quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Jarra cantil decagonal – Longwy - França


Jarra art déco de faiança moldada e relevada, craquelé, em forma de cantil decagonal, com decoração cubizante, policroma esmaltada, cloisonné, segundo a técnica da corda seca ou “relevo contornado”, em três tons de azul e branco, com motivos florais e geométricos, nas duas faces e perfil a azul-forte. Pé saliente e bocal octogonais a azul-forte, tendo o último a parte superior a azul mais claro. No fundo da base, carimbo preto com escudo coroado sobrepujando «LONGWY FRANCE» e, pintado à mão, «D.5457» e carimbos «L» e «37» (?)
Data: c. 1920-30
Dimensões: Alt. 19 cm x Ø. 16 cm x larg. 5 cm


A exuberância da decoração, em flores que explodem como fogo-de-artifício, cortadas pela geometria dos rectângulos, é bem exemplificativa de um Cubismo amável que perdeu a agressividade escandalosa da década anterior e já pode ser aceite tranquilamente nos lares burgueses. Aliás já prenunciado pelo cubismo de pendor decorativista de André Lhote, por exemplo, desde meados dos anos 10.


Deixemos de lado o objecto. Hoje acaba mais um ano e as expectativas de um 2015 feliz goraram-se na voragem da irracionalidade a que o Homem parece estar sempre condenado. Efeitos da Caixa de Pandora, certamente.

Apesar da crise europeia, apesar das nuvens negras que se adensam no horizonte a Oriente, terrorismo e fundamentalismo islâmicos não serem mais que uma guerra em grande parte induzida pelo domínio da água, muito mais preciosa que o petróleo, apesar das alterações climáticas e deste excesso de calor pouco usual para a época do ano – El Niño volta lá para onde vieste – o ritual de renovação que a passagem do ano significa para a Civilização Ocidental, leva-nos a ser optimistas.

Assim, e como vem sendo tradição no nosso blogue, os votos de Ano Novo, com desejos de Paz, Amor e Prosperidade, são ilustrados com uma peça Longwy. É que não há nada tão optimista como uma jarra dos anos 20 e 30 desta fábrica!

Talvez temesse pelo futuro mas a sua produção art deco é então um hino à Esperança que nunca abandona o Homem mesmo em tempos que anunciam tempestade.


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Prato de cozinha com motivo de mesquita - Sacavém


Prato de cozinha de faiança moldada, formato circular com aba larga e lisa. Decoração central estampilhada e aerografada, policroma. Sobre fundo branco, duas estampilhas a amarelo e castanho estilizam o motivo de mesquita, com espelho de água em frente e margem oposta em primeiro plano, onde se erguem duas palmeiras (tamareiras), à esquerda, definidas por duas outras estampilhas a castanho-mel e verde. Bordo com barra aerografada a cor-de-rosa que se esfuma em direcção ao centro. No fundo da base, carimbos verde «Gilman & Ctª – Sacavém – Portugal» e «946».
Data: c. 1930-40
Dimensões: Ø32 cm x alt. 5,5 cm


A arquitectura de uma mesquita otomana à borda de água, muito provavelmente um rio, com as duas tamareiras em primeiro plano, servindo de repoussoir, remete para o exotismo de um qualquer deserto do Próximo Oriente, o Egipto, por exemplo. Como se a mesquita turca do Cairo tivesse descido até ao Nilo.

Decorações idênticas podem ser encontradas em bases para bolos alemãs (infelizmente perdemos uma das imagens que tínhamos para ilustrar) e noutras peças cerâmicas da mesma nacionalidade.

Embora com raízes ainda setecentistas e que o espírito do Romantismo desenvolveu, este tipo de representações de um misterioso e exótico Oriente Próximo alimentaram o imaginário do Ocidente século XX dentro. O fascínio que a espectacular descoberta do túmulo de Tutankhamon, em 1922, causou, ou antes a personagem Lawrence da Arábia (1888-1935) e a canção «The Sheik of Araby» (1921), depois o cinema, em filmes como «The Sheik» (1926), ou os cenários da intriga de algumas obras de Agatha Christie (o mais conhecido será «Morte no Nilo», de 1937), por exemplo, contribuíram para continuar a alimentar fantasias das “mil e uma noites” no imaginário e estética colectivos pelo menos até ao desencanto que eclodiu com a II Grande Guerra.


