terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cache-pot art déco “Cactos” – Aleluia-Aveiro




Cache- pot cúbico, de faiança moldada, assente sobre quatro pés em forma de bola achatada, com pintura manual a estampilha, de cactos e folhagem estilizados ao gosto art déco, em tons de castanho, cinzento e preto sobre fundo creme. Dois motivos distintos intercalam nas quatro faces. Na base, a preto, dois carimbos: Fábrica Aleluia – Aveiro e Fabricado em Portugal, inscritos em rectângulos e, escrito à mão, B
Trata-se do modelo Nº 46 – B, o tamanho mais pequeno, do catálogo de louças decorativas das Fábricas Aleluia- Aveiro, de inícios dos anos 40
Data: c. 1935-45
Dimensões: 9 cm x 9 cm (pés +2 cm)


A moda dos pequenos cache-pots para cactos ter-se-á popularizado por volta dos anos 20 do século passado, sobretudo nos países da Europa Central e do Norte, onde o cacto era (e parece que continua a ser) a planta exótica por excelência.
A moda também cá chegou, e a Aleluia-Aveiro, mais uma vez, parece ter sido a fábrica que melhor captou o espírito do tempo também a esse nível, tendo produzido uma série de cache-pots, em dois tamanhos diferentes, com diversas decorações, de que haveremos de mostrar alguns, sendo este o exemplar mais óbvio, dada a decoração explícita.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Jarra Arte Nova “Orquídeas sapatinho” - Royal Copenhagen



Jarra de porcelana moldada, dentro da gramática Arte Nova, com decoração policroma japonizante, em tons pastel, apenas num dos lados, representando um conjunto de orquídeas sapatinho (Paphiopedilum), pintado por E. Benzon, sobre fundo cinzento azulado. Na base, carimbo verde, com coroa, da "Royal Copenhagen” (marca de c. 1889 a 1922), e, pintados à mão, também a verde, nºs 214 (decor) e 244 (forma/modelo). Pintado à mão, a azul, três ondas e 12 (nº do pintor).
Data: c. 1900
Dimensões: Alt. 32,5 cm

Esta forma criada em 1899 por Arnold Krog e, com diversas decorações, foi levada à Exposição Universal de Paris de 1900. É provável que esta versão, comprada em Paris na altura, com decoração pintada por E. Benzon, que trabalhou na fábrica de 1897 a 1933, seja um desses exemplares.



domingo, 12 de fevereiro de 2012

Urso Polar art déco (reedição) – Sacavém



Reedição do urso anteriormente apresentado de inícios da década de 80 do século passado. Na última fase de produção da Fábrica de Loiça de Sacavém foi reproduzida toda uma série de modelos de animais art déco, embora com outro tipo de pasta, aproveitando a revalorização de um estilo que então por cá se redescobria.
Este exemplar apresenta uma cor cinza, igualmente craquelé, mas mate, sendo mais baixo em cerca de 1 cm que o referido exemplo. Na base, em relevo na pasta, 206.

Urso Polar art déco – Sacavém





Peça de faiança moldada em forma de urso polar estilizado ao gosto art déco, vidrado marfim, craquelé, com lustre. Num dos lados, preenchendo o intervalo entre as patas, um reticulado irregular, sugerindo gelo, numa simplificação do modelo original inglês. Na base, carimbos castanhos Gilman & Ctª – Sacavém - Portugal; e Made in Portugal inscrito numa oval.
Data: c. 1940
Dimensões: comp. c. 29 cm x alt. c. 15,5 cm

Esta escultura animalística aparece referenciada como «Figura Urso» com o número 206 na tabela de preços da Fábrica de Loiça de Sacavém, e terá sido produzida até à década de 50.
Estamos mais uma vez, tal como aconteceu com o bisonte já apresentado, perante uma adaptação portuguesa de uma forma importada. O modelo original foi criado pelo escultor norueguês Erling B. Olsen (1903-1992), em c. 1936, para a fábrica inglesa Spode Copeland, em Stoke-on-Trent, Staffordshire.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Pote para tabaco Art Déco – Raoul Lachenal



Grande pote para tabaco, de grés moldado e parcialmente esmaltado, craquelé, a azul com decoração vegetalista, de grandes flores turquesa, composto por 3 partes: um recipiente cilíndrico, não vidrado, com gola saliente vidrada a azul, sobre o qual se coloca tampa com pega em forma de botão e que encaixa no recipiente exterior decorado. Na base dedicatória escrita à mão “A mon ami Léon Raquin” e assinada Raoul Lachenal. Dado tratar-se de uma oferta pessoal acreditamos que seja peça única.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 12,5 cm x diâm. 18,5 cm



