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terça-feira, 15 de agosto de 2017

Caixa forma 3202- Decor 3094 - Theodor Paetsch - Alemanha


Caixa para biscoitos de faiança moldada, paralelepipédica com cantos arredondados, de cor branca. As faces principais são decoradas por composição geométrica e abstracta estampilhada e aerografada, com dois conjuntos, um na horizontal outro na vertical, de motivos lineares a amarelo e de ziguezague a azul, ambos em esfumado. As faces laterais ostentam apenas os motivos lineares a amarelo na horizontal. O contentor assenta sobre pé reentrante e é coberto por tampa igualmente reentrante com pega em meia-cana, aerografada a azul e topos num subtil esfumado da mesma cor. No fundo da base carimbos a castanho «3094» (decor) e «F». Inscrito na pasta «3203» (forma)
Data: c. 1930-33
Dimensões: Comp. 19x larg. 12cm x alt. 12cm


Sabendo da nossa paixão pelo aerógrafo e pela cerâmica da República de Weimar, duas queridas amigas alemãs, mãe e filha (H e L), surpreenderam-nos, no Natal passado, presenteando-nos com esta deliciosa caixa.

Cada decoração dá uma identidade muito particular a um mesmo formato, podendo valorizá-lo ou anulá-lo. Neste caso, a harmonia abstracta da geometria do desenho e o contraste das cores, potenciam as qualidades formais do objecto. Haveremos de postar esta forma com outras variantes decorativas.



domingo, 19 de julho de 2015

Manga cilíndrica art déco com pássaros – K et G Lunéville - França


Jarra cilíndrica (manga) art-déco de faiança moldada de cor branca com decoração estilizada policroma, em azul, mostarda e preto, estampilhada e aerografada, de pássaros empoleirados em ramagens com folhas e flores. Parte inferior bordejada por uma sequência de segmentos curvos e tracejados a azul como uma “renda”. No fundo da base carimbo preto K&G - Lunéville- France. Inscrito na pasta «3P» e um «♥» [coração].
Data: c. 1923-30
Dimensões: Alt. 18,5cm x Ø 8 cm


Já todos conhecem esta nossa apetência pelas criações de Géo Condé, artista recorrente neste blogue, ou do seu círculo em Lunéville. As suas decorações com estilizados desenhos art déco são, a nosso ver, simultaneamente populares e eruditas, singelas e sofisticadas. Esta manga é mais um exemplo do seu estilo peculiar.

Associa-se também ao nosso gosto pela técnica, aparentemente simples, da estampilhagem aerografada. De facto, as figuras recortadas em estampilhas e aplicadas a aerógrafo, geralmente, com duas ou três cores apenas, da produção de Lunéville, são de um invulgar efeito visual, dentro dos parâmetros da contemporaneidade de então na versão art déco popular francesa.


Para mais, costumamos cá por casa falar de Lunéville como a versão francesa da Fábrica de Loiça de Sacavém (a nossa paixão nacional), embora nesta os aerografados sejam mais de inspiração germânica. Mesmo assim encontramos algumas afinidades, sobretudo na lógica da produção para as massas de loiça corrente, geralmente de baixo custo. Falamos de faiança, porque em relação à produção em grés com os irmãos Mougin já estamos a um outro nível.

É certo que Lunéville teve sempre uma produção com criação própria muito diversificada e que em determinados períodos da sua história, caso dos finais do século XIX e inícios da centúria seguinte, produziu faiança de excepcional qualidade que dificilmente a sua congénere nacional igualará, apesar das excepções.

