Jarra
de faiança moldada, de forma ovoide de cor amarela, tripartida pela presença de
asas e pés escalonados, a preto, que intercalam com 3 dançarinas ao gosto art déco neo-egípcio, em silhueta,
estampilhadas a preto. Motivos curvos, a ouro craquelé debruados a preto, junto à curvatura da base. Assinado Fructuoso
Coimbra, na base.
Data: c.
1930-40Dimensões: alt. 18 cm
Em 1997, quando a comprámos na feira de velharias e
antiguidades que então se realizava no Forum Picoas, não tínhamos muito a noção
de como o neo-egípcio pouca expressão tinha tido em Portugal e ainda menos no
período art déco. Da escassa produção
cerâmica deste período cujos motivos neo-egípcios podem ser mais ou menos
evidentes (já aqui apresentámos uma jarra da Vista Alegre onde referimos essa
inspiração na decoração), são exemplos a «Bailarina» de Alberto Morais do Vale,
que aqui ilustramos, mas que infelizmente não possuímos, e a presente jarra. Neste
sentido, esta peça é referenciada no artigo de Celina Bastos e Rui Afonso
Santos – Egiptomania em Portugal: Das
artes de cena à decoração de interiores. In Margens e confluências: Um
olhar contemporâneo sobre as artes, nº 7 - 8. Guimarães: ESAP, Dezembro 2004,
p. 61 – 71, que, não pode à altura apresentar fotografia visto que a que
cedemos tinha pouca qualidade.
Além da influência neo-egípcia, aqui revista pela
óptica do cinema de Hollywood – as bailarinas, quais pin-ups glamorosas de um
filme musical, elevam-se em sincronia contra um fundo amarelo de pôr-do-sol no
deserto, pairando sobre dunas que espelham a ardência solar -, há também uma insinuação
de outro exotismo. O exotismo das civilizações pré-colombianas reflectido nos
degraus dos pés e asas.
Fructuoso mostra ainda ter conhecimento das tendências
modernas do design e do grafismo da sua época. Compare-se a peça com a base da jarra
tubular, editada cerca de 1930 por Lusca, com pés em degraus muito semelhantes.Notável a complexidade semântica de uma peça que diríamos quase banal e de gosto popular.
Deste Fructuoso que assina a peça pouco sabemos. Já a propósito dos comentários (aqui está a jarra prometida, Hugo) relativos à Estatuária de Coimbra se levantaram muitas questões que, quanto a nós, continuam em aberto. Teria o dito Fructuoso um atelier próprio? Mais uma vez, agradecemos antecipadamente qualquer informação adicional. Quanto a nós é de duvidar que esta jarra tenha a ver com a "Coimbra Frutuoso", localizada nas Lajes. Mais uma vez, socorrendo-nos de uma análise meramente formal, decoração e forma, remetem-nos, para década de 1930.