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domingo, 29 de outubro de 2017

Jarra 734-A – Aleluia-Aveiro


Hoje voltamos à produção dos anos 50 da Aleluia-Aveiro com uma peça que achamos muito engraçada, pois lembra-nos o corpo de ave com pescoço virado para trás, sem cabeça e patas. Ideia reforçada pela decoração que parece remeter para asas.


Trata-se de uma jarra de faiança moldada e relevada, freeform, de bojo pançudo e colo lateral curvo com incisões que delimitam as cores. A decoração é simétrica, de bandas sinuosas, a preto, branco-nacarado e cor-de-laranja, que enfatizam as laterais, sobressaindo o dorso branco e o “peito” branco-nacarado. Interior a amarelo-nacarado. No fundo da base, carimbo circular a castanho «Aleluia-Aveiro» envolvendo «//» pintados à mão, a preto, sobrepujando «Fabricado Portugal», inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a preto, «734-A» (forma e decoração). Foi furada junto à base, na parte de trás, e no fundo da base, para adaptação a candeeiro.
Data: c. 1955-60
Dimensões: Alt. 26 cm x comp. c. 22 cm x larg. c. 15 cm



sábado, 6 de agosto de 2016

Jarra modelo 148-C - Aleluia - Aveiro


Jarra de faiança moldada, piriforme, com decoração pintada à mão. O bojo pronunciado é pintado no fundo a verde, cor sobre a qual “pende”, como uma cortina de recorte branco debruado a preto, decoração com arabescos neo-renascentistas a branco, realçados a acastanhado e amarelo, em fundo avinhado, que enquadram três medalhões polilobados, orlados a amarelo e acastanhado delineados a preto, que envolvem um cravo aberto cor-de-rosa sobre o qual evoluem enrolamentos de folhagem e outra flor da mesma espécie a abrir. Estrangula num anel relevado preto, de onde parte o gargalo lotiforme, rosa-avinhado em esfumado. O branco do interior morre no bocal curvo debruado a preto, cor também do pé. No fundo da base, carimbos a preto, um circular sobre rectângulo «Aleluia-Aveiro», com algo indecifrável no centro, sobrepujando «Pintura manual» e «Portugal». Pintado à mão, a preto, «148 – C».
Data: c. 1945 - 50
Dimensões: alt. 29 cm


Já aqui tínhamos postado, em 5 de Outubro de 2013, uma jarra modelo 148 mas complementado pela letra «X», correspondente a uma das últimas decorações aplicadas a esta forma.

Tal como então dissemos, no catálogo de loiças decorativas de inícios dos anos 40 a forma nº 148 aparece-nos ilustrada com as decorações «A» e «B», as duas primeiras de toda uma série. Pela lógica sequencial a que hoje se apresenta corresponderá à terceira aplicada a este modelo. Uma outra decoração com cravos já se fazia anunciar num modelo (79-B) mais pequeno no referido catálogo.

A sua decoração é muito eclética nas referências. Um ecletismo tardio e conservador. Encontramos nela laivos de grotescos neo-renascentistas nos arabescos que enquadram os medalhões com sugestões florais ainda de uma certa tradição Arte Nova que Aleluia-Aveiro cultivou até tarde. Depois, em termos técnicos, temos a pintura manual da quase totalidade da peça, excepção feita no gargalo que aparece finamente esfumado a aerógrafo. Digamos que se trata de uma decoração “reacionária” e, não fora tê-la encontrado na Bélgica, talvez nem a tivéssemos adquirido. Mas as colecções também são feitas de acasos, ou de afectos, e neste caso comprámo-la apenas pelo prazer de fazer regressar a casa mais uma peça portuguesa.

Se a memória não nos falha, já por aqui teremos escrito, citando Marc Guillaume, que “conservar é lutar contra o tempo”. Porque está subjacente ao acto de coleccionar o facto de se preservar, sentimos que contribuímos, à nossa pequena escala e parcos recursos, para mantermos acesa essa referência à memória e sentimento de posse colectivos. É que muitas colecções privadas contribuíram no passado, e continuam a contribuir ainda hoje, para dar origem ou engrossar acervos públicos ou de acesso público, ou para integrar exposições temporárias temáticas.