Nesta produção. e no trabalho deste artista em particular de cuja obra temos vindo a dar exemplos, estão reunidas um conjunto de características, conceitos e técnicas que muito nos agradam.

sábado, 11 de julho de 2015

Jarro com faixas cortadas para cacau da Carstens Gräfenroda - Alemanha


Mais uma chocolateira art déco, da mesma forma «Leine», da alemã Carstens Gräfenroda que anteriormente postámos. Apresenta a mesma paleta quase monocromática, em dois tons de castanho e partes em reserva, mas com outra decoração, a nº 757. Esta concentra-se apenas no bojo esférico onde três faixas paralelas horizontais, a castanho-mel, são seccionadas em quatro partes por faixas verticais a castanho-chocolate. Todas as faixas aerografadas têm um dos lados em esfumado, pelo que o corte da estampilha será apenas rigoroso num dos sentidos. A restante superfície externa é castanho-chocolate. No fundo da base, carimbo preto, em forma de escudo, com a inscrição «Carstens» e «C G» sobrepujado por «Gräfenroda». Carimbos, igualmente a preto, «D. 757», «41» (?) e algo mais ilegível. Inscrito na pasta: «2».
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 20 cm (s/tampa) x Ø c. 14 cm


A decoração proporciona um efeito óptico completamente distinto relativamente ao jarro anterior, quase desconstruindo visualmente a forma. São estas virtudes da pintura a aerógrafo, delineada pelo recurso a estampilhas, uma técnica aparentemente tão simples, que tanto nos fascina e agrada na produção cerâmica deste período e que, por exemplo, a Fábrica de Loiça de Sacavém, à semelhança de outras congéneres europeias, tão bem soube apropriar-se.


quinta-feira, 9 de julho de 2015

Jarro listrado para cacau da Carstens Gräfenroda - Alemanha


Jarro art déco para cacau de faiança moldada, de bojo esférico, assente sobre pé circular, e colo alto cilíndrico. O bico, embutido no colo, parte do bojo em direcção ao bocal que é coberto por tampa de metal cromado. Toda a superfície recebeu pintura aerografada em dois tons de castanho, formando uma sobreposição de faixas horizontais, de diferentes espessuras, parcialmente em esfumado, que intercalam com a cor beije da reserva. Asa e bico são uniformemente castanho-chocolate. No fundo da base, carimbo preto, em forma de escudo, com a inscrição «Carstens» e «C G» sobrepujado por «Gräfenroda». Carimbos, igualmente a preto, «Dec 667», «Foreign» «24» e «34»
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 20 cm (s/tampa) x diâm. c. 14 cm


Trata-se da forma «Leine» com a decoração nº 667, e tem uma capacidade para cerca de litro e meio.

O despojamento e a funcionalidade da Bauhaus, presente na forma e na decoração minimalista, incluem este tipo de peças funcionais numa art déco vanguardista, muito característica dos objectos de uso quotidiano na República de Weimar.

Podem ver uma chocolateira idêntica no V&A (Victoria and Albert Museum) cuja ficha de inventário informa que, provavelmente, terá sido desenhado por Rausch, um aluno de Artur Hennig, e fabricado pela Christian Carstens, Kommandit-Gesellschaft Feinsteingutfabrik, Gräfenroda, em c. de 1930. Esta forma, com esta decoração em particular, parece ter feito sucesso no Reino Unido. A nossa peça foi comprada em Edimburgo, na Escócia, por exemplo, e o carimbo «Foreign» indica que se tratou de uma produção para exportação.


Porém, o mais interessante foi o que tivemos possibilidade de constatar nesta passada terça-feira, de manhã, 7 de Julho, na Feira da Ladra. Há muito tempo que não fazíamos em dia de semana esta voltinha simpática no meio do caos à procura das tão nossas apreciadas velharias.

Não foi um dia particularmente encorajador dado pouco termos visto que nos entusiasmasse verdadeiramente. Mais, constatámos que os preços continuam especulativos em excesso face aos tempos de crise em que vivemos.

Todavia, uma surpresa aguardava-nos. Não que nos interessasse adquiri-la, mas antes pelas questões que levantava. No meio do “lixo” surgiu-nos um jarro igual a este à venda e, por curiosidade, quisemos confirmar a germanidade da marca. A curiosidade instalou-se, pois a peça tinha apenas um único carimbo que informava «Made in England». Ora este modelo e decoração são indubitavelmente alemães, por isso das duas uma, ou a Carstens produzia uma parte da sua produção, sem marca, para ser vendida «in England» ou alguma fábrica inglesa a copiava. Mas não será certamente esta última versão porque pasta, cores, decoração e vidrados são inequivocamente iguais às de origem.