Raoul Lachenal (1885-1956), tendo sido formado no atelier de seu pai, Edmond Lachenal (1855-1930), aperfeiçoa a técnica da modelação e do torno noutros ateliers, nomeadamente no de Jeannin e Guerineau. Raoul trabalhou no estúdio do pai até 1911, data em que criou  a sua própria fábrica em Boulogne-sur-Seine. Começando por fabricar porcelana alargou posteriormente a produção à faiança e ao grés.
As necessidades de inovação levam-no a pesquisas sobre o grés que vai levar a efeitos imprevistos e inovadores como escorridos claros, vivos, preciosos, bem acolhidos pela crítica.
As suas criações pessoais, assinadas, realizadas numa argila de grés a que junta caulino para obter uma pasta extremamente fina, são decoradas com esmaltes que vão do branco puro craquelé ao negro muito intenso, passando pelos azuis, vermelhos e verdes. Nas peças policromas cada tom é “cloisonné” por um limite, normalmente, de um negro aveludado.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Tête-à-tête art déco – Lusitânia Lisboa/Coimbra



Conjunto tête-à-tête art déco, que deverá estar incompleto, formado por tabuleiro redondo, bule, e duas chávenas com respectivos pires. Peças de faiança moldada, de cor marfim com decoração geométrica estampilhada a duas cores, encarnado e preto. Um jogo simples e elegante composto por dois círculos concêntricos, constituídos por duas partes distintas: a de maior expressão forma um semi-círculo de estreitas faixas paralelas, nas cores referidas, que, inflectindo para o interior, se desdobra num outro semi-circulo mais pequeno em sentido oposto. Ambas as circunferências são concluídas por finas linhas a preto.
Na base do bule, carimbo estampado, verde, da unidade de Lisboa: escudo coroado Lusitânia, com Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia] sobrepujando Portugal. Contudo, nas demais peças, o carimbo estampado, verde, é da Lusitânia - ELCL (?) sobrepujando Coimbra - Portugal
Data: c. 1935
Dimensões: Várias (diâm. tabuleiro: 32,5 cm)

A forma das peças deste tête-a-tête sugere-nos a influência e/ou cruzamento entre os formatos Avenida e Coimbra produzidos pela Fábrica de Loiça de Sacavém à época, ou então inspirados directamente na fonte inglesa que lhes deu origem os modelos Eve e Zenith respectivamente.

A presença das duas marcas num mesmo serviço, embora da mesma fábrica, levanta-nos algumas questões. O que poderá isto significar? Que os carimbos pertencem a unidades fabris geograficamente distintas não parece haver dúvida. Será que havia formas produzidas na fábrica-mãe de Lisboa e outras na de Coimbra? Ou será que um acaso reuniu peças dispersas, de duas fornadas produzidas em localidades diferentes que se haveriam de cruzar décadas depois para dar origem a este tête-à-tête que julgamos incompleto?


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Jarra art déco oitavada - Longwy



Jarra de faiança moldada, oitavada, de fundo craquelé branco nos dois terços inferiores da peça, com os ângulos realçados por filetes vermelhos e escamas pendentes a laranja realçadas por duplo filete intercalado a branco igualmente vermelho, sobre as quais repousa uma grinalda de flores estilizadas, em dois tons de azul, ao gosto art déco segundo a técnica da corda seca ou “relevo contornado”. Bocal a vermelho. Na base, estampado [decor] D. 5028, 23 e 2 dentro de círculo, e carimbo: escudo e coroa Longwy –- France, e, inscrito na pasta 307- (?). Um exemplar idêntico, vendido no eBay-França, encontrava-se assinado M.P. Chevallier (http://cgi.ebay.fr/ws/eBayISAPI.dll?ViewItem&ssPageName=STRK:MEWAX:IT&item=220455675591)
Data: c. 1925-30
Dimensões: alt. 23,5cm


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Jarra modelo nº 64 com decoração dos anos 50 - Sacavém



Jarra de faiança moldada, cuja forma, campaniforme, dos anos 30, remete para um modelo art déco criado por Ruhlmann. Todavia, a decoração, pintada à mão, pelas cores (azul claro, amarelo, laranja e preto sobre fundo branco) e desenhos, é da década de 50. Interior e base saliente a preto. O modelo corresponde ao nº 64 no mapa de referência para os operários, de que se mostra um fragmento retirado do livro de Ana Paula Assunção, obra que, infelizmente, não faz justiça à Fábrica de Louça de Sacavém que lhe serve de título. Carimbos a verde: Gilman & Ctª – Sacavém, Made in Portugal e DEC seguido de L e um símbolo que nos parece um P pintados à mão, a castanho. Inscrito na pasta L.
Data: c. 1955
Dimensões: alt. 21 cm


Na folha de desenhos de finais da década de 50 que o incontornável MAFLS publicou e que aqui reproduzimos, lá está um outro formato, também dos anos 30, com a mesma decoração L.