O futuro ditará o destino desta nossa colecção. Talvez nem assistamos ao desfecho, mas gostaríamos que pudesse um dia vir a integrar uma colecção pública. Estamos em crer que contribuiria para um melhor conhecimento da cerâmica decorativa e de uso quotidiano produzida no nosso país na primeira metade do século XX. Um olhar pessoal, certamente, mas será pela soma das partes e pelas diferentes leituras que cada um faz individualmente, que poderemos ter uma melhor interpretação do todo.

Como vivemos inseridos no contexto específico europeu, a transversalidade cultural reflectida nas demais produções deste continente no mesmo período cronológico é absolutamente fundamental para o entendimento geral e daí a nossa preocupação em ir pontuando o nosso acervo com exemplares de outras nacionalidades. É conhecendo os outros que também nos vamos conhecendo a nós próprios.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Jarra e azulejo “O Vira” Marinha Grande e Aleluia Aveiro

A propósito da nossa interacção com outros blogues, hoje fazemos um pequeno desvio na apresentação de peças da nossa colecção de cerâmica nacional para mostrar, a propósito de uma peça desse material postado por MAFLS, um azulejo da Aleluia-Aveiro, que aqui se reproduz, embora em imagem manipulada, como contraponto a uma jarra da nossa colecção de vidros nacionais.


Trata-se de uma jarra esférica de vidro irisado, modelo “O Vira”, com decoração esmaltada policroma representando quatro pares de figuras do folclore nacional dançando o vira, da autoria de Vera, fabricado pela NF [Nacional Fábrica de Vidros da Marinha Grande]. No catálogo nº 35 da CIP [Companhia Industrial Portuguesa – Vidros cristais], de 193-?, na página 63 aparece representado outro desenho idêntico desta autora com a referência DF. 283.
Data: c. 1932
Dimensões: alt. 24 cm

Estamos em crer que o desenho do azulejo da Aleluia-Aveiro poderá corresponder à mesma mão ou ter-se inspirado naqueles. Todavia, e dado não termos tido acesso directo ao referido azulejo, também não será de menosprezar a possibilidade de ser seu autor Joaquim Correia, outro artista que concebeu, também para a fábrica de vidros da Marinha Grande, temas do folclore nacional, num grafismo muito semelhante, incluindo a dança do vira, por volta dos anos 30-40.

O sucesso desta temática foi tal que desenhos dessa época se mantiveram em produção até, pelo menos, à década de 1960.

Ver sobre o tema o que escrevemos no post de 19 de Agosto de 2012.

domingo, 17 de abril de 2016

Algumas reflexões a propósito do cinzeiro “Pato” modelo 761-A – Aleluia-Aveiro

Já que estamos em maré de cinzeiros divertidos da Aleluia-Aveiro, hoje trazemos mais um. Novamente um pato mas desta vez de tridimensionalidade assumida. Trata-se do modelo 761com a decoração «A» - a mesma paleta de cores do pato anterior.


Cinzeiro de faiança moldada e relevada representando um pato estilizado. A figura arredondada do animal, com cabeça curvada sobre o dorso, onde se inscreve o covo pintado à mão a preto, tem corpo amarelo-pálido nacarado. Olhos redondos brancos com apontamentos a preto e bico a cor-de-laranja-forte também pintados à mão. A curvatura da cauda, sobre o dorso, serve de apoio de cigarro. No fundo da base, carimbo castanho «Aleluia-Aveiro», com um símbolo semelhante a «%» pintado à mão, a preto, no centro, e «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo, com o «F» retocado manualmente a preto. Pintado à mão, a preto, «761-A».
Data: c. 1955
Dimensões: alt. c. 10 cm x comp. c. 15 cm x larg. c. 11 cm


Cinzeiro individual e não de partilha colectiva, é mais um brinquedo para diversão de adultos fumadores e/ou donas de casa com sentido de humor. Talvez um escape doméstico, uma fuga à aridez plúmbea para quem (sobre)viveu no Portugal de então, sob um regime ditatorial pacóvio e provinciano mas de repressão eficaz que sufocava tudo e todos. Por isso intrigam estas peças.

