terça-feira, 12 de junho de 2012

Jarra Arte Nova sem marca - França



Jarra de grés moldada, de gramática Arte Nova, não assinada, no gosto de Dalpayrat, com decoração vegetalista, relevada e parcialmente recortada, que se concentra numa das faces, mas que envolve o bocal num ondulado irregular. A composição vegetalista, com flores, ganha contornos abstractizantes graças ao tipo de esmaltes utilizados, muito espessos, que serão duas camadas, uma cinzento–esverdeada recoberta por cor sangue-de-boi aclarado que não ficou uniforme, deixando transparecer a cor base que, por vezes, a pontua com manchas esverdeadas. Os esmaltes, que escorreram irregularmente, deixaram em reserva parte da pasta junto à base. Não apresenta qualquer marca, mas será francesa.
Data: c. 1890-1900
Dimensões: alt.:29 cm



Japonizante, tanto na forma como na decoração, em que o recortado ajouré parcial dos elementos vegetais, ao permitir ver a cor do interior, lhe atribuiu uma atractividade suplementar, esta jarra é uma daquelas peças em que apetece tocar, sentir a forma e as texturas, dada a grande sensualidade que dela emana.

Não nos parece objecto de fabrico em série, tanto mais que no interior se concentra parte do material proveniente do recorte das flores que ficou envolvido pelo esmalte. Assim sendo, tratar-se-á de uma peça de autor feita num dos muitos ateliers artísticos que à altura produziam objects d’art.



segunda-feira, 11 de junho de 2012

Serviço de café art déco modelo “Belga” – S.P. Coimbra



(bule, açucareiro e leiteira)Na base, carimbo verde Coimbra S.P. Portugal e, no bule, pintado à mão, a preto, Belga [modelo] e LB6033 [decor].
Data: c. 1935-45
Dimensões: Várias



 MAFLS havia salientado, que o motivo geométrico triangular é claramente evocativo da litografia construtivista de El Lissitzky (1890-1941), editada em 1919 e reproduzida abaixo, referência gráfica à guerra civil na URSS, com a cunha vermelha (bolcheviques) que penetra no círculo branco (mencheviques) para o destroçar.


A política sempre presente, mesmo no mais comum dos objectos de uso quotidiano. Em Portugal está-se em pleno Estado Novo, e, contudo, são as obras dos “vermelhos” e “judeus” que invadem os lares. E se a porcelana era para classes mais privilegiadas, a faiança, recebia decorações afins, e passou a integrar o imaginário nacional principalmente graças à Fábrica de Loiça de Sacavém. Haveremos de voltar a estes assuntos.

A decoração não seria inocente, mas a ignorância oficial efectiva.
É importante realçar o desconhecimento geral das elites políticas e das forças repressivas. A censura deixa passar este tipo de manifestações dado não reconhecer nelas qualquer perigo. Na verdade, nem seria necessária qualquer censura, porque o consumidor, a quem se destinava a mensagem, geralmente não a descodificava também. Estaremos hoje assim tão distantes desses tempos?

Serviço de chá art déco modelo “Belga” – Coimbra




Serviço de chá de porcelana branca moldada, de linhas art déco modernistas com decoração a azul, cujo grafismo nos parece inspirado nas joias eduardinas. Composto por bule, leiteira, açucareiro, manteigueira, prato para bolos, chávenas e respectivos pires. Nas bases carimbo verde Coimbra-Portugal enquadrando as figuras heráldicas do brasão da cidade
Data: c. 1930-40
Dimensões: Várias





Produção da Sociedade de Porcelanas, Limitada, em Coimbra, o serviço tem o carimbo da primeira fase de fabrico. Para nós os carimbos são fundamentais para balizarmos, mesmo que de forma aproximada, a cronologia das peças. E faremos sempre a separação entre os exemplares com este carimbo dos que ostentarem as siglas SP.

Habitualmente nos serviços produzidos pela fábrica, depois SP Coimbra, a peça de maior destaque, neste caso o bule, para além do carimbo apresenta a identificação do modelo. Neste serviço essa informação está ausente. Contudo, dado termos outro exemplar com esta forma devidamente identificado, com carimbo posterior, podemos afirmar que se trata do modelo “Belga”. Mais uma vez, estamos perante uma importação e adaptação de um modelo checoslovaco da fábrica Krone–Victoria, como se pode constatar nas terrinas que apresentamos. Se for o contrário, surpreendam-nos, por favor, porque adorávamos encontrar design de loiça utilitária de estética art déco de criação genuinamente portuguesa.


