Mostrar mensagens com a etiqueta Neo-rococó. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Neo-rococó. Mostrar todas as mensagens

sábado, 11 de maio de 2013

Caixa art déco – Eschenbach (Alemanha)



Caixa art déco de porcelana moldada, possivelmente uma bomboneira, de cor branca com decoração de inspiração vegetalista estampada em dois tons de azul e ouro. O contentor, de forma troncocónica, como um vaso, assenta sobre três pés formados por quatro folhas a branco, azul e ouro, escalonadas em curva, presas por um botão facetado, igualmente a ouro. Em cada um dos três panos, a decoração estilizada sugere-nos um vaso Bauhaus com cactos a azul, complementados por estrela e círculo quadriculado, ambos a ouro. O ressalto onde assenta a tampa, na parte inferior, apresenta filete a ouro. A tampa é constituída por dois troncos de cone que se sobrepõem. A eixo do inferior, muito aberto e baixo, projecta-se o superior, mais fechado e alto, rematado por pega esférica a ouro. O primeiro apresenta decoração estilizada de cactos a azul e filete dourado no bordo, o segundo quatro filetes a ouro na base e três na parte superior junto à pega. No fundo da base, carimbo verde EschenbachBavaria (com dois pontos sob o «va») sobrepujado por coroa (marca que corresponde ao período de 1929 a 1935).
Data: c. 1929-35
Dimensões: Alt. 19,5 cm


Embora conservadora para os padrões alemães, e a decoração reflicta uma reinterpretação estilizada neo-rococó, esta caixa é mais um exemplo da tendência germânica para, a partir dos sólidos geométricos, neste caso cones e esferas, conceber objectos decorativos vanguardistas numa evidente filiação bauhausiana. Veja-se, a título de exemplo, os figurinos do «Ballet Triádico» de Oskar Schlemmer, estreado em 1922.


Haveremos de continuar a mostrar vários exemplos de caixas de formas geometrizadas que ilustram esta vertente do Art Déco alemão, onde a inventividade e mesmo a extravagância atingem os limites da imaginação como já tivemos oportunidade de referir.


A fábrica que posteriormente haveria de se chamar Eschenbach, foi fundada por Eduard Haberländer, em Windischeschenbach, em 1913. A produção começou verdadeiramente em 1916 em pequena quantidade e com produtos de baixo valor.

Em 1929 foi adquirida pela Porzellanfabrik Oscar Schaller & Co. Nachfolger, tomando então o nome por que é hoje conhecida. Com uma nova filosofia de gestão, a linha de produtos foi renovada. Até 1935 a porcelana de Eschenbach gozava de uma sólida reputação e a empresa possuía uma boa situação económica. A Segunda Guerra Mundial vai ser violenta para a fábrica, que perdeu toda a documentação e catálogos, destruídos pelas tropas americanas que ocuparam o edifício, a que se somou a perda durante a guerra de muitas peças aí produzidas. Daí que sobreviva um número relativamente escasso de exemplares da produção deste período da Eschenbach e se conheça tão pouco sobre ela.

No pós-guerra a produção recomeçou com moldes da desaparecida Porzellan-Manufaktur Allach-München G.m.b.H, recuperando nos dez anos seguintes a situação económica perdida. Em 1950 foi comprada pela Companhia Winterling. Sucessivamente adquirida por outras empresas, a fábrica continua hoje em laboração produzindo porcelana de qualidade para hotelaria.



