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domingo, 8 de março de 2015

Jarra art déco da linha Flambé “Lamas” da Rörstrand – Suécia


Faz algum tempo que não apresentamos nenhuma peça da linha «Flambé» da fábrica sueca Rörstrand, sobre cuja génese e técnica já nos debruçámos. Mais uma forma criada por Gunnar Nylund (1904-1997), desta vez com a decoração nº 2001 de O. Dahl (datas desconhecidas).

Jarra de grés moldado, de forma tendencialmente esférica achatada lateralmente, com pé e bocal salientes. Bojo com decoração aerografada em cremes e castanhos flamejados (flambé), com realces a ouro no contorno do desenho e circundando pé e bocal. Esta técnica dá à peça um aspecto metalizado como se fosse dinanderie. Tendo como pano de fundo montanhas, numa das faces, um par de camelídeos (lamas?) em pose estática (um pasta outro de pescoço erguido), na face oposta dois animais da mesma espécie em corrida. No fundo da base carimbo a ouro: FLAMBÉ RÖRSTAND, com ALP inscrito num quadrado e ladeado por MODELL NYLUND e sobrepujando LIDKÖPING SWEDEN DEKOR: O. DAHL; UNIK: 2001. Inscrio na pasta 3 estrelas, ALP e HANDDREJAD
Data: c. 1935-40
Dimensões: Alt. 15.5 cm x Ø 15 cm


Tema recorrente do Art Déco, o exotismo está mais uma vez presente nesta peça, quer na paisagem andina, quer nos motivos animalistas representados, uma espécie de camelídeo da América do Sul, muito provavelmente lamas (Lama glama), embora também possam ser outras espécies suas semelhantes caso das alpacas (Lama pacos), vicunhas (Vicugna vicugna) ou guanacos (Lama guanicoe).

A estilização de todos os elementos representados, reduzidos a uma expressão gráfica, que quase diríamos minimalista, dada a grande economia no traço, impossibilita uma identificação exacta da espécie.

Numa das faces, um par de animais pasta numa paisagem árida e montanhosa, apesar da expressão observante e alerta de um deles perante a eminência de um possível perigo que espreita. Na face oposta, talvez sequência da primeira, um par de animais em fuga, com um deles atento a uma ameaça não visível que os persegue. 


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Floreira de parede art déco – AJ Höganäs - Suécia


A peça de hoje levanta-nos algumas interrogações quanto à sua função.
Estamos em crer que se trata de uma floreira de suspensão parietal, ao gosto art déco, em forna de fontanário, de faiança moldada e relevada, em que a placa apresenta, em relevo, uma mulher nua, certamente Vénus, segurando um véu atrás, com um joelho por terra enquanto se olha (ou emerge) na concha do tanque que apresenta, também em relevo, um pequeno golfinho de igual inspiração clássica. De cor base castanha recebeu uma aguada de esmalte verde-seco, mate, que lhe dá uma pátina de bronze. No verso, na pasta, carimbo AJ inscrito num círculo sobrepujando Hoganas (marca utilizada desde cerca de 1920 a finais dos anos 50)
Data: c. 1925 - 30
Dimensões: Alt. c. 28 cm x larg. 18 cm (larg. inferior 24 cm)


Na produção sueca dos anos 20 e 30 o imaginário de inspiração clássica e marinha são das características principais do art déco e da swedish grace, como já tivemos oportunidade de referir a propósito de peças da Gustavsberg.
Como habitualmente, as nossas escolhas recaem em objectos de países que conhecemos eles tornam-se, assim, os nossos souvenirs de viagem.


