosto pelo exótico que se manteve durante os anos 20 e 30, senão mesmo por toda a primeira metade, do século XX. Não sabendo a data de produção é por estas características formais que a datámos. De qualquer maneira encontamos semelhanças nesta decoração com a de 1927/1929 que o artista vidreiro francês Schneider baptizou "Bonzai".  Uma peçazinha de qualidade que demonstra bem que Sacavém era outa loiça…


domingo, 29 de outubro de 2017

Jarra 734-A – Aleluia-Aveiro


Hoje voltamos à produção dos anos 50 da Aleluia-Aveiro com uma peça que achamos muito engraçada, pois lembra-nos o corpo de ave com pescoço virado para trás, sem cabeça e patas. Ideia reforçada pela decoração que parece remeter para asas.


Trata-se de uma jarra de faiança moldada e relevada, freeform, de bojo pançudo e colo lateral curvo com incisões que delimitam as cores. A decoração é simétrica, de bandas sinuosas, a preto, branco-nacarado e cor-de-laranja, que enfatizam as laterais, sobressaindo o dorso branco e o “peito” branco-nacarado. Interior a amarelo-nacarado. No fundo da base, carimbo circular a castanho «Aleluia-Aveiro» envolvendo «//» pintados à mão, a preto, sobrepujando «Fabricado Portugal», inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a preto, «734-A» (forma e decoração). Foi furada junto à base, na parte de trás, e no fundo da base, para adaptação a candeeiro.
Data: c. 1955-60
Dimensões: Alt. 26 cm x comp. c. 22 cm x larg. c. 15 cm



domingo, 8 de outubro de 2017

Jarro (pequeno) art déco - GAL


Em 7 de Outubro de 2013, a propósito de uma caixa da efémera Fábrica de Faianças Gal (1935 a 1937), apresentámos um jarro idêntico (retirado de MAFLS) ao que hoje postamos. Trata-se do modelo nº 223, embora, infelizmente, o nosso exemplar nos tenha chegado sem tampa. Com a decoração nº 39, tal como a caixa, relativamente a esta apresenta uma ligeira diferença cromática no castanho.
  

Jarro art déco modernista, de faiança moldada, com bojo tendencialmente esférico e colo cilíndrico com bico triangular saliente. Asa curva que, emergindo junto ao bocal, se interliga na zona central do bojo por um elemento recto, de cor branca com decoração geométrica aerografada, sobre o vidrado, a castanho e verde. O bojo, e prolongando-se na parte inferior da asa, é cintado por faixa verde enquadrada de castanho, e na sua parte superior, de cada um dos lados, recebeu uma composição linear, em que duas faixas paralelas, desencontradas, são interligadas por faixa vertical a eixo. Faixas, bicromas, contornam bocal e bico, prolongando-se pela parte superior da asa. No fundo da base, pintado à mão a castanho, «GAL» e «223/39».
Data: c. 1935-37
Dimensões: Alt. 12,5 cm


No referido post escrevemos sobre a influência que a produção alemã da República de Weimar, de finais dos anos 20 e inícios da década seguinte, teve na produção nacional, e em particular na GAL e concluímos mesmo que um modelo de jarro da Carstens-Georgenthal, de c. 1931, parece estar na génese desta peça. Nada mais temos a acrescentar, mas haveremos de postar outras versões cromáticas e tamanhos desta forma.


domingo, 3 de setembro de 2017

Taça branca e ouro – Vista Alegre


Taça art déco de porcelana moldada e relevada, com corpo troncocónico invertido, de cor branca, com bordo realçado a ouro subtilmente evasé, assente sobre pé canelado também a ouro. No fundo da base carimbo «V. A.» sobrepujando «Portugal» (marca nº 31 - 1924-1947) e, inscrito na pasta, «18».
Data: c. 1930
Dimensões: Ø 31 cm x alt. 9 cm


Esta taça, fruteira ou centro de mesa, de forma depurada, não deverá ser criação nacional. Mais uma vez estamos em crer que se trata de modelo importado que diríamos francês, talvez de Sèvres, dada a quantidade de peças identificadas daí provenientes produzidas pela Vista Alegre – não nos podemos esquecer que o seu director artístico, J. Cazaux (datas desconhecida), era dessa nacionalidade e nela trabalhou durante pelo menos parte dos anos 20 e 30 do século passado.

Modelo recorrente neste período, formalmente elegante no seu despojamento moderno dentro de uma estética art déco, para a qual o anel canelado do pé remete, e a que o toque quente do ouro dá maior refinamento.