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Par de dançarinos setecentistas art déco por Aymé - La Maîtrise



Escultura de porcelana moldada, policroma, em forma de par de nobres setecentista dançando, quiçá, o minuete. Personagens de carnaval ou não, as figuras são estilizadas ao gosto art déco. As carnações são rosadas. A figura masculina de calças e casaca azul forte sobre gibão ouro, da mesma cor dos botões, sapatos e laço. Realces a cor de tijolo nos sapatos, mangas e interior da casaca. Cabeleira, meias e folhos da camisa, a branco. A figura feminina de vestido branco com anquinhas a ouro debruadas a azul forte, com corpete igualmente azul e peitilho cor de tijolo e ouro. Cabeleira branca com flor dourada e folhas azuis. Junto à base, nas pregas do vestido, escrito à mão, a verde, La Maitrise e Ayme. A figura é vazada e no rebordo da base, carimbo verde Ayme La Maitrise.
Data: c.1925
Dimensões: Alt. c. 27.5 cm x comp. c. 27 cm x larg. 11,5 cm



A sofisticação francesa de temática neo-rococó é substancialmente distinta da alemã. As figuras tendem, no caso francês, geralmente para uma estilização de influência cubista, enquanto os alemães olham, sobretudo, para a tradição de Meissen reinterpretada. Veja-se os exemplos anteriormente mostrados de Karl Tutter.

O escultor M. Aymé, de quem pouco se sabe, trabalhou para La Maîtrise, o atelier de arte das Galerias Lafayette, criado em 1922 por Maurice Dufrêne. La Maîtrise foi importante não só por ter participado em todos os Salons e na Exposição de 1925, como também pela divulgação do trabalho de vários artistas, caso do referido Aymé, os irmãos Jacques e Jean Adnet, Fernand Nathan, entre outros.

Os estúdios ou ateliers de arte dos grandes armazéns parisienses, como La Maîtrise para as Galerias Lafayette, Primavera para Le Printemps e Pomone para Au Bon Marché, editavam os artigos mais refinados dos mesmos.

Aymé criou também para o atelier Primavera, e sabemos que esta mesma peça existe em versão velador e em várias versões cromáticas, e foi igualmente editada por Robj (ver: Alastair DUNCAN – Art Deco complete: the definitive guide to the decorative arts of the 1920s and 1930s. London: Thames & Hudson, 2009, p. 475).


sábado, 24 de março de 2012

Caixa art déco de Karl Tutter - Alemanha




Caixa de porcelana moldada e relevada, talvez um guarda-jóias, cor-de-rosa pastel com filetes a ouro contornando as saliências horizontais da taça e tampa assim como os rebordos das mesmas. A caixa foi concebida numa reinterpretação neo-rococó de concheados geometrizados dentro de uma estética art déco. Pega vegetalista (?) estilizada a ouro e taça assente sobre quatro pés ondulados igualmente realçados a ouro. Na base, carimbo verde da fábrica com leão sobre L.H.S. inscritos numa oval, rodeados por Hutschenreuther' e 'Selb Bavaria'. Por baixo,‘Abteilung für Kunst’ e, por cima, inscrito na pasta K. TUTTER.
Data: c. 1927 (carimbo 1920-1938)
Dimensões: 12 cm x 9 cm

 Segunda peça de Karl Tutter, sobre quem já aqui falámos, a 15 de Novembro do ano passado, será das mais eloquentes relativamente à sua vertente neo-rococó.



A voga neo-rococó na Art Déco alemã filia-se directamente nas gravuras de Jean-Baptiste Pillement (1728 - 1808), pintor e decorador francês, muito em popular na Europa do seu tempo, chegando mesmo a residir em Portugal onde deixou obra feita. Nela difundiu o gosto pela chinoiserie segundo a interpretação francesa rococó, termo que permanece nas línguas europeias. As suas ilustrações, desenhos e pinturas, fantasiosas combinações orientalistas de pássaros, flores e outros elementos da fauna e da flora onde evoluíam figuras humanas, amplamente divulgados em gravuras, inspiraram artistas, sobretudo nas artes decorativas. O período do primeiro Pós-Guerra vai recuperá-las, principalmente na Alemanha, agora revistas por uma sensibilidade moderna. Tal estética vai ter repercussões na arquitectura, decoração de interiores, cerâmica, tecidos, papéis de parede, etc..

