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quinta-feira, 15 de março de 2012

Jarra art déco com dançarina egípcia – Fructuoso Coimbra




Jarra de faiança moldada, de forma ovoide de cor amarela, tripartida pela presença de asas e pés escalonados, a preto, que intercalam com 3 dançarinas ao gosto art déco neo-egípcio, em silhueta, estampilhadas a preto. Motivos curvos, a ouro craquelé debruados a preto, junto à curvatura da base. Assinado Fructuoso Coimbra, na base.
Data: c. 1930-40
Dimensões: alt. 18 cm

Em 1997, quando a comprámos na feira de velharias e antiguidades que então se realizava no Forum Picoas, não tínhamos muito a noção de como o neo-egípcio pouca expressão tinha tido em Portugal e ainda menos no período art déco. Da escassa produção cerâmica deste período cujos motivos neo-egípcios podem ser mais ou menos evidentes (já aqui apresentámos uma jarra da Vista Alegre onde referimos essa inspiração na decoração), são exemplos a «Bailarina» de Alberto Morais do Vale, que aqui ilustramos, mas que infelizmente não possuímos, e a presente jarra. Neste sentido, esta peça é referenciada no artigo de Celina Bastos e Rui Afonso Santos – Egiptomania em Portugal: Das artes de cena à decoração de interiores. In Margens e confluências: Um olhar contemporâneo sobre as artes, nº 7 - 8. Guimarães: ESAP, Dezembro 2004, p. 61 – 71, que, não pode à altura apresentar fotografia visto que a que cedemos tinha pouca qualidade.

Além da influência neo-egípcia, aqui revista pela óptica do cinema de Hollywood – as bailarinas, quais pin-ups glamorosas de um filme musical, elevam-se em sincronia contra um fundo amarelo de pôr-do-sol no deserto, pairando sobre dunas que espelham a ardência solar -, há também uma insinuação de outro exotismo. O exotismo das civilizações pré-colombianas reflectido nos degraus dos pés e asas.
Fructuoso mostra ainda ter conhecimento das tendências modernas do design e do grafismo da sua época. Compare-se a peça com a base da jarra tubular, editada cerca de 1930 por Lusca, com pés em degraus muito semelhantes.
Notável a complexidade semântica de uma peça que diríamos quase banal e de gosto popular.


Deste Fructuoso que assina a peça pouco sabemos. Já a propósito dos comentários (aqui está a jarra prometida, Hugo) relativos à Estatuária de Coimbra se levantaram muitas questões que, quanto a nós, continuam em aberto. Teria o dito Fructuoso um atelier próprio? Mais uma vez, agradecemos antecipadamente qualquer informação adicional. Quanto a nós é de duvidar que esta jarra tenha a ver com a "Coimbra Frutuoso", localizada nas Lajes. Mais uma vez, socorrendo-nos de uma análise meramente formal, decoração e forma, remetem-nos, para década de 1930.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Escultura “dançarina com urso” - Katzhütte – Turíngia





Peça de porcelana moldada e relevada, branca com apontamento policromos e a ouro. Representa uma dançarina nua com lenço colorido que cai descobrindo parcialmente as coxas, sentada no dorso de um urso amestrado. O penteado é elaborado e coberto de adereços. Numa das mãos segura uma pandeireta. O urso desce de um plinto decorado com pormenores a ouro. Escultura de teor erótico, onde é evidente a brincadeira maliciosa da bailarina que, provocante, acaricia a orelha do animal com o dedo do pé. Na base, carimbo azul com Katzhütte sobrepujando o símbolo da fábrica e Thuringia, marca utilizada entre 1914 e 1945. Dois traços paralelos (ou 11?), pintados à mão, a encarnado. Inscrito na pasta 43.
Data: c. 1920
Dimensões: alt. c. 23 cm

As temáticas eróticas foram uma constante na arte. Contudo, será a sensibilidade burguesa do século XIX, um tanto mórbida, que vai desencadear um novo apetite por este tipo de representação. Longe dos olhares femininos da família, o bom burguês formava, muitas vezes, as suas colecções “secretas”, que as esposas e filhas, oficialmente desconheciam. Aliás, a propósito de coleccionismo, seja ele de que temática for, recebemos um comentário muito pertinente de uma bloguer nossa seguidora, que referia ser o coleccionismo mais frequente entre os elementos do sexo masculino e questionava se não seria um atavismo da nossa ancestralidade de caçadores. Aqui está uma boa questão para reflectir.

A temática erótica da mulher e do animal é recorrente nas duas primeiras décadas do século XX, sobretudo, na Europa Central, prolongando um gosto oitocentista que a sensibilidade alemã faz, muitas vezes, roçar o brejeiro, se não mesmo o kinky. Estes temas, amplamente coleccionados no Ocidente, chegaram, obviamente, a Portugal. Foi o caso de uma peça idêntica à que apresentamos, que em 1931, se não estamos em erro, aparece representada numa composição fotográfica, levada a concurso nacional, com um panejamento, em fundo, vincadamente art déco. Vimos a peça e a fotografia respectiva à venda num antiquário da nossa praça há alguns anos.

A Porzellanfabrik Hertwig & Cº, conhecida popularmente por Katzhütte, fundada por Christoph Hertwig e Benjamin Beyermann, em 1864, começa a produzir no ano seguinte. Em 1869, Benjamin Beyermann abandona a sociedade e Hertwig integra os filhos Karl e Friedrich na gerência. Produz cerâmica decorativa, sobretudo estatuetas, de faiança e só a partir de 1900 começa a fabricar figuras de porcelana. Tendo sobrevivido incólume à II Guerra Mundial, foi nacionalizada em 1958 pelas autoridades da República Democrática Alemã. Encerrou definitivamente em 1990.

Não resistimos a contar o sucedido com o seu arquivo histórico. Reencontrado intacto na própria fábrica em 1980, com todos os modelos produzidos, foi saqueado pelas autoridades para venda no estrangeiro (Berlim Ocidental e Londres) com o fim de adquirir divisas. Hoje encontra-se disperso anonimamente por colecções privadas. Não é só por cá que se cometem atrocidades lesa património.