Que quotidianos enfeitaram, que vidas partilharam, que alegrias trouxeram, que deslumbramentos ou que aversões causaram? Estas e tantas outras perguntas.

Embora diversas fábricas de cerâmica nacionais seguissem uma produção consentânea com o que por essa Europa se fazia na década de 1950, em França, Itália ou Alemanha, sobretudo, recorrendo muitas vezes à cópia descarada, a Aleluia-Aveiro foi, em nossa opinião, como já o escrevemos algures neste blogue, a mais original e criativa de todas elas. Se a maioria das formas encaixam nessa produção internacional, roçando por vezes o plágio, a liberdade com que a paleta cromática foi aplicada nesta fábrica deu-lhe uma identidade tão pessoal que as suas peças são inconfundíveis.

Não será o caso deste e do pato anterior, claro, mas entram aqui estas considerações porque formas e cores, enquanto escapismo lúdico, fazem-nos pensar que terão permitido gozar uma pequenina e estranha lufada de ar fresco. Uma alegria brincalhona na seriedade do dia-a-dia de uma sociedade fechada e amorfa. Ainda estamos para compreender como é que estes objectos entraram e se instalaram nesse mundo.


Parece-nos claro que terá sido uma produção cerâmica que diríamos rarefeita no panorama da fábrica Aleluia-Aveiro que, paralelamente, comercializava objectos mais convencionais. Porém, havia um público que as consumia. E não seria só uma elite mais esclarecida, como se poderia pensar, até porque seriam de custo relativamente acessível, antes compradas como tique de contemporaneidade também por pessoas simples, populares, que as introduziam no seio do lar. Como se integravam nos ambientes conservadores e sem gosto definido levanta-nos alguma estranheza. Todavia, a nossa vida profissional permitiu-nos ter um vislumbre dessa realidade, pouco prazenteiro esclareça-se já, mas também a amostragem não é, de todo, significativa, de como tais peças modernas da Aleluia-Aveiro se cruzaram com essas vidas de pacatos e banais habitantes, pelo menos os da Lisboa onde habitamos.

Nesse contexto, cruzámo-nos, mais do que uma vez, com estas peças perdidas, como ET’s, em ambientes “hostis”, abundantes de quinquilharia de feira e gosto duvidoso. Um toque superficial de modernidade sem conteúdo.

Uma com o modelo que apresentámos em 11/12/2011 e em 01/02/2013, mas com outra decoração, estava em cima de um naperon numa cómoda Queen Anne de fancaria, cheia de areia e flores de plástico, entre objectos heteróclitos, velhos retratos de família em molduras de plástico e caixas de comprimidos. Nada de gostos sofisticados subjacentes, provocações pop assumidas, ou sequer um complemento de outros objectos da mesma cronologia e gosto.

Uma outra jarra igualmente freeform, de modelo que não voltámos a ver, listada de amarelo, preto e branco,– que desperdício – jazia, também ela cheia de areia e flores de plástico (parece ser uma constante), sobre uma pequena mesa de apoio com tampo triangular de cantos arredondados, revestido de fórmica, metade encarnado e resto em preto, com três pernas à “Picasso”, também ela um anacronismo no acanhado espaço atulhado de banalidades kitsch. Não tinha, tal como a mesa, qualquer viço. Sendo ambas divertidas, não traziam qualquer alegria. Em ambos os casos funcionavam como estranhas chamas coloridas na asfixia circundante, mas fora de cena, destoantes.

Terão sido prendas de casamento de familiares e/ou amigos que, capazes de fugir à rotina do já visto, assumiam que um casal jovem, acabado de casar, quereria ser moderno? Teriam sido compradas pelas próprias donas de casa que num fugaz momento de deslumbramento pelas novas formas não resistiram à tentação de as comprar mas quedou-se por ali o rompante de loucura? Presente de um marido disposto a abrir as portas da sua casa ao mundo contemporâneo?