Exemplar idêntico já foi apresentado por MAFLS, que sobre o tema discorreu, e apenas rectificamos que se trata da decoração nº 946 «para malgas e pratos de cosinha», conforme desenho do fundo documental da antiga Fábrica de Loiça de Sacavém, disponível no Museu de Cerâmica de Sacavém - Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso, a quem dirigimos, uma vez mais os nossos agradecimentos, e conforme carimbo deste nosso exemplar.

Como os Reis Magos vieram do Oriente e o Menino também por lá nasceu, aproveitamos o motivo para desejar um


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Jarra nº 542 – Denbac - França


Jarra art déco de grés moldado, em forma de balaústre, de cor verde-bronze não uniforme, com escorridos a partir do bocal em tons de castanho. Bojo redondo mas que se torna hexagonal na parte superior ressaltando ligeiramente de modo a formar o bocal sextavado. Pé saliente circular, assente sobre base hexagonal, com reforços cónicos embebidos a partir dos vértices do hexágono. No fundo da base é pouco perceptível a marca incisa (Denbac) coberta na sua quase totalidade pelo esmalte.
Data: c.1925-30
Dimensões: Alt. c. 26 cm

Trata-se de um modelo do período geométrico art déco, a forma n° 542 do catálogo da fábrica Denbac, em Vierzon.

A versão cromática deste exemplar acentua mais uma vez a ideia de que estamos perante um objecto de metal remetendo, sobretudo no desenho da base, para uma estética industrial. Esta tendência parece ser muito comum a partir dos anos 20 na produção da Denbac, substituindo paulatinamente as formas biomórficas anteriores da gramática Arte Nova, embora estas perdurem no catálogo da fábrica e continuem a ter sucesso até ao seu encerramento em 1952.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Caixa art déco modelo 25-A – Aleluia-Aveiro


Postado este modelo em 30 de Agosto de 2014 com a decoração «E», finalmente mostramos o 25-A, ou seja um exemplar com a primeira decoração da série, a que consta ilustrada no Catálogo de loiças decorativas de inícios da década de 40.

Como a descrição formal nos ajuda a sistematizar as nossas próprias fichas de inventariação, pois que voltamos repetir parte do que anteriormente foi escrito sobre o modelo.


Caixa art déco de faiança moldada e relevada, oitavada, com as faces menores, côncavas, de cor creme, decoradas com motivos florais estilizados em tons de castanho e preto, com a última a delinear os motivos, estampilhados e pintados á mão, que pendem a partir da tampa. Nas faces mais largas, a preto, sobressaem “contrafortes” embutidos que elevam a caixa e formam os quatro pés, de cor creme com haste floral estilizada mas cores referidas. Na tampa, ao centro, eleva-se uma estrutura cruciforme escalonada em que assenta a pega tronco-piramidal. Espelhos a preto e topos acastanhados. No fundo da base, pintado à mão, a preto, «Aleluia – Aveiro». Pintado à mão «A» e, inscrito na pasta, «25» (embora a leitura do 2 seja ambígua).
Data: c. 1935-45
Dimensões: Larg. 10,6 cm x 10,6cm x alt. c. 9 cm


A composição floral que, partindo da tampa, pende nas quatro faces estreitas e côncavas apresenta um grafismo curvilíneo nos caules que remete ainda para uma estética Arte Nova, embora as cores planas e a geometrização das flores, tal como a forma arquitectónica do modelo, estejam inequivocamente associados à contemporaneidade do Art Déco. A reminiscência de uma tradição popular presente no desenho do ramo floral que se repete em cada um dos quatro pés salientes também aponta no mesmo sentido.

Em nossa opinião será uma das formas mais originais produzidas pela Aleluia-Aveiro, e mesmo de toda a produção nacional art déco, por enquanto, pelo menos, sem paralelismo que conheçamos no contexto internacional.


