Velador-perfumador de porcelana moldada, de cor branca, com apontamentos a azul e ouro, em forma de Pierrot ajoelhado, estilizado ao gosto art déco, com taça (perfumador) nas mãos em jeito de oferenda. Gorro, punhos e bainhas reviradas a azul claro, e taça, botões e ondulado da gola a ouro. Na base, carimbos a preto, A. L. Made in France, sob a perna esquerda e Modèle déposé, sob a perna direita. Tem instalação eléctrica completa de origem, com pêra de madeira.
Data: c. 1930
Dimensões: alt.
Falta a esta peça, que corresponderá ao modelo nº 582, a tampa da taça. Este modelo de Pierrot ajoelhado foi fabricado
para outros usos, caso da versão tinteiro, que se distingue
da versão velador por não ser electrificado, pela forma da taça, onde encaixa
um godet, sobre o qual assenta uma
tampa, e pela presença de um pequeno furo para colocar a pena de escrever.
Conhecemos um exemplar que porta
a assinatura de Charles Serpaut, que, cremos, tenha sido o autor da peça. Contudo, não sabemos se este modelo se inspirou no, ou deu origem ao, Pierrot
editado pela Rosenthal, peça com 17 cm de altura, e cuja imagem também aqui se
mostra.
A sigla A. L., que
tantas vezes nos aparece, erroneamente, como sendo Aladin, corresponde a uma
fábrica de porcelana e atelier de decoração, de Limoges, Alfred
Lanternier. Aliás, esta manufactura, de
facto, fabricou peças para outros editores, caso da Aladin, assim como para
Robj, por exemplo, o que terá dado azo a esta ideia tão difundida.
Foi a propósito de uma peça
editada por Aladin que já aqui escrevemos sobre veladores-perfumadores, em que
a luz acesa dentro da peça aquece lentamente o perfume (ou óleo perfumado) que
se coloca no recipiente.Com antecedentes que remontam a 1857, quando François Frédéric Lanternier inicia negócios relacionados com a exportação de porcelana local, a sociedade Alfred Lanternier & Cª foi criada em 1890, em Limoges, por aquele e seu filho Alfred (1859-1932). De 1887 a 1881 Alfred já tinha trabalhado em Inglaterra e tornado representante da Wedgwood para a Europa continental. Em 1914, Alfred associa-se ao cunhado, e cria a A. Lanternier & Cª, fabricando exclusivamente cabeças de bonecas, passando depois do fim da I Grande Guerra a fabricar porcelana utilitária e decorativa. A firma, em 1960, passa a integrar a empresa limosina Gerard, Dufraiss & Abot (GDA).
Já por diversas vezes nos referimos ao historial que as peças sempre transportam. Por vezes, algumas testemunham de forma directa um pouco desse passado, trazendo-nos informações objectivas de factos que acabam por esconder mais do que revelam. É o caso desta peça que apresenta na base, escrito à mão, a lápis, 24/2/932, talvez a data em que o que primeiro proprietário a adquiriu, pelo que acrescentámos, também a lápis, a data 18/12/1998 em que a adquirimos nós, em Lisboa, na Feira da Ladra. Parecendo levantar um véu, criou-se e adensou-se o mistério. Quem a comprou, porque a comprou, onde a comprou? Porque assentou a data? No futuro, se alguém a voltar a comprar, o que pensará das duas datas escritas à mão que passaram a integrá-la?
Francamente, gostamos das peças com história!