sábado, 7 de julho de 2012

Jarra art déco Caçadores em relevo a branco - Sacavém


Jarra de faiança moldada, de forma ovóide, com decoração de figuras relevadas de archeiros, em diferentes posições, caçando grandes aves, uniformemente branca. Na base, carimbos verde, Gilman & Ctª – Sacavém – Portugal, e D e N. Em relevo na pasta 29.
Data: c. 1950
Dimensões: alt. 24 cm


Nesta variante uniformemente branca, um presente de amigos, apesar de não ser tão perfeita como a versão cor-de-laranja, ainda encontramos algum detalhe nas figuras relevadas.

Em tempos possuímos uma outra versão monocromática, a azul, idêntica à apresentada por MAFLS, mas dadas as falhas na pintura a aerógrafo num dos lados, porque demasiado evidentes, desfizemo-nos dela.


Jarra art déco Caçadores em relevo a branco e ouro - Sacavém


Jarra de faiança moldada, de forma ovóide, com decoração de figuras relevadas de archeiros, em diferentes posições, caçando grandes aves. As figuras são realçadas a ouro sobre fundo branco. Na base, carimbos cinzentos, Gilman & Ctª – Sacavém – Portugal, e K. Em relevo na pasta 29. Inscrito na pasta L 74 (?).
Data: c. 1950
Dimensões: alt. 24 cm


Será a mais vulgar de todas as variantes deste modelo mas de grande e duradouro sucesso. Tal como MAFLS já havia referido, deverá corresponder a uma produção mais tardia, dado surgir na tabela de Maio de 1951, sob o número 29 a que aludimos no post anterior, a primeira referência a este modelo com ouro. Todavia, as figuras perderam nitidez e empastelaram-se, diluindo-se na superfície da jarra e reduzindo-se a uma quase silhueta ligeiramente relevada que apenas o ouro ressalta. O nosso exemplar apresenta o ouro um pouco gasto.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Jarra art déco Caçadores em relevo cor-de-laranja - Sacavém



Jarra de faiança moldada, de forma ovóide, com decoração de figuras relevadas de archeiros, em diferentes posições, caçando grandes aves. A monocroma cor mate de um laranja forte foi aplicada a aerógrafo. Na base, carimbos a verde Gilman & Ctª – Sacavém - Portugal e Made in Portugal numa oval. Inscrito na pasta 52 BN Sacavém.
Data: c.1935
Dimensões: Alt. c. 23,5 cm


Graças à pesquisa efectuada no acervo do MCS-CDMJA, cuja colaboração agradecemos, ficámos a saber que a jarra aparece referenciada sob o nº 29 nas tabelas de preços de faianças decorativas de 1941 e 1945, onde é designada como «Jarra caçadores em relevo nº 4» s/ouro, nas de 1951 e 1961«Jarra caçadores, em relevo» onde já nos aprece mencionada com ou sem ouro e na de1958 aparece apenas como «Jarra caçadores» c/pinturas especiais. O número 29 aparece igualmente associado ao formato representado no catálogo, de traço ingénuo desenhado à mão, de jarras da FLS, de c. 1930, que também ilustramos, que tem a particularidade das figuras aparecerem posicionadas no sentido contrário.


Foi este modelo e cor fonte de inspiração para a capa da tabela de preços de 1941. E, curiosamente, essa ilustração, recortada e colada, foi utilizada para compor a capa da nova tabela de preços de 1945.


Todavia, o documento que mais nos intriga é a fotografia a preto e branco, de 1941, que apresenta no verso a indicação: “Enquiry from: Cape Town”. Que quererá isto dizer? Houve um inquérito na Cidade do Cabo a propósito desta jarra? Com que propósito? O carimbo oval Made in Portugal remete-nos para a possibilidade da sua exportação. Terá sido uma prospeção de mercado?