Na caixa de Tutter, que aparece na página 30 do catálogo da fábrica, de 1927,  referenciada sob o número 0829/2, a porcelana foi trabalhada como talha, embora a geometrização das suas componentes tenha criado uma sucessão de dezasseis panos quebrados, regulares e simétricos, que convergem ora em direcção da pega, único elemento assimétrico do conjunto, ora em direcção à base suportada por quatro pés recortados. A tampa em si mesma, remete para um chapéu de chinês, revisto por Pillement, ao qual não falta sequer o penacho.
Apesar da sua pequena dimensão, é um objecto que, para além de refinado, alia a graça à monumentalidade, características, aliás, que são atributos do Rococó.

Mais uma vez focamos o aspecto, tão interessante nos objectos colecionáveis, que é a sua circulação. Esta caixinha criada na Alemanha e intacta na sua fragilidade foi parar a Tel Aviv. Por ironia? Por destino trágico? Neste momento mora em Lisboa. Definitivamente?


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Bomboneira art déco “Mouro” - Ernst Bohne Söhne - Rudolstadt




Caixa de forma antropomórfica representando um jovem “mouro” que, fazendo uma genuflexão, apresenta uma bandeja com oferta. Trata-se de uma peça composta por dois materiais distintos, com a parte inferior de porcelana moldada e policromada, e a tampa de metal (bronze?) parcialmente lacada.
A figura, ao gosto art déco de inspiração neo-rococó, apresenta em porcelana as calças largas cor de tijolo carregado, cobertas por “camisa” comprida branca, rodada, com decoração geométrica a verde, e sapato a ouro. Este vestuário cerâmico é complementado pela parte metálica, constituída pelo tronco da personagem, vestida com gibão apertado por faixa na cintura e a cabeça, cuja cara é lacada à cor do chocolate, porta turbante. (Agradecemos que nos esclareçam se não utilizámos terminologia adequada). Na base, apresenta a marca da fábrica Ernst Bohne Söhne, em Rudolstadt, de carimbo a azul com um N coroado (utilizado até 1921), e outro circular com Made in Germany. Inscrito na pasta, Germany DRGM [Deutsches Reich Gebrauchsmuster], que significa modelo registado do império alemão.
Data: c. 1918-21
Dimensões: alt. c. 15,5 cm

DRGM é um registo de modelo mais rápido e barato que um registo de patente. Estamos em crer que terá o mesmo significado do modèle déposé francês já referido a propósito das peças de Sandoz.



A Ernst Bohne Söhne foi fundada em Rudolstadt, na Turíngia, em 1848 pelo pintor de porcelana Ernst Bohne. Após a sua morte, em 1856, seus filhos, Gustavo, Karl e David, ficaram com a gerência da fábrica agora conhecida como Ernst Bohne Söhne (filhos). Algum tempo depois, os filhos de David, Bernhard e Marta, assumiram o controlo. Em 1919, a fábrica foi vendida aos Irmãos Heubach de Lichte. De 1919 até 1930, a empresa funcionou como um ramo da Heubach Co. A partir desta data a fábrica de Rudolstad entrou em crise e fechou. Em 1937, Albert Stahl, e outros reabriram a fábrica sob o nome de Albert Stahl & Co. Vormals [antiga] Ernst Bohne Söhne.

A marca de coroa e N usada por Capo di Monte, em Nápoles, desde cedo foi amplamente copiada por muitas fábricas, por ser um símbolo de prestígio, pelo que passou a ser utilizada como marca da própria Ernst Bohne Söhne. A partir de 1891 as peças para exportação receberam carimbo circular “Made in Germany”.

