sábado, 15 de dezembro de 2012

Peixe dourado art déco – Electro Cerâmica



Escultura decorativa de porcelana moldada e relevada em forma de peixe, cor de laranja, com apontamentos a ouro. No fundo da base, carimbo cinzento com EC sobrepostos inscritos num quadrado na oblíqua.
Data: c. 1935
Dimensões: alt. 8 cm x comp. c. 15 cm x larg. c. 5,5 cm



Para além de toda uma produção faunística ora mais naturalista, que tanto servia os interesses de zoólogos e naturalistas como os gostos de amadores empenhados, ora mais estilizada e em versões mais decorativistas, em função das estéticas vigentes, um pouco por toda a Europa, diferentes fábricas e ateliers artísticos de cerâmica criaram um sem número e variedade de animais. Já tivemos oportunidade de ilustrar uns quantos. Uma dessas correntes, muito activa nos anos de Entre Guerras, que, aliás, terá tido muito sucesso junto do grande público, parece ter usado o universo da ilustração de livros infanto-juvenis, da banda desenhada e do cinema de animação para criar objectos tridimensionais, com meras funções decorativas, como é o caso do peixe de hoje, ou funções específicas - veladores e caixas, por exemplo - como também ilustramos, em produções francesas. Trata-se de peças lúdicas, divertidas e optimistas que não parecem ter sido exclusivamente pensadas em função, mais circunscrita, da decoração de interiores de espaços dirigidos a crianças, mas antes como apontamentos de bom humor a fazer esquecer quer o horror da Grande Guerra, quer, depois, as agruras da Depressão. 


O optimismo e a profusão de escultura animalista são características do Art Déco nas suas diferentes declinações estéticas. Neste exemplar nacional, mais uma vez se documenta uma aproximação ao barroco, no movimento pronunciado e no exagero das características anatómicas do animal representado, sobretudo no gigantismo das escamas, e na teatralidade burlesca da forma. 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Jarra art déco com fetos em relevo – Aleluia-Aveiro



Jarra de faiança moldada, em forma de balaústre, cor sangue de boi, com folhas de feto (?) em relevo, a branco, com nervura central a ouro (infelizmente muito gasto) debruado a verde em esfumado (que nos parece aplicado a esponjado). Rebordo do bocal canelado, a ouro, e interior branco. No fundo da base carimbo castanho «Aleluia Aveiro», com L ou V a ouro pintado à mão, sobrepujando carimbo da mesma cor «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo, e, escrito à mão, a ouro, X 336-B.
Data: c. 1945-55
Dimensões: alt. c. 21cm x diâm.15cm


Mais uma peça do período de transição, embora neste exemplar remetendo ainda para um gosto art déco tardio, em que à pureza da forma clássica se apõe um bocal de rebordo canelado e uma ornamentação de folhagem que remete longinquamente para as igualmente clássicas folhas de acanto. Trata-se do modelo X 336, seguido da letra B, referente à decoração, pelo que esta será a segunda de toda uma série.


Pelo que soubemos, graças ao comentário de CMP em relação à peça neo-barroca da Aleluia-Aveiro que postámos anteriormente, as variantes decorativas desse modelo X 394 vão até à letra X. A mesma lógica deverá aplicar-se à jarra de hoje, que será de criação anterior dada a sua numeração.

Face a esta explicação, aproveitamos para mostrar também uma outra variante cromática daquela, cedida gentilmente pelo nosso leitor Hugo, de quem já apresentámos outras peças, e a quem agradecemos. Trata-se do exemplar X-394-J.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Prato de cozinha S. J. Benchaya - Sacavém


Prato de cozinha de faiança moldada, com decoração estampilhada de motivo central em “rosácea” de oito folhas, a branco, sobre as quais se destaca a estilização repetida de motivo floral de centáureas. Folhagem a castanho alaranjado e flor branca recortando-se sobre círculo azul-escuro, envolvida por fitas amarelas, sobre fundo verde. Este motivo central é emoldurado por ornato de torçal a verde e azul-escuro. Aba ornada de motivos geométricos de meandros rectos da cor da folhagem. Sequências de círculos concêntricos a verde, azul-escuro e castanho alaranjado complementam a decoração. No fundo da base, carimbo circular verde, S. J. Benchaya – Casablanca – Fabriqué au Portugal.
Data: c. 1930-35
Dimensões: Ø 39 cm



Trata-se da decoração nº 969, da década de 1930, cujo carimbo era aplicado exclusivamente nas peças encomendadas pela casa comercial S. J. Benchaya, com sede em Casablanca. Destinava-se ao mercado marroquino, embora também por cá aparecessem à venda. Citado por MAFLS, Pinto Basto referiu na sua obra A Cerâmica Portuguesa (1935), que Sacavém, na década de 30,« abastece o mercado da Metropole e. exporta principalmente para Marrocos». Agradecemos mais uma vez ao Museu de Cerâmica de Sacavém - Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA), a cedência da reprodução do desenho de arquivo.