Não é a primeira vez que apresentamos exemplos ingleses que são cópias de formas alemãs. Veja-se post de 7 de Junho de 2014. De uma maneira geral, os ingleses copiam intensamente modelos e decorações continentais, sobretudo alemães, checos e franceses, antes de evoluírem, tardiamente nos anos 30, por caminhos que lhes são mais próprios.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Caixa art déco aerografada modelo «Drossel» - Carstens Gräfenroda - Alemanha


Caixa de faiança moldada, de cor branca com decoração aerografada a castanho. Taça em forma de pirâmide invertida, de três lados ligeiramente convexos, cujo vértice assenta sobre pé circular saliente. Tampa triangular com pega de igual forma. No fundo da base, carimbo preto, em forma de escudo, com a inscrição «Carstens» e «C G» sobrepujado por «Gräfenroda». Carimbos igualmente a preto «Dec 24», «0» «6» e «34»
Data: 1931
Dimensões: Alt. 9 cm x larg 9,5 cm


Trata-se de uma caixa decorativa (zierdose), que tanto poderia ter a função de bomboneira como de açucareiro. Forma moderna bauhasiana em que a decoração estampilhada aerografada, muito linear, dá ritmo e profundidade às superfícies lisas.


No catálogo da firma Carstens Gräfenroda de Junho de 1931 aparece identificada como sendo o modelo «Drossel» e a decoração nº 24. Haveremos de postar mais algumas peças aí apresentadas.


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Base bolos Colditz AG – Alemanha

Voltamos hoje às bases de bolos com decorações a aerógrafo alemãs, pois a nossa colecção é abundante neste tipo de objectos e poucos temos aqui partilhado.


Placa circular de faiança moldada de rebordo ligeiramente levantado. Sobre a cor branca de base recebeu decoração policroma abstracta de motivos geométricos estampilhados e aerografados em esfumado. A composição é tripartida por segmentos de recta, formando ângulos, a amarelo, que enquadram um conjunto de círculos e cruzes de diferentes tamanhos, a rosa-avermelhado e azul. Rebordo a amarelo igualmente a esfumado. Assenta sobre anel. No fundo da base, carimbo preto 4748 (Decor).
Data: c. 1933
Dimensões: Ø 30 cm


O nome «Colditz» aparece associado a três fábricas da Saxónia. Uma, fundada em 1828, começou por se denominar Keramik Werke Strehla, G.m.b.H., passando a designar-se, em 1927, Steingutfabrik Colditz AG, Abteilung Strehla, na cidade de Strehla an der Elbe, junto ao rio do mesmo nome. As outras duas localizam-se na cidade de Colditz: a Thomsberger & Hermann Steingutfabrik AG, fundada em 1804, e a Steingutfabrik Colditz AG.

De todas mostraremos futuramente peças, mas iniciamos hoje com uma base para bolos da última. A Fábrica de Faiança Colditz AG foi fundada em 1907, e dirigida até 1935 por Otto Zehe. A fábrica foi expropriada em 1948 e foi-lhe dado novo destino. A ela haveremos de voltar com maior notícia.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Prato de suspensão art déco com chinês vendedor de peixe - K et G Lunéville - França



Prato de suspensão circular e lenticular de faiança moldada. Sobre a cor branca recebeu decoração policroma estampilhada e areografada estilizada ao gosto art déco. Um vendedor de peixe ou pescador oriental, de chapéu largo e vestes longas, em movimento para a direita, mas com a face, onde se destacam os bigodes descaídos, voltada no sentido oposto, transporta, em equilíbrio sobre os ombros, uma vara de onde pendem peixes. Braços ao longo do corpo segurando um grande peixe em cada mão. A vara, à qual estão atados os peixes, opõe-se à curva superior do prato, enquanto que os pés, calçados com tamancos encurvados, e parte inferior do vestuário, curvam para formar uma linha paralela ao bordo inferior. A composição é contida por moldura circular formada por filete e fita segmentados a preto e castanho-mel. Este prato é um exemplo raro em que a assinatura do artista Géo Condé (1891-1980), no caso o seu monograma «GC», se integra na decoração, como se um dos padrões geométricos tivesse fugido da decoração do traje. No fundo da base, carimbos a verde, «K e G / Lunéville / FRANCE» e algo ilegível. Inscrito na pasta, o que parece ser umas lunetas e «B».
Data: c. 1930
Diâm: 32,2 cm


