Peça
de faiança moldada e relevada, estilizada ao gosto art déco, com taça em forma de flor e asas figurando
veados saltando, vidrada a prata
com interior a branco. Carimbos verde Gilman & Ctª – Sacavém e Made in
Portugal numa oval. Inscrito na pasta 52 IP.
Data: c.
1935Dimensões: alt.
Esta peça, em nossa opinião, será um dos melhores exemplos de cerâmica art déco produzidos em Portugal e será um dos muitos modelos que foram exportados, como indicam os carimbos. Não sabemos quando nem quem a criou e, em termos meramente estilísticos poderíamos pensar estar em presença de mais uma peça de Donald Gilbert, associação que imediatamente fizemos quando a comprámos num leilão em Lisboa, em Março de 1999. Talvez porque parte importante da produção animalista da Fábrica de Loiça de Sacavém fosse da sua autoria, sobretudo as que conhecíamos esmaltadas a ouro ou prata. À medida que fomos tomando maior contacto com a produção do género e verificámos que muitas das peças escultóricas art déco dessa fábrica não eram do referido escultor, começaram as dúvidas. Ainda para mais, face a uma peça desta erudição e qualidade plástica e técnica, que não tem inscrito na pasta o tradicional Gilbert Sc [do latim sculpcit, i. é, esculpiu] como é usual nas peças da sua autoria. Não quer dizer que não haja excepções e que peças suas não portem assinatura. Por isso não poderemos afirmar sem provas mais concretas de quem é, afinal, a referida autoria. Quanto à datação, arriscamos com menos dúvidas balizar a sua cronologia para depois de 1925 e anterior a 1940.
A taça propriamente dita remete para uma influência
neo-egípcia, pelo que estamos inclinados a vê-la como uma flor de lótus
estilizada, sendo os animais inspirados também no repertório pré-clássico do
Crescente Fértil.
A ideia de movimento associada à geometrização
e mecanização das formas da natureza, que já aqui dissemos ser tão
característica de um certo tipo de estilo art
déco, está neste modelo perfeitamente exemplificada, para mais, acentuada
pela cor prateada de objecto que poderia ser de metal. Na sua simetria perfeita,
os dois veados saltando em sentidos opostos dão-lhe um dinamismo que só é
mitigado pela estaticidade da taça.Segundo informação contida no comentário de CP, a peça encontra-se referenciada nos catálogos de preços de 1945-1951 da Fábrica, como sendo um centro de mesa, formato veado, com o número de série 259. A imagem que a seguir reproduzimos foi-nos gentilmente cedida pelo CDMJA/MCS, a quem agradecemos.
6 comentários:
Diria que a predominância de angulosidades e as arestas bem vincadas não se enquadrariam na gramática de Donald Gilbert.
O curioso acerca desta peça é que os números de referêcia de formato não costumam apresentar sufixo, e a tabela de 1945, sob o número 52, refere um... "Vaso Relêvo lagartos" (!), a 141$00 para "colorido s/ ouro" sem quaisquer outras variantes.
Saudações!
Caro MAFLS,
Ainda bem que concorda connosco que a peça não será de Gilbert. Mais uma vez, obrigado pelas achegas.
Cumprimentos
É com efeito uma peça muito interessante e, mesmo muito bonita!
E,no Centro de Documentação, temos a referência da peça, nos Catálogos de Preços de 1945-1951, como sendo um Centro de Mesa-Formato Veado, com referência ao seu "número de série", que é o 259. Este número vinha por vezes gravado na pasta, o que é muito importante, para nos auxiliar na identificação das peças. E no referido catálogo, temos ainda a referência que em 1945 custava 141$00 e em 1951 162$00. Obrigado por também partilharem a V. colecção e informações. Sempre que precisarem, também estamos ao V. dispor. Cumprimentos, CP.
Caro CP,
Foi para esta troca de conhecimentos, com que todos lucramos, que criámos o blogue. Vamos acrescentar as informações ao que escrevemos. Muito obrigado e sabem que poderão contar connosco.
Cumprimentos
Considerando, então, o número de referência 259, a datação desta peça aproximar-se-á mais de 1940, pois o número 147 corresponde a um "Cinzeiro Exposição Colonial", de 1934, e o número 400 à Alentejana, de 1945.
Saudações!
Caro MAFLS.
Mais uma vez obrigado pelas achegas. Todavia, como diletantes que somos, interrogamo-nos se essa numeração não dependerá do número de modelos produzidos num ano. Certamente houve anos em que se produziram mais modelos que noutros (não nos podemos esquecer da II Guerra) pelo que essa aritmética poderá ser um pouco falível.
Cumprimentos
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