A título de curiosidade, referimos que a peça sofreu um esbeiçamento no bordo em fase de acabamento, depois de já estar pintada. Faltava apenas a pintura do remate do bocal, que foi concluída, com os vidrados a cobrirem a “ferida”, tendo recebido a totalidade dos carimbos, o que significa que foi comercializada apesar do defeito. Este caso parece-nos ser revelador de duas coisas, por um lado, que se destinava a consumo de massas, e por outro, a falta de preocupação com a qualidade de alguns dos produtos acabados, o que, convenhamos, não era apanágio apenas da Fábrica de Loiça de Sacavém, já que temos exemplos idênticos de outras fábricas, inclusive estrangeiras.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Escultura “dançarina com urso” - Katzhütte – Turíngia





Peça de porcelana moldada e relevada, branca com apontamento policromos e a ouro. Representa uma dançarina nua com lenço colorido que cai descobrindo parcialmente as coxas, sentada no dorso de um urso amestrado. O penteado é elaborado e coberto de adereços. Numa das mãos segura uma pandeireta. O urso desce de um plinto decorado com pormenores a ouro. Escultura de teor erótico, onde é evidente a brincadeira maliciosa da bailarina que, provocante, acaricia a orelha do animal com o dedo do pé. Na base, carimbo azul com Katzhütte sobrepujando o símbolo da fábrica e Thuringia, marca utilizada entre 1914 e 1945. Dois traços paralelos (ou 11?), pintados à mão, a encarnado. Inscrito na pasta 43.
Data: c. 1920
Dimensões: alt. c. 23 cm

As temáticas eróticas foram uma constante na arte. Contudo, será a sensibilidade burguesa do século XIX, um tanto mórbida, que vai desencadear um novo apetite por este tipo de representação. Longe dos olhares femininos da família, o bom burguês formava, muitas vezes, as suas colecções “secretas”, que as esposas e filhas, oficialmente desconheciam. Aliás, a propósito de coleccionismo, seja ele de que temática for, recebemos um comentário muito pertinente de uma bloguer nossa seguidora, que referia ser o coleccionismo mais frequente entre os elementos do sexo masculino e questionava se não seria um atavismo da nossa ancestralidade de caçadores. Aqui está uma boa questão para reflectir.

A temática erótica da mulher e do animal é recorrente nas duas primeiras décadas do século XX, sobretudo, na Europa Central, prolongando um gosto oitocentista que a sensibilidade alemã faz, muitas vezes, roçar o brejeiro, se não mesmo o kinky. Estes temas, amplamente coleccionados no Ocidente, chegaram, obviamente, a Portugal. Foi o caso de uma peça idêntica à que apresentamos, que em 1931, se não estamos em erro, aparece representada numa composição fotográfica, levada a concurso nacional, com um panejamento, em fundo, vincadamente art déco. Vimos a peça e a fotografia respectiva à venda num antiquário da nossa praça há alguns anos.

A Porzellanfabrik Hertwig & Cº, conhecida popularmente por Katzhütte, fundada por Christoph Hertwig e Benjamin Beyermann, em 1864, começa a produzir no ano seguinte. Em 1869, Benjamin Beyermann abandona a sociedade e Hertwig integra os filhos Karl e Friedrich na gerência. Produz cerâmica decorativa, sobretudo estatuetas, de faiança e só a partir de 1900 começa a fabricar figuras de porcelana. Tendo sobrevivido incólume à II Guerra Mundial, foi nacionalizada em 1958 pelas autoridades da República Democrática Alemã. Encerrou definitivamente em 1990.