Pode ser que algum dos nossos leitores, nacionais ou estrangeiros, nos possa disponibilizar mais alguma informação.


domingo, 27 de agosto de 2017

Jarra “Portugália” art déco com rosas - Sacavém

Voltamos hoje à jarra «Portugália», o formato nº 20 do catálogo de jarras da década de 1930, não impresso, disponível no Museu de Cerâmica de Sacavém - Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso. É o quarto exemplar deste modelo que aqui apresentamos com uma decoração completamente distinta.


Jarra art déco de faiança moldada, vidrada a branco com decoração policroma com motivo estilizado de rosas em dois tons de cor-de-rosa e folhagem a verde, delineados a negro, segundo a técnica da estampilha aplicada manualmente sobre o vidrado. O gargalo, pintado igualmente sobre o vidrado, é cintado por faixas a rosa e verde, delineadas a preto. No fundo da base carimbo verde «Gilman & Cdtª– Sacavém» sobrepujando «Portugal» e inscrito na pasta «JL» [autor do decor?].
Data: c.1930 - 35
Dimensões: alt. c. 20 cm


A propósito deste modelo, aproveitamos para reflectir um pouco sobre a produção cerâmica da Fábrica de Loiça de Sacavém, considerações que, no entanto, nos parecem, de uma maneira geral, pertinentes relativamente às demais fábricas nacionais.

Constatamos existir em Sacavém uma maior diversidade nas decorações face à quantidade de formas produzidas. É o caso das jarras, por exemplo. Na verdade há um reduzido número de modelos na década de 1930, que mantém ainda em produção formas de uma estética anterior, nomeadamente Arte Nova, situação que se prolonga pelo menos até aos anos 50.

Por um lado, poder-se-á justificar pela ausência de designers criadores de novas formas o que obrigava à compra (ou à cópia) de modelos estrangeiros. Implicava custos acrescidos na produção, o que não deveria ser muito vantajoso num mercado pequeno e onde a concorrência era muita, mesmo quando se exportava. Por outro lado, talvez entre o público-alvo consumidor não fosse sentida a falta de novidades constantes, porque maioritariamente pouco escolarizado e de parcos recursos económicos. A pequena elite portuguesa tinha acesso à produção importada se o entendesse.


Apostar sobretudo nas decorações permitiu que a produção de uma mesma forma se prolongasse no tempo e daí encontrarmos este modelo que vinha, pelo menos, desde cerca de 1930, ainda em produção durante a década de 50, embora nesta década apareça sob a designação de «Jarra Portugália, n.° 17» (tabela de Maio de 1951). Ver post de 4 de Junho de 2012.

Neste exemplar estamos perante uma decoração muito art déco com motivo estilizado de rosas e folhagem e cores planas, daí estarmos convictos de que se enquadra na cronologia que propomos.

domingo, 20 de agosto de 2017

Cinzeiro «Hipopótamo» creme - Sacavém


Cinzeiro de faiança moldada e relevada em forma de hipopótamo estilizado, de corpo arredondado, quase esférico, assente sobre quatro patas simétricas, e boca aberta, de cor creme subtilmente craquelé. O maxilar inferior, curvo, serve para apoiar o cigarro. No fundo da base carimbo azul «Gilman & Cta, Sacavém» sobrepujando «Made in Portugal».
Data: c. 1930-40
Dimensões: Alt. 6,5 cm x comp. 7,5 cm x larg. 5 cm (aproximadamente)


Trata-se de mais um objecto fantasista e divertido com que os criadores de cerâmica, e não só, amenizaram o quotidiano do período entre as duas Grandes Guerras. As suas obras ajudavam a esquecer o passado recente que profundas marcas havia deixado em todos assim como a Depressão que, iniciada em 1929, fazia surgir o especto de nova hecatombe, corporizada na subida ao poder de Hitler, em 1933. A potência alemã que havia causado a tragédia de 1914-18 voltava a mostrar as fauces.

Mas, por enquanto, a Europa fingia viver no melhor dos mundos possíveis. Brincar ajudava e os objectos funcionavam como escapismo na esquizofrenia ascendente. Não é à toa que este «Yawning Hippo Ashtray», reproduzido pela fábrica de loiça de Sacavém, seja uma concepção inglesa da Wilkinson Ltd, por volta de 1930. Arthur J Wilkinson (Ltd) operava na Royal Staffordshire Pottery, em Burslem, Stoke-on-Trent. O Reino Unido fazia parte do grupo dos vencedores mas as cicatrizes demoravam a fechar.

Encontrámos uma referência online como tendo sido este cinzeiro criado por Clarice Cliff, que nessa firma trabalhou, mas não o conseguimos apurar.