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Jarra art déco «Quatro Asas» - Vista Alegre


Jarra art déco de porcelana moldada, em forma de balaústre, com 4 pequenas asas. Sobre a cor branca base a parte superior do bojo recebeu pintura, sobre esmalte, a preto e hastes florais policromas com folhas e caules a verde. No prolongamento das asas a cor preta, entremeada de flores e folhas, é prolongada até ao pé, seccionando o bojo em quatro partes, por sua vez seccionadas por quatro linhas a dourado. Bocal, pé e parte exterior das asas a dourado, Interior destas últimas a preto. No fundo da base, carimbo V.A. (marca nº 31 utilizada de 1924-1947). Inscrito na pasta «4»
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 25 cm


Sobre este formato nº 1169 (Quatro Asas) produzido pela Vista Alegre a partir de um modelo criado em 1893 para a Manufacture National de Sèvres – o designado «Vase de Bourges» - já escrevemos em 18 de Janeiro deste ano a propósito de outra jarra. E o quão é diferente desta que postamos hoje. Cá está, as decorações transformam as formas, ora secundarizando-as ora acentuando-as. À semelhança da jarra que então postámos, também esta poderá ter decoração importada e executada por Ângelo Chuva.


Adquirida na Feira de Antiguidades Forum Picoas, nos finais da década de 80 do século passado, esta jarra sempre nos agradou, pelo despojamento decorativo e forte contraste do preto e branco, complementados pelo dourado, assim como pela policromia acentuada, mas muito subtil, das flores que ressaltam sobre o primeiro.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Boleira “Vieiras” – modelo x-501-A – Aleluia-Aveiro


Caixa (boleira) de faiança moldada e relevada em forma de cinco vieiras sobrepostas, à cor natural das conchas, com apontamentos a ouro. Tampa com pega em forma de berbigão a ouro. No fundo da base, carimbo circular sobre rectângulo, a ouro, «Aleluia» «Aveiro», e pintado à mão, a ouro, no centro, «%», sobrepujando «Fabricado em Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, também a ouro, «x - 501 – A» (número do modelo e decoração)
Data: c. 1945-60
Dimensões: Alt. c. 17 cm x Ø c. 18 cm


Podemos reconhecer nesta peça um eco longínquo das criações do francês Bernard Palissy (c. 1510 – c. 1590), cujo revivalismo haveria de fazer furor na Europa, a Palissy ware, a partir de meados de Oitocentos e que em Portugal deu origem a uma das mais interessantes reinterpretações que se conhece do estilo, a loiça das Caldas da Rainha e, em particular, as criações de Rafael Bordalo Pinheiro.


A vieira é recorrente neste tipo de loiça, até porque a forma do bivalve propicia a utilização da própria concha como recipiente. Fábricas em Inglaterra, como, por exemplo, Wedgwood, ou em Portugal, caso de fábricas caldenses, conceberam serviços completos a partir deste motivo.

Claro que o Barroco também já havia utilizado, para os seus jogos ilusionistas, os motivos da natureza para conceber conjuntos de mesa.

Os animais e plantas que então serviram de inspiração, presentes no ambiente costeiro e/ou lacustre de Aveiro, permitiram continuar de alguma maneira viva esta tradição que podemos observar em certas peças relevadas da Fábrica Aleluia-Aveiro. 

Para além disso, a vieira, enquanto símbolo associado ao apóstolo Tiago, é uma constante na arte ocidental desde a Idade Média.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Serviço art déco de pratos para consommé – Vista Alegre


Meio-serviço art déco para consommé, formado por pratos e taças, de porcelana moldada, de cor marfim. Ambos dodecagonais. A taça assemelha-se a um sólido geométrico cortado a meio, de bojo suavemente escalonado antes de inflectir em direcção à base. É complementada pela presença de duas asas laterais, na vertical, rigidamente angulosas formando cantos e contracantos Quanto ao prato, a aba facetada apresenta uma inflexão junto ao bordo, morrendo num covo dodecagonal liso onde encaixa a taça. No fundo da base, carimbo verde V.A. Portugal [Marca nº 31 (1924-1947)], e, apenas no prato, «1» inscrito na pasta.
Data: c.1930-35
Dimensões: Prato Ø 16 cm; taça Ø 16,5 cm (c/ asas) x Alt. 4,5 cm


As formas geométricas adoçadas e os escalonados, de forte pendor decorativo, remetem para um gosto art déco muito em voga em França na década de 20 que cedo extravasou fronteiras e influenciou, ou serviu de modelo e cópia, como será o caso, estamos em crer, deste exemplar de lavra nacional, como temos vindo a ilustrar. O tom marfim/creme foi muito utilizado em loiça utilitária de porcelana da Vista Alegre, (mas não só, pois já aqui mostrámos objectos decorativos de igual cor) por contraponto ao branco puro, enquanto cor mais privilegiada para receber a aposição de decorações.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Jarras da Fábrica do Outeiro - Águeda


Da cerâmica produzida na região de Aveiro, para além das sobejamente conhecidas Aleluia e Vista Alegre, temos duas jarras, que hoje postamos, da Fábrica do Outeiro, em Águeda, fábrica da qual nada sabemos.

