domingo, 8 de janeiro de 2012

O modelo Cube inglês e o modelo Cúbico da Porcelana de Coimbra


As formas cúbicas no Ocidente não eram novidade, pois as influências de modelos japoneses começam a partir de 1862 quando, na exposição internacional londrina, se exibem exemplares de cerâmica nipónica que vão ser mimetizados e recriados por artistas europeus nas décadas seguintes, em diversos materiais.
O modelo Cube, ora em análise, teve a sua génese numa peça desenhada e patenteada, em 1916, por Robert C. Johnson, em prata com pega de madeira. Foi comercializado e publicitado como fácil de embalar e guardar. Todavia, e dada a falta de uma produção inglesa ao gosto art déco ou «cubista», quando em meados dos anos 20 se comercializa este modelo em cerâmica, sem decoração, ele foi considerado revolucionário no contexto britânico, e só, então, passa a ser conhecido por Cube.


Teve um grande sucesso pelo que foi produzido, tanto em faiança como em porcelana, por diversas fábricas inglesas durante as décadas de 20 e 30, caso das fábricas Minton, Copeland, E. Brain, George Clews & Co (ambas na foto 1 e a última na foto 2) E. Brain & Co (foto 3) e da Jackson & Gosling Grosvenor que, em 1936, ganhou o concurso para fornecer o transatlântico Queen Mary com um serviço desse modelo (foto 4). Algumas destas fábricas não só forneceram companhias de navegação, mas também hotéis um pouco por todo o mundo. Muitas vezes este modelo era reproduzido com decorações pouco consentâneas com o seu despojamento. Tanto companhias de navegação como hotéis favoreceram a sua utilização dada a forma ser simultaneamente moderna, atractiva e funcional porque fácil de arrumar e transportar.


Aliás, antecipando críticas de possíveis designers mais puristas, as fábricas começam a melhorar o desenho do modelo original que, em 1926, aparece numa versão ligeiramente modificada, dando mais espaço à pega, melhorando o interior e o bico, a fim de o tornar mais cómodo ao utilizar, fácil de limpar e sem pingar.
Porém, mesmo com todos os melhoramentos funcionais que o modelo Cube conheceu, as suas formas arredondadas remetem inegavelmente ainda para o universo Arte Nova. Na verdade, o modelo é de 1916 no que isso implica de época de transição entre estéticas. Se a segunda metade do século XIX e até à Grande Guerra foi de grande criatividade para a Grã-Bretanha, no período sequente assiste-se a uma crise criativa, de todos conhecida, e de que o infeliz pavilhão britânico na Exposição de Paris de 1925 é exemplo evidente.

Sem querer negar uma possível contaminação inglesa – e todos roubam ideias uns aos outros – o modelo produzido em Portugal, não segue, nem na estética, nem no espírito, o Cube. Como já referimos, a organicidade Arte Nova está ainda presente nas suas linhas, com as arestas curvas, as tampas incisas mais convencionais com pegas em botão, o bico curvo e reentrante, a alheta que circunda os bocais, e, sobretudo, a forma conservadora. redonda, da sua chávena, pires e pratos de bolos. Pelo contrário, o Cúbico é frio, geométrico e racional em todas as peças que o compõem. Se encontramos similitudes entre o modelo Cúbico de Coimbra e o modelo Cube inglês, elas são apenas, portanto, aparentes.

Não se pode negar que o modelo Cúbico é uma das produções mais arrojadas da cerâmica feita em Portugal entre as duas guerras mundiais ou mesmo do século XX. Dificilmente terá sido concebido por um designer português à época. As formas duras, com as suas arestas agudas, remetem-nos para a transposição de um possível modelo industrial de metal para cerâmica, muito à maneira da Bauhaus, parecendo resultar da justaposição de peças de metal soldadas. A pureza das suas linhas submete a função à forma dando-nos a ideia do contrário, o que também frequentemente verificamos no movimento germânico. Para não falarmos das diferentes decorações que lhe conhecemos, todas de raiz alemã. No seu oposto, e como já referimos, o modelo inglês, de decoração muitas vezes conservadora, foi aperfeiçoado do ponto de vista funcional para melhor responder às necessidades quotidianas dos seus utilizadores.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho um serviço de café incompleto da fábrica de Coimbra, deste modelo e com uma decoração interessante, lembrando vidro partido. Gostaria de saber a sua opinião sobre o conjunto. Posso enviar uma fotografia?
Obrigada Alexandra Peres
xanapereslourenco@hotmail.com

AM-JMV disse...

Cara Alexandra,
Agradecemos muito a sua oferta. Se quiser ter a amabilidade de nos enviar a fotografia do seu serviço teremos muito gosto e dar a nossa opinião, se achar que tem interesse.
Cumprimentos