A fábrica de cerâmica Höganäs foi fundada em 1909, uma parceria entre o mestre oleiro Sigfrid Johansson com o especialista em vidrados Karl Andersson. Desta colaboração de fabrico de grés haveria de nascer uma das mais importantes fábricas do design moderno sueco.
Conhecida inicialmente por Andersson & Johansson, começou por ser uma modesta fábrica de produtos de cerâmica.
Nos anos 20 a fábrica é ampliada e organiza uma exposição no Museu Röhsska em Gotemburgo, em 1925, para mostrar as suas peças decorativas com um tipo de acabamento mate muito característico.
Será na década seguinte que a empresa lançará a sua primeira coleção de cerâmica de uso doméstico, com peças de ir ao forno.
Nos anos 40 duplica as suas instalações em novo local produzindo uma ampla colecção de cerâmica artística que apresenta em várias exposições.
Em 1967 começou a usar o nome comercial Höganäs Keramik. Por volta de 1990 a BodaNova adquiriu a empresa, que pouco depois passou para a Royal Scandinavia. Nos inícios dos anos 2000, passa a integrar o grupo finlandês Iittala. A fábrica foi fechada em 2008, deslocalizando-se a produção da Höganäs Keramik para a China. Dois anos depois a New Höganäs Keramik é lançada com design concebido pela equipa sueca Front.

sábado, 16 de março de 2013

Jarra art déco Argenta estriada - Gustavsberg



Hoje voltamos a Gustavsberg e ao nosso dilecto Wilhelm Kåge (1889 -1960) com mais uma jarra art déco da linha Argenta.
A peça, de grés, apresenta colo em forma de cilindro, estriado regularmente na horizontal, estrangulando nas extremidades formando pequeno gargalo que abre no bocal e pé reentrante. Esta forma aproxima-se de um albarello - o célebre frasco que antigamente se usava nas boticas ou farmácias.
Sobre a cor de fundo esmaltado verde mate mosqueado, recebeu aplicação de anéis de prata envolvendo bocal e pé. No fundo da base, HAND DREAD inscrito num rectângulo, ARGENTA, 1076 III e, a marca Gustavsberg, com âncora, seguida de KÄGE também inscrito num rectângulo, e acompanhada de F, para além de «Sweden Produce», tudo em prata.
Data: c. 1935
Dimensões: Alt. 27 cm x diâm. 14 cm


A presença de um «F» junto à marca indicará o ano de produção, que no caso corresponderá a 1935, se as contas não nos falham.
A sua forma encontra paralelismo em peças da linha «Farsta», que não contém decoração incisa de prata, e que o designer criou na década de 30 vindo a desenvolvê-la nas duas décadas seguintes e de que mostramos um exemplar.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Jarra Art Déco Argenta “Peixe” - Gustavsberg


Se Wilhelm Kåge (1889 -1960) é, como sabem, um dos nossos designers preferidos, a sua linha Argenta para a fábrica sueca Gustavsberg é das nossas favoritas no contexto das produções europeias de cerâmica art déco dos anos 30 e 40, sobretudo as peças com ornamentação geométrica ou de temática marinha, com peixes, golfinhos, sereias e tritões. Assim, também a jarra que hoje apresentamos é decorada por um peixe libertando bolhas de ar, em aplicação de prata, sobre fundo esmaltado verde mate mosqueado, de desenho muito idêntico, aliás, ao que decora a taça vermelha anteriormente mostrada. A jarra apresenta o tamanho mais pequeno desta forma, o número I, sendo as outras duas jarras já postadas, com os golfinhos e a sereia, os tamanhos II e III.  
No fundo da base carimbos a ouro «Gustavsberg« seguido do símbolo “Âncora”, «978 I», e «Made in Sweden»
Data: c. 1940
Dimensões: Alt. 14,50 cm


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Taça art déco Argenta com peixe - Gustavsberg


Mais uma peça art déco de Wilhelm Kåge (1889 -1960) da linha Argenta e de temática marinha.

