Figura
feminina de porcelana moldada e policromada, de jovem mulher de pé, sobre soco,
em pose, com mão direita na cintura e perna direita flectida. No braço esquerdo
segura uma bola dourada, da mesma cor dos sapatos rasos. Veste traje desportivo,
composto por calções tufados cor-de-lilás, da mesma cor da gola e gravata da
blusa listrada em tons de verde. Calções apresentam um ligeiro grafismo
avermelhado cuja cor é retomada na decoração geométrica da gravata. Sobre os
ombros, echarpe cor-de-laranja com motivos lineares de ramagens e folhas, em
cinzento, de onde despontam grandes flores abertas bem delineadas a preto, com
as pétalas a apresentarem dois tons de laranja, o do fundo e outro mais
carregado, ao gosto art déco. As
carnações remetem para o tom rosado da pele, com olhos azuis, lábios vermelhos
e cabelos castanhos cortados à moda dos anos 20. O soco, troncocónico, mantém o
pé circular, sendo facetado em quatro lados, com realces a ouro. Nele aparece
inscrito, na face posterior, a assinatura do autor: J. Meier. Na base, carimbo
estampado a verde Puls – Bohemia, sobrepujado por coroa.
Data: c.
1925Dimensões: alt. c. 33 cm
J. Meier, artista de quem pouco sabemos, trabalhou para várias fábricas, entre as quais as checas Puls e Pirkenhammer - desta última já apresentámos outra escultura da sua autoria, o centro de mesa que postámos em 20 de Dezembro de 2011, cuja figura feminina tem idêntico corte de cabelo, muito anos 20. Terá trabalhado ainda, pelo menos, para as fábricas Hohenstein e Goldscheider.
A fábrica Puls - Pfeiffer & Löwenstein, tem origens que
remontam a 1879, quando Ludwig Lowenstein funda uma fábrica de porcelana, em Ostrov, na Boémia (na antiga Schlackenwerth do Império Austro-Húngaro,
hoje parte da República Checa). Em 1900, era gerida por Josef Pfeiffer
Jr passando a designar-se Pfeiffer
& Löwenstein, designação que mantém até 1938, ano em que os nazis confiscaram
as acções renomeando-a de fábrica de porcelana Schlackenwerth Josef Pfeiffer. Eram seus proprietários, em 1944, Luise
& Wilhelm Pfeiffer e George von Hoffmann. Em 1949 acabou por ser encerrada.
A escultura documenta um estilo de vestuário contemporâneo que retrata a liberdade adquirida pelas mulheres após a I Guerra Mundial. Conquistaram um novo papel na sociedade de então, depois de terem substituído os homens em diversas profissões durante o conflito. Ganharam o direito à libertação do corpo, agora sem as constrições impostas pelo vestuário puritano oitocentista, e à funcionalidade do traje, numa transformação tão profunda como profunda foi a revolução social, política e mental resultante do cataclismo que todos viveram. Vencidos e vencedores. Para esquecer o passado próximo instalou-se um frenesi de viver, em que a mulher vai ser elemento fundamental. Democratiza-se o desporto, a participação política e o direito ao voto (em alguns países), o acesso a novas profissões, e a moda deixa de estar condicionada pelo espartilho, liberta os braços e as pernas, e o cabelo é cortado curto. Com Coco Chanel ganhou o direito a vestir calças. A mulher podia assim, viver os loucos Anos 20 em paridade com o homem, sobretudo nas elites, numa revolução de mentalidades sem precedentes que ia penetrando nas outras classes sociais. Em muito, graças ao cinema e às ideologias revolucionárias. Todo este ambiente de euforia e mudança começa a desabar com a tragédia da «quinta-feira negra» de 1929.
No
caso da presente escultura, ela e muitas congéneres suas, funcionavam como
figurinos. Outras também como modelos. Ambas destinavam-se às
classes mais abastadas, decorando ambientes burgueses modernos. Enquanto
modelos retratavam figuras de atrizes, dançarinas, escritoras, símbolos palpáveis
da nova mulher emancipada.
O desporto ao divulgar-se na sociedade, impunha-se como actividade
elegante, para a qual era preciso criar uma nova estética, de que esta peça é
exemplo. Nela observa-se, ainda, o corte de cabelo e a gravata como aproximação
ao look masculino, enquanto símbolos
da sua libertação.
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