Não resistimos a contar o sucedido com o seu arquivo histórico. Reencontrado intacto na própria fábrica em 1980, com todos os modelos produzidos, foi saqueado pelas autoridades para venda no estrangeiro (Berlim Ocidental e Londres) com o fim de adquirir divisas. Hoje encontra-se disperso anonimamente por colecções privadas. Não é só por cá que se cometem atrocidades lesa património.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Azulejo SOMAG - Meissen



A propósito do belíssimo prato que Maria Andrade postou, fomos desencantar um azulejo que embora mais recente e com outro espírito, cremos, tem algo a ver com ele. Trata-se de um azulejo art déco, de pó-de-pedra, da fábrica SOMAG – Meissen. Apresenta uma decoração policroma, estampilhada e aerografada, de jarra com flores estilizadas. No tardoz, estriado, em relevo, SOMAG – Meissen e a numeração 122543 10
Data: c. 1920
Dimensões: 15,2 cm x 15,2 cm

Esta fábrica da Saxónia foi fundada em 1884 por Ernst Teichert (m. 1923). Em 1919 muda a denominação para «SOMAG - Sächsische Ofen und Wandplatten-Werke Aktiengesellschaft», que esclarece qual a sua principal produção: aquecedores de cerâmica e azulejos. Terá encerrado em 1945

sábado, 28 de janeiro de 2012

Jarro anos 50 Raul da Bernarda - Alcobaça


Jarro de faiança moldada, organicamente curvilíneo com bocal largo em taça. O volume do corpo, numa curvatura de cisne, estreito no gargalo que encurva num bojo gordo - assentando numa base plana oval - e se desenvolve, serpenteante, à medida que se vai estreitando e se eleva em direcção ao gargalo, que contorna, e num movimento de chicote se transforma em asa. Apresenta um acabamento rugoso, granulado, a encarnado, sobre o qual se destacam, a espaços regulares, pedaços remanescentes da base branca, em forma de “olhos” curvos, que receberam contorno a ouro. Base, bocal e face exterior da asa receberam também acabamento liso a ouro. O interior do bocal é igualmente branco. Na base, carimbo a ouro RB Alcobaça Portugal e, pintado à mão, 1133/10.
Data. c. 1955-65
Dimensões: alt. 24,2 cm

Mais uma vez, a herança da Arte Nova está bem patente numa peça da segunda metade dos anos 50 ou inícios da década seguinte do século XX embora com outras sugestões plásticas, como já anteriormente referimos a propósito das peças contemporâneas da Aleluia-Aveiro.
Todavia, a organicidade das formas propostas pela fábrica Raul da Bernarda - Alcobaça, pelo menos nos poucos exemplares que conhecemos, nunca atingiu o refinamento e a elegância requintada das peças Aleluia-Aveiro coetâneas ou mesmo de Sacavém.
A produção deste tipo de peças em Alcobaça não parece ter sido consistente nem suficientemente explorada.
Apercebemo-nos do esforço, em nossa opinião, um tanto fruste, de estar à moda, de maneira a não perder a corrida em que as demais fábricas nacionais se lançaram para, também elas, não ficarem atrás da SECLA. Mau grado o esforço, não deixam de ser exemplares de uma medíocre qualidade plástica, um tanto forçados, porque vazios de consistência artística efectiva. Uma plasticidade rebuscada, que chega a roçar o kitsch. Mas isto do gosto é uma questão muito relativa, claro.


No caso do nosso exemplar, só mesmo a cor, um apelativo encarnado, e a textura granulada conseguem conferir à peça, se não algum virtuosismo, pelo menos alguma curiosidade. Pena os apontamentos a ouro que não a valorizam.
Adquirimo-la exactamente por tudo isso, e por ser representativa da banalização das formas modernas para consumo de massas. E como a ideia não é só mostrar exemplos bonitinhos, mas sim exemplos significativos e representativos …

Na produção cerâmica alcobacense parece ter sido a OAL a mais consistente nos caminhos da modernidade e de forma mais temporã, com produção específica ainda na década de 30, dentro da gramática Art Déco. Pode ser que algum dia uma outra peça de outra fábrica alcobacense, para além da OAL, nos venha a surpreender pela positiva.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Jarra nº 19 – H Aleluia - Aveiro



Jarra de faiança moldada, tendencialmente esférica com bocal saliente, de cor creme, craquelé, com decoração estampilhada a preto e castanhos com apontamentos manuais. O bojo é cintado por um friso largo, a preto, com decoração vegetalista de influência renascentista, numa pintura que lhe confere volume. Este friso é enquadrado, por composições triangulares de flores estilizadas ao gosto art déco, a castanho. Da base e do bocal, salientados a preto, partem linhas concêntricas da mesma cor que se vão diluindo em direcção à decoração do friso. O craquelé que a peça apresenta vai-se tornando mais ténue à medida que se aproxima do bocal. Na base, carimbo preto Aleluia Aveiro e Made in Portugal, e, pintado à mão, também a preto, H. Inscrito na pasta: 19.
Data: c. 1935-45
Dimensões: alt. 18 cm



