quinta-feira, 22 de março de 2012

Jarra Anos 50 – Aleluia-Aveiro




Jarra de faiança moldada e relevada, de forma orgânica. A cor de fundo branca, numa superfície aparentemente lisa, recebeu uma decoração policroma, a preto, verde, encarnado e amarelo, que corresponde às diferentes incisões que na vertical definem caneludas contínuas, delineadas a preto, e que, na horizontal, a espaços irregulares delimitam o campo de cada cor. O interior, a preto, destaca-se do bocal curvilíneo recortado diagonalmente na peça e delineado a branco, numa simetria aparente. Na base, carimbo castanho «Aleluia Aveiro» com um x pintado à mão, a verde, sobrepujando carimbo da mesma cor «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo, e, escrito à mão, a verde, 684-A.
Data: c. 1955
Dimensões: alt. 34 cm x larg. c, 12,5 cm

O número 684 corresponderá ao modelo e dimensões, isto porque a peça idêntica, mas de menor tamanho, apresentada por CMP, tem o nº 683 e 25 cm de altura. Ambas têm a letra A que corresponde à decoração que partilham.

Mais uma vez nos interrogamos acerca de quem terá criado peças tão eruditas, estamos em crer que a partir de 1955, na Aleluia-Aveiro, dados os condicionalismos culturais e políticos do Portugal de então.
Concordamos com CMP quando refere as formas livres escandinavas, quanto à organicidade do modelo. O mais interessante quanto a nós no exemplar é a tensão entre essa organicidade escandinava e a influência do abstracionismo geométrico e do neoplasticismo de Piet Mondrian (1872-1944) e de Theo van Doesburg (1883-1931) veiculados na revista holandesa De Stijl. Esta jarra é um exemplo, quase diríamos clássico, da antítese entre a fluidez estrutural da forma e a necessidade vital do equilíbrio assimétrico preconizado pelo movimento De Stijl na decoração, embora as cores primárias aqui também sejam contrariadas pela presença do verde e não azul como seria de esperar.
O que para nós torna fascinante a cerâmica desta época é ter conseguido reunir e combinar elementos antitéticos como as formas orgânicas que a Arte Nova criara e a reacção das vanguardas da Bauhaus e De Stijl que se lhe opuseram virulentamente. Neste contexto, poderemos afirmar que uma certa estética “anos 50” é eclética. Para não causar mais ruído, não referimos a organicidade de certo design italiano da década de 40, que recupera linguagens do princípio do século antecipando a década seguinte.
Claro está, tal como CMP também refere, esta produção nacional para consumo interno era diminuta face às peças mais tradicionais que dominavam um mercado conservador e maioritariamente inculto.



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