terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Painel de azulejos Arte Nova - Constância - Lisboa




Painel de azulejos (8x4 tendo cada azulejo c. 13,5 cm) Arte Nova da Fábrica Constância, estampilhados e pintados à mão, com motivo de folhagem e flores, formando duas composições alternadas, uma com grandes girassóis amarelos, outra composta por um emaranhado de flores azuis e vermelhas, de onde ascende uma profusão de ramagens, lembrando um insecto, que se cobrem de cachos de flores ou bagas vermelhas, rematada por uma auréola preenchida por três folhas de onde irradiam umbelas de flores. Tardoz sem marca.
Data: c.1905
Dimensões: Alt. c. 108,6 cm x larg. 54 cm
 
Por um feliz acaso encontrámos, na viragem do século, em 2000, este belíssimo painel à venda na Feira da Ladra, isolado no meio da quinquilharia do vendedor.

Chamou-nos de imediato a atenção pela qualidade da composição, não naturalista, de grande espontaneidade e liberdade, em que o desenho se subordina ao efeito geral.

O conjunto apresenta evidentes influências de algumas obras de Mucha. A composição será da autoria de Miguel Queriol, pintada por José António Jorge Pinto, já que, e citamos “nas publicações da época Miguel Queriol é referido como desenhador e nunca como pintor” (António Cota), aparecendo referido também como ilustrador. Igualmente de seu desenho serão os painéis da fachada do antigo Animatógrafo do Rossio.

Tanto nos interiores do Sanatório da Parede como do edifício Arte Nova na Rua das Janelas Verdes, 70-78, aparecem exemplares afins do nosso painel. Este último imóvel, projectado pelo arq. Artur Júlio Machado, em 1905, foi mandado construir por Miguel José Sequeira, à época proprietário da Fábrica de Cerâmica Constância.

A fabulosa Colecção de Feliciano David e Graciete Rodrigues possui um conjunto destes azulejos em depósito no Museu Nacional do Azulejo (MNAz) e na exposição «A Arte Nova nos Azulejos em Portugal: Colecção de Feliciano David e Graciete Rodrigues» que se encontra patente, até ao final deste mês no Museu da Fábrica de Loiça de Sacavém. Aproveitamos a deixa para a recomendar mais uma vez.

Em baixo, reproduz-se uma montagem sequenciada do painel para se ter uma ideia do efeito geral da composição.


A Fábrica de Cerâmica Constância foi fundada em Agosto de 1836 em parte da antiga cerca do extinto convento de Nossa Senhora dos Remédios ou dos Marianos, às Janelas Verdes. Denominada inicialmente como Companhia Fabril de Louça, era popularmente conhecida como «Fábrica dos Marianos» ou "Fábrica das Janelas Verdes", por razões óbvias.
Propriedade de uma sociedade gerida por Inácio Augusto da Silva Lisboa, só em 1842 recebeu o nome de Fábrica de Cerâmica Constância, designação que manteve até à data do seu encerramento em 30 de Novembro de 2001.

Entre os seus artistas destaca-se Wenceslau Cifka (1811-1884), com os seus trabalhos revivalistas, e, posteriormente, José António Jorge Pinto (1876-1945), com as suas criações de azulejaria Arte Nova, e Viriato Silva (falecido em 1933), autor das composições que ornamentam a fachada, átrio e caixa de escada do referido edifício às Janelas Verdes.

Após um período de crise iniciada em 1915, a fábrica haveria de ganhar novo fôlego depois de 1921 sob a direcção do pintor ceramista italiano Leopoldo Battistini (1865-1936) que a tomou de trespasse e aí trabalhou. Teve como continuadora Maria de Portugal que, em 1936, ficou à frente da direcção da fábrica, depois da morte do mestre.

Em 1963, reorganizada por D. Francisco de Almeida, a Constância vai conhecer um novo impulso criativo produzindo trabalhos de celebrados artistas plásticos e arquitectos de que, a título de exemplo, se citam alguns: Lima de Freitas, Luís Pinto Coelho, Francisco Relógio, e Chartres de Almeida. Também nela se produziram os azulejos de João Abel Manta para o grande paredão da Avenida de Ceuta, ou os célebres azulejos de Ivan Chermayeff para o seu Oceanário.

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