Esta jarra é bem representativa de uma das tendências decorativas da fábrica à época: uma reinterpretação de modelos renascentistas que deram origem a uma linha específica de decoração, como veremos noutros exemplares.
No Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia-Aveiro, de inícios dos anos 40, na pág. 29, esta peça aparece referenciada com o nº 19 – H.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Jarra art déco Boch Frères Keramis - Bélgica



Jarra de faiança moldada, de forma ovóide, pintura sobre esmalte, com decoração de bandas alternadas verdes e pretas, com flores estilizadas, em tons de amarelo, laranja e vermelho, sobre as últimas. Gola e base a branco. Peça concebida pelo Atelier de Fantaisie da manufactura belga Boch Frères Keramis, em La Louvière. Na base, carimbo preto circular, sobre ramo de loureiro (?) com Boch FES La Louvière enquadrado por Made in Belgium – Fabrication Belge. Pintado à mão D. 787. (decor) e A X. Inscrito na pasta nº 901 (modelo)
Data: 1923
Dimensões: alt. 24,5 cm



O nome e as siglas da manufactura variaram, embora muitas vezes utilizadas em simultâneo: B.F.K.; Boch Frères ou Boch frères; Keramis, com ou sem acento; Bock Keramis; Boch La Louvière ou ainda Boch FES La Louvière
Charles Catteau cria em 1920 o Atelier de Fantaisie, ou, pelo menos, terá remodelado um atelier artístico pré-existente, onde é criada uma vasta gama de objectos art déco durante os anos 20 e 30. Charles Catteau vai gerir toda a produção de objectos decorativos que saíram desta secção artística, a montra de prestígio da manufactura.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Bisonte – Fábrica de Loiça de Sacavém




Peça de faiança moldada estilizada ao gosto art déco em forma de bisonte sobre soco, com vegetação entre as patas que sustenta o corpo do animal. A peça apresenta vidrado branco, craquelé, com lustre. Na base, carimbo castanho Gilman & Ctª – Sacavém - Portugal; e carimbo Made in Portugal inscrito numa oval.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. c. 21,5 cm x comp. c. 28 cm x larg. c. 9 cm


Trata-se de um modelo concebido pelo escultor inglês John R. Skeaping (1901-1980) que, em 1926,foi para o jardim zoológico de Londres, onde desenhou diversos animais que propôs à fábrica de Wedgwood. Esta escolheu 14 protótipos e comercializou 10 a partir de 1927, entre os quais este modelo de bisonte. Todavia, a versão dos anos 30 comercializada pela Fábrica de Loiça de Sacavém apresenta uma diferença no tratamento da vegetação que dá resistência à escultura. Enquanto no modelo original são ramagens, na versão portuguesa são herbáceas que se aproximam de outras peças produzidas por Sacavém da autoria de Donald Gilbert. Quatro das esculturas animalistas desenhadas por Skeaping apresentam sempre o mesmo tipo de ramagens, como se pode ver na imagem do bisonte representada no catálogo da Wedgwood que apresentamos .


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Par de jarros “Patinho” – Sandoz (Théodore Haviland- Limoges)






Par de jarros de porcelana moldada e relevada em forma de patinho estilizado dentro da gramática art déco, cuja parte superior da cabeça e bico forma tampa. De cor amarela, com o ventre branco e apontamentos na penugem a preto, o bico e as patas são cor de mel. No dorso têm aposta uma pega triangular vazada. a branco, e dois furos na parte posterior do pescoço. Na base, marca TH e SEZ, em relevo, e carimbo castanho-roxo: Théodore Haviland- Limoges- FRANCE, Copyright e a palavra Déposé. Assinatura Ed. M. Sandoz sc. a azul.
Data: 1916
Dimensões: alt. 18 cm



Este «pichet-oison», na designação francesa, corresponde ao nº 37 do catálogo da Manufactura Théodore Haviland- Limoges. Foi editado no dia 19 de Setembro de 1916, em dois tamanhos: de 18 e 16 cm, e cores variadas. E tal como o saleiro-rã que ontem mostrámos, integra o vasto conjunto de esculturas zoomórficas criadas por Sandoz. Possivelmente destinava-se, tal como as rãs, também ao serviço de mesa, como galheteiro, montado em prata, como vimos à venda num antiquário, e daí a possível justificação dos dois buracos que cada um dos nossos exemplares apresenta na parte posterior do pescoço, onde se colocavam as placas de prata mencionando o azeite e o vinagre.
Este modelo também funcionou como cafeteira em serviços “egoïste”, ou tête-à-tête, que não apresentam, evidentemente, os furos no pescoço.