O serviço de chá de hoje tem uma decoração que, não sendo propriamente feia, é desadequada à modernidade da forma. Mas aqui entramos sempre na subjectividade do gosto e as fábricas não produzem apenas para clientelas esteticamente mais actualizadas que, na verdade, sempre foram minoritárias. Neste caso o serviço foi herdado, pois enquanto colecionadores não o compraríamos dado esse desfasamento entre forma e decoração, pois privilegiamos objectos de maior coerência.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rinoceronte art déco de Gilbert - Sacavém



Mais uma escultura do bestiário de Donald Gilbert produzida pela Fábrica de Loiça de Sacavém. Desta vez um rinocerante.
Peça de faiança moldada, ao gosto art déco, esmaltada a cor marfim amarelado, craquelé. O animal, de pé, assente sobre um soco paralelepipédico, tem vegetação herbácea, estilizada, entre as patas, idêntica à do modelo “Elefante” já apresentado. Impresso numa das faces laterais do soco: Gilbert Sc[ulpcit]. Na base, carimbo azul, «Gilman & Ctª – Sacavém» sobrepujando «Made in Portugal». Inscrito na pasta 212. Este número corresponde ao modelo, e refere-se à Figura Rinoceronte N.º1 que pela(s) Tabela(s) de Loiça(s) Decorativa(s) custava 162$00 em 1951, 141$00 em 1945 e 80$00 em 1941. Sendo para peças em "cores mates ou coloridos s/ ouro".
Data: c. 1930-35
Dimensões: comp. c. 32 cm x larg. c. 9 cm x alt. c. 20 cm


Jarra com flores Arte Nova de Max Laeuger – Kandern - Alemanha



Jarra em forma de balaústre, de barro vidrado com esmaltes espessos que formam relevo, de cor de fundo verde pálido com decoração de flores castanho alaranjado que, desabrochando no topo de hastes esguias e curvas, ao gosto Arte Nova, verde carregado, como a folhagem densa na parte inferior da jarra que emerge de um fundo preto. Na base, inciso na pasta, carimbos KML [Max Laeuger Kandern] inscrito num quadrado e GESETZL e GESCHTZT (?), inscrito num rectângulo. À mão, também inciso, 106 H.
Data: c. 1900
Dimensões: Alt. 39,5cm


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Serviço de café/chá art déco modelo S. Tomé - SP Coimbra



Serviço art déco de porcelana moldada para chá e café, de cor branca decorada por esparsas pequenas flores estilizadas, a verde e ouro delineadas a preto, apontamentos também a ouro que definem pés, bordos, bicos asas e pegas, e filetes verdes nos bordos. É composto por cafeteira, leiteira, açucareiro, chávenas e respectivos pires. Na base, carimbo verde Coimbra S.P. Portugal e, pintado à mão, S Tomé F.B. 104.
Data: c. 1935-40
Dimensões: Várias





Na sua origem estará o modelo francês produzido em Limoges, na década de 30, por uma das muitas fábricas aí existentes, no caso a Charles Ahrenfeldt. A sofisticada versão decorada a marfim, preto e ouro, do exemplar que aqui reproduzimos, acentua ainda mais a elegância das formas, mais simples e regulares do modelo-base francês.
A versão da SP Coimbra é mais pesada. Os contornos das peças nacionais são suavemente escalonados e não lisos como no exemplar francês, e as asas não são contracurvadas e rematadas por um botão espiralado, antes mais rígidas e oblongas, o que as torna menos elegantes. Também no desenho dos bicos há diferenças notórias, pois estes são mais espessos e sólidos, e claramente distinto no caso da leiteira, onde é aberto no prolongamento do bocal e sem tampa, como é habitual entre nós. Em ambas as versões as pegas das tampas são em botão.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Cache-pot art déco “corças” – Aleluia-Aveiro




Modelo de cache-pot cúbico, de faiança moldada, assente sobre quatro pés quase esféricos. Um mesmo motivo, de duas corças, em silhueta, pastando sob uma palmeira em fundo de nuvem, é repetido nas quatro faces. A decoração, numa estilização ao gosto art déco, a preto sobre o fundo creme, utiliza duas técnicas distintas, por um lado as corças são estampilhadas, assim como a nuvem, embora esta em negativo, todo o resto é pintado à mão, pelo que existem subtis diferenças no desenho nas faces. Cada um dos lados é enquadrado por filetes pretos que definem os ângulos da peça. Na base, a preto, dois carimbos: Fábrica Aleluia – Aveiro e, inscrito num rectângulo, Made in Portugal. Pintado à mão C sob traço. Inscrito na pasta 46.
Este modelo aparece na página 22 do catálogo de louças decorativas das Fábricas Aleluia- Aveiro, de inícios dos anos 40, com o nº 46 – C
Data: c. 1935-45
Dimensões: 9 cm x 9 cm (pés+2 cm)