As semelhanças com a célebre jarra de René Lalique são óbvias e têm sido várias vezes referidas. Encontramos, ainda, similitudes com alguns baixos-relevos ou pinturas egípcios. Embora as representações de archeiros egípcios que conhecemos nos apareçam de pé, como os caçadores representados na jarra de Lalique, a pose hierática, simplificada e sequencial das figuras da jarra de Sacavém, embora ajoelhadas em diferentes posições remetem para a arte egípcia. Note-se que cada uma das figuras, nuas ou quase, para além da diferenciação na pose, apresentam diversas características rácicas e diríamos também culturais, insinuando pertencerem a povos distintos. Também as aves são ligeiramente diferentes no desenho.


Das várias versões cromáticas da jarra que possuímos esta é a mais elegante, e faz, certamente, parte “da época boa” da produção inicial Art Déco da fábrica a que já aludimos, como nos indicia o nº 52 inscrito na pasta e o carimbo de exportação. É ligeiramente mais pequena que as outras, sendo o relevo das figuras mais evidente e pormenorizado, o que, associado à intensa cor quente e mate contribui para lhe dar uma presença notável.



quarta-feira, 4 de julho de 2012

Caixa “Miguel” – Vista Alegre


Caixa guarda-jóias, de porcelana moldada e relevada, simulando uma almofada capitoné, cor branco de China com botões e pega a ouro, pintados à mão. Na base, carimbo castanho esverdeado V.A. Portugal - marca nº 31 (1924-1947). Inscrito na pasta, à mão 2215, e, pintado à mão a ouro, nº 7.
Data: 1941
Dimensões: 10 cm x 13 cm

O modelo, baptizado “Miguel”, e decoração serão uma criação de 1941, da qual nada mais sabemos. Outras informações suplementares são bem-vindas.



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Par de dançarinos setecentistas art déco por Aymé - La Maîtrise



Escultura de porcelana moldada, policroma, em forma de par de nobres setecentista dançando, quiçá, o minuete. Personagens de carnaval ou não, as figuras são estilizadas ao gosto art déco. As carnações são rosadas. A figura masculina de calças e casaca azul forte sobre gibão ouro, da mesma cor dos botões, sapatos e laço. Realces a cor de tijolo nos sapatos, mangas e interior da casaca. Cabeleira, meias e folhos da camisa, a branco. A figura feminina de vestido branco com anquinhas a ouro debruadas a azul forte, com corpete igualmente azul e peitilho cor de tijolo e ouro. Cabeleira branca com flor dourada e folhas azuis. Junto à base, nas pregas do vestido, escrito à mão, a verde, La Maitrise e Ayme. A figura é vazada e no rebordo da base, carimbo verde Ayme La Maitrise.
Data: c.1925
Dimensões: Alt. c. 27.5 cm x comp. c. 27 cm x larg. 11,5 cm



A sofisticação francesa de temática neo-rococó é substancialmente distinta da alemã. As figuras tendem, no caso francês, geralmente para uma estilização de influência cubista, enquanto os alemães olham, sobretudo, para a tradição de Meissen reinterpretada. Veja-se os exemplos anteriormente mostrados de Karl Tutter.

O escultor M. Aymé, de quem pouco se sabe, trabalhou para La Maîtrise, o atelier de arte das Galerias Lafayette, criado em 1922 por Maurice Dufrêne. La Maîtrise foi importante não só por ter participado em todos os Salons e na Exposição de 1925, como também pela divulgação do trabalho de vários artistas, caso do referido Aymé, os irmãos Jacques e Jean Adnet, Fernand Nathan, entre outros.

Os estúdios ou ateliers de arte dos grandes armazéns parisienses, como La Maîtrise para as Galerias Lafayette, Primavera para Le Printemps e Pomone para Au Bon Marché, editavam os artigos mais refinados dos mesmos.