Taça de grés, decorada num só lado com representação de peixe envolto por bolhas de ar, em aplicação de prata, sobre fundo esmaltado verde mosqueado. Bordo externo do bocal e pé envolvidos por filete de prata embutida. No fundo da base, embutido a prata HAND DREAD inscrito num rectângulo, seguido de carimbo dourado Argenta 1053 e III e, incisa na pasta, a marca Gustavsberg, com símbolo “Âncora” e Kåge inscrito num rectângulo.
Data: c. 1935
Dimensões: alt. 9 cm x Ø 12 cm



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Taça art déco Argenta com peixe - Gustavsberg

Como gostamos de saltar do objecto utilitário para o objecto sumptuário, hoje trazemos mais uma peça da linha Argenta criada por Wilhelm Kåge. O que não quer dizer que, em termos de mercado, o seu valor seja superior ao de certas caixas de faiança aerografada. Bem pelo contrário.


Taça de grés, com representação de um peixe e bolhas de ar em aplicação de prata sobre fundo esmaltado vermelho mosqueado. Bordo debruado por semi-círculos de prata embutida. A calote esférica assenta sobre pequeno pé com filete de prata. Na base, carimbo dourado com Gustavsberg, seguido do símbolo “Âncora”, Argenta 1094 IV e Made in Sweden.
Data: c. 1940
Dimensões: Ø 15 cm x alt. 5 cm

Apesar de mais raras, as peças da linha Argenta podem apresentar outras cores para além do verde mosqueado convencional como já dissemos. O vermelho parece que só é introduzido na produção dos anos 40. O efeito estético é magnífico, sendo esta taça um bom exemplo da elegância da chamada

domingo, 12 de agosto de 2012

Caixa para chá art déco com flores - Gustavsberg


Caixa (frasco) de faiança moldada e relevada, dentro da gramática art déco, de forma cúbica, com pé ligeiramente reentrante, cujas faces laterais receberam pés floridos em alto-relevo apostos às superfícies lisas, e tampa circular convexa com igual elemento relevado. A peça, craquelé, é esmaltada de cor celadon. Da autoria de Wilhelm Kåge encontra-se assinada e datada na base, onde encontramos, pintados à mão, a azul, a âncora, símbolo da fábrica, rodeada por Gustavsberg, 1925 e Kåge.
Data: 1925
Dimensões: alt. 16 cm




À época muita da cerâmica de design moderno, sobretudo nos países escandinavos, era realçada por peanhas à maneira chinesa, como se pode observar na fotografia de peça idêntica à nossa apresentada na monografia de Nils Palmgren, de 1953, dedicada a Wilhelm Kåge (1889 -1960). Aliás, esta peça é de clara inspiração chinesa, tendência que se acentua depois de 1925 em muita da produção do artista.

A fábrica Gustavsberg apresentou na Exposição de Paris de 1925, a taça com flores relevadas (ver foto) com que Kåge ganhou um Grand Prix e que foi adquirida, então, pelo Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Jarra art déco Argenta “Sereia” - Gustavsberg


Mais uma jarra art déco de grés da linha Argenta concebida por Wilhelm Kåge (1889 -1960), um dos nossos designers preferidos, para a fábrica sueca Gustavsberg, com decoração de sereia com duas caudas, de prata embutida. Na base, a prata, Gustavsberg seguido do símbolo “Âncora”, 978 III, e SJ. Inciso na pasta a marca Gustavsberg com respectivo símbolo “Âncora” e KAGE inscrito num rectângulo com N a prata.
Data: c. 1940
Dimensões: Alt. c. 26 cm x diâm. 18,5 cm


As iniciais SJ correspondem ao artista decorador Sven Jonson, e a presença do N na base parece indicar que se trata de uma peça produzida em 1944.

domingo, 3 de junho de 2012

Jarra art déco Argenta com peixe - Gustavsberg - Suécia


Jarra de grés da linha Argenta, de forma tubular arredondando no fundo onde encaixa num pé saliente, com aplicação de prata sobre fundo esmaltado e mosqueado verde mate. A cena subaquática de prata embutida que decora a peça restringe-se a um único peixe libertando bolhas de ar. Na gola e no pé, filete de prata embutido. Na base, embutidos a prata, “Gustavsberg”, a âncora símbolo da fábrica, “Argenta” e o número “1029 II”, e “E”. Carimbo prateada com “Made in Sweden”. De lado, também embutido em prata, “B”.
Data: c. 1935
Dimensões: alt. 15cm x larg. 4,5cm

