domingo, 18 de dezembro de 2011

Painel de azulejos aerografados de padrão geométrico – Sacavém



Painel de revestimento, composto por módulos de 2x2 azulejos, de pó-de-pedra, com decoração aerografada, monocromática em tons de azul-cinza, constituída pela sobreposição de figuras geométricas (círculos e quadrados) em dégradé. No verso estriado, em relevo, Sacavém e (…?)
Data: c. 1930
Dimensões: 15,5 cm x 15,5 cm

Cada módulo de 4 azulejos permite três combinações distintas. Como possuíamos apenas oito azulejos, decidimos montá-los, sobre acrílico (por isso não conseguimos ler a totalidade do verso) em duas dessas combinações, dado o efeito óptico ser totalmente distinto.
Este tipo de azulejos foi pouco utilizado no revestimento azulejar de fachadas, sobretudo em Lisboa, sendo mais comum nos átrios das entradas dos edifícios. Esta situação prende-se com uma suposta postura camarária que, por volta de 1920, proibiu a aplicação de azulejos em fachadas. A capital só voltaria a ver um edifício revestido a azulejo em 1949.


A influência alemã neste tipo de produção a aerógrafo, com motivos geométricos, na produção da Fábrica de Loiça de Sacavém é mais que evidente. Haveremos de mostrar exemplos tanto desta fábrica, como de outras portuguesas, mas também, e sobretudo, germânicas.
A ela não será alheia a presença do técnico Joseph Clemens, que entrou ao serviço da fábrica de Sacavém, em 15 de Setembro de 1926, para se encarregar do recorte das chapas metálicas, em estanho e zinco, utilizadas para a decoração a aerógrafo. Este técnico, que aí trabalhou até 1971, era chamado pelos trabalhadores «José Alemão». Para mais detalhes ver MAFLS.

 A fotografia e o cinema foram fundamentais para a estética do século XX. As suas potencialidades plásticas, sobretudo ao possibilitar jogar com a sobreposição de imagens, são infinitas. A electricidade dava luz à noite e nada haveria de ser como antes.
A contaminação entre artes é notória e indissolúvel. No início do novo século, liberta da forma por Vassily Kandinsky, a cor adquire outras possibilidades artísticas e estéticas, os diferentes planos dados em simultâneo pelo cubismo de Pablo Picasso, o estilhaçar do figurativismo dado pela noção de movimento presente no futurismo, a emotividade do expressionismo ou a geometria rítmica do construtivismo, só para dar uma pincelada apressada num mundo novo que, nascido com o novo século, a estrutura criada pelo arquitecto Walter Gropius, a Bauhaus (1919-1933), haveria de tentar unificar enquanto arte total, da arquitectura – que tinha o primado – até ao objecto utilitário.
O acto de construir destinava-se a eliminar as diferenças sociais e a unir o povo com o artista. A síntese de ideias consumada por Gropius na Bauhaus, é, em si mesma, um acto criativo. Daí a sua necessidade de reunir, enquanto professores na escola da Bauhaus, personalidades famosas mesmo que as suas ideias vanguardistas ainda não fossem compreendidas ao tempo. Nela se integrarão, como docentes, e só a título de exemplo, Kandinsky, Lászlo Moholy-Nagy, ou Paul Klee.
A repetição e sobreposição de figuras, criando efeitos ópticos, foram exploradas nas experiências de Fernand Léger no cinema, com o seu Ballet Mecanique (1924), e de Man Ray, tanto na fotografia como no cinema, que Busby Berkeley, na década seguinte haveria de vulgarizar na cinematografia comercial de Hollywood. O cinema será, aliás, o grande veículo de difusão da estética Art Déco um pouco por todo o mundo. A este universo irão beber os artistas da Op e da Pop Art nos anos 60 e 70 do século XX.

4 comentários:

Maria Andrade disse...

São belíssimos estes efeitos conseguidos pela decoração a aerógrafo. Os dois conjuntos de 4 azulejos só por si já dão uma ideia do resultado de duas conjugações, mas depois a repetição em baixo mostra bem o impacto visual de uma grande superfície assim revestida.
Tenho 4 azulejos de Sacavém da mesma época , mas não tão elaborados. Têm apenas duas cores contrastantes, vermelho e beige, divididas pela diagonal do quadrado.
Também adorei ler toda a informação que aqui disponibilizam e fiquei a saber, entre várias outras coisas, que se fez sentir a influência alemã nesta produção da Fábrica de Sacavém.
Bjs.

AM-JMV disse...

Ao contrário do que geralmente se afirma, sempre a França ou a Inglaterra, não imagina a importância da influência da Alemanha e dos países da Europa Central. E não estamos apenas a falar de cerâmica.
Bjs

Anónimo disse...

Olá
Por gentileza, poderia me informar de onde vem suas referências sobre a azulejo aerografado e a influência da Alemanha sobre Sacavém?
Grata,

AM-JMV disse...

Cara anónima,
Se ler com atenção os sucessivos posts relativos a Sacavém. e não só, terá uma ideia mais aproximada do que estamos a escrever quanto às influências alemãs na cerâmica portuguesa.
Cumprimentos