Estatueta de porcelana branca moldada e policromada,
em forma de par galante oitocentista (c.1840-
c.1860), numa reinterpretação estilizada
ao gosto art déco. As carnações das
duas figuras são ligeiramente rosadas. A figura masculina, de barba e cabelo
mel, da mesma cor das calças, veste casaca cinzenta e abraça, a figura feminina,
que beija na face, trazendo chapéu alto na mão esquerda pendente. A mulher apresenta
uma ampla saia rodada, com flores coloridas, rematada com dois grandes folhos
brancos. Blusa verde-claro com punhos azul forte. Por cima do conjunto, um
xaile de renda branco. Na cabeça, touca igualmente verde com flor de pétalas
brancas contornadas a rosa, atada ao pescoço com fita azul forte que se
desenvolve num laço. Interior vazado. No fundo da base, no bordo, carimbo verde
La Maitrise.
Data: c.1925
Dimensões: alt.
c. 25 cm x comp. c. 25 cm x larg. 19 cm
Trata-se
de uma produção provavelmente de Limoges para La
Maîtrise, o atelier de arte das
Galerias Lafayette, em Paris, de que
já tivemos oportunidade de dar notícia
Decidimo-nos
a postar esta peça hoje, depois de termos visto o filme «Lincoln» recentemente
estreado. Uma lição de história, bem contada, e melhor representada, certamente
destinada aos alunos americanos. Enquanto cinema, enfim …
Relegada aos trabalhos domésticos e educação dos
filhos, a função social da mulher de condição limitava-a ao papel de esposa e
mãe. Em consonância, a moda feminina de meados de Oitocentos era bem o sinal de
um tempo em que às mulheres era elidida a sexualidade e negados os direitos.
Veja-se, nesta estatueta, como num tempo de libertação da mulher, nos loucos anos
20, se revisitava ironicamente o puritanismo de uma outra época que
corresponderia à juventude das avós.
A figura submissa da mulher, protegida pelo galante
dandy, traz uma ampla saia que pousa sobre uma armação de modo a acentuar o seu
rodado, salientando, por contraste, a estreiteza do busto. A cabeça tapada por
uma touca e um xaile sobre os ombros realçavam o recato que a mulher deveria
ter. Todos os movimentos naturais do corpo ficavam condicionados quer pela
rigidez da saia quer pelo espartilho que lhe impedia a respiração. Quantos
desmaios não encontramos na literatura da época, transformados em condição de
elegância feminina, quando não passavam de falta de oxigenação do sangue …
Em relação ao filme, à moda e aos desmaios, já
agora, e por contraste, veja-se o incomparável «E tudo o vento levou». Está lá
tudo, em palavras e imagens. E viva o Cinema e Scarlett O’Hara!