Caixa art déco com grous – Edelstein - Alemanha


Caixa dentro da gramática art déco, possivelmente para bombons (bomboneira), de porcelana moldada e relevada, branca com decoração a azul e amarelo pintada à mão. É composta por taça oblonga assente em quatro pés e tampa com pega em leque. Apresenta, nos quatro “cantos”, caneluras verticais amarelas entrecortadas por filetes azuis, no alinhamento dos pés que se prolongam na tampa depois de um friso vegetalista que a contorna. De permeio, sobre fundo branco, decoração vegetalista e, nas laterais mais largas, uma ave pernalta, um grou. Estas composições, muito gráficas e estilizadas, remetem para o decorativismo rococó reinterpretado pelo Art Déco alemão dos anos 20. Na base, carimbo verde Edelstein-Bavaria, e pintado à mão, Handgemalt e EB (possivelmente as iniciais do seu criador). Inscrito na pasta, 267/OV.
Data: c. 1925-30
Dimensões: Alt. 14,5 centímetros x comp.16 cm x larg. 12 cm




Desta marca pouco sabemos. A fábrica de porcelana Julius Edelstein AG, em Küps, na Baviera, parece ter sido a sucessora da Ohnemüller & Ulrich (1890-1919) que no ano de 1919, quando encerrou, terá sido adquirida pelo grossista de porcelanas, judeu berlinense, Julius Edelstein. Em 1932 a fábrica faliu devido aos sentimentos anti-semitas que já grassavam na Alemanha, sendo depois comprada, no ano seguinte, por Fritz Greiner, proprietário da fábrica de faiança Colditz AG, em Staffelstein. Terá encerrado definitivamente ou em 1974 ou 1989, conforme as fontes consultadas.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Jarra “Portugália” com motivo Arte Nova - Sacavém



Jarra de faiança moldada, vidrada a branco e partes a azul, craquelé, sendo nesta última mais fino, que terá recebido restante decoração a castanho-mel e preto, segundo a técnica da estampilha aplicada manualmente sobre o vidrado, formando quatro medalhões vegetalistas repetidos (um fruto ou botão de flor cortado ao meio?), de gramática ainda Arte Nova. Estes elementos vegetalistas saem do gargalo decorado por listas a castanho e azul contornadas a preto, tal como os restantes ornatos. O azul do gargalo foi igualmente aplicado à mão sobre o vidrado. Na base, carimbo verde Gilman & Ctª– Sacavém. Inscrito na pasta, à mão, EL 52.
Data: c.1920 (?)
Dimensões: alt. 20 cm


Trata-se do formato Portugália, que nos aparece sob o nº 20 do catálogo de jarras da Fábrica de Loiça de Sacavém, da década de 30 do século XX, não impresso disponível no Museu de Cerâmica de Sacavém - Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso. Embora, na tabela de Maio de 1951 apareça sob a designação "Jarra Portugália, n.° 17”. Ver MAFLS (1 e 2).


Das várias versões que possuímos deste modelo, esta apresenta a decoração mais conservadora, porque mais agarrada a uma estética ainda Arte Nova. Contudo, julgamos tratar-se de uma decoração da década de 20, embora não nos admirássemos que fosse posterior. A paleta de cores, a sua aplicação uniforme, lisas e claramente delineadas, poderão remeter naquele sentido, embora haja azulejos estampilhados muito anteriores que apresentem esta mesma solução. Esperamos que algum dos nossos leitores nos proporcione dados mais objectivos sobre a sua datação.

domingo, 3 de junho de 2012

Jarra art déco Argenta com peixe - Gustavsberg - Suécia


Jarra de grés da linha Argenta, de forma tubular arredondando no fundo onde encaixa num pé saliente, com aplicação de prata sobre fundo esmaltado e mosqueado verde mate. A cena subaquática de prata embutida que decora a peça restringe-se a um único peixe libertando bolhas de ar. Na gola e no pé, filete de prata embutido. Na base, embutidos a prata, “Gustavsberg”, a âncora símbolo da fábrica, “Argenta” e o número “1029 II”, e “E”. Carimbo prateada com “Made in Sweden”. De lado, também embutido em prata, “B”.
Data: c. 1935
Dimensões: alt. 15cm x larg. 4,5cm

O criador da linha Argenta para a fábrica sueca Gustavsberg foi Wilhelm Kåge, cujo nome figura habitualmente nas peças de sua autoria. Contudo, de acordo com a obra de Alastair Duncan – Art Deco complete: the definitive guide to the decorative arts of the 1920s and 1930s. London: Thames & Hudson, 2009, pág. 405, esta jarra será uma obra deste designer. Também neste sentido vai uma outra peça que possuímos que apresenta o mesmo motivo decorativo e está assinada pelo autor.



Pequena corça art déco - Sacavém


Figura de faiança moldada art déco, de pequena dimensão, esmaltada a cor marfim amarelado e craquelé muito fino, representando uma corça, de pé, pescoço levantado como que cheirando o ar, assente sobre um soco em forma de montículo irregular. Na base, carimbo azul, Gilman & Cta – Sacavém e Made in Portugal. Inscrito na pasta 270 que corresponderá ao número do modelo.
Data: c. 1935
Dimensões: alt. c. 19,5 cm x comp. c. 11 cm