Na verdade pouco nos diz o tipo de faiança que aí foi feito e, de uma maneira geral, nem temos particular interesse na sua produção. Não fora a forma destas peças nos ter chamado a atenção por outras razões.


A maior, adquirimo-la em Maio de 1999 na feira de velharias e antiguidades que, então, se realizava, no Forum Picoas. A mais pequena, comprada em 2005 num bazar de Natal. O modelo entrava dentro da gramática formal que nos ocupa.


Jarras de faiança moldada, trilobadas em forma de leque, com decoração, pintada à mão, de flores e folhas. No fundo da base, pintado à mão, a preto, na de maiores dimensões: «Outeiro» «Águeda» e «276»; na outra, «Outeiro» «Águeda» «Portugal» e «396»
Data: Entre 1940-60 (?)
Dimensões: Grande: Alt. 17 cm x comp. 28 cm x larg. 14,5 cm (máximos)
                    Pequena: Alt. 10,5 cm x comp. 17 cm x larg. 8 cm (máximos)


Esta forma art déco será cópia de um modelo da fábrica alemã Carstens-Uffrecht concebido por volta de 1930. Estamos em crer que os exemplares nacionais datarão da década de 40 ou mesmo de 50. Pode ser que entretanto encontremos novas datações. Imaginem a surpresa se fossem anteriores…


Partindo do princípio que estamos perante uma cópia, não deixa de ser interessante constatar que o espírito da peça alemã remete para uma produção de massa vanguardista dentro da estética art déco modernista, por oposição à produção portuguesa de gosto mais popular. Reflexo de duas realidades socias e culturais radicalmente opostas.


A decoração da jarra grande, com as suas flores e folhas muito nítidas, que ressaltam sobre fundo azul, remete para decorações idênticas que encontramos na produção de Sacavém dos anos 50. A da jarra pequena, muito mais conservadora, tem ainda um carácter vagamente arcaico, com as suas florinhas e folhagem, dada por pequenas pinceladas rápidas, que preenchem totalmente a superfície. Em ambos os casos a padronagem têxtil é muito evidente.


Dos exemplos que conhecemos do modelo da Carstens-Uffrecht, que aqui se ilustram, seleccionámos decorações que remetem também para outras produções portuguesas, como a da Fábrica Lusitânia, tanto das unidades de Lisboa como de Coimbra. Veja-se como também a forma, em versão alongada, é próxima das que já postámos em 7 de Janeiro de 2013, 7 e 8 de Fevereiro e 12 de Julho de 2015.


Não há dúvida que a influência da criação alemã pré-hitleriana é transversal à produção nacional dos anos 30 e mesmo sequentes. O que, num país como o nosso, com um fascismo de teor ruralizante, não deixa de ser curioso. A merecer melhor reflexão.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Jarra Bunzlau - talvez da Fábrica de Grés Julius Paul & Sohn - Alemanha


Jarra de grés moldado, em forma de balaústre, com decoração geométrica aerografada em tons de verde e castanho. Interior a castanho-mel. No fundo da base não apresenta qualquer marca. Todavia, será de uma fábrica de Bunzlau, provavelmente da Julius Paul & Sohn.
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 22,5 cm


As potencialidades do aerógrafo aplicado com estampilha são, como sabem, uma das nossas preferências no que à cerâmica diz respeito. Temos outras, mas não há dúvida que a modernidade e aparente facilidade deste método de decorar superfícies dá origem a uma paixão muito especial.

Já muito temos escrito por aqui sobre a maneira como as fábricas alemãs utilizaram e potenciaram as possibilidades deste método, mas ainda não tínhamos apresentado nenhuma peça cuja pintura final remetesse para um objecto pseudo-usado, uma superfície gasta por um tempo que não houve.


A composição sugere uma paisagem vertical em três planos, três vezes repetida. Por detrás de duas cadeias de montanhas, formadas pelos recortes das estampilhas, angulosos uma e curvos outra, desponta um sol acastanhado que se ergue num céu do mesmo tom delimitado pela linha recta de outra estampilha. Esta separa as três composições.