A personagem resultará de uma interpretação livre de uma estampa do Extremo-Oriente. A composição gráfica da figura, minuciosamente elaborada, implicou a utilização de quatro estampilhas distintas. Apesar de limitada a quatro cores (azul, amarelo, castanho-mel e preto) parece ostentar uma policromia mais diversificada. Tal impressão visual resulta do recorte pormenorizado e também da justaposição repetida das cores.

Parte da presente descrição baseia-se no conteúdo que acompanhava a peça exposta na exposição que o Musée de L’École de Nancy dedicou a Geo Condé (1891-1980), de 18 de Novembro de 1992 a 28 de Fevereiro de 1993.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Tabuleiro art déco para aperitivos - Lunéville – França


Tabuleiro art déco para aperitivos (?) de faiança moldada, tri-compartimentado, com decoração estampilhada e aerografada, policroma. Motivo central de marinheiro ladeado por duas peixeiras. No fundo da base, carimbo estampado verde K & G – Lunéville - France.
Data: c. 1925
Dimensões: Comp. 29,5 cm x 16,5 cm


Mais uma peça de Géo Condé para a Fábrica Keller & Guérin, em Lunéville, na sua inconfundível linguagem estilizada que, de certa maneira, nos recorda alguns trabalhos de Almada Negreiros.
 
Exemplar idêntico integrou a exposição «Art Déco: la céramique de Lorraine, 1919-1939» realizada no Museu de la Faïence de Sarreguemines, de 21 Outubro 2011 a 29 Janeiro 2012.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Caixa art déco aerografada – Carstens-Gräfenroda - Alemanha


 
Caixa (boleira) art déco de faiança moldada e relevada, quadrangular, de cor creme com decoração policroma estampilhada e aerografada simulando “costuras”. A taça, mais larga no bocal e estreitando na base, apresenta quatro faces rectangulares cortadas na diagonal que, na parte superior são lisas e areografadas a laranja, e na inferior são caneladas. O triângulo inferior, canelado e de linhas paralelas transversais à diagonal, recebeu parcialmente pintura a aerógrafo, num tom carmim, que extravasa para o triângulo superior num castanho-esverdeado, remetendo para uma ilusão óptica de grandes costuras. A tampa, quadrada e plana, é cortada nas diagonais por estampilha aerografada a laranja sobre as quais recebeu “costuras” idênticas às da taça. Ao centro, pega esférica a laranja. Assenta sobre pé saliente num tom carmim mais escuro. No fundo da base carimbo preto, em forma de escudo, com a inscrição «Carstens» e «C G» sobrepujado por «Gräfenroda». Carimbos igualmente a preto com «D. 1700», «22», «C» e «.U (?) 5»
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. c. 11 cm x larg. 13,3 cm
 

A grande diferença entre a presente caixa e a sua congénere portuguesa, que ontem postámos, é a forma da tampa que neste caso é plana e com pega esférica. Todavia, as diagonais da decoração da tampa deste exemplar germânico remetem para a forma piramidal da solução portuguesa.

Embora o efeito plástico final seja distinto em ambas as peças não deixa de ser interessante notar que, em nossa opinião, nas duas o efeito óptico obtido remete sempre para o têxtil. No caso da caixa alemã é como se a pintura a aerógrafo simulasse grandes costuras num tecido grosso como lona.
 

Dada a ausência de criativos na área do design nas indústrias cerâmicas em Portugal antes da década de 50 do século XX dificilmente seria a Alemanha a copiar um modelo português pelo que foi a forma desta caixa que levou à concepção da peça da Lusitânia-Coimbra que, por sua vez, também será mais tardia.

