quarta-feira, 29 de abril de 2015

Jarra art déco com asas – Vista Alegre


Jarra art déco de porcelana moldada de bojo esférico achatado e colo alto e estreito com duas asas. Sobre a porcelana vidrada branca, em reserva junto ao bocal e em parte da decoração, foi aplicado, a aerógrafo, um fundo laranja-forte, que recebeu uma composição raiada a negro e cachos de flores estilizadas, formadas por círculos concêntricos que cingem a zona de estrangulamento pendendo sobre o bojo. Bocal com pinceladas irregulares, descendentes, a ouro, sobre branco. No fundo da base carimbo verde V.A. Portugal. Pintado à mão, a preto, «26» e inscrito na pasta, também à mão, 14-51 (?).
Data: c. 1930 - Marca nº 31 (1924-1947)
Dimensões: Alt. 12 cm x Ø 12 cm




Trata-se de um modelo da fábrica de porcelana da Vista Alegre, de 1921, próximo de formas estrangeiras ainda Arte Nova, com uma decoração de flores circulares concêntricas que remetem para os círculos órficos de Robert e Sónia Delaunay, de cores fortes e contrastantes, patente em pinturas como «A Portuguesa» ou «Mercado do Minho», e igualmente presentes em obras de Eduardo Viana e mesmo de Amadeo de Sousa-Cardoso.


Flores próximas desta tipologia, embora numa paleta cromática menos carregada, aparecem-nos em outras peças da Vista Alegre, caso da jarra ilustrada em 28 de Março de 2013, que como tivemos mais tarde oportunidade de referir encontram o seu referencial em obras de E. Margerie, editadas por P. Bastard (ver jarra postada em 20 Agosto do mesmo ano). Muito provavelmente estaremos, uma vez mais, perante uma decoração, se não importada, pelo menos inspirada em motivos internacionais, sobretudo franceses.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Escultura “Carpa” - Aleluia - Aveiro



Peça de faiança moldada, em forma de peixe (carpa) saltando das águas que lhe servem de pé, de cor creme com aguadas a castanho e azul, cores que acentuam as áreas relevadas. No fundo da base, pintado à mão, a azul, «885» «Aleluia».
Data: c. 1945 - 55 [ver comentário de CMP]
Dimensões: Alt. 15,5cm x Comp. 14 cm x larg. 9,5 cm



Forma claramente inspirada nas célebres «carpas de Tóquio», motivo frequente em muitos dos tecidos, gravuras, bronzes, cerâmicas japoneses que começaram a chegar à Europa a partir do último quartel do século XIX.


O tema das carpas, na sua agitação frenética, saltando e nadando contra a corrente, agradou a muitos artistas ocidentais. O japonismo de então, que tanto influenciou a Arte Nova europeia e de que a «Maison Bing» foi a grande divulgadora, vai prolongar-se no tempo, adaptando-se a novas estéticas.

Mostramos alguns exemplos desta permanência e evolução, da Arte Nova da jarra de vidro de François-Eugène Rousseau, passando pela cerâmica de Alfred Renoleau ou, a já ao gosto art déco, de E. Gazan e, finalmente, esta versão barroquizante da Aleluia-Aveiro.




domingo, 12 de abril de 2015

Jarra art déco gomada helicoidal - Rambervillers Cythère – França


Jarra de grés flammé, de forma tendencialmente esférica, relevada em 16 “gomos” dispostos helicoidalmente. Sobre a cor azul escorridos esverdeados e acastanhados, irisada e com lustre. No fundo da base, inscritos na pasta, carimbos «Cythère» e, em cartela lanceolada, «Unis France», assim como «5»(?) e «U»(?) (marcas do artista?).
Data: c. 1930 (marca 1920 a 1931)
Dimensões: Alt. 19 cm x Ø c. 21 cm


No inventário de 1931, posto em catálogo no mesmo ano, informa-nos que se trata do modelo 660, referenciado na página 3, com uma altura de 215 mm.

Esta jarra integra-se dentro da mesma linha da peça que postámos em 13 de novembro de 2013, igualmente de esmalte azul de reflexos metálicos à base de óxido de cobalto, dentro da linha renovada art déco da Société de Rambervillers.