O criador da linha Argenta para a fábrica sueca Gustavsberg foi Wilhelm Kåge, cujo nome figura habitualmente nas peças de sua autoria. Contudo, de acordo com a obra de Alastair Duncan – Art Deco complete: the definitive guide to the decorative arts of the 1920s and 1930s. London: Thames & Hudson, 2009, pág. 405, esta jarra será uma obra deste designer. Também neste sentido vai uma outra peça que possuímos que apresenta o mesmo motivo decorativo e está assinada pelo autor.



domingo, 27 de maio de 2012

Jarra art déco da linha Flambé “Gazelas” da Rörstrand – Suécia


Jarra de grés moldado, de forma esférica com pé e gargalo saliente. Bojo com decoração aerografada, alternando dois pares distintos de gazelas a correr com palmeiras inclinadas, na parte superior, e parte inferior listada, em castanhos com realces a ouro no contorno do desenho, pé e bocal, dando à peça um aspecto metalizado como se fosse dinanderie. Na base, carimbo a ouro: FLAMBÉ ALP LIDKÖPING SWEDEN DEKOR W BORG; UNIK: 1227. M. Três estrelas relevadas na pasta.
Data: c. 1932-35

Dimensões: alt. 19 cm x larg. 20 cm



Mais uma peça exemplar da swedish graceda linha Flambé criada para a Rörstrand por Gunnar Nylund (1904-1997), de que aqui já tivemos oportunidade de falar, a propósito de uma outra jarra da mesma linha. Também esta forma é da sua autoria, e recebeu decoração, muito ao gosto francês, de W. Borg, com temas recorrentes na Art Déco: o exotismo e os antílopes ou gazelas saltando. Esta peça inserir-se-á em toda uma produção internacional influenciada pela Exposição Colonial de Paris de 1931.


Mostramos o mesmo modelo com outra decoração, em que ao flambé de pé e gargalo,
se junta um bojo craquelé, que, para grande desgosto nosso, não conseguimos adquirir.

domingo, 15 de abril de 2012

Jarra art déco da linha Flambé “Leques” da Rörstrand - Suécia



Jarra de grés, moldada em forma de pote quase cilíndrico estreitando no bocal, com decoração ao gosto art déco estampilhada e aerografada de leques, sobrepostos em escama, em castanhos e cremes, com realces a ouro/latão no contorno do desenho, dando à peça um aspecto metalizado como se fosse dinanderie. Na base, carimbo amarelo: FLAMBÉ Rörstrand – ALP – modell Nylund; Lidkoping SWEDEN DEKOR OLSON 4652. Inscritas na pasta três estrelas. 
Data: c. 1932-35
Dimensões: alt. 19 cm

Face à concorrência da linha Argenta criada por Wilhelm Käge para a Gustavsberg (ver post dedicado a este assunto), a fábrica sueca Rörstrand viu-se confrontada com a necessidade de criar uma linha de luxo equivalente. Assim, surge a linha Flambé, criada por Gunnar Nylund (1904-1989), denominação francesa para titular um tipo de chamota de grés flamejado, com aspecto de metal martelado e colado pelo fogo, formalmente próximo do trabalho em dinanderie, com os diferentes “metais” separados por uma linha a ouro. No caso da presente peça, a forma criada por Nylund, na sua excepcional qualidade técnica, recebeu a decoração nº 4652 de Olson. A decoração em escamas é muito característica da Art Déco, sendo recorrente nas produções internacionais da época. A jarra é um exemplo perfeito da «Swedish Grace» no seu design depurado e na sua decoração neoclassicizante simplificada. Neste caso, com um toque de exotismo japonizante.


Em 1926 a Fábrica Rörstrand saiu de Estocolmo, onde havia sido fundada em 1726, para se instalar em Gotemburgo. Nos inícios dos anos 30, em 1932, a produção da fábrica expandiu-se para Lidköping, para onde, cinco anos mais tarde, a totalidade da unidade fabril se mudou. O logotipo ALP, que a jarra apresenta, aplicado nas produções cerâmicas daquele período manteve-se até 1943.