Remetendo para o abstracionismo pictórico, enquanto arte maior, os tons verdes não respeitam com rigor a estampilha do desenho de base, nem cumprem simplesmente o esfumado que é característico de grande parte das produções germânicas. Aqui a pintura a aerógrafo surge enevoada, esborratada e aparentemente gasta. A peça é, assim, simultaneamente rude e refinada. O Art Déco neste tipo de produção assume uma dimensão de vanguarda artística nitidamente bauhausiana.

Apesar de não ter qualquer marca, o estilo, as cores empregues e o próprio material, remetem para uma produção de Bunzlau, muito provavelmente da Feinsteinzeugfabrik Julius Paul & Sohn (fábrica de grés) activa entre 1893 e 1945. Porém, todo o experimentalismo vanguardista da composição parece ter tido origem na Staatliche Keramische Fachschule Bunzlau (Escola Profissional de Cerâmica do Estado em Bunzlau) cujas criações vão revolucionar a produção cerâmica local a partir do fim dos anos 20. Várias foram as fábricas da zona que aderiram a esta revolução estilística então iniciada pelo designer Artur Hennig (1880-1959).


O seu trabalho pioneiro na referida escola, iniciado em 1925, vai contaminar, através dos seus alunos, a produção cerâmica industrial de Bunzlau no final da década, assim como de outras fábricas alemãs.

Estética de curta duração, por volta de 1933 as fábricas de Bunzlau regressam a um gosto mais tradicionalista onde vão predominar os castanhos característicos da produção local oitocentista.

Bunzlau (Bolesławiec em polaco) fica na Baixa Silésia, território que desde o fim da Segunda Guerra Mundial foi reintegrado na Polónia e que a Prússia havia anexado em 1740.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Jarra art déco Denbac forma nº 411 – França


Este modelo 411 de jarra art déco, de grés, com relevos em forma de cabochão, em duas dimensões distintas intercalados, já aqui foi apresentado numa outra variante cromática e com aplicação de armação metálica em 29 de Março de 2013. Todavia, e como então referimos, a sua leitura é, sem dúvida, muito diferente, não só porque se esvanece a lembrança do vidro soprado que os cabochões sugeriam na versão com armação metálica, como a própria cor, um verde-azulado forte brilhante, com escorrências mate castanhas mosqueadas a partir do bocal, que, em contacto com o esmalte brilhante adquire uma leitura de palhetas douradas, lhe confere uma identidade muito distinta.
No fundo da base, aparentemente sem marca dada a espessura do esmalte, as ténues incisões permitem-nos adivinhar que o que está impresso na pasta é, certamente, «Denbac» e «411».
Dimensões: Alt. 22 cm
Data: c.1925-30



É por se tornarem objectos tão distintos consoante as cores ou variantes decorativas que, enquanto colecionadores quase compulsivos (rimo-nos, mas é assunto sério, garantimos-vos), gostamos de ter vários exemplares das mesmas formas, sempre que possível. Com as consequências nefastas relativamente ao espaço e aos gastos, claro. Mas não vale a pena contrariarmo-nos, até porque nos divertimos na descoberta de cada pequena diferença…


Que pensariam o ceramista René Denert, que fundou, em 1908, o atelier cerâmico em Vierzon, e o seu sócio, a partir de 1910, René Louis Balichon, cuja junção de nomes gerou «Denbac» que baptizou a firma, como já escrevemos, ao saber que em pleno século XXI haveria em Portugal uns fanáticos que na sua colecção de cerâmica da primeira metade de Novecentos também decidiram incluir obras suas? E isto apesar da produção dos modelos que foram concebendo ter continuado até 1952 (evitar comprar modelos art nouveau se o fundo da base for esmaltado, porque demasiado tardios – a coisa é menos grave para os modelos art déco – mas daí também o baixo custo da maioria das peças).

sábado, 5 de dezembro de 2015

Base de Candeeiro – modelo 163 – Aleluia-Aveiro


Base de candeeiro de faiança moldada em forma de balaústre de quatro asas com canelura que, partindo da parte inferior do bojo, encurvam e terminam em enrolamentos no colo. Sobre a cor verde-claro recebeu, entre as asas, composição gráfica com enrolamentos lineares, a ouro, lembrando as serralharias artísticas (ferroneries) francesas de finais dos anos 30 e da década seguinte na linha de um tardo-Art Déco. É também a cor ouro que acentua bocal e pé assim como as arestas das asas. No fundo da base carimbo circular, a castanho, «Aleluia-Aveiro», com «v» a ouro pintado à mão, ao centro (marca do pintor), sobrepujando «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo.
Data: c. 1945-55
Dimensões: Alt. 24,5 cm



