domingo, 15 de setembro de 2013

Jarra art déco aerografada - Villeroy & Boch - Alemanha

A propósito da visita que ontem fizemos à exposição itinerante «Deutscher Werkbund.100 anos de arquitectura e design na Alemanha. 1907-2007», movimento que trouxe influências incontornáveis que perduram ainda hoje, ao promover a colaboração entre a arte, a excelência artesanal e a indústria, escolhemos a peça de hoje.




Trata-se de uma jarra de faiança moldada composta pela justaposição de duas formas geométricas que se interpenetram. Do bojo ovaloide, assente em base saliente, abre-se um colo troncocónico invertido com bocal em anel. De cor amarela com decoração estampilhada e aerografada, com apontamentos à mão, em tons laranja e castanhos. Na parte superior uma composição geométrica abstracta, escalonada na oblíqua, resultante da sobreposição de estampilhas, repete-se três vezes. No seu alinhamento, junto ao estrangulamento, uma composição de linhas castanhas, três verticais cortadas por duas horizontais. No fundo da base carimbo castanho «7670» e inscrito na pasta «3233».
Data: 1932
Dimensões: Alt. 22 cm



Embora sem marca, é da Villeroy & Boch, da unidade fabril de Torgau, de 1932, modelo 3233, conforme catálogo da fábrica dessa mesma data.

A forma desta jarra filia-se claramente numa outra, presente na referida exposição, criada por Marguerite Friedlaender (1896-1985), que foi aluna na Bauhaus de Weimar. Trata-se da jarra «Hallesche» (forma), de c. 1931, editada pela KPM (Konigliche Porzellan-Manufaktur), em Berlim, que aqui se ilustra.


Se nesta peça icónica de Friedlaender o despojamento da forma e ausência de decoração enfatizam a função, na reinterpretação da Villeroy & Boch a forma é relativamente secundarizada por uma decoração de padronagem aerografada. Assim o funcionalismo integra-se numa das vertentes do Art Déco alemão. Destinada a uma população economicamente mais desfavorecida, cumpria a sua função de divulgação de uma estética de vanguarda junto das massas em tempos de crise. A arte e a indústria aliadas e ao serviço do povo.

Pena que o catálogo que acompanha a exposição seja apenas em língua alemã e não tenha havido o cuidado do país que a concebeu, dado ser uma exposição itinerante, de ter editado uma versão numa língua veicular mais acessível a um maior número de eventuais interessados. É verdade que existe uma pequena brochura com textos em português, em jeito de síntese, mas sem o complemento ilustrativo das peças ou demais imagens expostas.

Infelizmente, trata-se de uma situação assaz frequente na Alemanha, e que diríamos mesmo incómoda para o visitante estrangeiro, ver exposições ou museus que geralmente não dispõem de catálogos ou outra bibliografia disponíveis se não em língua alemã.

2 comentários:

CMP* disse...

Concordo inteiramente convosco. É realmente uma pena o catálogo não ser bilingue e numa exposição itinerante é incompreensível. Seria conveniente que os alemães apostassem mais em edições bilingues, pelo menos nesta área de trabalho, deparamos constantemente com esse problema.
CMP*

AM-JMV disse...

Cara CMP,
Nós acabamos por adquirir muita bibliografia em alemão, mais que não seja para obter datações, autorias e centros de fabrico. Por vezes pedimos ajuda externa quando precisamos de aprofundar um pouco mais. Mas não é solução. Helas!