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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Escultura decorativa art déco “Jovem com bola” da Puls - Checoslováquia


Figura feminina de porcelana moldada e policromada, de jovem mulher de pé, sobre soco, em pose, com mão direita na cintura e perna direita flectida. No braço esquerdo segura uma bola dourada, da mesma cor dos sapatos rasos. Veste traje desportivo, composto por calções tufados cor-de-lilás, da mesma cor da gola e gravata da blusa listrada em tons de verde. Calções apresentam um ligeiro grafismo avermelhado cuja cor é retomada na decoração geométrica da gravata. Sobre os ombros, echarpe cor-de-laranja com motivos lineares de ramagens e folhas, em cinzento, de onde despontam grandes flores abertas bem delineadas a preto, com as pétalas a apresentarem dois tons de laranja, o do fundo e outro mais carregado, ao gosto art déco. As carnações remetem para o tom rosado da pele, com olhos azuis, lábios vermelhos e cabelos castanhos cortados à moda dos anos 20. O soco, troncocónico, mantém o pé circular, sendo facetado em quatro lados, com realces a ouro. Nele aparece inscrito, na face posterior, a assinatura do autor: J. Meier. Na base, carimbo estampado a verde Puls – Bohemia, sobrepujado por coroa.
Data: c. 1925
Dimensões: alt. c. 33 cm


J. Meier, artista de quem pouco sabemos, trabalhou para várias fábricas, entre as quais as checas Puls e Pirkenhammer - desta última já apresentámos outra escultura da sua autoria, o centro de mesa que postámos em 20 de Dezembro de 2011, cuja figura feminina tem idêntico corte de cabelo, muito anos 20. Terá trabalhado ainda, pelo menos, para as fábricas Hohenstein e Goldscheider.

A fábrica Puls - Pfeiffer & Löwenstein, tem origens que remontam a 1879, quando Ludwig Lowenstein funda uma fábrica de porcelana, em Ostrov, na Boémia (na antiga Schlackenwerth do Império Austro-Húngaro, hoje parte da República Checa). Em 1900, era gerida por Josef Pfeiffer Jr passando a designar-se Pfeiffer & Löwenstein, designação que mantém até 1938, ano em que os nazis confiscaram as acções renomeando-a de fábrica de porcelana Schlackenwerth Josef Pfeiffer. Eram seus proprietários, em 1944, Luise & Wilhelm Pfeiffer e George von Hoffmann. Em 1949 acabou por ser encerrada.


A escultura documenta um estilo de vestuário contemporâneo que retrata a liberdade adquirida pelas mulheres após a I Guerra Mundial. Conquistaram um novo papel na sociedade de então, depois de terem substituído os homens em diversas profissões durante o conflito. Ganharam o direito à libertação do corpo, agora sem as constrições impostas pelo vestuário puritano oitocentista, e à funcionalidade do traje, numa transformação tão profunda como profunda foi a revolução social, política e mental resultante do cataclismo que todos viveram. Vencidos e vencedores. Para esquecer o passado próximo instalou-se um frenesi de viver, em que a mulher vai ser elemento fundamental. Democratiza-se o desporto, a participação política e o direito ao voto (em alguns países), o acesso a novas profissões, e a moda deixa de estar condicionada pelo espartilho, liberta os braços e as pernas, e o cabelo é cortado curto. Com Coco Chanel ganhou o direito a vestir calças. A mulher podia assim, viver os loucos Anos 20 em paridade com o homem, sobretudo nas elites, numa revolução de mentalidades sem precedentes que ia penetrando nas outras classes sociais. Em muito, graças ao cinema e às ideologias revolucionárias. Todo este ambiente de euforia e mudança começa a desabar com a tragédia da «quinta-feira negra» de 1929.

No caso da presente escultura, ela e muitas congéneres suas, funcionavam como figurinos. Outras também como modelos. Ambas destinavam-se às classes mais abastadas, decorando ambientes burgueses modernos. Enquanto modelos retratavam figuras de atrizes, dançarinas, escritoras, símbolos palpáveis da nova mulher emancipada.