São peças curiosas estas da Cythère. As suas superfícies têm o aspecto de desperdícios industriais derramados sobre água. Como quando entramos numa oficina de carros e à tona dos líquidos que alastram pelo chão só vemos os reflexos de brilhos oleosos e irisações várias do derrame de gasolina ou gasóleo. São a cristalização poética e bela da poluição industrial, de uma ideia de progresso que se veio a revelar catastrófica para o ambiente. Felizmente aqui inócua e reduzida a um mero objecto estético.


domingo, 5 de abril de 2015

Jarra esférica da série “Solbjerg” – Aluminia (Dinamarca)


Mais uma peça da série “Solbjerg”, criada por Nils Thorsson, na década de 1930, para a Aluminia, do grupo Royal Copenhagen. Tal com já escrevemos (ver post de 28 de Novembro de 2011), a modernidade e o sucesso do design da série levaram a que a mesma fosse mantida em produção de 1935 a 1969. A jarra de hoje, embora art déco no estilo e data de concepção, é da fornada de 1961, dado apresentar um «u» sob o r de Denmark.


Jarra esférica de faiança moldada com decoração incisa, de motivos geométricos estilizados que remetem para uma representação vegetalista, ao gosto art déco dinamarquês, recoberta uniformemente com esmalte translúcido, cinzento-creme acetinado, conhecido por vellum, como se de uma velatura se tratasse, realçando e adoçando o traço subjacente. Interior castanho-escuro. Toda a superfície é suavemente craquelé. No fundo da base carimbo castanho com A, triplamente traçado (de Aluminia), Denmark, e «u» sob o r. Carimbo a azul 1567 (Decor), número que aparece igualmente inscrito na pasta.
Data: c. 1935
Dimensões: Alt. c. 11 cm x Ø c. 12 cm


sexta-feira, 3 de abril de 2015

Escultura art déco «Adagio» – Hutschenreuther - Alemanha


Escultura art déco de porcelana moldada, de cor branca com apontamentos a ouro na base. Representa um homem, sentado sobre um cepo de árvore, que toca violino e uma mulher igualmente sentada, a um nível inferior, no solo. O conjunto assenta sobre uma base oval escalonada em três níveis com realces a ouro. Atrás da figura masculina, inscrito na pasta, C. Werner. No fundo da base, carimbo verde com leão «Hutschenreuther, Selb Bavaria, Abteilung für Kunst»
Data: c. 1927 (carimbo 1920-1938)
Dimensões: Alt. 21 x comp. 23 x larg. 14,5 cm


Trata-se do modelo nº 0906/1 do catálogo de 1927, pág. 33, da fábrica alemã Hutschenreuther, da autoria de Carl Werner, intitulada «Adagio».

Versão art déco de uma cena galante setecentista, com ecos das porcelanas de Meissen de então, a peça escultórica é de uma fragilidade extrema. Elegantes e mundanas, as personagens parecem envergar trajes de cena. A teatralidade da representação é realçada pela depuração e pelo amaneiramento das formas, estilizadas e tendencialmente geometrizadas, a que as mãos, de enfática modelação, acrescem ainda maior intensidade ao movimento barroco de toda a composição. Diríamos estar perante uma peça que é um meio-termo entre duas expressões escultóricas e estéticas do Art Déco germânico dos anos 20: o neo-barroco extremado de Paul Scheurich (1883–1945), para Meissen e KPM, e a estilização moderna de Gerhard Schliepstein (1886-1963), para Rosenthal.

O ritmo lento da música, já que se trata de um adágio, acentua a delicadeza desta cena intimista, em que à concentração do músico correspondem os gestos graciosos da mulher que provavelmente canta.


Carl Werner (1895-?) nasceu em Rudolstadt, na Turíngia. Trabalhou sob a orientação de seu pai, entre 1910-1914, na fábrica de porcelana de Aeltesten Volkstedter. Depois da Primeira Guerra Mundial estudou na Kunst-Hochschule de Weimar. De 1922 a 1960 trabalhou como escultor e director técnico do departamento de arte da fábrica de porcelana Lorenz Hutschenreuther.

Especialista no movimento e na expressividade do corpo humano, o seu talento, enquanto escultor, muito contribuiu para o reconhecimento internacional da produção artística da fábrica.


Comprámo-la há alguns anos em Berlim, na Suarezstrasse, artéria onde se concentram antiquários de vários géneros. E não hesitámos entre uma versão monocroma branca, que encontrámos numa das lojas, e esta, com subtis apontamentos a ouro, que descobrimos noutro estabelecimento próximo.

Transportá-la para Portugal é que se revelou complicado dada a fragilidade da peça. Mas são estes pequenos episódios que tornam as férias ainda mais interessantes.