domingo, 20 de novembro de 2011

Bule, leiteira e açucareiro art déco Sacavém - Formato Coimbra



Na sequência do tête à tête de ontem, um bule do mesmo modelo - formato Coimbra – mas com motivo decorativo nº 672.

Bule de faiança moldada ao gosto art déco da década de 30. Corpo troncocónico, assente sobre pé circular saliente, com tampa. Bico ligeiramente contracurvado. Asa e pega relevada de perfil trapezoidal. Decoração policroma, a laranja carregado e ouro, por técnica de estampilha com pormenores à mão sobre fundo marfim, constituída por 5 linhas concêntricas no corpo e 2 na tampa a laranja. No topo, meio filete encarnado e filete concêntrico dourado. Lista dourada na asa e no bico e lista encarnada e dourada na pega. Bordo da tampa e base contornados a dourado. Carimbo a verde Gilman & Cta, Sacavém, Portugal. Carimbos HJ a preto e 5 a verde.
Data: c. 1935
Dimensões: 14,4 alt x 19,3 larg x 11,8 (diâmetro do bojo)


Leiteira e açucareiro do mesmo formato Coimbra, mas com decoração e cor diversas: um. filete concêntrico dourado enquadrado por 2 filetes desencontrados a azul e ouro de cada lado. Pé contornado a azul, assim como o bordo da asa. Na base, carimbo verde Gilman & Cta, Sacavém. Made in Portugal e, no açucareiro, carimbo azul 759 (?) da decoração.
Dimensões:
Leiteira: alt. c. 7 cm x comp. 9 cm, x larg. 6,4 cm
Açucareiro: alt. 5 cm x c. 8 cm larg. Max.


Coleccionar cerâmica tem destas coisas, umas vezes conseguimos exemplares em excepcional estado de conservação, outras nem tanto assim, mas acabamos por adquiri-los sempre com a esperança de um dia vir a comprar um melhor. No caso dos serviços, por exemplo, nem sempre conseguimos a totalidade das peças, por isso acabamos por ter apenas uma ou outra, como é o caso dos exemplares hoje apresentados. Por vezes acrescentamos mais uma, outras ficamo-nos por um único testemunho. São as leis do acaso. Mas é sempre com prazer renovado que percorremos antiquários, ajuntadores, leilões, feiras de antiguidades e de velharias, cá dentro ou no estrangeiro, a Feira da Ladra, desta cidade e de tantas outras. Depois, há todo o mundo virtual que nos traz tudo isto para dentro de casa, facilitando outro tipo de descoberta e de aquisições. Fazem-se amigos em ambas as situações.
Sempre que viajamos, os souvenirs que trazemos connosco pouco têm de turísticos. Quase sempre são objectos cerâmicos, dos períodos e estilos que nos interessam, da produção desse país, ou de outro, caso a peça nos agrade, mas sempre mais um para as nossas colecções.
Como dizia Marc Guillaume, “conservar é lutar contra o tempo”. Sentimos que em todos os coleccionadores, os que coleccionam por paixão, até mesmo os que compram por questões de prestígio ou de negócio futuro, há um sentimento, chamem-lhe nostálgico, se quiserem, de que, de alguma maneira, dentro das suas possibilidades, estão a salvar os objectos que os fascinam para que as gerações futuras também deles possam usufruir. É um acto cultural, mas também de amor, de partilha.
A história do quotidiano de todas as épocas faz-se graças ao estudo dos objectos que se utilizaram, sumptuários uns, populares outros, todos igualmente importantes independentemente do seu material ou valor monetário intrínseco.
Num mundo que avança a tão grande velocidade em termos tecnológicos – que temos alguma dificuldade em acompanhar –, mas também em termos sociais e políticos, e, paradoxalmente, ou não, o sentimento de que todo um ciclo civilizacional em que vivemos está prestes a acabar, compele-nos a coleccionar para proteger. Conservar. Porque há um plano afectivo, uma referência da memória, um sentimento de posse colectivo em risco.

5 comentários:

Maria Andrade disse...

Caros AM-JMV,
Este vosso texto está primorosamente bem escrito!
Só tenho pena de não o ter escrito eu própria :), já que me revejo em tudo o que aqui é afirmado acerca deste entusiasmo que nos move de tentar preservar e conhecer melhor objetos que nos chegam do passado.
Já o tinha lido quando o publicaram, mas surpreendeu-me de novo! Na altura não comentei talvez por falta de tempo e entretanto meteram-se outras coisas... o costume :)
Voltei cá por acaso, atrás deste modelo Coimbra de Sacavém, para comparar com um bule que tenho desse modelo mas que não reconheci aqui.
Um abraço

AM-JMV disse...

Cara Maria,
Nós, em dado momento acabámos por achar o nosso texto um pouco piroso, mas, enfim, muito sincero. Agradecemos, por isso, a sua benevolência. A necessidade de partilhar foi o que nos levou a criar o blogue, que, às vezes, e por isso mesmo, adquire um tom talvez excessivamente didáctico. Mas não nos arrependemos. :)
A verdade é que frequentemente sentimos "inveja" dos seus textos. :) A Maria escreve muito bem e é sempre um prazer lê-la.
Beijinho

PS: Até achamos que haverá estudantes que agradecerão blogues como os nossos. Cábulas como muitos são ...

Anónimo disse...

Ola
boa tarde tenho uma leiteira e um bule iguais só que em azul com a numeração 672 Sacavém

Enzo Sobocinski disse...

Olá, tenho uma belíssima xícara desta marca, gostaria de mostrar uma foto!
Como faço?
Enzosobocinski@hotmail.com
Brasil

AM-JMV disse...

Caro Enzo,

Pode sempre enviar a fotografia da peça para o e-mail deste blogue.
Obrigado.