O desporto ao divulgar-se na sociedade, impunha-se como actividade elegante, para a qual era preciso criar uma nova estética, de que esta peça é exemplo. Nela observa-se, ainda, o corte de cabelo e a gravata como aproximação ao look masculino, enquanto símbolos da sua libertação.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Serviço de chá art déco alusivo aos Jogos Olímpicos de 1936 – Vista Alegre

Em jeito de evocação do ideal olímpico de paz e coexistência entre os povos que hoje, mais uma vez, se celebra, apresentamos um serviço de chá da Vista Alegre, testemunho da comemoração de uma olimpíada que, infelizmente, simbolizou a adulteração total dos referidos ideais. Que os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, sejam uma festa da Humanidade.




As chávenas deste modelo já foram apresentadas com outra decoração em 1 de Abril de 2012, juntamente com outro serviço.


Serviço art déco de linhas modernistas de porcelana branca com decoração alusiva aos Jogos Olímpicos de 1936, composto por bule, leiteira, açucareiro e chávenas com respectivos pires. O símbolo olímpico, a cinco cores é complementado pelas cores da bandeira nacional (embora o encarnado tenha aqui um tom mais alaranjado) representado por duas argolas, apenas ausentes nas chávenas e pires. Na base de todas as peças, carimbo verde V. A. Portugal (Marca 31: 1924-1947). Na leiteira, pintado à mão a laranja, PA204, e, inscrito na pasta, 25. Inscrito na pasta, à mão, no bule, 1 = 4; na chávena, 4 e t (?); no pires, 7.
Data: 1936
Dimensões: Várias



Modelo lançado pela Vista Alegre por volta de 1935, a decoração deste nosso exemplar é seguramente do ano seguinte, dadas as referências óbvias aos Jogos Olímpicos de 1936 na Alemanha.









Vagamente inspirado no modelo Conical – Odilon, criado pela inglesa Clarice Cliff, em 1929, da linha Bizarre, a versão portuguesa apresenta bastantes diferenças na forma das peças em relação à sua, eventual, fonte de inspiração. Não há dúvidas que a forma da leiteira e a base, em cruz grega, do açucareiro, remetem para o modelo inglês, tal como as pegas das tampas. Mas estas são as únicas semelhanças pois em relação às demais formas só encontramos diferenças: o açucareiro na versão inglesa é perfeitamente cónico e não em calote esférica como o modelo VA, forma que se repete nas chávenas de asa cúbica; no bule inverte-se o sentido troncocónico do corpo da peça e também a asa e o bico não acompanham o modelo inglês. E mesmo a leiteira da versão portuguesa apresenta uma subtil curvatura junto à base que contraria a forma troncocónica do original. Demasiadas diferenças para uma filiação directa que alguns pretendem ver.





Uma coisa parece certa, a decoração será de inspiração alemã, caso das duas argolas que aqui apresentam as cores da bandeira portuguesa, mas que noutros exemplos deste modelo de serviço da VA estão em consonância com os exemplos que aqui ilustramos, da fábrica alemã Schmelzer & Gericke em Althaldensleben, mais ou menos da mesma data.



Este serviço terá sido editado apenas para comemoração dos Jogos Olímpicos ou terá tido também funções de representação na comitiva oficial portuguesa ao evento que pretendia ser a celebração triunfal dos êxitos do nazismo e do novo papel da Alemanha no concerto das nações?


Não nos esqueçamos que a década de 30 foi a época por excelência do triunfo dos fascismos nos quais o regime de Salazar se enquadrava.


Utilizando massivamente todos os meios possíveis de propaganda, o regime nazi de Hitler aproveitou os Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, como elemento potenciador do prestígio da nova Alemanha.

Criou o mais moderno complexo desportivo feito até então, limpou a cidade de toda a propaganda anti-semita, insinuou a ideia de que o regime era tolerante e pacífico, na crença de que a superioridade ariana haveria de ser demonstrada pelo número de medalhas ganhas. Quase que numa premonição do que haveria de acontecer nove anos depois, foram os estrangeiros, nomeadamente a “raça inferior” dos negros norte-americanos que arrebataram as medalhas de atletismo, a mais importante das modalidades olímpicas, derrotando a Alemanha. E o herói destes jogos que pretendiam ser a exaltação da raça ariana, foi Jesse Owens, um afro-americano (para utilizarmos a linguagem politicamente correcta).


É neste enquadramento que a produção de porcelana alemã, que aqui se ilustra, teve o seu papel enquanto veículo de exaltação do regime em ano de grandes celebrações desportivas e de triste memória.