Aymé criou também para o atelier Primavera, e sabemos que esta mesma peça existe em versão velador e em várias versões cromáticas, e foi igualmente editada por Robj (ver: Alastair DUNCAN – Art Deco complete: the definitive guide to the decorative arts of the 1920s and 1930s. London: Thames & Hudson, 2009, p. 475).


sábado, 30 de junho de 2012

Jarra art déco com flores de Max Laeuger - Karlsruhe


Jarra bojuda de argila vidrada com esmaltes espessos que fazem ressaltar, sobre o fundo creme, a profusa decoração estilizada de ramos a preto e flores verdes que preenchem a totalidade da superfície da peça. Bocal realçado a preto. Interior a creme. Na base, inscritos na pasta, carimbo da manufactura Karlsruhe, seguido de «1862» (modelo) e «PROF. LÄUGER», « Made in Germany» e «fe 30»
Data: c. 1920
Dimensões: Alt. c. 15 cm

Läuger)é director do departamento de design da "Staatliche Majolika Manufaktur" em Karlsruhe. Neste período dão-se alterações substanciais nas suas criações, embora no caso desta jarra ela ainda apresente afinidades com as peças que criou anteriormente para Kandern, caso do jarrão já mostrado. Todavia, a ornamentação tornou-se mais gráfica o que lhe confere um gosto mais art déco do que propriamente Arte Nova.



sexta-feira, 29 de junho de 2012

Busto de sátiro art déco – Canto da Maia

A peça que apresentamos serve para evocar a exposição que ontem foi inaugurada no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado com o título «O Modernismo Feliz: Art Déco em Portugal: 1912-1960».

Tardava uma exposição sobre Art Déco em Portugal. Agora que vai passando o deslumbramento pelo design, que muitos à boca pequena dizem não suportar, começava a ser escandaloso o esquecimento de um período de mais de 30 anos que, de certa forma, moldou a paisagem urbana e o gosto estético no país. Era um desejo antigo, que já vinha dos anos 80 do século passado, e que agora, felizmente, se realiza. Esperemos que esta exposição seja apenas o princípio de um estudo mais aprofundado e abrangente do estilo dentro de um contexto internacional.


Escultura de terracota, à cor natural, representando um busto de sátiro num êxtase sorridente e sensual. A figura mitológica, com barba e cabelo estilizados, remete para a Antiguidade Greco-Romana reinterpretada ao gosto art déco. Embora não assinada, é de Ernesto Canto da Maia (ou Maya) (1890-1981) e provém da colecção da família do escultor.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 21 cm x comp. 14 cm x larg. 14 cm



Trata-se do estudo para a obra final de cimento (ver fotografia a preto e branco), destinada a decoração de jardim, cujo busto, com as dimensões alt. 39 cm x comp. 33 cm x larg. 33 cm assenta sobre plinto com 137 cm de altura.

Escolhemos esta peça porque consideramos serem Canto da Maia e Almada Negreiros os expoentes máximos do estilo em Portugal. Esperamos voltar ao assunto.


À custa do “esquecimento” acima referido se vai destruindo muito do legado arquitectónico Art Déco/Modernista, que alguns dizem ser a fase difícil da arquitectura portuguesa, para gáudio de especuladores e apêndices e empobrecimento do nosso património edificado, cultural e artístico.

Após a exposição « Art Déco 1910-1939» realizada em Londres, em 2003, no Victoria and Albert Museum, o estilo sofre nova revalorização e fortalecem-se, a nível mundial, rotas do Art Déco que são fonte de rendimento graças aos importantes fluxos turísticos que potenciam.



terça-feira, 26 de junho de 2012

Jarra «toupie» art déco com flores - Longwy


Mais uma das jarras da Fábrica de Faiança de Longwy da forma «toupie» (pião), neste caso a de maior tamanho que conhecemos do modelo.