A cor laranja que tão frequentemente vemos em peças até à década de 1960, e que já referimos como sendo a cor art déco por excelência, provém de um esmalte cerâmico de urânico. Este minério e seus compostos “coloridos” foi muito utilizado em esmaltes cerâmicos para a mencionada cor laranja, mas também para certos tipos de amarelo e preto, por exemplo, e para obter vidros de cor verde-maçã.
 

sábado, 7 de junho de 2014

Taça (fruteira) modernista em forma de folha lanceolada – Carstens Uffrecht - Alemanha


Taça (fruteira) de cerâmica moldada, em forma de folha lanceolada simétrica e dobrada a eixo, vidrada a creme-mate com decoração de escorridos, aplicados a aerógrafo, cor-de-laranja forte, cujas duas metades apresentam recortes laterais triangulares delimitados externamente pelas pegas salientes, de secção redonda, a castanho. A taça repousa sobre base saliente, mais pequena, com a forma invertida da taça. No fundo da base carimbo preto triangular da Carstens Uffrecht, sobrepujando «dek. 6» e, por cima, «form 414».
Data: c. 1930
Dimensões: Comp. 26 cm x larg. 18,5 cm x alt. c. 8 cm
 


A aplicação controlada do esmalte a aerógrafo, formando escorridos aparentemente aleatórios, foi particularmente corrente na unidade fabril da Carstens Uffrecht na produção art déco de vertente modernista bauhausiana. As peças produzidas com este tipo de técnica decorativa acabam por se individualizar subtilmente entre si, embora quando vistas em conjunto assumam uma leitura de grande homogeneidade e se entenda a matriz da decoração. Daí este ser o decor nº 6 que foi aplicado a diferentes formas.
 

Não foi só Portugal que copiou modelos estrangeiros, com destaque para a influência alemã. O Reino Unido fez a mesma coisa, como se pode constatar na presente peça cujo modelo, a partir de finais do anos 30, vai ser produzido pela Crown Devon (o exemplar ilustrado apresenta a marca utilizada a partir de 1939). E não temos a menor dúvida que se trata de cópia de modelo alemão, não só pela datação tardia como a Alemanha foi, até à ascensão do nazismo, o grande centro produtor e, sobretudo, criador da Europa. Verdadeiro laboratório, onde a inventiva e o experimentalismo, tanto nas formas como nas decorações, levaram à efervescência criativa que nesse país se viveu durante a República de Weimar. Queimaram-se etapas como em mais nenhum outro parece ter acontecido, sempre em permanente pesquisa, numa incessante busca, quase esquizofrénica, na criação artística a todos os níveis, dos objectos utilitários às chamadas artes maiores.
 


A introdução do gosto art déco e do design modernista, apesar do espalhafato editorial inglês sobre a produção nacional no período, é tardia. Em Paris, em 1925, o Reino Unido apresentou um dos pavilhões mais conservadores, para não dizer reacionários, de toda a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas. De facto, só na década de 30 o novo gosto aí se implanta e adquire uma certa consistência.

sábado, 19 de abril de 2014

Base para bolos art déco Max Roesler - Alemanha


Placa circular de faiança moldada (base para bolos), de bordo ligeiramente sobrelevado, com decoração geométrica estampilhada e aerografada. Bordo aerografado a azul em esfumado. No fundo da base, carimbo verde «brasão com rosa», da manufactura Max Roesler, sobrepujando «25» (carimbo usado de 1933 a 1941). Inscrito na pasta, no rebordo lateral, 6525/31.
Data: 1935-37
Dimensões: Ø c. 32,5 cm

Forma nº 6525, cuja composição dentro do abstracionismo geométrico, remete para as influências de Kandinsky e do Suprematismo russo, com o desenho estampilhado a aerógrafo ora bem delimitado pelo recorte da estampilha, nas formas circulares e nos três segmentos de recta amarelos, ora esfumando-se num dos lados nos demais elementos, caso do segmento de recta azul que a secciona a eixo e da forma em S contraponto dos semicírculos apostos.

A marca que ostenta, o "brasão com rosa" sobrepujado por número, sob vidrado em verde-azeitona, é utilizada de 1933 a 1941. A numeração que acompanha este carimbo começa com 11, e atinge, em 1935, o número 20. Em 1937 chega ao 33, sendo o número mais alto registrado o 48. Esta numeração permite, assim, a classificação temporal das peças, e daí a datarmos entre 1935-37. 