Quando em 1931 Gunnar Nylund foi nomeado director artístico da Fábrica Rörstrand, era já um conhecido designer de cerâmica da fábrica dinamarquesa Bing & Grøndahl, em Copenhaga, onde trabalhou de 1925 a 1928. A partir desta data passou a trabalhar com a química Nathalie Krebs, criando um atelier cerâmico que, em 1930, viria a tornar-se na célebre fábrica Saxbo, que continuou a produzir os seus grés até 1932. Nylund trabalhou para Rörstrand de 1931 a 1955, na maioria do tempo enquanto seu director artístico. Neste período, durante cerca de um ano, em 1937-38, regressou à Bing & Grøndahl como director artístico.

O designer nasceu em 1904, em Paris, onde os pais estudavam, de mãe dinamarquesa, a artista Fernanda Jacobsen-Nylund e pai fino-sueco, o escultor Felix Nylund. Em 1907 a família mudou-se para Copenhaga e daí para Helsínquia. Quando a guerra civil eclodiu na Finlândia, em 1918, Gunnar fugiu com a mãe para a Dinamarca. De regresso a Helsínquia, em 1923 terminou o estágio em Arquitectura e Cerâmica, tendo continuado estudos de arquitectura na Academia Real Dinamarquesa de Belas Artes, em Charlotteborg, Copenhaga. Em simultâneo pratica escultura como assistente de seu pai, que o encoraja na animalística.

Nylund faz alguns trabalhos para a Bing & Grondahl expôr na exposição de Artes Decorativas de 1925, em Paris, cujo sucesso lhe grangeou um contrato permanente com a fábrica. Aí, o seu mentor foi Jean Gauguin, filho do célebre pintor, cria um sem-número de peças que o tornam conhecido. A actividade criativa posterior evoluiu num crescendo, tornando-o num dos grandes mestres do design escandinavo.

sábado, 31 de março de 2012

Jarra art déco Argenta “Ondas” - Gustavsberg



Jarra da linha Argenta, de grés com aplicação de prata sobre fundo esmaltado verde mate, em forma de esfera achatada e esquinada cujos panos são ornamentados por sucessões de linhas quebradas em zig-zag, numa estilização de ondas. Na base, incisos na pasta, a prata, HAND DREAD inscrito num rectângulo, ARGENTA, 1092, III, e a marca Gustavsberg, com símbolo de âncora, um G (que corresponderá a uma edição de 1937) e Kåge também inscrito num rectângulo, e um L.
Data: c. 1932
Dimensões: larg. 15 cm x alt. 9 cm

Mais uma peça assinada Wilhelm Kåge (1889-1960) claramente art déco, exemplo, na sua harmonia e decoração, da “swedish grace” que comprámos em Estocolmo. Aqui podemos encontrar, para além do imaginário nórdico e clássico ligado ao mar, uma certa herança da cerâmica ou cestaria africanas, então também muito em voga, devido às exposições coloniais. Contudo, poderíamos ir mais longe, e recuar aos arquétipos pré-históricos da cerâmica europeia. De facto, como temos referido, estas peças proporcionam quase sempre leituras polissémicas.



