Jarra da linha Argenta, de grés com aplicação de
prata sobre fundo esmaltado verde mate,
em forma de esfera achatada e esquinada cujos panos são ornamentados por sucessões
de linhas quebradas em zig-zag, numa estilização de ondas. Na base, incisos na
pasta, a prata, HAND DREAD inscrito num rectângulo, ARGENTA, 1092, III, e a
marca Gustavsberg, com símbolo de âncora, um G (que corresponderá a uma edição
de 1937) e Kåge também inscrito num rectângulo, e um L.
Data:
c. 1932Dimensões: larg. 15 cm x alt. 9 cm
Mais uma peça assinada Wilhelm Kåge (1889-1960) claramente
art déco, exemplo, na sua harmonia e
decoração, da “swedish grace” que
comprámos em Estocolmo. Aqui podemos encontrar, para além do imaginário nórdico
e clássico ligado ao mar, uma certa herança da cerâmica ou cestaria africanas,
então também muito em voga, devido às exposições coloniais. Contudo, poderíamos
ir mais longe, e recuar aos arquétipos pré-históricos da cerâmica europeia. De
facto, como temos referido, estas peças proporcionam quase sempre leituras
polissémicas.
Não resistimos a contar como
chegámos a esta jarra.
Ouvindo-nos falar em
português, enquanto comentávamos peças suecas do século XX que, na montra em
frente do seu estabelecimento, haviam despertado o nosso interesse, um
antiquário, madeirense de origem, há décadas a residir em Estocolmo, meteu
conversa connosco: «Pensava que os portugueses só gostavam de século XVIII e de
Companhia das Índias.»Encetou-se uma conversa simpática e, embora não fosse a cerâmica novecentista a sua especialidade, acabou por nos dar uma série de informações úteis sobre o assunto e onde comprar, e foi graças a ele que adquirimos a peça de hoje.
No desenrolar do diálogo, contou-nos que o habitual era aparecerem portugueses interessados em peças de outras épocas, sobretudo antiquários que procuravam Companhia das Índias, visto Gotemburgo ter sido um entreposto de comércio com o Oriente e haver muita porcelana chinesa na Suécia. Alguns, pretensiosos e provincianos, do alto da sua soberba, iam tentar fazer “negócios da China” com os suecos, e citou alguns nomes conhecidos para nós. Acabavam por ser alvo da troça dos indígenas, pois comentava-se que os mesmos compravam no mercado inglês falsificações de Companhia das Índias que tomavam como verdadeiras e que eram fabricadas expressamente para Portugal. Nós, apesar de também já termos sido enganados e comprado cópias, ficámos felizes por não termos o vício das porcelanas orientais, embora gostemos muito de as ver em museus e palácios. Ao menos temos a certeza que essas são genuínas. Serão?
A loja de modernariato (a
expressão italiana parece-nos mais adequada ao caso), onde fomos parar, vizinha
do nosso conterrâneo, parecia uma secção da colecção de Francisco Capelo, que,
num espaço relativamente pequeno, possuía do melhor design escandinavo de 1920s
a 1970s, entre outros ícones internacionais, sobretudo ao nível da cerâmica e
do vidro. Os proprietários, uma simpatia, estavam radiantes com a recentíssima
abertura do Museu do Design no CCB, uma coisa que consideravam extraordinária e
rara na Europa. Tempos de optimismo esses. Foi aí que comprámos a presente
Argenta. Já em Portugal, enviámos-lhes o catálogo (versão resumida) do museu.
Agora têm uma loja maior numa outra zona de Estocolmo.
Na obra de Nils
PALMGREN - Wilhelm Kåge. Stockholm: Nordisk Rotogravyr, 1953,
a peça aparece retratada na pág. 111 e cuja fotografia aqui se reproduz.
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