Como sabem, gostamos de imaginar possíveis cenários onde os objectos pudessem ter figurado no passado. Tratando-se de um cinzeiro individual, logo pouco propício à partilha (a não ser que houvesse vários exemplares estrategicamente espalhados pelo espaço colectivo de recepção de um qualquer interior doméstico), imaginamo-lo numa mesinha de apoio, junto a uma poltrona pronto a ser manuseado. Na pacata realidade portuguesa era mais uma blague num mundo ainda rural isolado sobre si próprio.

Esta forma simplificada e divertida de um cinzeiro em forma de hipopótamo, mais uma vez um brinquedo para o universo dos adultos, remete-nos ainda para a sexy bailarina hipopótamo que nos deliciou, e delicia ainda, na «Dança das Horas», de Ponchielli, no filme de Walt Disney, Fantasia (1940). Deixa-nos bem-dispostos e faz-nos sorrir.


Infelizmente, o nosso exemplar creme tem um defeito de fabrico no maxilar inferior. 

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Jarro 29-C - Aleluia-Aveiro


Jarro de faiança moldada, bojudo, cujo colo estrangulado abre num bocal em bico de onde, no lado oposto, parte a asa, ambos a castanho. O bojo é decorado por composição floral estilizada em tons de castanho sobre creme, onde, no meio de uma folhagem dinâmica, sobressaem duas grandes flores, parcialmente sobrepostas, compostas pela sucessão de formas circulares polilobadas e concêntricas. No fundo da base, a preto pintado à mão, «Aleluia Aveiro» «Made in Portugal» e, inscrito na pasta, «29» seguido de «C» igualmente a preto pintado à mão. Também inscrita na pasta «4» (?)
Data: c. 1935 - 45
Dimensões: alt. 23 cm


Trata-se do modelo nº 29, com a terceira decoração da série, como indica a letra «C», e aparece representado no Catálogo de loiças decorativas de inícios da década de 40.


Já a temos há alguns anos, mas demorámos muito tempo a comprá-la. Esperou na loja onde a vimos, à Feira da Ladra, uns meses antes que nos decidíssemos a ficar com ela. É uma daquelas relações de amor-ódio que por vezes acontecem aos colecionadores, divididos entre o desejo de sistematização de coerência da produção da fábrica e o gosto pessoal.


Convenhamos que, apesar da estilização da decoração e das cores planas, numa linguagem art déco muito característica da Aleluia-Aveiro entre cerca de 1935 e 1945, a forma maciça e a espessura da asa e do corpo retiram-lhe leveza e elegância, dotando a peça de uma expressão algo rude. No entanto, não deixa de ter graça por isso ou, se calhar, por isso mesmo.



domingo, 2 de outubro de 2016

Ampara-livros «Fauno e Ninfa» de Lejan – Vista Alegre


Par de ampara-livros art déco de porcelana moldada e relevada, craquelé, de cor marfim, composto por duas figuras sentadas, um fauno e uma ninfa, sobre soco sextavado que se prolonga em L na vertical formando o encosto. Em ambos os socos, sob os pés da ninfa e os cascos do fauno, inscrito na pasta «LEJAN». No interior oco das peças, carimbo verde «V.A.» «Portugal» (marca nº 31 - 1924-1947).
Data: c. 1930
Dimensões:
Fauno: Alt. 17,5 x comp. 16,2 cm x larg. 8 cm
Ninfa: alt: 16,5 cm x comp 17 cm x larg.


Este conjunto de ampara-livros foi-nos vendido como pertencente à mesma unidade (ou será que seriam pares de faunos e de ninfas?).

Mas não é essa questão que fundamentalmente nos interessa. A propósito deste ampara-livros e de outras peças assinadas «Lejan» produzidas em Portugal pela Fábrica da Vista Alegre, que temos vindo a apresentar, hoje voltamos à problemática identidade do seu autor.


De Lejan apresentámos, em 2011, peças da Vista Alegre, caso do «Pierrot», em 11 de Novembro (e um post sobre o seu émulo da fábrica francesa Orchies, assinado «Dax», em 13 de Novembro seguinte), do «Arlequim», em 14 de Novembro ou do «Urso polar» em 27 de Dezembro.


Apesar de enigmático é consensual que Lejan, Le Jan, Genvane, Dax, Jeanle, sejam a mesma e única pessoa.

No catálogo da Exposição realizada em 2007 no Musée des Années 30, Sèvres. Boulogne-Billancourt: La ceramique indépendante, p. 124, um apontamento biográfico refere que Lejan “é uma assinatura misteriosa e impenetrável. É nome de artista ou pseudónimo? Existiu realmente ou é um nome utilizado por uma manufactura para assinar as peças de diferentes artistas?”
No livro Les craquelés Art déco: histoire et collections, de Hardy e Giardi, de 2009, que já citámos noutro post, diz-se ser Lejan um prolífico escultor que continua a causar polémica em França, sendo considerada a mais enigmática das personalidades evocadas.
E nós, enquanto coleccionadores e amadores destas coisas, e baseados em documentação e aproximações formais, propomos uma atribuição que pensamos cada vez mais consistente.


