terça-feira, 15 de novembro de 2011

Grupo escultórico da Hutschenreuther – Putto e Carneiro




Ao contrário do que é norma fazermos, enquanto coleccionadores preferenciais de cerâmica portuguesa, o exemplar de hoje é o modelo alemão, em porcelana, e não a sua interpretação nacional. Perceberão porquê …

Trata-se de um grupo escultórico de porcelana moldada da autoria de Karl Tutter (1883 – 1969), da manufactura de porcelanas Hutschenreuther, modelo nº 904 do catálogo de 1927 (pág. 34), de cor branca com realces a ouro, representando putto dominando carneiro. Em oposição a estas duas figuras, barroquizantes, contrapõe-se a vegetação estilizada ao gosto art déco. Assinado no plinto K. TUTTER. Carimbo a verde estampado na base:'Hutschenreuther', 'Selb Bavaria'; ‘Kunstabteilung’,  e a  ouro, pintado à mão,  o nº 18.
Data: 1927
Dimensões: alt 25 cm x larg. 27,5 cm,

Em 1922, o autor começa a trabalhar como escultor, ao lado de Carl Werner, na fábrica Lorenz Hutschenreuther, onde ficou quase 40 anos, e para a qual contribuiu com grande quantidade de modelos, tendo adquirido reconhecimento mundial.
A variedade das suas criações vai desde os modelos mais clássicos, com particular ênfase no neo-barroco e neo-rococó, sendo dele algumas das criações programáticas desta vertente alemã da art déco, até à mais rigorosa estilização dentro deste mesmo estilo. Teremos oportunidade de voltar a falar das suas criações dado possuirmos um pequeno conjunto de peças da sua autoria.

Ora este exemplar vai conhecer uma réplica nacional feita pela Estatuária Coimbra, em data incerta, mas seguramente tardia, no âmbito de uma importação e banalização de modelos decorativos estrangeiros, com destaque para a produção alemã. Agradecemos ao antiquário Arca d’Arte (Mercado Sta Clara – Feira da Ladra) o ter-nos permitido fotografar a peça que aqui apresentamos.




A Estatuária Coimbra (ou talvez com a designação Estatuária Artística de Coimbra) também reproduziu obras escultóricas, de originais de bronze, caso de uma Diana, de c. 1925, do célebre escultor norte-americano Paul Manship (1885-1966), de que conhecemos um exemplar mas do qual, infelizmente, não possuímos imagem, pelo que reproduzimos apenas uma imagem do original.



9 comentários:

MAFLS disse...

Boa noite.

Grato pela indicação bibliográfica, actualizada, sobre Le Jan.

A Estatuária Artística de Coimbra, posteriormente conhecida como Estaco, foi fundada em 1943.

O MAFLS tem agendado para 17 de Dezembro um pequeno artigo sobre a mesma.

Saudações!

AM-JMV disse...

Caro MAFLS,
Mais uma vez, muito obrigado pela colaboração. É na partilha que, de facto, se fará alguma luz, esperamos nós, que temos sempre muitas dúvidas sobre estes assuntos da produção cerâmica, particularmente em Portugal. Ainda para mais, quando a nós nos interessa, sobretudo, não uma produção de continuidade mas antes uma produção de ruptura, por assim dizer. Isto é, aquilo que marcou a transição para a modernidade, quer em termos cronológicos (que, como bem sabemos, por aqui andam sempre, salvo raras excepções, desfasados em relação às suas congéneres europeias), quer em termos formais e decorativos. E como o período entre as duas Grandes Guerras é o período de todas as mudanças, e por uma questão de gosto pessoal, foi nele que apostámos, em termos estilísticos. As fábricas, em si mesmo, só nos interessam para uma contextualização da sua produção e ficamos muito aliviados quando encontramos estudiosos nessas matérias como é o seu caso. O seu blogue é para nós uma referência.
Cumprimentos

Maria Andrade disse...

Boa noite e parabéns pelo blogue.
A informação de que disponho é que a Estatuária Artística de Coimbra foi fundada em 1926 por José Augusto Frutuoso, na Rua do Arnado, nº47 e em 1943 transferida para a localidade das Lajes, às portas de Coimbra. Mais tarde, não sei precisar em que data, mais uma transferência para a zona da Pedrulha tendo aí ficado conhecida como Cerâmicas Estaco.
Vou ser uma atenta seguidora do blogue.
Cumprimentos

AM-JMV disse...

Muito obrigado pelos esclarecimentos. De facto, a informação de que dispomos é que José Augusto Frutuoso fundou a fábrica Estatuária Artística de Coimbra em 1926, e que, em 1946, teria alugado uma antiga olaria, originalmente mandada fazer pelo Marquês de Pombal, onde inicia a produção de louça artística com a chamada fábrica das Lajes. A questão que se nos coloca é se existiriam as duas fábricas ou se ficou reduzida a uma única? Porque essa confirmação é fundamental para nos auxiliar na datação de outras peças que aqui iremos mostrar.
Cumprimentos

AM-JMV disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
http://mfls.blogs.sapo.pt/ disse...

Boa tarde.

A fonte que me serve de referência é o Diário do Governo.

Aí se regista ter sido a Estatuária Artística estabelecida em 1943, com fábrica na Rua do Arnado, número 147, e armazém na Rua Dr. Rosa Falcão, número 28.


Aí se regista também que, à data da fundação, o capital social se encontrava distribuído da seguinte forma: José Augusto Frutuoso [Gaspar de Matos], 60.000$00, Carlos Frutuoso [Gaspar de Matos], 12.000$00, e Artur dos Santos, 8.000$00.

Saudações.

MAFLS

AM-JMV disse...

Muito obrigado MAFLS por mais esta importante achega.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Boa noite,

Ainda a propósito de José Augusto Frutuoso, tenho duas jarras com a marca FRUCTUOSO COIMBRA. Serão da autoria do fundador da Estatuária? Estava convencido que sim, mas ao ler os vossos comentários reparo que ao nome falta o "c".
Parabéns ao Blog e obrigado
Hugo

AM-JMV disse...

Boa noite Hugo,
Obrigado pelo post. Também haveremos de apresentar por aqui uma jarra Fructuoso Coimbra que nos levanta muitas questões.
Cumprimentos