Tal como as outras anteriormente apresentadas, trata-se de uma peça de faiança moldada art déco, esmaltada, craquelé marfim, oitavada, com friso envolvendo a sua parte mais larga. No friso, sobre um fundo mel-alaranjado, destaca-se uma composição estilizada de flores marfim com centro mel-alaranjado mais escuro que despontam entre folhagem listada a verde e a dois tons de azul. Os ângulos das oito faces superiores são acentuados pela presença de linhas verticais azuis, cor que envolve o gargalo. Linhas e composição floral são feitas segundo a técnica da corda seca. Na base, carimbo redondo com escudo e coroa Longwy, da "Société des Faïenceries" "LONGWY "- France. Número de decor : D.5051 e carimbado a preto, 30. Sob o vidrado, escrito à mão, a lápis, 32.
Data: c. 1925-30
Dimensões: alt. c. 32 cm x diâm. máximo 30 cm


domingo, 24 de junho de 2012

Figura de peixe art déco - Sacavém


Figura de peixe de faiança moldada e relevada, estilizada dentro da gramática art déco, assente sobre soco saliente, escalonado e ondulado. A peça, pintada a aerógrafo num monocromo verde-claro seco, apresenta escorrências que lhe conferem apontamentos mais escuros. Na base, carimbo verde Made in Portugal e, inscrito na pasta, LM 52 Sacavém
Data: c. 1935-40
Dimensões: Comp. c. 29 cm x alt. 22 cm x larg. c. 8 cm


Da relativa variedade de escultura decorativa animalista produzida pela Fábrica de Loiça de Sacavém (FLS), esta figura de peixe, sempre nos agradou de uma forma muito particular. Talvez pela estilização angulosa da peça, que diríamos “cubista”, e que lhe confere um aspecto quase caricatural, ou simplesmente, de uma maneira egoísta, porque não conhecemos outro exemplar para além do nosso.


A ficha, que acompanha a fotografia depositada nos arquivos do Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém, cuja cedência de imagem agradecemos, indica ser um modelo criado por «Pintor Reis». Ficamos sem saber se «Pintor» é profissão ou apelido, pois não figura na listagem dos colaboradores da FLS, e dele nada conseguimos apurar.

Aparece mencionado nas tabelas de preços de faianças decorativas de 1945 e 1951 sob o nº 198, o que nos leva a crer que a sua produção se iniciou ainda na década de 30, dadas as características vincadamente art déco, e se extinguiu na década de 50. O que nos espanta é o preço deste tipo de peças à época da sua produção. Eram objectos decorativos caros e, por isso mesmo, destinados a um mercado muito circunscrito e daí, talvez, a sua raridade. Só a título de exemplo, na tabela de preços de Novembro de 1945, um exemplar colorido sem ouro custava 141$00, um preço exorbitante para a época, face aos salários médios praticados.


Aliás, a maioria dos exemplares que conseguimos reunir da lavra de escultura decorativa animalista da FLS, e não só, felizmente para nós, pertence ao grupo que denominámos na nossa gíria pessoal “da época boa” da produção inicial Art Déco da fábrica. Passamos a explicar uma lógica de raciocínio que ainda não está comprovada, e que, enquanto tese, carece de uma investigação mais aprofundada. A quase totalidade das esculturas de animais apresentadas, e outras que haveremos de mostrar, têm na base o carimbo oval «Made in Portugal». Portanto, exemplares que se destinavam também à exportação. Outra característica comum a quase todos eles: inscrito na pasta, o nº 52. Quando se reúnem estes dois elementos na mesma peça estaremos perante exemplares de excepção dentro da primeira linha produtiva Art Déco da FLS.

sábado, 23 de junho de 2012

Caixa zoomórfica - Olaria Alvarve (LA)?




