Da cerâmica produzida na região de
Aveiro, para além das sobejamente conhecidas Aleluia e Vista Alegre, temos duas
jarras, que hoje postamos, da Fábrica do Outeiro, em Águeda, fábrica da qual nada
sabemos.
Na verdade pouco nos diz o tipo de faiança que
aí foi feito e, de uma maneira geral, nem temos particular interesse na sua produção. Não fora a forma destas peças nos ter
chamado a atenção por outras razões.
A maior, adquirimo-la em Maio de
1999 na feira de velharias e antiguidades que, então, se realizava, no Forum
Picoas. A mais pequena, comprada em 2005 num bazar de Natal. O modelo entrava dentro da gramática
formal que nos ocupa.
Jarras de faiança moldada,
trilobadas em forma de leque, com decoração, pintada à mão, de flores e folhas.
No fundo da base, pintado à mão, a preto, na de maiores dimensões: «Outeiro» «Águeda»
e «276»; na outra, «Outeiro» «Águeda» «Portugal» e «396»
Data: Entre
1940-60 (?)
Dimensões:
Grande: Alt. 17 cm x comp. 28 cm x larg. 14,5 cm (máximos)
Pequena: Alt. 10,5 cm x
comp. 17 cm x larg. 8 cm (máximos)
Esta forma art déco será cópia de um modelo da fábrica alemã Carstens-Uffrecht
concebido por volta de 1930. Estamos em crer que os exemplares nacionais datarão
da década de 40 ou mesmo de 50. Pode ser que entretanto encontremos novas
datações. Imaginem a surpresa se fossem anteriores…
Partindo do princípio que estamos
perante uma cópia, não deixa de ser interessante constatar que o espírito da
peça alemã remete para uma produção de massa vanguardista dentro da estética art déco modernista, por oposição à produção
portuguesa de gosto mais popular. Reflexo de duas realidades socias e culturais
radicalmente opostas.
A decoração da jarra grande, com as
suas flores e folhas muito nítidas, que ressaltam sobre fundo azul, remete para
decorações idênticas que encontramos na produção de Sacavém dos anos 50. A da
jarra pequena, muito mais conservadora, tem ainda um carácter vagamente
arcaico, com as suas florinhas e folhagem, dada por pequenas pinceladas
rápidas, que preenchem totalmente a superfície. Em ambos os casos a padronagem
têxtil é muito evidente.
Dos exemplos que conhecemos do
modelo da Carstens-Uffrecht, que aqui se ilustram, seleccionámos decorações que
remetem também para outras produções portuguesas, como a da Fábrica Lusitânia,
tanto das unidades de Lisboa como de Coimbra. Veja-se como também a forma, em
versão alongada, é próxima das que já postámos em 7 de Janeiro de 2013, 7 e 8 de Fevereiro e 12 de Julho
de 2015.
Não há dúvida que a influência da criação alemã
pré-hitleriana é transversal à produção nacional dos anos 30 e mesmo sequentes.
O que, num país como o nosso, com um fascismo de teor ruralizante, não deixa de
ser curioso. A merecer melhor reflexão.