A hipótese que levantámos no post dedicado a um peixe craquelé assinado Lejan, em 29 de Dezembro de 2011, no seguimento de uma base de candeeiro da Cerâmica S. Bernardo, de Alcobaça, postada em 21 de Novembro desse ano, que reproduzia nos anos 80 do século XX, uma das bailarinas de Jean-Baptiste Gauvenet (1885-1967) para Sèvres, chamávamos a atenção para as aproximações no maneirismo das torções dos corpos, nos perfis das cabeças e mesmo nas golas do vestuário encontradas nas bailarinas de Gauvenet e os ditos Pierrot e Arlequim de Lejan, da V.A.


Continuámos a fazer análises comparativas, de que aqui damos alguns exemplos, entre obras assinadas Gauvenet para Sèvres, em porcelana, e outras - faianças craquelé em França ou porcelanas em Portugal – com as diferentes assinaturas. Deparámo-nos de novo formalmente com linguagens muito similares.


Por isso, estamos cada vez mais convictos de que o segredo se encontra, de facto, revelado no verbete nº 1049 do Catálogo Geral da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre (Portugal), relativo ao artigo escultura «Arlequim», de 1927, que dá como autor Gauvenet, cujo primeiro nome é, afinal, Jean-Baptiste. Assim, Lejan, Le Jan, Genvane, Dax, Jeanle, são vários pseudónimos que Gauvenet terá utilizado para obras não concebidas ou decoradas para Sèvres.



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Prato de cozinha com motivo de “amores-perfeitos” azul - Sacavém


Prato de cozinha de faiança moldada, formato circular com aba larga e lisa. De cor branca, o covo apresenta decoração central estampilhada e aerografada com bouquet de flores formado por três amores-perfeitos, a castanho e amarelo, campainhas castanhas e folhagem verde. Aba com barra aerografada a azul que, partindo do bordo, se esfuma em direcção ao centro. No fundo da base carimbo verde «Gilman & Ctª – Sacavém» sobrepujando «Portugal» e carimbos da mesma cor com «Z», um «S» (?) e «1300» (?)
Data: c. 1930-40
Dimensões: Ø 30 cm x alt. 5 cm


Mais um prato de grandes dimensões da Fábrica de Loiça de Sacavém. O motivo central remete para a decoração nº 1300-A «para malgas e pratos de cosinha», conforme se pode ver na ilustração da década de 1930 do catálogo de desenhos da fábrica, disponível no Centro de Documentação do respectivo Museu (MCS-CDMJA), cuja disponibilidade e apoio uma vez mais agradecemos.

Esta versão, com a aba simplesmente aerografada a uma cor, menos pesada do ponto de vista da ornamentação que a do catálogo, foi produzida com outras variantes cromáticas, como teremos oportunidade de mostrar.


domingo, 4 de setembro de 2016

Bases de candeeiro «Peixes em relevo» - Sacavém


Hoje apresentamos uma muito conhecida base de candeeiro art déco com motivos relevados de peixes e enrolamentos que remetem para búzios, em duas versões cromáticas e, estamos em crer, de materiais e datações diferentes. Uma, com um vidrado marmoreado de tonalidades amareladas semi-mate, será de faiança moldada, e outra, a branco mate, será de grés ou pasta de loiça sanitária (vitrificada). No fundo das bases, não vidrado na última, inscrito na pasta, «Made in Portugal – Sacavém»
Data: c. 1950 (amarela); c. 1980 (branca)
Dimensões (só base cerâmica): Alt. c. 14 cm (amarela); c. 13 cm (branca)



Muitos modelos art déco produzidos pela Fábrica de Loiça de Sacavém na década de 30 só apareçam referenciados na «NovaTabelaPrecos – Loicas Decorativas Em Faianca», de Novembro de 1945 (nesta listagem constam as célebres criações animalistas de Donald Gilbert e demais peças art déco da década anterior), mantiveram-se no mercado até tarde, geralmente até próximo de 1960, embora com outras variações de cor e vidrados, ou até com novas decorações mais consentâneas com o gosto vigente.


Será o caso deste formato, que aparece na dita tabela de Novembro de 1945 com a designação «31 – Jarra Peixes em relevo nº 6», indicando que terá sido inicialmente apenas comercializado em versão jarra e, mais tarde, produzido também como base de candeeiro.



Não nos parece que se trate de um modelo criado por Sacavém. Apostamos para mais uma importação de uma criação inglesa.

Mais informações, ver MAFLS (de cujo blogue reproduzimos a versão verde) aqui e aqui.