Caixa de faiança moldada e relevada em forma de carneiro de rosto antropomorfizado em cujo dorso se rasga uma abertura com tampa. Esmaltado a castanho-escuro com lustre metálico, que lhe confere uma certa iridescência. O interior recebeu o mesmo tratamento. Na base, nas patas posteriores, carimbo circular preto com as letras AL (?) sobrepostas, ao centro, enquadradas por Algarve (?) e Portugal.
Data: 1948-1984 (?)
Dimensões: alt. 26 cm x comp. c. 24 cm x larg. c. 13 cm


Mais uma peça de uma qualidade plástica notável, inspirada na antiguidade pré-clássica do Crescente Fértil. E tal como a peça que indentificámos anteriormente como da Olaria de Alcobaça (OAL) , dela nada sabemos. Segundo uma nossa seguidora atenta, não pode ser OAL, porque o carimbo mencionará Algarve (e é, de facto, igual a uma marca que nos enviou onde «Algarve» aparece claramente visível ao contrário do carimbo desta peça)
A única certeza que teríamos, se fosse efectivamente da OAL, é que seria de produção posterior a 1948 e dado que a fábrica fecha portas em 1984, ficaria balizada dentro desta cronologia. Assim, tudo fica em aberto.
A sua aquisição foi devida ao acaso da sua descoberta e, embora fora do contexto estético e cronológico em que habitualmente nos centramos, acabámos por a adquirir dado o encanto e estranheza que em nós despertou.
Renovamos o pedido feito anteriormente aos leitores que, eventualmente, nos possam esclarecer as dúvidas levantadas.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém


Não coleccionamos objectos de cerâmica só porque sim. Coleccionamos para melhor conhecer e perceber as dinâmicas industriais e produtivas, as modas, os gostos de toda uma época. Na verdade, o seu contexto social, económico, político, mental e artístico.

É evidente que não negamos haver também toda a vertente estética associada ao objecto, ao prazer de o possuir e, de alguma maneira, como já por aqui escrevemos, de contribuir para a sua preservação.

Pensamos que, ao longo dos breves meses de existência do blogue, já demos uma ideia, ainda que sumária, das nossas preferências e preocupações. Procuramos seguir os caminhos da modernidade dentro da vasta produção industrial do período que nos assiste, isto é, daquilo que está em consonância com o seu tempo próprio. Não nos interessam os neos enquanto pastiche, mas enquanto procura reinterpretativa que dará origem a algo novo.

Como trabalhamos, esta procura nem sempre segue o rumo que gostaríamos que seguisse. Trata-se apenas de um passatempo com que nos entretemos e descansamos o cérebro dos males deste país e do mundo, dado por vezes fazer falta uma pausa. Foi este o caminho que encontrámos para tê-la.


Em primeiro lugar tentamos ler o objecto em si mesmo, como fonte documental primeira. Depois, segue-se a pesquisa bibliográfica e daí andarmos atentos ao que foi e vai sendo editado em matéria de publicações monográficas, revistas e catálogos de exposições que interessem ao nosso propósito. Dadas as limitações de tempo, tentamos sempre adquiri-los, pelo que a nossa biblioteca acabou por ganhar contornos de núcleo especializado. Claro que a net veio facilitar, e muito, a busca. O que tem ficado sempre secundarizado é a pesquisa nos fundos documentais existentes.

Vem tudo isto a propósito de, finalmente, termos conseguido fazer um pouco de pesquisa, ainda que sumária, num desses acervos.

Trata-se do Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso, parte integrante do Museu de Cerâmica de Sacavém (CDMJA-MCS).

Não foi propriamente um primeiro contacto. O MCS faz parte, desde que inaugurou, do nosso circuito dos museus a visitar, enquanto amadores (no verdadeiro sentido) das artes da cerâmica, com a regularidade possível e de acordo com o seu calendário expositivo. Aos fins-de-semana evidentemente.

Com o aparecimento do blogue - e o mundo virtual tem, de facto, muitas vantagens - logo se estabeleceram trocas de contactos que se revelaram muito proveitosos.


Finalmente, consultámos o centro de documentação e confirmou-se o que suspeitávamos: um espólio rico e variado. Acrescente-se o termos encontrado uma equipa atenta, interessada, competente e simpática, que nos sugeriu pistas e nos guiou para além do que seria expectável. Acresce que grande parte da documentação se encontra digitalizada e por isso mesmo facilmente disponível, com a vantagem de preservar os originais existentes. Que esperam escolas, investigadores, colecionadores, e público em geral? O espólio está à espera de ser descoberto.

