Serviço de café, de porcelana moldada, composto por cafeteira,
leiteira, açucareiro e chávenas com respectivos pires. Trata-se do modelo Tânger, de cor branca com decoração de
filetes cor de laranja e ouro que realçam as zonas superiores das peças, de formas
caneladas dentro da gramática art déco. Asas,
pegas e bicos, com realces a ouro. Na base da cafeteira, carimbo verde Coimbra, SP, Portugal e, pintado à mão,
a vermelho, Tanger FB2010. Na base da
leiteira carimbo verde igual ao anterior. Na base do açucareiro, chávenas e
pires, carimbo verde
Coimbra-Portugal enquadrando as figuras heráldicas do brasão da cidade.
Data: c.
1930-40Dimensões: Várias
Este serviço, adquirido por volta de 1935-40,
apresenta peças com duas designações da fábrica. Sem nos alongarmos mais sobre
estas questões, está implícito que a Fábrica de Porcelana de Coimbra utilizou
em determinado momento e em simultâneo estes dois carimbos pelo menos.
As pegas, tal como as caneluras, remetem para um
serviço da fábrica de porcelana Gebrüder Benedikt, em Dvory, na Checoslováquia
que aqui ilustramos.
Neste nosso blogue, como se tem vindo a ver,
misturam-se objectos decorativos e utilitários sem grandes preocupações
hierárquicas.
A qualidade
(artística, plástica e/ou técnica) de um objecto não se mede pelo seu valor de
mercado. Peças de uso quotidiano podem ser objectos muito superiores à produção
dita artística, mesmo quando se trata de edições únicas ou limitadas, que nada têm
a ver com a mais-valia efectiva de um artefacto. As questões são outras, e é
por isso mesmo que a nós, enquanto coleccionadores, o que nos interessa
verdadeiramente é a loiça utilitária, enquanto design, decoração e veículo de
modernidade acessível às massas, apesar das nossas frequentíssimas divagações
de diletantes por outros caminhos. Foi pela mesa que, na generalidade, a
modernidade penetrou nos lares, mesclando-se nas decorações convencionais, quase
sempre conservadoras, habituando o olhar e sensibilizando, embora geralmente de
forma ténue, as pessoas para os novos tempos que iam chegando com mais ou menos
atraso. Será esse um dos encantos que nos levou a enveredar pelo coleccionismo
de peças de Entre Guerras, quando a modernidade era muitas vezes também
vanguarda empenhada e por isso modernista, fosse ela mais ou menos radical, mas
sempre social, politica e ideologicamente envolvida. Em Portugal estas questões são menos lineares, porque o atraso cultural impedia-nos de perceber a essência do fenómeno da modernidade. É por isso que, por exemplo, na arquitectura art déco/modernista, as fachadas revelam uma consonância com os demais modelos europeus enquanto os interiores se mantêm ainda oitocentistas. Haverá excepções, como sempre.
Perdoem-nos as fraquezas e as contradições, mas é a partir delas que estruturamos a nossa dialéctica (quer dizer, as nossas colecções).
Para finalizar, e só a título de curiosidade, a Vista
Alegre reeditou recentemente os modelos Tânger
e Porto, da Fábrica de Porcelana de
Coimbra, o último também já aqui apresentado, ambos em versões monocromas.
Perguntamos: quantos consumidores os adquiriram conscientes da antiguidade dos
modelos?
2 comentários:
Olá AM-JMV,
Gostei muito deste serviço Tânger, o mesmo modelo de uma chávena que já mostrei no meu blogue, mas acho que aqui a decoração de riscas se coaduna mais com o modelo.
E mais uma vez deliciei-me com o vosso texto, onde vejo que também preferem as loiças utilitárias aos chamados "bibelots". Eu tenho a casa cheia de pratos, bules, chávenas, etc, tudo mais dentro da loiça utilitária. E é verdade que é ela que pode proporcionar ao cidadão comum o primeiro contacto com novas tendências artísticas nas artes decorativas, neste caso na cerâmica.
A Vista Alegre tem estado a recuperar modelos dos anos trinta também da sua própria produção, mas estes dois exemplares copiados da S.P. são muito bonitos, sobretudo assim em monocromia.
Bjs.
Olá Maria,
Este tipo de produção utilitária interessa-nos muito, até porque ainda há pessoas que se sentem desconfortáveis com a sua modernidade. E também nos interessa situá-la no contexto europeu à época. Enfim, perceber os acertos e desacertos da nossa situação de país periférico. O problema é o espaço ...
Bjs
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