Ora esta decoração abstracta levanta-nos algumas questões devido à sua datação tardia, visto ser demasiado vanguardista para o novo gosto oficial dominante, que a partir de 1933 vai reprimir a estética que caracterizou a República de Weimar, e daí, por antítese, ser a nossa escolha para iniciar a amostragem de outras criações que possuímos da empresa. É que se deve a Wolfgang Kreidl (Dresden, 1906 - Wilhelmsburg 1972) a introdução da decoração a aerógrafo na unidade fabril da Max Roesler em Rodach. A decoração aerografada, então em moda em muitas fábricas de cerâmica alemãs, especialmente Waechtersbach, Grünstadt e as fábricas do Grupo Carsten, levou Kreidl a ajustar-se às novas tendências.
Embora a decoração da peça de hoje não seja, em princípio, da sua autoria - outras suas hão-de ser aqui postadas – é herdeira do seu magistério.

Tendo assumido em 1929 a gestão técnica do departamento de Darmstadt (que tinha um caráter mais experimental), após o encerramento deste, passa, em 1931, ao departamento de modelagem da unidade de Rodach, sendo também da sua responsabilidade a elaboração das decorações estampilhadas. Em 1933, casa com Hilde Stade, que viria a morrer no campo de concentração de Theresienstadt. Em Abril de 1934, abandona Rodach e foge para Viena. Em 1938 retorna à Alemanha com documentos falsos e assume a gestão técnica da fábrica de cerâmica "Bergschmied" em Bad Schmiedeberg. Sobreviveu ao regime nazi e retorna em 1947 à Áustria aí morrendo em 1972.

Quanto à fábrica propriamente dita, a sua designação provém de Max Roesler (ou Rösler) (1840-1922), fundador da Porzellan und Feinsteingutfabrik Max Roesler A.G., filho dos actores Otto e Tina Roesler. A fábrica localizava-se em Rodach, na região de Coburgo que hoje está integrada na Baviera.

O registo comercial da companhia data oficialmente de 1894 tendo como objectivo o fabrico, decoração e venda de porcelana e faiança fina. O símbolo escolhido para a marca foi a rosa, remetendo para o nome da família. No ano de 1900 a firma já produzia cerca de 1000 criações próprias que tinha registado.

Após as mortes inesperadas dos seus dois filhos – Max, em 1897, e Heinz, em 1909, – e não tendo sucessores, Roesler decidiu, em 1910, criar uma corporação em que apenas os seus amigos pessoais e os funcionários se pudessem tornar accionistas. Cada acção tinha um valor nominal de 1000 marcos e, no caso dos trabalhadores que não tivessem dinheiro suficiente, podiam associar-se dois a dois para comprar uma acção em conjunto. Estatutariamente 25% dos lucros líquidos seriam divididos pelos funcionários.

Com o eclodir da Grande Guerra, em 1914, a produção foi interrompida, voltando, no entanto, a recomeçar parcialmente no ano seguinte. Metade dos trabalhadores tinham sido chamados ao serviço militar. As dificuldades subsequentes ao fim do conflito levaram Max Roesler em 1919 a vender as suas acções a uma entidade bancária e a retirar-se. No ano seguinte Roesler recebeu um doutoramento honoris causa em Munique, vindo a morrer em 1922.

Pouco tempo depois já a fábrica tinha voltado à sua capacidade máxima de produção. Em 1923 os novos proprietários compraram outra fábrica de cerâmica em Darmstadt e, após uma profunda reconversão reabriram a empresa com a designação de Porzellan und Feinsteingutfabrik Max Roesler AG, Werk Darmstadt. Em 1931, como consequência do colapso do mercado em 1929, a unidade de Darmstadt foi encerrada.

Nunca tendo recuperado totalmente, a fábrica de Rodach, foi colocada à venda em 1938 e, após um pesado projecto de “arianização”, foi adquirida pela Siemens que a vai utilizar como subsidiária na produção de isoladores. Em 1943 fundiu-se com a Siemens.