Industrial judeu de Casablanca, S. J. Benchaya, apercebeu-se da oportunidade de enriquecimento que a produção de objectos de faiança para o mercado marroquino lhe podia proporcionar. Em Marrocos não se fabricava este tipo de loiça por falta de matéria-prima adequada, mas alvo de muita procura por parte das classes mais privilegiadas locais que procuravam objectos dentro de um gosto em consonância com as tendências europeias do momento e, portanto, menos tradicionais, mas que, de alguma maneira reflectissem uma estética nacional.
Já na viragem do século, M. Benchaya, estamos em crer que seja o pai de S. J. Benchaya, embora não o tivéssemos conseguido ainda apurar, havia estabelecido a Fábrica de Loiça de Sacavém como local de importação de objectos utilitários de faiança para Marrocos. Na continuidade desta parceria, S. J. Benchaya vai criar decorações originais, simultaneamente dentro da contemporaneidade europeia mas de espírito marroquino.
Para mais sobre Benchaya, ver aqui.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Jarra Aleluia-Aveiro



Jarra de faiança moldada em forma de campânula polilobada numa alternância de caneluras côncavas e convexas a dois tamanhos. As primeiras a creme e as segundas aerografadas a vermelho-alaranjado em esfumado, separadas por filetes a ouro, cor que delimita também o bocal.
O corpo assenta sobre pé saliente, canelado e escalonado, aerografado a cheio na mesma cor vermelho-alaranjada e rematado a ouro, de onde partem, três enrolamentos contracurvados apostos e salientes, igualmente a ouro, que sobem até meia-altura do bojo. No fundo da base carimbo castanho «Aleluia Aveiro», com dois pontos a ouro pintados à mão, sobrepujando carimbo da mesma cor «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo, e, escrito à mão, a ouro, X 394-B. Dado o pé ser oco, regista-se ainda a presença de um furo circular ao centro.
Data: c. 1945 - 55
Dimensões: Alt. c. 23 cm



Neste tipo de peças, que temos vindo a designar como integrantes de uma estética de transição, domina uma linguagem tendencialmente neo-barroca, em consonância com certas vertentes decorativas à época. Não o barroco e o rococó como os reinterpretou o Art Déco, mas uma valorização conservadora, se não mesmo reacionária, dos mesmos que já se vinha manifestando desde a década de 30 e que o cinema, sobretudo norte-americano, uma vez mais, veiculou. A decoração de interiores torna-se mais sobrecarregada, mais exuberante, chegando, por vezes a um horror vacui, onde predomina o excesso tingido de uma certa influência surrealista. Os concheados e os gordos enrolamentos vegetalistas marcam novamente presença. A curva volta a predominar sobre a recta que praticamente desaparece.

Quando se passa, para a fase seguinte, nos anos 50, na produção da Aleluia-Aveiro esta tendência conservadora e a moderna, entretanto surgida, sendo opostas entre si, unem-se no mesmo apego à linha curva e no mesmo gosto pelo dinâmico por oposição ao estático.

Nas colecções do Museu Nacional do Azulejo (MNAz) existe uma jarra em versão verde, creme e ouro (n.º de Inventário:364 Cer) cuja imagem, disponível no MatrizNet, aqui também mostramos.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Jarra Arte Nova Denbac nº 11- França


Jarra de grés moldado, piriforme, de gargalo alto e estreito em cujo topo emergem tenuemente relevos orgânicos que, acompanhando as escorrências dos próprios esmaltes, em diferentes tons de terras acastanhados, escorrem ganhando volume, destacando-se do corpo da peça formando, assim, quatro pequenas asas curvas, exteriormente angulosas, que no bojo se voltam a dissolver em sugestões curvilíneas vegetalistas que se entrelaçam, deixando entrever de permeio granulosas sementes ou frutos. No fundo da base, inscrito na pasta 11. Denbac
Data: c. 1910
Dimensões: Alt. c. 25, 5 cm