Infelizmente a circunstância profissional das visitas não nos permitiu esclarecer estas questões.


Fosse qual fosse a intenção ou a origem, o desapontamento do que vimos foi total. Nos anos de chumbo do salazarismo dificilmente um casal popular ultrapassaria a mediocridade quotidiana pois o acesso à informação e à cultura era praticamente nulo e reservado a pequenos grupos sociais segregados e maioritariamente segregadores (a televisão ainda não existia por cá e, quando passou a existir, era tão cinzenta no preto e branco como a demais realidade), para mais num país com um índice de analfabetismo escandaloso (a rondar os 50% em 1950 e os 40% em 1960).

Fantasistas, brincalhonas e bem-dispostas (e hoje são para nós, colecionadores, um vício pior que o tabaco) as criações da Aleluia-Aveiro permitem-nos não apagar a memória, antes apaziguar as feridas do passado ao possibilitar-nos reflectir sobre ele, porque não é melhor não pensar.

domingo, 3 de abril de 2016

Cinzeiro “Pato” – modelo 762-A – Aleluia-Aveiro

Depois de mais um longo interregno, voltamos ao activo com uma peça divertida.


Cinzeiro de faiança moldada e relevada representando metade de um pato estilizado visto de lado. A figura relevada e arredondada do animal tem corpo amarelo-pálido nacarado, cujo covo é pintado à mão a preto, cor que destaca também o olho redondo. A asa, que serve de apoio de cigarro, assim como bico e cauda são a cor-de-laranja-forte também pintado à mão. No fundo da base, carimbo castanho «Aleluia-Aveiro» com um «ɸ» (?) pintado à mão, a preto, no centro e «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a preto, «762-A» (número do modelo e decoração). No frete, pintado à mão, a preto, «V» (?)
Data: c. 1955
Dimensões: comp. 13 cm x larg. c. 12 cm x alt. 3 cm


Trata-se do modelo 762 e, mais uma vez, estamos perante a primeira decoração, a «A», de uma série.


Este tipo de peça zoomórfica é, em nossa opinião, um contrassenso. Por um lado a sua função destina-se claramente a um público adulto, por outro, a figura, neste contexto, anacrónica de um pato de banda desenhada infantil mostra-nos um brinquedo.
Brinquemos, pois, com a ideia, certamente a preferida dos adeptos das teorias de conspirações ocultas de multinacionais sedentas de lucro, neste caso as tabaqueiras, de que a forma tinha como missão apelar ao consumo de cigarros por parte dos mais jovens – incentivando-os ao acto ilícito de fumar, fomentando o vício.
Porém, parece-nos um tanto ou quanto excessiva tanta maldade premeditada. E daí…
O lúdico também tem um papel importante na vida dos adultos, torna-a mais relaxada e menos sufocante. E as peças da Aleluia-Aveiro entre 1955-65, mesmo as mais eruditas, trazem subjacente essa ideia.


Imaginemos exemplos de cenários possíveis onde a presença de um simples cinzeiro divertido poderia marcar a diferença no mundo supostamente responsável dos adultos.
Um exemplo seria o simples acto de chegar a casa depois de um dia cansativo de trabalho e sentar-se a fumar um cigarro, eventualmente a ler o jornal (nos anos 50 ou inícios da década seguinte, no Portugal de então, estaríamos a falar do homem da casa, claro), parece-nos credível que o simples olhar para o objecto onde pousava o cigarro, pela forma e pela radiância e alegria das cores, despertasse, no mínimo, um sorriso. Voltava-se à infância num acto de adulto.


Outro exemplo, em dias de convivialidade com amigos que se convidavam para uma festa lá em casa, no meio de um espaço sobrecarregado de fumo e vapores etílicos, o mesmo cinzeiro poderia proporcionar alguns momentos divertidos, dando azo a comentários mais ou menos brincalhões, despertando a criança que há dentro de todos.

Um objecto de pessoa crescida bem-disposta, e porque não?

