domingo, 14 de junho de 2015

Importações e desencontros: leiteira modelo «Estoril» versus Keith Murray - Sacavém


Ainda a propósito do modelo de serviço de café produzido por Sacavém concebido por Keith Murray postado ontem, cumpre-nos tecer algumas considerações sobre o mesmo, até para dar maior destaque a um caso que nos intriga e que parece ter sido recorrente na produção industrial portuguesa. Ao nível da cerâmica pelo menos.



É que a pequena leiteira do modelo «Estoril» da Fábrica de Loiça de Sacavém que hoje postamos, também de importação inglesa como já tivemos ocasião de escrever, acompanhava o serviço de Keith Murray como se fizesse parte do mesmo. Porque nos pareceu uma incongruência fizemos propositadamente a separação entre as peças postadas ontem e esta, com 7 cm de altura e datável de c. 1935.


Misturar cafeteira e chávenas concebidas por Keith Murray para Wedgwood, de c. 1934, com a leiteira (e sabe-se lá qual seria a forma do açucareiro) modelo Moderne, da firma inglesa Carlton Ware, de c. 1935, terá sido devido às leis do acaso que, por afinidades de cor e sentido de oportunidade de vendedores de velharias, acabassem por reunir peças de modelos diferentes formando conjunto? Ou terá sido uma opção deliberada, uma estratégia de mercado por parte de empresas nacionais, caso de Sacavém? Por questões de preço? Não seria caso único nem a única fábrica a fazê-lo. Também já aqui levantámos suspeitas sobre um serviço da Vista Alegre, por exemplo.


Acompanhar a evolução do design moderno internacional durante a década de 30 num país pouco culto e que não tinha designers próprios, poderá ter dado azo a equívocos de produção. Ou por economia de meios ou por desentendimento funcional e estético das formas. A satisfação de um mercado composto por uma clientela pouco esclarecida poderá ter levado à mistura, consciente ou não, de modelos de várias linguagens. Que era usual importar modelos estrangeiros de proveniências distintas para satisfazer fábricas nacionais é um facto. No clima de renovação formal do período Art Déco ocorrido no Portugal de finais dos anos 20 e, sobretudo, na década seguinte, assim se satisfazia as necessidades de um mercado pouco exigente e se acompanhava a evolução internacional do gosto e das mentalidades

2 comentários:

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