Do ponto de vista artístico os animais de Sandoz sofrem duas influências, a dos movimentos artísticos alemães (do Werkbund que antecedeu a Bauhaus) e, no que diz respeito às cores extremamente vivas e variadas, a do Picasso da época cubista.
Tendo começado por trabalhar matérias como o mármore e o bronze, o escultor suíço Édouard-Marcel Sandoz (1881 – 1971), radicado em França, perante a escassez de matérias-primas e outras condicionantes que a Grande Guerra provocou, dedicou-se, depois de várias tentativas, à produção de objectos de porcelana. Foi um feliz acaso porque as massas arredondadas e os grandes planos de cor das peças criadas se adaptavam perfeitamente a este material em que a luz se reflectia como no mármore.
Mas porquê produzir tais objectos fúteis em tempos de extrema dificuldade como então se viviam? E já agora por que é que a administração da manufactura se mostrou tão interessada em produzi-los, ainda para mais num dos períodos mais agudos do conflito para a França? Paradoxalmente, a sua justificação prende-se, por um lado, com a falta de matéria-prima, sobretudo carvão, para fazer funcionar a indústria fabril, e por outro, havia toda a necessidade de rentabilizar ao máximo cada fornada de porcelana. Como os objectos criados por Sandoz eram de pequena dimensão, facilmente preenchiam os vazios deixados entre outras peças de maiores dimensões da produção corrente da manufactura, enchendo-se, assim, o forno.
Expostos na feira de amostras de Lyon de 1916, destinada a profissionais, como já referido, instantaneamente se convertem no maior sucesso do certame. O êxito foi de tal ordem que, pela primeira vez, foi permitida a venda de peças directamente ao público visitante.
Os representantes grossistas de Nova Iorque encomendaram a gama completa (352 peças). Todos os grandes armazéns de Paris queriam obter o exclusivo e lutaram e intrigaram por isso. Os representantes argentinos, distribuidores para toda a América do Sul, encomendam uma remessa num valor enorme para a época. E este sucesso continuou na feira de 1917 com novos modelos. A Manufactura Théodore Haviland- Limoges conseguiu manter-se aberta durante o resto do conflito graças quase unicamente à produção das criações de Sandoz.
Toda esta extensa introdução serve para contar as aventuras picarescas de coleccionadores que procuram pechinchas em leilões. Como é evidente, tais especímenes são uma raça predadora que quando entra num salão aparentemente atafulhado de bugigangas vai à procura de um possível objecto de eleição. Como todos os coleccionadores são diferentes o conceito de bugiganga é, assim, muito relativo.
Depois de encontrado o objecto de desejo, examina a possível concorrência para o combate que se aproxima. É importante ver se o lote cobiçado está entre o que o leiloeiro considera valioso ou tralha. Felizmente para nós, o conjunto patinhos e rãs convivia num lote que englobava um objecto de marfim, de origem chinesa, quanto a nós toscamente trabalhado em produto para turista. Pelos nossos cálculos não havia pretendentes e o preço iria ficar muito em conta.
Quando o pregoeiro anunciou o lote, para surpresa nossa, confrontámo-nos com um rival que, contra todas as previsões, nos foi acompanhando até desistir, já o preço ia elevado. Finalmente, ao bater do martelo, comentou o senhor do alto da sua ignorância auto-satisfeita: «os patos agora andam caros», acompanhado dos risinhos discretos da assistência. Na verdade, o preço por que ficou o lote corresponde a pouco mais que o preço das duas rãs no mercado internacional. Como epílogo, ao pagarmos apareceu o nosso concorrente, um senhor idoso, que timidamente nos abordou quanto à possibilidade de lhe cedermos, por quantia ao nosso critério, a peça de marfim que o filho coleccionava. Fez-se negócio e, moral da história: como é possível que num leilão em Portugal, em 2004, nem o leiloeiro, nem ninguém na assistência soubesse o valor e a importância dos tais patinhos “caros” e dessem fortunas por banalidades sem qualquer interesse artístico, cultural e mesmo comercial fora deste país. Enfim, idiossincrasias de um povo que se enganou no século em que vive.