Serviço
art déco de linhas modernistas de
porcelana branca com decoração alusiva aos Jogos Olímpicos de 1936, composto
por bule, leiteira, açucareiro e chávenas com respectivos pires. O símbolo olímpico,
a cinco cores é complementado pelas cores da bandeira nacional (embora o
encarnado tenha aqui um tom mais alaranjado) representado por duas argolas,
apenas ausentes nas chávenas e pires. Na base de todas as peças, carimbo verde
V. A. Portugal (Marca 31:
1924-1947). Na leiteira, pintado à mão a laranja, PA204, e, inscrito na
pasta, 25. Inscrito na pasta, à mão, no bule, 1 = 4; na chávena, 4 e t (?); no
pires, 7.
Data: 1936
Dimensões: Várias
Modelo lançado pela Vista Alegre por volta de 1935, a decoração deste nosso exemplar é seguramente do ano seguinte, dadas as referências óbvias aos Jogos Olímpicos de 1936 na Alemanha.
Vagamente inspirado no modelo Conical – Odilon, criado pela inglesa Clarice Cliff, em 1929, da linha Bizarre, a versão portuguesa apresenta bastantes diferenças na forma das peças em relação à sua, eventual, fonte de inspiração. Não há dúvidas que a forma da leiteira e a base, em cruz grega, do açucareiro, remetem para o modelo inglês, tal como as pegas das tampas. Mas estas são as únicas semelhanças pois em relação às demais formas só encontramos diferenças: o açucareiro na versão inglesa é perfeitamente cónico e não em calote esférica como o modelo VA, forma que se repete nas chávenas de asa cúbica; no bule inverte-se o sentido troncocónico do corpo da peça e também a asa e o bico não acompanham o modelo inglês. E mesmo a leiteira da versão portuguesa apresenta uma subtil curvatura junto à base que contraria a forma troncocónica do original. Demasiadas diferenças para uma filiação directa que alguns pretendem ver.
Uma coisa parece certa, a decoração será de inspiração alemã, caso das duas argolas que aqui apresentam as cores da bandeira portuguesa, mas que noutros exemplos deste modelo de serviço da VA estão em consonância com os exemplos que aqui ilustramos, da fábrica alemã Schmelzer & Gericke em Althaldensleben, mais ou menos da mesma data.
Este serviço terá sido editado apenas para
comemoração dos Jogos Olímpicos ou terá tido também funções de representação na
comitiva oficial portuguesa ao evento que pretendia ser a celebração triunfal
dos êxitos do nazismo e do novo papel da Alemanha no concerto das nações?
Não nos esqueçamos que a década de 30 foi a época
por excelência do triunfo dos fascismos nos quais o regime de Salazar se
enquadrava.
Utilizando massivamente todos os meios possíveis de
propaganda, o regime nazi de Hitler aproveitou os Jogos Olímpicos de 1936, em
Berlim, como elemento potenciador do prestígio da nova Alemanha.
Criou o mais moderno complexo desportivo feito até então, limpou a cidade de toda a propaganda anti-semita, insinuou a ideia de que o regime era tolerante e pacífico, na crença de que a superioridade ariana haveria de ser demonstrada pelo número de medalhas ganhas. Quase que numa premonição do que haveria de acontecer nove anos depois, foram os estrangeiros, nomeadamente a “raça inferior” dos negros norte-americanos que arrebataram as medalhas de atletismo, a mais importante das modalidades olímpicas, derrotando a Alemanha. E o herói destes jogos que pretendiam ser a exaltação da raça ariana, foi Jesse Owens, um afro-americano (para utilizarmos a linguagem politicamente correcta).
É neste enquadramento que a produção de porcelana
alemã, que aqui se ilustra, teve o seu papel enquanto veículo de exaltação do
regime em ano de grandes celebrações desportivas e de triste memória.
4 comentários:
Olá! Gostei muito deste conjunto Déco e partilhei a vossa página no Facebook. No entanto alguém reparou que o símbolo dos Jogos Olímpicos não estava correto. Nem tinha reparado e vocês? :-)
Olá Sandra,
É verdade o símbolo está invertido. Um amigo nosso francês também já nos tinha chamada a atenção para esse facto. Esperávamos que alguém fizesse algum comentário nesse sentido. Ainda bem que o fez. Repare que também uma das chávenas alemãs tem o símbolo invertido. Obrigado.
Cumprimentos
Tenho este serviço de chá da VA com uma decoração totalmente diferente. Se quiserem posso partilhar as imagens das peças que resistiram ao uso. Na minha opinião, as formas da VA são muito mais delicadas, mais leves, do que as de Clarice Cliff.
Cara Tink,
Se quiser partilhar as imagens, pode enviar-nos para o e-mail do blogue. Não prometemos publicar, a não ser que venha a propósito de algum objecto nosso que venhamos a postar no futuro. Quanto à opinião de que as formas da Vista Alegre serão mais leves que as de Clarice Cliff até poderemos estar de acordo, mas a questão relevante é que não se trata de uma criação nacional mas importação de modelo estrangeiro, assim a criação inglesa é a que importa, infelizmente para nós. Obrigado pela partilha.
Cumprimentos
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