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Caixa art déco modelo 25-A – Aleluia-Aveiro


Postado este modelo em 30 de Agosto de 2014 com a decoração «E», finalmente mostramos o 25-A, ou seja um exemplar com a primeira decoração da série, a que consta ilustrada no Catálogo de loiças decorativas de inícios da década de 40.

Como a descrição formal nos ajuda a sistematizar as nossas próprias fichas de inventariação, pois que voltamos repetir parte do que anteriormente foi escrito sobre o modelo.


Caixa art déco de faiança moldada e relevada, oitavada, com as faces menores, côncavas, de cor creme, decoradas com motivos florais estilizados em tons de castanho e preto, com a última a delinear os motivos, estampilhados e pintados á mão, que pendem a partir da tampa. Nas faces mais largas, a preto, sobressaem “contrafortes” embutidos que elevam a caixa e formam os quatro pés, de cor creme com haste floral estilizada mas cores referidas. Na tampa, ao centro, eleva-se uma estrutura cruciforme escalonada em que assenta a pega tronco-piramidal. Espelhos a preto e topos acastanhados. No fundo da base, pintado à mão, a preto, «Aleluia – Aveiro». Pintado à mão «A» e, inscrito na pasta, «25» (embora a leitura do 2 seja ambígua).
Data: c. 1935-45
Dimensões: Larg. 10,6 cm x 10,6cm x alt. c. 9 cm


A composição floral que, partindo da tampa, pende nas quatro faces estreitas e côncavas apresenta um grafismo curvilíneo nos caules que remete ainda para uma estética Arte Nova, embora as cores planas e a geometrização das flores, tal como a forma arquitectónica do modelo, estejam inequivocamente associados à contemporaneidade do Art Déco. A reminiscência de uma tradição popular presente no desenho do ramo floral que se repete em cada um dos quatro pés salientes também aponta no mesmo sentido.

Em nossa opinião será uma das formas mais originais produzidas pela Aleluia-Aveiro, e mesmo de toda a produção nacional art déco, por enquanto, pelo menos, sem paralelismo que conheçamos no contexto internacional.


domingo, 13 de dezembro de 2015

Boleira “Vieiras” – modelo x-501-A – Aleluia-Aveiro


Caixa (boleira) de faiança moldada e relevada em forma de cinco vieiras sobrepostas, à cor natural das conchas, com apontamentos a ouro. Tampa com pega em forma de berbigão a ouro. No fundo da base, carimbo circular sobre rectângulo, a ouro, «Aleluia» «Aveiro», e pintado à mão, a ouro, no centro, «%», sobrepujando «Fabricado em Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, também a ouro, «x - 501 – A» (número do modelo e decoração)
Data: c. 1945-60
Dimensões: Alt. c. 17 cm x Ø c. 18 cm


Podemos reconhecer nesta peça um eco longínquo das criações do francês Bernard Palissy (c. 1510 – c. 1590), cujo revivalismo haveria de fazer furor na Europa, a Palissy ware, a partir de meados de Oitocentos e que em Portugal deu origem a uma das mais interessantes reinterpretações que se conhece do estilo, a loiça das Caldas da Rainha e, em particular, as criações de Rafael Bordalo Pinheiro.


A vieira é recorrente neste tipo de loiça, até porque a forma do bivalve propicia a utilização da própria concha como recipiente. Fábricas em Inglaterra, como, por exemplo, Wedgwood, ou em Portugal, caso de fábricas caldenses, conceberam serviços completos a partir deste motivo.

Claro que o Barroco também já havia utilizado, para os seus jogos ilusionistas, os motivos da natureza para conceber conjuntos de mesa.

Os animais e plantas que então serviram de inspiração, presentes no ambiente costeiro e/ou lacustre de Aveiro, permitiram continuar de alguma maneira viva esta tradição que podemos observar em certas peças relevadas da Fábrica Aleluia-Aveiro. 

