Jarra de grés, em forma de taça
oblonga e bocal côncavo, no sentido do comprimento, assente sobre pé troncocónico
invertido sobre pequeno anel, da linha Argenta, com aplicação de prata em fundo
esmaltado verde mate. Nas quatro faces, ornamentação, a prata embutida, com
ramo florido de lírios-do-vale.
No bordo e pé, filete de prata embutido. No fundo da base, estampado a ouro, a
marca Gustavsberg, o símbolo «âncora», «Argenta», «Made in Sweden» e, pintado à
mão, também a ouro, «A 23» e «Y».
Data: c. 1955
Dimensões: alt. 8,2 cm x diâm. 8,6 cm
x 7,8 cm
Hoje regressamos à Suécia e à produção da Gustavsberg. Trata-se de uma peça que foge um
pouco ao nosso critério cronológico e estético preferencial, mas que adquirimos
porque achámos interessante a evolução e decadência de uma linha que chegava ao
fim. Nela se nota o esgotamento da linha Argenta criada por um dos nossos
designers de eleição, Wilhelm Kåge, ainda nos anos 20, e cujo apogeu se centra,
sobretudo, nas produções do seu criador entre c. 1930 e c. 1945. Porém, esta peça
tardia apresentava outras características que nos agradaram. Em primeiro lugar,
pela singularidade da forma, integrada no espírito das freeforms, então em
voga, que os escandinavos vão explorar como ninguém. Por outro lado, pela singeleza da decoração, com a representação,
em cada uma das quatro faces, da haste florida de um lírio-do-vale graficamente
representada.
A peça apresenta uma delicada
forma em pequena taça, mais que propriamente de jarra que efectivamente é, para
receber um pequeno bouquet de flores,
que, em Maio, seriam, naturalmente, lírios-do-vale. A jarra torna-se, assim, símbolo
permanente de um desejo de bons augúrios como passaremos a explicar.
Celebração e renovação da Primavera, o lírio-do-vale (em
francês muguet) simboliza o regresso
à felicidade depois de passado o Inverno. Pelo que estas pequenas flores
brancas em forma de campainhas, em França, Bélgica e Suíça, por exemplo, são tradicionalmente
oferecidas aos familiares e amigos no dia 1 de Maio para lhes trazer felicidade.
Assim sendo, converteu-se na flor oficial do dia do trabalhador.
Muito representada durante a Belle Époque, acabaria por
conhecer um novo élan nos anos 50.
Enquanto símbolo de regresso à felicidade e de boa sorte,
foi a flor preferida de Christian Dior, que era
muito supersticioso. O muguet foi
utilizado pelo criador de moda, como motivo de inspiração das suas célebres
criações na collecção Primavera-Verão de 1954. Dois anos mais tarde, haveria de
lançar um perfume à base de muguet
que se tornaria icónico: Diorissimo. Tão
supersticioso era que escondia esta flor nas bainhas dos modelos em dias de desfile
inaugural das suas colecções.
Por uma coincidência cronológica, ou não, dado que as
tendências da moda contaminam as várias produções artísticas, seria também o muguet utilizado como motivo decorativo
em várias peças dos anos 50 da série Argenta, de que esta pequena jarra é
apenas um exemplo elegante e singelo, como a própria flor. (Veja-se exemplar
com outra decoração aqui).
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