No pós Segunda Guerra Mundial, a Max Roesler ainda produziu faiança para satisfazer as necessidades locais, tendo parado definitivamente em 1956. No ano seguinte foi comprada por uma empresa francesa, passando a produzir sistemas de ar condicionado para automóveis.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Base para bolos art déco Theodor Paetsch - Alemanha


Base circular de faiança branca de bordo saliente e com duas pegas laterais trilobadas, assente sobre anel alto parcialmente canelado. Decoração estampilhada e aerografada a duas cores, a castanho e a azul-claro em esfumados, formando composição abstracta de motivos geométricos de círculos e ângulos, que tanto surgem isolados, como sobrepostos e desacertados. Bordo e pegas, aerografados no tom castanho. No fundo da base, carimbo castanho de círculo com igreja de duas torres e, inscrito na pasta, 30. Colado, resto de selo de época.
Data: c. 1930
Dimensões: Ø 35,5 cm (c/pegas) x alt. 4 cm

 
A composição, dinâmica, transmite um sentido de profundidade em direcção ao vazio, acentuado pelas formas de cor azul-claro desmaiado. São evidentes as ligações às estéticas vanguardistas da época que tão bem caracterizam a produção da República de Weimar no campo das artes decorativas e que, por esta via, integram uma das vertentes do Art Déco mais modernista. Em nós (e, infelizmente, também em muitos outros colecionadores…) estas cerâmicas utilitárias, de uso corrente, quer pelas formas, quer pelas decorações, simples na técnica e grandes no efeito, exercem um fascínio que não podemos negar.

Dada a altura, este tipo de base de cozinha, para bolos e tartes, é designada em língua alemã por tortentrommel (tambor para bolos), distinguindo-a, assim, das menos espessas tortenplatte, embora para efeitos práticos essa diferenciação pouco adiante relativamente à função pelo que em termos de «etiqueta», enquanto palavra-chave, optámos pela segunda apenas.

Apesar de não ser a primeira vez que postamos peças da fábrica Theodor Paetsch, ainda não tínhamos escrito sobre ela. Chegou hoje a vez de o fazermos.

A Steingutfabrik (fábrica de cerâmica) WE Paetsch foi fundada em 1840 por Wilhelm Eduard Paetsch (1796 -1859) em Frankfurt an der Oder (Francoforte no Oder). Em 1863 passa apenas a Steingutfabrik Paetsch, em resultado de uma sociedade criada pelo filho do fundador, Georg Theodor Paetsch (1833-1890) com Gustav Leopold Selle.
Junto a excelentes vias de transporte – as instalações davam directamente para o rio Oder - a fábrica especializou-se na produção em massa de loiça utilitária para cozinha e mesa e loiça sanitária. Tendo conhecido uma rápida expansão, a partir dos finais do século XIX, vai produzir artigos de baixo custo decorados a estampilha e a aerógrafo de grande difusão nacional e internacional.
Em 1890, após a morte de Georg Theodor Paetsch, seu filho Theodor Friedrich Eduard Paetsch (1867-1939) terá assumido a administração da empresa, sucedendo-lhe no cargo, em 1930, seus filhos Theodor Wilhelm Georg Paetsch (1892-?) e Wilhelm Walter Max Paetsch (1893-1970). Tinha a fábrica já a denominação por que é mais conhecida.
De 1920 a 1942 expôs regularmente as suas colecções na Feira de Leipzig No entanto em 1933 abandonou as formas e decorações vanguardistas, onde predominavam motivos geométricos - quadrados, ângulos, pontos e bandas - que a caracterizaram e de que a base para bolos apresentada é exemplar. Nesse ano passou a uma produção conservadora, tanto ao nível das formas como das decorações, que passaram a apresentar motivos campestres e vegetalistas por imposição do novo poder nacional-socialista.
Entre 1945 e 1953, data da nacionalização pelas autoridades comunistas, terá como administradora Irmgard Paetsch (1898-1988) mulher de Wilhelm Walter. A fábrica encerrou em 1955.