Para além disso, a vieira, enquanto símbolo associado ao apóstolo Tiago, é uma constante na arte ocidental desde a Idade Média.


sábado, 5 de dezembro de 2015

Base de Candeeiro – modelo 163 – Aleluia-Aveiro


Base de candeeiro de faiança moldada em forma de balaústre de quatro asas com canelura que, partindo da parte inferior do bojo, encurvam e terminam em enrolamentos no colo. Sobre a cor verde-claro recebeu, entre as asas, composição gráfica com enrolamentos lineares, a ouro, lembrando as serralharias artísticas (ferroneries) francesas de finais dos anos 30 e da década seguinte na linha de um tardo-Art Déco. É também a cor ouro que acentua bocal e pé assim como as arestas das asas. No fundo da base carimbo circular, a castanho, «Aleluia-Aveiro», com «v» a ouro pintado à mão, ao centro (marca do pintor), sobrepujando «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo.
Data: c. 1945-55
Dimensões: Alt. 24,5 cm



Esta decoração e forma, enquanto base de candeeiro, não aparecem ilustradas no Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia. Aveiro, com os modelos produzidos entre cerca de 1935-45, embora surja forma idêntica, em versão urna com tampa, com o nº 163-C, que tem de altura 30cm. Sob o nº 162-A e 162-B aparece, no mesmo catálogo, forma idêntica, de menores dimensões (alt. 19 cm). Assim, parece-nos estarmos perante uma versão mais tardia, possivelmente de entre 1945-55 do modelo 163. Qual a sua opinião CMP?


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Jarra modelo 28–A – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada com decoração estampilhada a preto e apontamentos manuais a aguada acastanhada sobre fundo creme. Bojo preenchido por composição de flores e folhagem, de sabor vagamente renascentista, ladeado por duas pegas simétricas bicónicas a preto. Bocal em gola évasée, creme, com exterior a aguada acastanhada e filete a preto, e interior creme com filete e perolado a preto sobre aguada da mesma cor. A parte inferior, inflectida para dentro em meia cana, a aguada acastanhada, assenta sobre pé a preto. No fundo da base, estampilhado a preto, «Aleluia Aveiro», e, pintado à mão «A» também a preto. Inscrito na pasta «28».
Data: c. 1935-45
Dimensões: alt. 13 cm


A ornamentação da jarra integra uma linha decorativa frequente na produção da Fábrica Aleluia-Aveiro das décadas de 1930-40, de que já apresentámos alguns exemplos, caso da jarra ou do cache-pot postados respectivamente em 26 de Janeiro e em 1 de Março de 2012. Desenho de inspiração clássica, num ecletismo que tanto pode remeter para uma releitura neo-renascentista ou mais barroquizante, que parece ter tido muita aceitação nacional enquanto versão local de um Art Déco conservador e respeitável.


No Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia-Aveiro, de inícios dos anos 40, na pág. 22, esta peça aparece referenciada com o nº 28 – A, confirmando o indicado na própria peça. 


domingo, 8 de novembro de 2015

Jarra com bodelhas e estrelas-do-mar - Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada, bulbiforme, com decoração relevada de bodelhas e estrelas-do-mar. Duas asas em anel no estrangulamento do colo. Sobre a cor bege, apontamentos a ouro realçam, em parte, as estrelas-do-mar e as asas e circundam pé e bocal. No fundo da base carimbo a castanho «Aleluia – Aveiro» com «i» manual, a ouro, ao centro, e, pintado à mão, também a ouro, «X167-A»
Data: c. 1965
Dimensões: alt. 11 cm


O «X» indica a presença de apontamentos a ouro, seguido de «167», que será o número do modelo, e a letra «A» a indicar que se trata da primeira de uma série.

Quase sempre afinamos a datação por características estilísticas, e neste caso até a situaríamos na década de 1940, devido à linguagem tardo art déco da forma, apesar de contrariada pela agitação quase Arte Nova dos elementos ornamentais, Porém, avançamos para meados da década de 1960, na sequência do comentário de CMP aquando do peixe postado em 27 de Abril deste ano. Qualquer informação que nos possam fazer chegar, agradecemos.


