Jarra de faiança moldada e relevada, de forma
orgânica, cuja cor verde-água do fundo, numa superfície aparentemente lisa,
recebeu uma decoração a preto e ouro, que corresponde às incisões que definem o
desenho perfeitamente regular e repetitivo. Assim, uma sucessão de doze
verticais, que ora engrossam ora estreitam, a preto, envolvidas por linhas
espiraladas a ouro, seccionam a espaços regulares a totalidade da peça. O
interior, a preto mas esvanecendo-se em verde-água à media que se aproxima do
fundo, destaca-se do bocal curvilíneo recortado de forma claramente assimétrica
na diagonal e delineado a verde-água. Na base, carimbo castanho «Aleluia
Aveiro» com um v ou L pintado à mão, a ouro, sobrepujando carimbo da mesma cor
«Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo, e, escrito à mão, a ouro, 712-A.
Data: c.
1955Dimensões: alt. 35 cm x larg. c. 17 cm
A descrição formal com que habitualmente iniciamos
cada post, é para nós um exercício de
extrema importância, na medida em que nos auxilia a olhar e ordenar uma
colecção que, dada a dimensão, começa a ser difícil de gerir em termos de
inventariação e que a falta de espaço agudiza. Para mais, a organização das
nossas fichas de inventário está em permanente actualização, conforme os dados
que vamos recolhendo, seja em bibliografia, trocas de impressões com
colecionadores e vendedores, centros de documentação de museus, internet,
partilha na blogosfera, etc..
Em termos de forma e de características técnicas o
exemplar de hoje aproxima-se da peça anteriormente mostrada. Seguindo o mesmo
critério nela explanado, o número 712 corresponderá ao modelo e dimensão e o «A»
à decoração.
Todavia, nela encontramos leituras outras que nos
obrigam a tecer algumas considerações. Por um lado, a organicidade da forma está em consonância com o dinamismo da decoração. Não existe tensão ou contradição entre ambas, antes complementaridade. À fluidez estrutural corresponde uma decoração fluida com algo que nos remete para um ambiente marinho, numa ondulação de algas acentuada pela cor do fundo.
Por outro lado, essas mesmas linhas ondeantes remetem-nos para a visualização do som e do ritmo que Walt Disney tão bem soube exprimir na obra-prima que é Fantasia (1940), na cena 9, em que é feita a apresentação da «banda sonora». Nela vemos uma sequência de cores e formas cujos ecos se vislumbram em grande parte da produção internacional de artes decorativas dos anos 50 até mesmo aos 70, e, obviamente, na produção cerâmica da Aleluia-Aveiro. Não nos podemos esquecer do fascínio que o filme exerceu nas sucessivas gerações que o viram. O encanto mantém-se intacto ainda hoje na era dos computadores e dos efeitos especiais.
Mas já Kandinsky tinha andado por ali, envolvido em cores e ritmos … e o mesmo ia fazendo Busby Berkeley no cinema musical.
2 comentários:
Esta peça é maravilhosa, há outras exactamente com o mesmo formato mas com decoração completamente diferente. Parabéns pelo blogue.
Obrigado Paulo,
Em primeiro lugar, bem-vindo. Este modelo só o conhecemos com a mesma decoração mas com outra cor, em rosa pastel. Gostaríamos de ver outros exemplos.
Cumprimentos
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