quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ampara-livros “Mulher” - Cerâmica Moderna, Lda - Caldas da Rainha




Dois exemplares (infelizmente apenas um de cada) de escultura da autoria de Alberto Morais do Vale (1901-1955), em forma de mulher nua, ao gosto art déco, sentada enigmaticamente num plinto cúbico sobre soco saliente. As faces laterais são decoradas com coruja, em baixo relevo. Um de faiança moldada e relevada vidrada a azul escuro brilhante, assinado “Valle” 931, lateralmente no soco e, inscrito na base, Cerâmica Moderna Lda - Caldas da Rainha. Outro, uma versão não vidrada, ligeiramente maior, posteriormente pintada a ouro velho, o que a desfeia um pouco. Tem a vantagem de, ao não receber os esmaltes, deixar ver claramente os detalhes escultóricos e a assinatura e data impressas no soco. Na base, para além do nome da fábrica e da cidade, tem a data: 1931.
Data: 1931
Dimensões: alt. 24 cm x comp.13 cm x larg. 8,7 cm
Dimensões: alt. 25 cm x 13,7 cm x larg. 9 cm

Apesar do Catálogo da Exposição 50 anos de cerâmica caldense: 1930-1980, de 1990, referir que se trata de dois mochos, estamos em crer que se trata de corujas, o que lhe atribui um sentido distinto, dentro do seu estilo neo-classicizante, já que a coruja é o atributo de Atena e, por extensão, da Sabedoria.
A título de curiosidade, segundo nos contaram, o escultor tinha por hábito retratar o rosto de Greta Garbo em todas as figuras de mulher que esculpia em homenagem à diva que idolatrava. Assim, estaremos perante o retrato de uma personagem real, com atributos próprios de uma divindade.




Não é muito frequente a representação de nus femininos na escultura cerâmica desta época em Portugal. De nus masculinos, não conhecemos nenhum. O que abundam são as imagens folclóricas de personagens tipificadas de cada região (a fadista, geralmente a Severa, a minhota, a nazarena, e por aí fora) no gosto naturalista ainda de Oitocentos veiculado nas artes plásticas nacionais, de que Malhoa será o expoente máximo, e que o escultor também faz.

6 comentários:

Isabel do Valle disse...

Sou neta do autor das peças e tenho estado envolvida na feitura de um livro sobre a sua vida, onde recolho todas as obras a que vou tendo acesso, estarei disponivel para qualquer informação que necessitem sobre Alberto Morais do Valle e agradecia se me pudessem enviar em troca, para o meu email, estas imagens.
isabel do valle contacto, isabeldovalle@gmail.com

Isabel do Valle disse...

Chamo-me Isabel do valle e sou neta do escultor Alberto Morais do Valle e tenho estado envolvida na feitura de um livro onde recolho todas as suas obras bem como história de vida, caso necessitem, disponibilizo-me a dar-vos toda a informaçao que precisem sobre ele, pedindo em troca me enviem as imagens para o meu email
isabeldovalle@gmail.com

AM-JMV disse...

Cara Isabel do Valle,
Teremos todo o gosto em facultar-lhe as imagens das duas versões da peça que possuímos. Caso possua mais informação relacionada com a sua feitura e a, eventual,relação com Greta Garbo, isso seria interessante para nós enquanto coleccionadores que gostam de saber coisas relacionadas com os objectos que possuem. Amanhã tratarei de lhas enviar. A única coisa que pedimos, sff, é que cite a fonte. Obrigado pelo seu interesse e disponíbilidade.

Isabel do Valle disse...

Alberto de Morais Valle nasceu em Belém a 20 de Junho de 1901, por morte de ambos os progenitores, ingressa na Casa Pia onde prossegue os seus estudos até ao Curso de Escultura na Faculdade de Belas Artes em Lisboa, onde se matricula em 1919 tendo como um dos seus professores, Mestre José Simões de Almeida e como colegas inúmeros escultores que se tornariam famosos, entre os quais, Herculano Dias e Leopoldo de Almeida.



Durante alguns anos, lecciona em diversas escolas enquanto produz obra, a mais famosa, a da Águia até à pouco tempo situada sobre a Baía de Cascais, hoje em frente ao Museu.



Em 1930 muda-se para as Caldas da Rainha onde se torna director da escola e segundo se sabe, manteve-se ligado à Fábrica Cerâmica Moderna por cerca de 2 anos, enquanto ao longo de todos esses anos, tenha produzido inúmeras obras que lhe valeram prémios e menções honrosas.

Foi nas Caldas da Rainha que deixou e ainda se encontram, inúmeras obras, o busto de Bocage no café com o mesmo nome, um baixo relevo no pavilhão dos barcos no jardim e imensas peças, que entretanto se perderam de vista.





A sua vida acabaria por levá-lo até Moçambique, onde não apenas como professor mas também como artista se envolveu em incontáveis exposições, contudo, muitas das suas obras, terão sido destruidas pela guerra. Morre na cidade do Porto em 1955.



Em linhas muito gerais é isto que vos posso por ora, dizer sobre o avô, caso considerem serem necessárias mais algumas informações, peçam-me, é mais fácil, o avô deixou muita obra, nao apenas em escultura mas também em desenho e pintura.

Em relação à Greta Garbo, o avô era seu fã, para além da minha avó que lhe servia sempre de modelo, a "outra musa inspiradora, era Greta Garbo.

Obrigada, antecipadamente pelas fotos,

Atentamente,

Isabel do Valle disse...

ah, é verdade, a fonte, vem da história da nossa familia, eu dei inicio a um blog há algum tempo está longe de estar completo, nem a meio está aformadossonhos.blogspot.com, deem uma espreitadela para verem a cara do avô, em casa tenho uma greta garbo só que está partida

AM-JMV disse...

Cara Isabel,

Muito gratos por toda esta informação que nos prestou, tão útil para conhecer a personagem que criou a peça. Foi para esta partilha que criámos este blogue, para dar a conhecer obras, mas também os seus autores, tantas vezes esquecidos. Aguardamos, com expectativa, a publicação do livro.
Claro que vamos passar a acompanhar o seu blogue.
Com os melhores cumprimentos