Na organicidade plástica da peça encontramos eco das criações de Hector Guimard. Uma sugestão de vegetação devoradora que tudo envolve e asfixia, selvagem e ameaçadora. Daí um dos seus fascínios. Esta foi a primeira que comprámos, em 2007, curiosamente na Alemanha. Hoje possuímos um pequeno núcleo de peças produzidas entre cerca de 1910 e 1935. As datações são mais ou menos aproximadas. O exemplar que mostramos será dos primeiros se tivermos em consideração a numeração presente que a identifica.


O ceramista René Denert (1872-1937) fundou em Vierzon, um atelier cerâmico, em 1908. No ano seguinte o atelier passou a firma com o seu nome. Em 1910, René Louis Balichon (1885-1945) torna-se sócio da empresa onde vai desenvolver a rede comercial, racionalizar a produção e elaborar catálogos com o inventário sistemático da quase totalidade das centenas de modelos criados por Denert e seus colaboradores. Estarão inventariados cerca de 670 dos 750 a 800 modelos produzidos
O novo nome da sociedade virá a reflectir os apelidos dos fundadores: Den, de Denert, bac, de Balichon.
Enquanto gestor, Balichon criou não só uma variada rede de lojas de retalho, como também forneceu os grandes armazéns de Paris, caso das Galerias Lafayette e Printemps, e exportou para o estrangeiro. Explorou também parcerias com empresas de perfumes e de bebidas, como a Cointreau ou Marie Brizard, para as quais foram criados múltiplos recipientes em grés e porcelana.
Reflectindo a época turbulenta em que laborou, a empresa encerrou por duas vezes durante as guerras mundiais.
Com a morte de Denert, em 1937, a companhia começou a conhecer dificuldades, agravadas com o encerramento devido à guerra. Balichon morreu em 1949, tendo os seus herdeiros continuado à frente da fábrica até ao fecho definitivo em 1952.
Caracterizadas sobretudo por um estilo Arte Nova já tardio e muito orgânico, as peças Denbac são facilmente reconhecíveis pelos seus esmaltes espessos, mates, aveludados, maioritariamente com subtis gradações de cor e muito agradáveis ao tacto, que fazem o seu encanto. No entanto, e de acordo com a época, produziu também interessantes peças Art Deco, de formas muito geometrizadas, mantendo a qualidade dos esmaltes, agora por vezes fortemente contrastados.


Durante anos ignoradas por museus e colecionadores, estas criações começaram a ser, há já alguns anos, objecto de paixão. Embora a grande maioria continue relativamente acessível, certos exemplares por vezes atingem preços considerados impensáveis há bem pouco tempo,
Em Lisboa não somos os únicos a gostar destes objectos, outros apreciadores avisados tiveram o péssimo gosto de terem constituído colecções com peças de fazer inveja a qualquer amante de cerâmica. Achamos tal atitude completamente execrável. Sobretudo depois de vermos algumas peças que, como é evidente! detestaríamos possuir…
Para conhecer a boa e variada produção desta fábrica ver aqui


domingo, 2 de dezembro de 2012

Base para bolos Carstens-Uffrecht 01 - Alemanha


Mais uma peça da fábrica alemã Carstens-Uffrecht, da vertente modernista do Art Déco de filiação Bauhaus. Desta vez uma base circular para tartes e bolos, também de faiança moldada e da mesma cor turquesa do bule, igualmente com decoração aerografada dentro do abstracionismo geométrico de influência kandinskyana que remete para uma ideia de paisagem com poste telefónico. Neste caso, o “solo” ondulado a castanho, o poste telefónico a preto (ou castanho muito escuro) e as pequenas manchas a azul - em duplicado e em espelho aparente e invertido simulando perspectiva - é idêntico ao da jarra de asas helicoidais já mostrada e referida no post anterior. Centro e rebordo da peça aerografados a castanho. A superfície circular assenta sobre anel espesso cuja curvatura estreita em direcção  ao pé e de onde saem as duas asas, de secção triangular, suavemente encurvadas, quase imperceptíveis vistas de cima.No fundo da base, carimbo triangular da Carstens-Uffrecht sobrepujando Dek. 257.
Data: 1931
Dimensões: Ø 31 cm (33 cm c/ asas) x alt. 5 cm