Não resistimos a contar como chegámos a esta jarra.
Ouvindo-nos falar em português, enquanto comentávamos peças suecas do século XX que, na montra em frente do seu estabelecimento, haviam despertado o nosso interesse, um antiquário, madeirense de origem, há décadas a residir em Estocolmo, meteu conversa connosco: «Pensava que os portugueses só gostavam de século XVIII e de Companhia das Índias.»
Encetou-se uma conversa simpática e, embora não fosse a cerâmica novecentista a sua especialidade, acabou por nos dar uma série de informações úteis sobre o assunto e onde comprar, e foi graças a ele que adquirimos a peça de hoje.
No desenrolar do diálogo, contou-nos que o habitual era aparecerem portugueses interessados em peças de outras épocas, sobretudo antiquários que procuravam Companhia das Índias, visto Gotemburgo ter sido um entreposto de comércio com o Oriente e haver muita porcelana chinesa na Suécia. Alguns, pretensiosos e provincianos, do alto da sua soberba, iam tentar fazer “negócios da China” com os suecos, e citou alguns nomes conhecidos para nós. Acabavam por ser alvo da troça dos indígenas, pois comentava-se que os mesmos compravam no mercado inglês falsificações de Companhia das Índias que tomavam como verdadeiras e que eram fabricadas expressamente para Portugal. Nós, apesar de também já termos sido enganados e comprado cópias, ficámos felizes por não termos o vício das porcelanas orientais, embora gostemos muito de as ver em museus e palácios. Ao menos temos a certeza que essas são genuínas. Serão?

A loja de modernariato (a expressão italiana parece-nos mais adequada ao caso), onde fomos parar, vizinha do nosso conterrâneo, parecia uma secção da colecção de Francisco Capelo, que, num espaço relativamente pequeno, possuía do melhor design escandinavo de 1920s a 1970s, entre outros ícones internacionais, sobretudo ao nível da cerâmica e do vidro. Os proprietários, uma simpatia, estavam radiantes com a recentíssima abertura do Museu do Design no CCB, uma coisa que consideravam extraordinária e rara na Europa. Tempos de optimismo esses. Foi aí que comprámos a presente Argenta. Já em Portugal, enviámos-lhes o catálogo (versão resumida) do museu. Agora têm uma loja maior numa outra zona de Estocolmo.
Na obra de Nils PALMGREN - Wilhelm Kåge. Stockholm: Nordisk Rotogravyr, 1953, a peça aparece retratada na pág. 111 e cuja fotografia aqui se reproduz.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Jarra art déco Argenta “Golfinhos” - Gustavsberg




Jarra da linha Argenta, de grés com aplicação de prata sobre fundo esmaltado verde mate, evocando bronze com verdete à semelhança dos bronzes chineses. Ornamentação de golfinhos classicizantes, sendo um de maior dimensão. Na base, a prata, HAND DREJAD inscrito num rectângulo, ARGENTA, 978, II e, incisos na pasta, a marca Gustavsberg, com símbolo de âncora, e KÄGE inscrito num rectângulo, e 1.
Data: c. 1932
Dimensões: alt. 21 cm

Conhecíamo-la de fotografia da colecção do Metropolitan Museum de Nova Iorque, e nem acreditávamos estar perante um exemplar idêntico à venda num pequeno antiquário em Estocolmo. A peça era um ícone do déco sueco e estava ali à nossa espera. Entrámos, perguntámos o preço, e, afinal, tínhamos dinheiro para a comprar. A jarra, que então adquirimos, ocupa um lugar muito especial no leque das nossas afeições.