Esta decoração e forma, enquanto base de candeeiro, não aparecem ilustradas no Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia. Aveiro, com os modelos produzidos entre cerca de 1935-45, embora surja forma idêntica, em versão urna com tampa, com o nº 163-C, que tem de altura 30cm. Sob o nº 162-A e 162-B aparece, no mesmo catálogo, forma idêntica, de menores dimensões (alt. 19 cm). Assim, parece-nos estarmos perante uma versão mais tardia, possivelmente de entre 1945-55 do modelo 163. Qual a sua opinião CMP?


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Jarra modelo 28–A – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada com decoração estampilhada a preto e apontamentos manuais a aguada acastanhada sobre fundo creme. Bojo preenchido por composição de flores e folhagem, de sabor vagamente renascentista, ladeado por duas pegas simétricas bicónicas a preto. Bocal em gola évasée, creme, com exterior a aguada acastanhada e filete a preto, e interior creme com filete e perolado a preto sobre aguada da mesma cor. A parte inferior, inflectida para dentro em meia cana, a aguada acastanhada, assenta sobre pé a preto. No fundo da base, estampilhado a preto, «Aleluia Aveiro», e, pintado à mão «A» também a preto. Inscrito na pasta «28».
Data: c. 1935-45
Dimensões: alt. 13 cm


A ornamentação da jarra integra uma linha decorativa frequente na produção da Fábrica Aleluia-Aveiro das décadas de 1930-40, de que já apresentámos alguns exemplos, caso da jarra ou do cache-pot postados respectivamente em 26 de Janeiro e em 1 de Março de 2012. Desenho de inspiração clássica, num ecletismo que tanto pode remeter para uma releitura neo-renascentista ou mais barroquizante, que parece ter tido muita aceitação nacional enquanto versão local de um Art Déco conservador e respeitável.


No Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia-Aveiro, de inícios dos anos 40, na pág. 22, esta peça aparece referenciada com o nº 28 – A, confirmando o indicado na própria peça. 


domingo, 29 de novembro de 2015

Caixa art déco “Ouriço-cacheiro” da Electro-Cerâmica – Vila Nova de Gaia


Caixa art déco, de porcelana moldada e relevada, em forma de ouriço-cacheiro estilizado, sendo a tampa a cabeça do animal. Corpo ovoide, a preto, revestido de espinhos em triângulo, lembrando escamas, sob o qual sobressaem subtilmente as patas da mesma cor. Cabeça e cauda a branco, tendo a primeira apontamentos a preto realçando focinho e olhos. No fundo da base, inciso na pasta, as letras sobrepostas «EC» inscritas num quadrado na oblíqua. Selo colado da «Vidraria Monumental - Av. Almirante Reis, 162A – Lisboa».
Data: c. 1930
Dimensões: Comp. c. 15,5 cm x larg. c. 7,5 cm x alt. c. 6,5 cm


Esta peça art déco remete claramente para a influência estilística de algumas criações de Édouard-Marcel Sandoz, caso do ouriço-cacheiro deste autor, que se ilustra, que parece ter sido a matriz inspiradora da deliciosa e simpática criatura produzida pela Electro-Cerâmica de Vila Nova de Gaia que hoje apresentamos.


Surge, certamente, na sequência da influência que esse escultor suíço radicado em França teve na produção nacional na década de 1930, bem documentada na Fábrica da Vista Alegre, que produziu, pelo menos, duas peças de Sandoz. Foi o caso de um coelho e de um saleiro-rã, este último já postado aqui no blogue, na sua versão a amarelo, em 19 de Janeiro de 2012.


A surpresa do selo de uma vidraria aposto a uma pequena peça decorativa de porcelana, talvez uma drageoire, pode indiciar uma prática comum em Portugal até aos anos 60 do século XX, a de se oferecer brindes a certos clientes. Embora nada obste a que um estabelecimento dessa natureza não pudesse também vender objectos de decoração.