domingo, 11 de dezembro de 2011

Jarra colo de cisne Aleluia-Aveiro





Jarra de faiança moldada, pintada à mão, cuja torção da forma, que sugere um cisne muito estilizado, cria uma jarra dupla, com duas bocas, uma redonda, baixa, e outra quadrangular no topo de um alto e curvilíneo gargalo em pescoço de cisne. Duas cores e texturas distintas dividem ao meio esta jarra. A metade interna é de um uniforme cor-de-laranja estridente, pouco brilhante, que contrasta dramaticamente com o madrepérola do lado externo, muito liso e brilhante (lustrina) que é pintalgado por espessas gotas cor-de-laranja que conferem uma textura outra. O bocal superior é vidrado interiormente por madrepérola acinzentado, sendo o outro amarelo pálido, ambos igualmente brilhantes. Na base, carimbos dourados Aleluia-Aveiro e Fabricado Portugal, inscrito num rectângulo, e, pintado à mão, também a ouro, 752 B.
Data: c. 1955
Dimensões: alt. c. 33 cm x larg. c. 20 cm

O que mais nos agrada na produção cerâmica Aleluia-Aveiro de meados dos anos 50, para além da vertente escultórica das suas formas, como é o caso deste exemplar, é o optimismo que lhe está subjacente. Quer pelos modelos, quer pelas composições cromáticas, elas dão-nos uma dimensão lúdica, mesmo irreverente, o que, quanto a nós, constitui a sua mais-valia por contraponto às outras concorrentes, sobretudo em relação à SECLA, a que já aqui aludimos, mais “sérias”.

Claro que em muitas das peças da Aleluia-Aveiro são reconhecíveis as fontes de inspiração externas do design internacional coetâneo, e uma delas é, sem dúvida, a produção italiana do pós-guerra, de que os exemplares que Nino Strada (1904-1968) criou, entre 1950 e 1955, para a Societa Anonima Maioliche Deruta, dão testemunho, como muito bem se salientou no blogue CMP (ver: http://ceramicamodernistaemportugal.blogspot.com/2011/12/pratos-de-parede-e-jarra-raul-da.html). Mas, como sempre soube fazer, a Aleluia-Aveiro interpretou-as e criou algo inconfundível e único.
Ao horror nuclear do pós-guerra contrapunha-se um desejo de evasão, um optimismo generalizado e a promessa de uma nova era de paz e prosperidade. A conquista do espaço anunciava-se promissora, e 50 anos depois haveríamos de habitar a Lua e Marte. A ficção científica na literatura, no cinema e na banda desenhada, criava uma antevisão do futuro onde, e apesar de algumas propostas mais catastrofistas, era o progresso civilizacional que se destacava (adivinhava) no horizonte. Também a arquitectura e as artes decorativas seguiam, pelo menos em parte, o mesmo percurso criador, e mesmo num país que vivia os ”anos de chumbo” de uma ditadura feroz, havia um espaço de liberdade criativa, embora reduzido e destinado a uma pequena elite sedenta de novidade e de seguir as tendências internacionais. E nem o fantasma da Guerra Fria fez esfriar o entusiasmo que haveria de explodir com todas as barreiras na segunda metade da década seguinte.

2 comentários:

Maria Andrade disse...

Mais uma peça extraordinariamente atraente da vossa coleção, algo que me senti tentada a dizer de várias já aqui mostradas e particularmente destas três últimas.
Para minha casa escolheria a jarra azul turquesa :), mas esta penso que mostra a Fábrica Aleluia no seu melhor, ao produzir uma pequena escultura, vibrante de cor e de jovialidade.
O texto também me agradou muito, enquadrando este tipo de produção no ambiente histórico que constituiu o seu pano de fundo, lá fora e cá dentro...
Muito bom mesmo!
Abraços

AM-JMV disse...

Olá Maria,
Que bom que tenha gostado. Só podemos agradecer, mais uma vez, a sua presença, atenção e crítica. Esperamos postar mais algumas peças que lhe fiquem bem em casa. para ganharmos, visto que estamos empatados. :)
Beijinhos