sábado, 31 de março de 2012

Jarra art déco Argenta “Ondas” - Gustavsberg



Jarra da linha Argenta, de grés com aplicação de prata sobre fundo esmaltado verde mate, em forma de esfera achatada e esquinada cujos panos são ornamentados por sucessões de linhas quebradas em zig-zag, numa estilização de ondas. Na base, incisos na pasta, a prata, HAND DREAD inscrito num rectângulo, ARGENTA, 1092, III, e a marca Gustavsberg, com símbolo de âncora, um G (que corresponderá a uma edição de 1937) e Kåge também inscrito num rectângulo, e um L.
Data: c. 1932
Dimensões: larg. 15 cm x alt. 9 cm

Mais uma peça assinada Wilhelm Kåge (1889-1960) claramente art déco, exemplo, na sua harmonia e decoração, da “swedish grace” que comprámos em Estocolmo. Aqui podemos encontrar, para além do imaginário nórdico e clássico ligado ao mar, uma certa herança da cerâmica ou cestaria africanas, então também muito em voga, devido às exposições coloniais. Contudo, poderíamos ir mais longe, e recuar aos arquétipos pré-históricos da cerâmica europeia. De facto, como temos referido, estas peças proporcionam quase sempre leituras polissémicas.



Não resistimos a contar como chegámos a esta jarra.
Ouvindo-nos falar em português, enquanto comentávamos peças suecas do século XX que, na montra em frente do seu estabelecimento, haviam despertado o nosso interesse, um antiquário, madeirense de origem, há décadas a residir em Estocolmo, meteu conversa connosco: «Pensava que os portugueses só gostavam de século XVIII e de Companhia das Índias.»
Encetou-se uma conversa simpática e, embora não fosse a cerâmica novecentista a sua especialidade, acabou por nos dar uma série de informações úteis sobre o assunto e onde comprar, e foi graças a ele que adquirimos a peça de hoje.
No desenrolar do diálogo, contou-nos que o habitual era aparecerem portugueses interessados em peças de outras épocas, sobretudo antiquários que procuravam Companhia das Índias, visto Gotemburgo ter sido um entreposto de comércio com o Oriente e haver muita porcelana chinesa na Suécia. Alguns, pretensiosos e provincianos, do alto da sua soberba, iam tentar fazer “negócios da China” com os suecos, e citou alguns nomes conhecidos para nós. Acabavam por ser alvo da troça dos indígenas, pois comentava-se que os mesmos compravam no mercado inglês falsificações de Companhia das Índias que tomavam como verdadeiras e que eram fabricadas expressamente para Portugal. Nós, apesar de também já termos sido enganados e comprado cópias, ficámos felizes por não termos o vício das porcelanas orientais, embora gostemos muito de as ver em museus e palácios. Ao menos temos a certeza que essas são genuínas. Serão?

A loja de modernariato (a expressão italiana parece-nos mais adequada ao caso), onde fomos parar, vizinha do nosso conterrâneo, parecia uma secção da colecção de Francisco Capelo, que, num espaço relativamente pequeno, possuía do melhor design escandinavo de 1920s a 1970s, entre outros ícones internacionais, sobretudo ao nível da cerâmica e do vidro. Os proprietários, uma simpatia, estavam radiantes com a recentíssima abertura do Museu do Design no CCB, uma coisa que consideravam extraordinária e rara na Europa. Tempos de optimismo esses. Foi aí que comprámos a presente Argenta. Já em Portugal, enviámos-lhes o catálogo (versão resumida) do museu. Agora têm uma loja maior numa outra zona de Estocolmo.
Na obra de Nils PALMGREN - Wilhelm Kåge. Stockholm: Nordisk Rotogravyr, 1953, a peça aparece retratada na pág. 111 e cuja fotografia aqui se reproduz.


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