Podemos estar a ser injustos, mas pena é que a Academia continue com o preconceito de que a produção cerâmica se trata de uma arte menor e, por isso, menos digna. Mas, já agora, o CDMJA-MCS preserva arquivos de outras fábricas de Loures que esperam apenas que alguém as dê a conhecer. Provavelmente teriam surpresas agradáveis. Quando existem serviços e conteúdos, para além do equipamento propriamente dito, com esta qualidade, é incompreensível que estejam subaproveitados.


As imagens que hoje apresentamos, de peças art déco da Fábrica de Loiça de Sacavém, aqui anteriormente publicadas, muito teriam enriquecido os posts de então se tivéssemos feito a pesquisa em devido tempo. O nosso agradecimento ao CDMJA-MCS que tão generosamente nos permitiu utilizá-las. Reiteramos também os nossos agradecimentos a MAFLS que, de há muito, vem fazendo divulgação deste espólio e de quem tantas vezes "abusamos" ao utilizar as que publica.

Também nos parece que qualquer coisa mudou no museu. A exposição anterior e a que actualmente decorre, para a qual chamámos a atenção à data da sua inauguração, mostraram bem, pela positiva, essa mudança de rumo. Ganharam coerência temática e expositiva, criaram conhecimento, e, muito importante, são bonitas de ver.

Um senão: lamentamos a ausência de catálogos. Não havendo verba para um convencional em papel, porque não uma edição em CD, extremamente económica e hoje tão difundida internacionalmente?

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Prato art déco com dois pássaros de Géo Condé para a K et G Lunéville - França


Prato de faiança moldada com decoração policroma, estampilhada e aerografada, estilizada ao gosto art déco, com representação de dois pássaros sobre ramagens e folhagens curvilíneas que saem de um cesto. No verso, carimbo verde K et G Lunéville France. Inscrito na pasta PO (?).
Data: c. 1925
Dimensões: Diâm. 27 cm


Sobre o seu autor, Géo Condé (1891-1980), e das produções que realiza em simultâneo para as fábricas Lunéville, Saint-Clément e Badonviller, já aqui escrevemos anteriormente, e do seu trabalho e técnica apresentámos duas peças distintas.



O exemplar de hoje traz-nos uma das vertentes, que diríamos forte, das nossas colecções: peças cuja decoração é feita com recurso à estampilha e ao aerógrafo, de que também já aqui tivemos oportunidade de mostrar alguns exemplares alemães e portugueses.

 A combinação destas duas técnicas, rápidas e económicas, no período de grandes dificuldades financeiras que se seguiu à I Grande Guerra permitiu que as fábricas de cerâmica, sobretudo faiança, por um lado, respondessem aos efémeros fenómenos de moda dos loucos anos 20, por outro lado, explorassem os diversos caminhos da modernidade artística que se impunham num quotidiano ávido de novidade. Ao produzir e vender a baixo custo, dava-se a possibilidade das classes menos favorecidas acederem a objectos modernos e de apreciável qualidade plástica, e que a produção mais rarefeita da porcelana haveria de seguir o exemplo dada a sofisticação artística a que se chegou na utilização destas técnicas baratas, que ameaçavam a sua produção manual mais elitista.

Mas se a produção francesa aposta num desenho claramente delineado, plano, de cores fortes, sem nuances e degradés, caso do prato de Géo Condé de hoje, cujo desenho é límpido no seu recorte e cores bem evidenciadas, pelo contrário, grande parte da produção alemã aposta no sentido inverso, apresentando propostas mais vanguardistas, como também já escrevemos, que tiram o máximo partido dos esbatidos que a pulverização com o aerógrafo proporciona. Tentaremos continuar a ilustrar estas duas correntes e os seus reflexos na produção nacional.