No antiquário em Viena, onde o comprámos, em 1994, informaram-nos que se tratava de um objecto raro, muito coleccionável. Então nem pensávamos propriamente em colecções, mas agradou-nos a forma, o requinte e, sobretudo, a mistura de materiais pouco habitual para o gosto português.
Só recentemente compreendemos a razão de ser do comentário e a maior curiosidade da peça. Para nós tratava-se apenas de um objecto de luxo e não víamos, por desconhecimento, mais que um bonito modelo em figura do mouro, recorrente nos exotismos europeus desde o século XVIII, e que tomámos por guarda-jóias.
O divertido é a publicidade implícita que a personagem comporta, natural para o comprador germânico coetâneo, que não desconhecia a existência do Mouro Sarotti. Quer pela figura, quer pelas cores, a caixa remete indirectamente para um símbolo publicitário desvendando, assim, a sua função de bomboneira.
Isto porque em 1868 Hugo Hoffmann abriu uma confeitaria na Mohrenstraße 10 (Rua dos Mouros, 10), em Berlim, para cujo cinquentenário, em 1918, um publicista criou a figura do negro «Sarotti-Mohr» (Mouro Sarotti) – um pouco como o lisboeta «Preto da Casa Africana» - ainda hoje extremamente popular nas embalagens de chocolates da firma, mesmo depois de se ter transformado num mágico branco a partir de 2004 …


domingo, 4 de dezembro de 2011

Duas esculturas de porcelana de Léon Leyritz - França

A estilização do Neo-barroco e do Neo-rococó são exemplo de uma das vertentes do estilo Art Déco no Ocidente. Veja-se a peça Hutschenreuther já apresentada e as duas peças de porcelana moldada do escultor francês Léon Leyritz de hoje.




 Na sua graça e fragilidade neo-rococó, a figura de dama setecentista, com vestido rosa forte, sobre crinolina, que lhe deixa os ombros nus, e mantilha de renda, a preto, segura nas mãos, junto ao peito, um bouquet de rosas da mesma cor do vestido com folhagem a verde. Carnações à cor da pele, rosto pintado e cabeleira branca. Atrás, ao fundo do vestido, inscrito na pasta e realçado a preto, L. Leyritz. Na base, a azul, as iniciais ER, com o E invertido colado ao R.
Data: c. 1920-25
Dimensões: Alt. c. 29,50 cm




Grupo escultórico carnavalesco, numa cena de sedução e erotismo, não muito frequente na produção francesa, entre dois mascarados. Neste exemplar é evidente a opção de não finito no tratamento da modelação por parte do escultor. Uma “Colombina”, de seios nus, finge-se indiferente a um Pierrot que ajoelha a seus pés e lhe beija a orla do vestido, deixando por terra um bouquet de rosas malva e folhagem verde. Na mão direita, no verso da escultura, segura uma guitarra. “Colombina”, como cortesã setecentista, toda de branco, usa uma máscara a preto e um leque de penas na mão direita. Pierrot, de gorro com máscara e sapatos pretos. As carnações em ambas as personagens são à cor da pele. Hastes do leque, sola do sapato de Pierrot e guitarra a amarelo, tendo a última realces a preto. Na base, junto à perna de Pierrot, inscrito na pasta, L.LEYRITZ.
Data: c. 1920-25
Dimensões: alt 20,3 cm x comp. 24,8 cm x larg. 7,2 cm

Reconhecido escultor, sobretudo nas décadas de 20 e 30 do século XX, Léon Albert Marie de Leyritz (1888-1976), para além da pedra e do bronze, foi também ceramista, tendo praticado igualmente pintura a fresco. Nas suas múltiplas facetas de artista, foi, ainda, cenógrafo e figurinista.
Participou, desde 1905 nos diversos Salons de Paris, expondo, a partir de 1922, também no Salão dos Independentes. Ganhou várias medalhas e prémios entre 1912 e 1931.
Participou com trabalhos seus na Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes, Paris, 1925, cuja abreviatura, nos anos 60, haveria de nomear o estilo Art Déco que neste evento conheceu o seu apogeu. Foram dele a escultura que integrava a decoração do interior de um escritório do pavilhão «Studium Louvre», dos Grands Magasins du Louvre, e as esculturas de pedra que decoraram o exterior do pavilhão de «La Maîtrise», atelier de arte das «Galeries Lafayette», criado em 1922 e dirigido por Maurice Dufrêne, cuja fotografia apresentamos. Este atelier teve uma importante actividade, participando em todos os Salons e na maior parte das exposições, abrindo portas à divulgação de vários artistas, entre os quais Aymé de quem aqui também haveremos de mostrar uma peça.