A decoração em relevo remete, mais uma vez, para o ambiente marinho enquanto tema recorrente da Fábrica Aleluia-Aveiro. A maré desceu, ficaram caídas as bodelhas (Fucus vesiculosus L.), espécie de alga comum nos enrocamentos do litoral e estuários do país, que preenchem a superfície da peça com as suas ramificações onduladas e vesículas (mais precisamente aerocistos) cheias de ar, deixando entrever estrelas-do-mar. Um universo que traz para a esfera doméstica a lembrança do labor na ria de Aveiro e no litoral circunvizinho a que muita da população local se dedicava. Memórias de trabalho árduo mas também de uma natureza bela e generosa cristalizadas na produção cerâmica local.

domingo, 27 de setembro de 2015

Jarra modelo 585 A – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada cuja forma remete para um bivalve entreaberto, tipo mexilhão, apesar da simetria aparente das “conchas”, com parte exterior aerografada a verde-seco seccionada por uma malha reticulada de linhas incisas a preto. Interior a ocre alaranjado, aplicado também a aerógrafo, esbatendo-se para o interior. Rebordo a branco. No fundo da base, carimbo preto Aleluia-Aveiro, com «x» preto pintado à mão ao centro. Igualmente pintado à mão, também a preto, «585» e «A».
Data: c. 1955-65
Dimensões: Alt. 12,7 cm


Poderíamos defender a possibilidade deste biomorfismo de criatura marinha se integrar na representação da vida do litoral e da ria de Aveiro, tantas vezes motivo de inspiração para os artistas das fábricas Aleluia, como já justificámos em outras peças ilustradas neste blogue, produzidas nas várias épocas e estilos.

No entanto, cremos não ser o caso, pois inclinamo-nos mais a ver nele uma influência internacional das freeforms contemporâneas, que se constacta ser transversal neste tipo de produção da Aleluia-Aveiro balizada entre cerca de 1955-1965. O que nos parece ser distintivo nesta produção nacional é a paleta cromática e decorativa que reputamos de mais arrojada que muitas das suas congéneres estrangeiras.


Tratar-se-á, como em outros já postados, da primeira decoração, identificada pela letra «A», de uma série, aplicada ao modelo «585». Aliás, não deixa de ser curioso verificarmos que o acaso nos tem feito chegar à colecção exemplares maioritariamente da opção decorativa inicial de cada série.

domingo, 23 de agosto de 2015

Jarra art déco com três asas (grande) e flores cor-de-rosa – Aleluia-Aveiro


Hoje apresentamos mais uma jarra art déco com três asas da Aleluia-Aveiro. Se no post de 24 de Julho passado apresentámos o modelo 20, hoje postamos o modelo 21. Trata-se da mesma forma, embora esta de maiores dimensões. Sobre as suas muito prováveis origens germânicas, com base numa criação da Rosenthal, também escrevemos então.

De cor branca de fundo, a jarra recebeu decoração estampilhada manualmente a preto e cor-de-rosa, a cheio e em aguadas. Entre as caneluras do bojo, debruadas por filete preto e aguada, pendem festões vegetalistas estilizados, com folhagem a preto e aguada a enquadrar duas flores, uma de maior dimensão parcialmente sobreposta a uma de menor tamanho, nos tons de rosa e apontamentos a preto. Pendem de um anel cor-de-rosa aguado com perolado mais intenso, delineado por duas fiadas de filetes a preto, que cinge a parte inferior do colo. Este é ornado por folha composta digitada (motivo que se repete no início e fim dos festões, a lembrar as folhas do castanheiro-da-Índia) pendendo do filete a preto que realça o bocal, entre as ligações superiores das três asas cujas extremidades são pintadas a preto, a cheio e duas aguadas, em degradé. O pé saliente é delineado na extremidade por aguada e filete preto sobrepujados por perolado da mesma cor. No fundo da base, dois carimbos rectangulares a preto, um «Fábrica Aleluia-Aveiro», outro «Fabricado em Portugal», e, inscrito na pasta, «21» seguido de «B» pintado à mão a preto, ao lado de «†» (?) inscrito na pasta.
Data: c. 1935-45
Dimensões: alt. 20,5 cm

Estamos perante o modelo nº 21, e a segunda decoração da série, como indica a letra «B». Esta jarra aparece representada no Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia-Aveiro,de inícios da década de 40, com mesma dimensão e numeração.


