quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Parte de serviço de café ou tête-à-tête (?) art déco - Massarelos - Porto


Duas peças de faiança moldada, açucareiro e leiteira, de um serviço de café ou tête-à-tête – assim interpretamos dadas as dimensões mais reduzidas das peças que o serviço de chá do exemplar anteriormente postado - com idêntica decoração estampilhada e aerografada. O modelo é ligeiramente diferente do de chá, pelo menos no que nos é dado a conhecer pelas únicas duas peças em presença, ao nível do desenho da tampa do açucareiro. No fundo das bases carimbos pretos compostos por dois círculos concêntricos sobrepujados por coroa e lateralmente envolvidos por coroa de louros. No círculo interior uma Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia], envolvido no círculo exterior por «Massarellos – Roriz – Porto». Por baixo de todo o conjunto «Portugal».
Data: c. 1936-40
Dimensões: Leiteira – alt. 8,5 cm; açucareiro c/ tampa – alt. 11cm


O modelo é mais uma vez alemão, claramente inspirado no serviço Donatello, cuja forma Arte Nova (Jugendstil), de 1904, foi criada para a Rosenthal. Já dele falámos, em 15 de Janeiro de 2012, a propósito de um outro serviço da Electro-Cerâmica (EC) muito semelhante a este. Todavia, a esse o diríamos também próximo de um outro modelo germânico, também Jugendstil, da Fábrica de Porcelana de Moschendorf ao nível das asas e pegas, pelo que aproveitamos para agora o ilustrar.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Serviço de chá art déco - Massarelos - Porto


Parte de serviço de chá art déco, de faiança moldada, composto por bule, açucareiro, leiteira e manteigueira, de cor branca com decoração geométrica, de rectângulos e triângulos, estampilhados e aerografados a azul e cor-de-vinho, em esfumado, com apontamentos à mão, a castanho, nas asas, pegas e bicos. No fundo da base, carimbo preto (marca utilizada entre, pelo menos 1936-50) composto por dois círculos concêntricos sobrepujado por coroa e lateralmente envolvido por coroa de louros. No círculo interior uma Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia], envolvido no círculo exterior por «Massarellos – Roriz – Porto». Por baixo de todo o conjunto «Portugal». Leiteira e açucareiro apresentam ainda, inscrito na pasta, «R». O bule não tem qualquer marca para além das da trempe presentes em todas as peças
Data: c. 1936-40
Dimensões: Várias


Segundo José Queirós (Cerâmica portuguesa e outros estudos, da Editorial Presença, Lisboa, 2002, p.380) a fábrica foi fundada em 1738 por Manuel Duarte Silva, no lugar de Massarelos, na Rua da Restauração, perto do Cais das Pedras. Será a mais antiga fábrica de faianças do Norte de Portugal. Arrendada entre 1819 e 1845 a Rocha Soares, familiar do fundador, produziu louça utilitária, peças artísticas e azulejos lisos e relevados – que se tornaram uma das marcas identitárias da fisionomia urbana do Porto, e que são raros em Lisboa onde aparecem num edifício unifamiliar da Rua do Quelhas. 


De uma gestão familiar até ao início do século XX, a fábrica foi comprada a 2 de Maio de 1904 por uma sociedade, a Empresa Cerâmica Portuense, Lda, administrada por Archibald James Wall, que havia adquirido sede e novas instalações fabris na Quinta do Roriz, em Quebrantões do Norte, na freguesia do Bonfim, junto ao rio Douro, tendo como propósito a produção de tubos de grés e louça sanitária. O seu funcionamento só ficaria regularizado em 1906 com a atribuição da respectiva licença que permitia estabelecer no local uma fábrica de cerâmica, tendo a partir daí laborado em simultâneo com a filial da fábrica de louça em Massarelos.


Em 1912 C. J. Chambers, que havia entrado dois anos antes para a Empresa Cerâmica Portuense como empregado, adquiriu uma cota, ficando a firma a denominar-se Chambers & Wall.
 
Consumida por um incêndio na madrugada de 11 de Março de 1920, a unidade original de Massarelos passa para a Quinta do Roriz onde a firma Chambers & Wall assegurou a produção da louça da marca “Massarelos-Porto”. A louça da marca “Massarelos” continuou a ser produzida na unidade industrial de Quebrantões do Norte até 1980. Depois do encerramento da fábrica foram demolidos, para que se pudesse construir a ponte de São João, os edifícios de que restam apenas dois fornos “garrafa” e uma chaminé. 

 
A sociedade Chambers & Wall, por escritura lavrada no dia 3 de Junho de 1933, passou a designar-se Chambers & Wall, Lda., sociedade por quotas constituída pelos sócios Charles Archibald Wall, Richard Allan Wall e Leslie Dow Smart. Em 29 de Fevereiro de 1936 a fábrica de Roriz foi vendida à Companhia das Fábricas Lusitânia, SARL, com sede em Lisboa, constituída por escritura de 3 de Setembro de 1929, que por mais alguns anos daria continuidade à marca Massarelos. Entretanto a unidade industrial da Quinta de Roriz muda novamente de mãos pelo que de 1 de Julho de 1944 a 1952 se encontra arrendada à Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia (CFCL) e por escritura de 25 de Julho de 1944 passou a denominar-se Fábrica de Loiças «Massarelos», Lda.