Pintor, designer gráfico e ceramista, Wilhelm Kåge (1889-1960), estudou na Escola de Belas Artes Valand, em Gotenburgo, e posteriormente em Estocolmo e Copenhaga.
Seguindo a recomendação da Sociedade Sueca de Design Industrial, de que os artistas deveriam ser integrados na indústria a fim de melhorar a qualidade artística dos objectos domésticos e, por esse meio, educar o gosto do consumidor, Kåge deixou uma prometedora carreira de designer gráfico e entrou para a fábrica de cerâmica de Gustavsberg, em 1917, como seu director artístico, cargo que ocupou até 1949. E mesmo depois desta data, substituído que foi por Gustav Lindberg, continuou, de maneira informal, a trabalhar nela até à sua morte.
A par das peças utilitárias, em faiança, acessíveis às classes trabalhadoras, caso do serviço de jantar Liljebala (Lírio Azul), de 1917, ou das linhas de loiça de ir ao forno e à mesa “Pyro”, de 1930, e “Practica”, de 1933, Kåge também fez peças mais exclusivas e mesmo peças únicas em escultura. Recebeu um Grand Prix na Exposição de Paris de 1925.
Em 1930, na Exposição de Estocolmo, Kåge introduziu a produção da muito dispendiosa linha “Argenta”, caracterizada pela aplicação de motivos maioritariamente clássicos e/ou marinhos de prata incrustados no grés colorido. Embora o verde seja a cor mais frequente, existe também noutras cores, caso do vermelho, do azul e do castanho: mas sempre um “must” em matéria de artesanato oneroso.
Já em 1926 havia mostrado protótipos desta linha em Estocolmo e, no ano seguinte, em Nova Iorque, só que as decorações apresentavam aplicação a ouro sobre as superfícies verde-escuras. A linha Argenta serviu a Kåge como um contraponto artístico à sua tarefa principal de criar loiça utilitária de um funcionalismo sem compromissos.
À sofisticação das formas aliou-se o refinamento do desenho, por vezes pleno de ironia, onde criaturas aquáticas - das diferentes espécies de peixes, aos golfinhos, tritões e sereias, sobretudo - evoluem num borbulhar de bolhas de ar delicadamente embutidas. Noutros casos, são apenas figuras femininas, ora languidamente reclinadas em mundanas e sofisticadas poses, ora dançando envoltas em véus. Ainda no figurativo, destaca-se a figura da serpente. Em paralelo surge um outro tipo de decoração, mais geométrica, com ornatos em zig-zag, talvez numa estilização de ondas, meandros quebrados, ou simples linhas, etc. Haveremos de mostrar aqui alguns exemplos.

A linha Argenta teve tal sucesso, sobretudo nos Estados Unidos, que foi produzida até praticamente à morte do seu criador, embora os exemplares da década de 50 apresentem novas propostas tanto ao nível dos modelos como das decorações, maioritariamente de outros designers que não Kåge. Embora mantendo parte do repertório clássico, que adquire um grafismo mais anguloso e menos rico de detalhe, abundam as florinhas e outras decorações que, quanto a nós, são menos apelativas que a produção das duas décadas anteriores claramente art déco.

A atracção dos países nórdicos pelo classicismo deu-lhes a reputação de serem sóbrios, pelo que a história do design escandinavo nos princípios do século XX foi marcada por duas tendências dominantes: por um lado, a sobrevivência e adaptação das tradições dos estilos neoclássico e Biedermeier às necessidades e aos gostos contemporâneos, e por outro, a expansão do funcionalismo.
E se os ritmos “jazzy” e as cores espalhafatosas, que mais facilmente se associam ao estilo Art Déco, excitavam pouco a imaginação nórdica, outra versão do estilo havia, representado noutros pontos da Europa pelo neoclassicismo mediterrânico moderado e presente nas cerâmicas de René Buthaud ou nas telas de Henri Matisse, que estava mais conforme à sobriedade escandinava. Assim, por consequência, a Art Déco nórdica encontrou aí o seu lugar através de uma reformulação subtil desse mesmo classicismo, num emprego inventivo do ornamento e numa admiração sem limites pelo artesanato.
O humanismo e a reforma social estiveram no centro das preocupações nos países nórdicos. O design “socialmente correcto” e as suas consequências na produção de massa e a utilização das máquinas percebidas como libertadoras, foi uma das direcções escolhidas. A outra foi a individualidade, o artesanato tradicional, o prazer dos materiais, o luxo e a linguagem familiar da proporção humana clássica.
A tensão entre “austeridade” e “graça” foi “à la longue” resolvida pelo conceito de “beleza social”. Mas nas décadas de 20 e 30, os designers seguiram o caminho da graça e do luxo, fazendo o elogio da decoração, e é nisto que a Escandinávia contribuiu de maneira tão particular para a evolução do estilo Art Déco. De outras fábricas concorrentes, igualmente representantes da “swedish grace”, haveremos de dar notícia e exemplos.

Se quiserem saber mais aconselhamos a leitura do catálogo L’art déco dans le monde (2003) e do livro de Alastair Duncan, Art Deco Complete (2009) de onde parte destas informações foram retiradas.