Nota: Quando no referido post anterior escrevemos a propósito da jarra «Ângelo», da Vista Alegre, não estamos exactamente perante a mesma forma, como, por lapso, referimos, mas uma sua variante com quatro asas, como MAFLS muito bem notou. 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Jarra art déco com três asas (pequena) – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada e relevada, piriforme, com bojo seccionado regularmente por caneluras verticais e três pequenas asas entre o colo e a parte superior do bojo. Sobre a cor creme de fundo recebeu decoração estampilhada manualmente a preto e castanho. Entre as caneluras, debruadas por filete preto, recebeu festões vegetalistas estilizados que pendem de um anel perolado que cinge a parte inferior do colo sendo a parte superior do mesmo decorado por duas folhas cruzadas, onde liga a parte superior das asas que são, em ambas extremidades, pintadas a preto em degradé, simulando o esfumado do aerógrafo. Assenta sobre pé saliente realçado por filete preto e aguada acastanhada. No fundo da base, a preto pintado à mão, «Aleluia Aveiro» e, inscrito na pasta, «20» seguido de «A» igualmente a preto pintado à mão.
Data: c. 1935 - 45
Dimensões: alt. 12,5 cm



Trata-se pois do modelo nº 20, e a primeira decoração da série, como indica a letra «A». No Catálogo de loiças decorativas de inícios da década de 40, aparece representada jarra idêntica, com mesma dimensão e numeração, mas com o nº 20-B, ou seja, a segunda da série. Haveremos de postar o modelo nº 21 de maiores dimensões e outras decorações.


Estaremos, uma vez mais, perante um exemplo de contaminação com a produção da vizinha Fábrica da Vista Alegre. Ao observarmos a jarra «Ângelo», que ilustramos, não há dúvida de que estamos perante a mesma forma. A jarra aparece-nos referida na bibliografia existente como tendo sido criada na Vista Alegre em 1937. Todavia, e mais uma vez a ironia do desconhecimento sobre a produção nacional, a fábrica alemã de porcelanas Rosenthal produziu este modelo na mesma década de 30, e não cremos que tenha sido ela a copiar um modelo português.


Aliás, a Rosenthal parece ter sido uma razoável fornecedora de modelos para o mercado nacional das fábricas de cerâmica, caso da Vista Alegre ou Sacavém e, provavelmente por acréscimo, da Aleluia-Aveiro como será o caso do exemplo de hoje.


A propósito de Sacavém, aproveitamos para exemplificar um dos casos mais flagrantes de utilização de um modelo escultórico alemão da Rosenthal e os equívocos que, mais uma vez, o desconhecimento introduz no discurso nacional vigente sobre o assunto.

Trata-se da escultura de mulher nua sentada, que na obra «Fábrica de Loiça de Sacavém» de Ana Paula Assunção aparece, na página 125, erradamente identificada como sendo da autoria de Donald Gilbert. Como ilustramos, trata-se também de uma peça concebida pela Rosenthal, criada em 1934 pelo escultor alemão Gustav Adolf Bredow (Krefeld, 1875 - Stuttgart 1953). Basta saber ver a obra de Donald Gilbert, um artista moderno, para se perceber que tal peça, de estética profundamente reacionária, já da época hitleriana, não poderia nunca ser criação sua. Uma obra sem garra.


Como tivemos oportunidade de desvendar na palestra «À conversa com …», realizada no Museu de Cerâmica de Sacavém, em 24 de Maio de 2014, intitulada «Modelos e referências estrangeiras na produção da loiça de Sacavém na 1ª metade do século XX», a influência alemã é bastante grande em Sacavém.

Habitualmente só se refere a importação de modelos ingleses, mas como se vê a Alemanha (fábricas como a referida Rosenthal, a Max Roesler, a Schramberg, a Sörnewitz-Meissen, etc.), mas também a França (apresentamos dois exemplos da Fábrica de Sainte Radegonde), deram contributos significativos para esta fábrica. São, por agora, apenas alguns exemplos, mas voltaremos ao assunto a propósito de outras peças.