sábado, 31 de dezembro de 2016

Jarra oitavada com fetos – Longwy - França

Apesar da pouca assiduidade que tivemos neste último ano no que diz respeito ao Moderna Uma Outra Nem Tanto, não queríamos finalizar 2016 sem trazer novidades e desejar os tradicionais votos de Bom Ano.


Jarra art déco de faiança moldada, oitavada e craquelé com os ângulos sublinhados a ouro, tal como o anel saliente do bocal. Sobre o fundo beige dos 2/3 superiores da peça destacam-se, também a ouro, volutas formadas pelo desabrochar de folhas de feto. O terço inferior preenchido por campo de flores, a amarelo e laranja, e folhas estilizadas em tons de encarnado. Os esmaltes coloridos são aplicados segundo a técnica da corda seca ou “relevo contornado”. No fundo da base, carimbo a preto esverdeado com o brasão dos Houart, «Longwy – France». Pintado à mão, a preto, «242» e «D.5060». Inscrito na pasta 3070.
Data: c. 1925-30
Dimensões: alt. 38 cm


Já aqui apresentámos esta mesma forma com outros tamanhos. Esta é maior de todas. A decoração é de Raymond Chevallier, de quem já falámos.

Escolhemos habitualmente um peça Longwy esmaltada para finalizar o ano, dado o seu optimismo mundano se enquadrar numa quadra festiva como esta, em que se renovam votos de saúde, amor, paz e prosperidade.

E para simbolizar tudo isso que melhor pode haver que a representação da pujança e força orgânicas das plantas, tão bem expressas no desenrolar de uma folha de feto? Um renascer e um renovar de vida constantes.

Foram características recorrentes na Arte Nova e uma das suas principais especificidades, todavia, o Art Déco vai buscar também o elemento vegetal mas a linguagem com que o vai vestir é radicalmente diferente desse outro estilo mais sinuoso, feminino e que privilegiava a assimetria. A organicidade aqui ganha contornos de mecanização, com plantas estilizadas, geometrizadas e de cores planas, sem cambiantes, aplicadas de forma repetitiva.


Estes fetos, que se desenrolam num espiralado esquinado, tal como a própria forma da jarra, não germinam de uma manta morta vegetal, natural, antes crescem sobre uma superfície atapetada de estranhas flores, talvez rosas, que abrem entre folhagem. Tudo num registo de artificialidade assumida.

Uma criação visual optimista, que aceita a mecanização da própria natureza como atributo do progresso civilizacional em marcha, e símbolo de modernidade, pois no futuro a máquina substituirá a força braçal da humanidade permitindo, finalmente, o direito ao bem-estar e ao lazer. Um futuro sem guerras, pois a última tinha sido um pesadelo que a condição humana não poderia aceitar nunca mais.

Paradoxalmente, ao olhar contemporâneo poderá ter uma outra leitura. Talvez porque estamos hoje mais conscientes de que o avanço civilizacional não é linear nem forçosamente progressista.

Assim, toda esta vegetação poderá ser interpretada como ameaçadora, carnívora. Sobre a ilusão floral erguem-se tentáculos sinistros. Previa-se, então, o futuro próximo e a guerra mundial seguinte? Ou será a nossa mente que, perante a repetição da loucura da guerra mundial em curso, o terrorismo, os fundamentalismos, a eleição de Trump, o degelo e a consequente subida das águas, a intolerância fascista do politicamente correcto e de todas as outras, imagina coisas?


Bom, a intenção era encerrar o ano com uma visão de futuro optimista e a bonita jarra isso prometia. Mas, mais uma vez o balanço anual fez-nos cair na tentação contrária. Porém, como ainda acreditamos no Homem e a Esperança é a última a morrer, renovamos os votos de 


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