A fábrica é vendida, em 29 de Dezembro de 1952, à firma Fábricas «Lufapo» de Faianças e Porcelanas, (S.A.R.L.) embora a laboração da Fábrica de Louças «Massarelos», Lda., continuasse a ser anunciada ao ano seguinte. Embora a «Massarelos» revelasse uma situação económica difícil a partir de meados da década de 50, realizaram-se avultados investimentos nos anos 70, e a «Lufapo» manteve esta sua filial no Porto até 16 de Abril de 1980, ano em que encerraria definitivamente por declarado estado de falência. 

A marcação das peças com o carimbo “MASSARELLOS / RORIZ – PORTO / CFCL / PORTUGAL” corresponde, sem sombra de dúvida, ao fabrico posterior a 1936 em que a fábrica apresenta cariz mais industrializado.


Na posse da CFCL a fábrica produzia para o mercado interno e para o estrangeiro, neste caso sobretudo os produtos em pasta de faiança, apresentando uma produção bastante variada onde, para além da louça de uso doméstico e decorativo, fabricava uma vasta gama de louça sanitária, pias para água benta, tinteiros para carteira, etc., com três séries (A, B e C) de qualidade de decoração e de preço, bem como com várias cores e dimensões, conforme as tabelas de preços para os anos de 1940 e 1943, editadas pela CFCL, referentes à produção da Fábrica “Massarelos”.


A decoração deste serviço de chá insere-se na Série B, «constituídas por desenhos cheios ou pulverizados, a mais de uma cor, por crómos pequenos e médios, e por bandas simples», conforme explica a tabela de preços de 1943. Trata-se de uma decoração geométrica, aplicada a estampilha e aerógrafo, perfeitamente germânica, dentro de espírito da República de Weimar, e na Alemanha, à data em que por cá foi feita, abolida como "arte degenerada". Também ao nível das formas poderemos encontrar a mesma filiação. Ambas muito próximas, aliás, do que se produzia em Sacavém. Embora a qualidade plástica seja muito apelativa, o mesmo não se poderá dizer da qualidade técnica que deixa muito a desejar.

Para saber mais sobre a fábrica de Louça de Massarelos consultar a dissertação de mestrado online de Armando O. P. Araújo. 

domingo, 25 de agosto de 2013

Jarra art déco aerografada – Carstens-Gräfenroda - Alemanha


Jarra de faiança moldada de bojo esférico assente sobre anel saliente com colo alto evasée. Decoração geométrica art déco aerografada, onde predominam linhas quebradas de tons castanho-mel, em esfumado, sobre branco. No fundo da base carimbo a preto em forma de escudo com a inscrição «Carstens» e «C G» sobrepujado por «Gräfenroda». Carimbos igualmente a preto com «D.851» (decor) e «8». Inscrito na pasta «1».
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 23 cm



Dos diferentes núcleos da companhia alemã Carstens, fundada pelos irmãos Christian e Ernst Carstens volta de 1900, em Reichenbach, de que já falámos, apresentámos algumas peças da unidade fabril de Uffrecht. Hoje apresentamos a primeira peça da unidade de Gräfenroda, fundada em 1918 e a laborar no ano seguinte. Para o período que nos interessa tem como director artístico Gustav Matz e como artista Erich Krause (entre 1928 e 1932), principal criador de padronagens. 


Este ramo da empresa encontrou uma linguagem particular que permite facilmente identificar a origem das peças por ele produzidas. De baixo custo, as suas formas modernas bauhasianas e o recurso a eficazes e, por vezes, inusitadas decorações aerografadas, que produziu de c. 1927 a 1937, e técnicas de pintura diferentes, tornaram-na famosa, tanto na loiça utilitária como na decorativa. O aerógrafo permite conceber planos sobrepostos enganadores, criar falsas ilusões perspécticas, fingir rasgos e quebras em estruturas lisas, um sem número de possibilidades decorativas simples e infalíveis que outras fábricas também exploraram. Continuaremos a mostrar alguma dessa interessante produção aerografada, tanto em faiança como em porcelana.

sábado, 24 de agosto de 2013

Par de castiçais art déco «para duas velas» - Sacavém


Par de castiçais art déco de dois lumes, de faiança vidrada monocromática, cor-de-laranja intenso, com efeitos pontuais de ferrugem acastanhados, aplicada a aerógrafo (?). Sobre um pé rectangular em arco abatido assenta, a eixo, uma haste quadrangular trilobada em cujas extremidades de erguem os lumes em forma de campânulas invertidas. No fundo das bases, carimbos verdes (?) Gilman & Ctª – Sacavém, Made in Portugal. Inscrito nas pastas Sacavém 52C 9’43, e em relevo 245.
Data: c. 1935
Dimensões: Comp. 23 cm x larg. 6,3 cm x alt. 9 cm



Trata-se do modelo nº 246 que aparece nas tabelas de preços de faianças decorativas de 1941 e de 1951, sob a designação «Castiçal para duas velas», e que corresponde à fotografia que reproduzimos, de c. 1941, disponível no Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA), cuja cedência agradecemos.


Esta cor-de-laranja forte é muito característica das produções cerâmicas art déco dos anos 20 a 40, tanto em Portugal como em outros países. Feita à base de óxido de urânio, a sua utilização foi particularmente frequente na produção cerâmica alemã onde, mais uma vez, encontramos paralelismo, se não na forma, pelo menos na cor destes castiçais com certas peças monocromáticas da fábrica de Bückeburg, que a usou acompanhada por esta espécie de oxidação ferruginosa, como se pode ver nas duas jarras que ilustramos retiradas da net.