Jarra de faiança moldada, piriforme com decoração vegetalista
estilizada em relevo, assente sobre pé circular e com bocal estreito em anel,
esmaltada a azul. Uma rede de caules, folhas e gavinhas, de onde desponta uma
única flor, envolve o bojo da peça cujo fundo é estriado. Remates ondulados
junto ao gargalo e ao fundo enquadram a composição. Na base, em
relevo na pasta, “883 St Clément – France”.
Data: c. 1930Dimensões: alt. 30,6 cm
Este modelo, criado por J. Ventrillon, foi produzido em faiança pela fábrica francesa de Saint-Clément, tendo edição de grés, pela “Mougin Nancy”, embora mais pequena, com 26,5 cm de altura (ver catálogo do leilão de 10 de Outubro de 2007, da Drouot, lote nº 141, cuja foto se reproduz).
Sabe-se que J. Ventrillon, corresponde a Gaston Ventrillon (1897-1982), dito o Jovem
(le Jeune), um de três irmãos que criaram irmãos para o repertório do atelier
Mougin. Apesar de haver, por vezes, dificuldades em identificar muitas das
peças criadas pelos três, esta está devidamente identificada.
Gaston
foi o mais turbulento dos três irmãos Ventrillon que trabalharam para as
fábricas de cerâmica de Lunéville. Participou em diversas manifestações
vanguardistas, pertenceu ao grupo dos «Cadets de Lorraine» e envolveu-se em
experiências de arte colectiva tendo pintado também cenários para peças de
vanguarda.
A prática de haver modelos de faiança produzidos para um grande público e
de grés para uma elite já aqui foi aflorada a propósito de uma peça de outro
artista de Lunéville: Geo Condé, em 26
de Maio de 2012.
A falta de conhecimento, de informação e de referências do
público amador português, entre os quais
nos incluímos, levou-nos a adquirir, em 2000, numa conhecida casa leiloeira lisboeta
o exemplar que hoje apresentamos. A peça, aliás, disputada com um antiquário da
capital, ficou por um preço idêntico ao da homóloga Mougin vendida pela Drouot
em 2007. Ou seja, por um preço muitíssimo superior aquilo que efectivamente
vale. As produções deste género de faiança são relativamente baratas e vulgares
no mercado francês, independentemente do sua valia artística. Embora hoje nos
sintamos enganados, nem por isso deixamos de gostar menos dela.
Na verdade, a periferização do país fazia, e ainda faz, com
que os objectos coleccionáveis do século XX, ou que estejam na moda, nacionais
ou estrangeiros, sejam vendidos a preços exorbitantes. Como também já
referimos, a globalização que as viagens, reais ou virtuais, possibilitam,
permitiu uma maior difusão de conhecimentos, abriu novos campos de informação e
facilitou a circulação de objectos até então menos acessíveis. No entanto, a
relativa marginalização de largos sectores da sociedade portuguesa em relação a
estes novos caminhos leva a que esta democratização continue limitada a um gheto de interessados mais ou menos “estrangeirados”,
e se continue a ver em algumas casas especializadas artigos Arte Nova, Art Déco e de design vintage, muitas vezes de
terceira ordem, vendidos a preços ridiculamente caros.
As peças portuguesas, devido à relativa escassez de produção, são habitualmente mais caras que as suas congéneres europeias. No entanto, isso não justifica os preços absurdos praticados por grande parte dos vendedores nacionais, que por falta de referências estão convencidos que têm tesouros na mão. Pena que assim seja, pois em vez de fidelizarem uma potencial clientela acabam por afastá-la, pelo que todos ficam a perder.
Como se vê, julgamos estar hoje mais atentos e informados. Ou
talvez não…
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