Painel de azulejos (8x4
tendo cada azulejo c. 13,5 cm) Arte Nova da Fábrica Constância, estampilhados e
pintados à mão, com motivo de folhagem e flores, formando duas composições
alternadas, uma com grandes girassóis amarelos, outra composta por um emaranhado
de flores azuis e vermelhas, de onde ascende uma profusão de ramagens,
lembrando um insecto, que se cobrem de cachos de flores ou bagas vermelhas,
rematada por uma auréola preenchida por três folhas de onde irradiam umbelas de
flores. Tardoz sem marca.
Data: c.1905
Dimensões: Alt. c. 108,6 cm x larg. 54 cm
Por um feliz acaso
encontrámos, na viragem do século, em 2000, este belíssimo painel à venda na
Feira da Ladra, isolado no meio da quinquilharia do vendedor.
Chamou-nos de
imediato a atenção pela qualidade da composição, não naturalista, de grande
espontaneidade e liberdade, em que o desenho se subordina ao efeito geral.
O conjunto
apresenta evidentes influências de algumas obras de Mucha. A composição será da
autoria de Miguel Queriol, pintada por José António Jorge Pinto, já que, e
citamos “nas
publicações da época Miguel Queriol é referido como desenhador e nunca como
pintor” (António Cota), aparecendo referido também como ilustrador. Igualmente de
seu desenho serão os painéis da fachada do antigo Animatógrafo do Rossio.
Tanto nos interiores do Sanatório da Parede como do
edifício Arte Nova na Rua
das Janelas Verdes, 70-78, aparecem exemplares
afins do nosso painel. Este último imóvel, projectado pelo arq. Artur
Júlio Machado, em 1905, foi mandado construir por Miguel José Sequeira, à época
proprietário da Fábrica de Cerâmica Constância.
A fabulosa Colecção
de Feliciano David e Graciete Rodrigues possui um conjunto destes azulejos em depósito
no Museu Nacional do Azulejo (MNAz) e na exposição «A Arte Nova nos Azulejos em
Portugal: Colecção de Feliciano David e Graciete Rodrigues» que se encontra
patente, até ao final deste mês no Museu da Fábrica de Loiça de Sacavém.
Aproveitamos a deixa para a recomendar mais uma vez.
Em baixo,
reproduz-se uma montagem sequenciada do painel para se ter uma ideia do efeito
geral da composição.
A Fábrica de Cerâmica Constância foi fundada em Agosto de 1836 em parte da
antiga cerca do extinto convento de Nossa Senhora dos Remédios ou dos Marianos, às Janelas Verdes. Denominada inicialmente como Companhia Fabril
de Louça, era popularmente conhecida como «Fábrica dos Marianos» ou
"Fábrica das Janelas Verdes", por razões óbvias.
Propriedade de uma
sociedade gerida por Inácio Augusto da Silva Lisboa, só em 1842 recebeu o nome
de Fábrica de Cerâmica Constância, designação que manteve até à data do seu
encerramento em 30 de Novembro de 2001.
Entre os seus
artistas destaca-se Wenceslau Cifka (1811-1884), com os seus trabalhos
revivalistas, e, posteriormente, José António Jorge Pinto (1876-1945), com as
suas criações de azulejaria Arte Nova, e Viriato Silva (falecido em 1933),
autor das composições que ornamentam a fachada, átrio e caixa de escada do referido edifício
às Janelas Verdes.
Após um período
de crise iniciada em 1915, a fábrica haveria de ganhar novo fôlego depois de 1921 sob a
direcção do pintor ceramista italiano Leopoldo Battistini (1865-1936) que a tomou
de trespasse e aí trabalhou. Teve como continuadora Maria de Portugal que, em
1936, ficou à frente da direcção da fábrica, depois da morte do mestre.
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