Cinzeiro-cigarreira de faiança moldada e policroma,
suavemente craquelé, em forma de gato
estilizado. O animal, de cor alaranjada e nacarada, com apontamentos a preto, é
representado deitado de barriga para cima, formando uma concavidade que serve de
receptáculo para as cinzas, com patas dianteiras também para cima e patas
traseiras segurando o rabo. Na cabeça erguida, de grandes olhos azuis esbugalhados
e expressão sorridente sob os bigodes, com uma abertura circular no canto
esquerdo da boca para um cigarro, tem um chapéu, cor de laranja com pala preta,
perfurado por cinco orifícios circulares para enfiar cigarros. No fundo da base, carimbo azul acinzentado «Gilman
& Cta – Sacavém» e «Made in Portugal». São visíveis as marcas da
trempe.
Data: c. 1935-45 (?)
Dimensões: Alt. 9,5 cm x larg. 9,5 cm x comp. 9,5 cm
A figura corresponderá à designação «Cinzeiro
Formato Gato», com o nº 272, que aparece nas tabelas de preços de «Loiças
decorativas em faiança» de 1945, a 10$00 (na de 1950 aparece a 20$00).
A gramática estilizada da peça em forma de gato remete-nos
para a banda desenhada da época, e para o famoso Gato
Felix (Felix the Cat), de quem já aqui escrevemos, no post de 1 de Junho de 2013, a propósito de gato
da Lusitânia-Coimbra.
Peça irónica, o animal ostenta uma
expressão sorridente, arriscamos mesmo a dizer viciosa, tal o deleite transmitido
pelo
prazer de fumar. É reflexo de uma época em que
os pequenos bibelots preenchem o vazio do quotidiano com cor e humor.
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O período entre as duas Grandes Guerras
oferece-nos uma miríade de objectos fantasistas que povoam as decorações de
interiores e quotidianos. Foram anos onde o bibelot
e a ironia fizeram parte de um universo onde se simplificaram formas e
decorações por oposição ao gosto mais rebuscado da Belle Époque. O Art Déco, nas suas mais variadas expressões
estéticas, permitiu superar a angústia da carnificina da I Guerra e nos Anos
Loucos as pessoas aprenderam a rir-se de si mesmas. Se por um lado, numa
primeira fase, concebeu ambientes e objectos luxuosos, selectivos e
requintados, por outro lado, depois de 1929, a Grande Depressão propiciou uma
produção de massas mais em consonância com os tempos de crise que se viviam e
onde opções estéticas mais populares do estilo contribuíram para a criação de
ambientes descontraídos, coloridos e cheios de vida. Em todo o caso, a
tendência foi ambos os tempos serem modernos e, dentro do possível, feéricos.